sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SUBMISSÃO, MAS NEM TANTO...

SUBMISSÃO, MAS NEM TANTO…


A historia das mulheres enquanto disciplina autônoma goza de um passado relativamente recente, mas os caminhos que levaram a sua configuração têm nas discussões sobre as diferenças de sexos suas raízes, mas profundas. Estas, alias, atravessaram os séculos e estivaram presentes tanto entre pensadores antigos e modernos quanto entre “pessoas comuns” que produzem e reproduzem imagens e representações de homens e mulheres. Hoje muitos teóricos, principalmente historiadores, partilham da observação feita por Simone de Beauvoir – em O segundo sexo, 1945 – de que a mulher não nasce mulher, mas constitui como mulher através de uma complexa dentro de um processo histórico longo que determina seu papel na sociedade e mesmo seu papel histórico; a diferença de sexos então seria histórica, cultural, e não natural. Simone ainda colocou que as mulheres não tinham história, nesse caso se tivermos em mente que a história é aquilo feito pelo historiador, então concordamos que as mulheres não tinham historia, mas não porque não fizeram parte das transformações históricas ou simplesmente não existiram enquanto sujeito histórico e sim porque foram por muito tempo excluídas da história.
A diferença de sexos foi discutida desde a antiguidade, onde seus filósofos naturalizaram tal diferença pois ela era pensada a partir das diferenças no corpo do homem e da mulher sendo assim tida como irredutível; mas tal diferença biológica não ficou isolada so no campo das ciências naturais, filósofos antigos e modernos e antropólogos defendiam ser a diferença de sexo a primeira de todas as diferenças. Para Aristóteles, Platão e os fundadores da igreja, a diferença entre homens e mulheres era um fato da natureza, onde a mulher era evidentemente inferior e por isso a dominação masculina era justificável. Na conturbada e contraditória modernidade, Spinosa pensou a mulher como irracional, pois e nesse período que razão e paixão se tornam lados opostos e o homem, enquanto sujeito universal passa a pensar o mundo a partir de si mesmo, “(...) o humanista coloca-se no centro de tudo desqualificando a razão feminina, não mais pelo jogo das binaridades, mas... por aquele dos limites (...) “( in: - Cardoso,Vainfas, 2001 p 219). É por este jogo de limites que a mulher passa a ser pensada, pois sua razão seria frágil e ela seria vitima de paixões desenfreadas que precisavam ser controladas, a razão era um atributo masculino e não feminino. Neste momento até a educação moral eram pautadas nesta diferença e assim as mulheres foram afastadas do saber. No século XVIII a idéia de igualdade põe um problema aos filósofos iluministas, que não viam igualdade entre os sexos e buscaram se esquivar da diferenças de sexo. A mulher quando aparecia nas falas iluministas era na maioria das vezes, aproximada à natureza, vista como um ser irracional a ser domesticado. O avesso a idéias tradicionalistas – do Antigo Regime – e da defesa da igualdade de justiça não valiam para as mulheres.
As mudanças viviam no século XIX quando Marx e Fourier passam a defender a emancipação e igualdade entre homens e mulheres, mas neste momento vigorava na historiografia o positivismo e nele não havia espaço para as mulheres, a historia contada pelos positivistas eram as dos reis, grandes homens e das grandes transformações as história. Até então, como vimos, as mulheres eram pensadas no campo filosófico e antropológico e é apenas no século XX – a partir do movimento feminista e das histórias produzidas por historiadores culturais – que o estudo sobre as mulheres se libertam de tais amarras e passa ao campo das ciências sociais e humanas,dentre elas, a história. Ela historiciza a diferença de sexos pensando-a como um fato histórico produzido a partir de uma conjuntura histórica, assim foi possível refletir sobre tal diferença não mais pela empiria, mas como um fato histórico. O surgimento da historia das mulheres incluindo-as no sujeito universal, questiona os sujeitos da história já concebidos como verdadeiros. Pois segundo Rachel Soihet:
“(...) a solicitação de que a história fosse suplementada com informações sobre as mulheres equivalia a afirmar o caráter incompleto da disciplina, bem como o domínio parcial que os historiadores tinham do passado. Fato necessariamente demolidor para ma realidade que defendia a história” e seus agentes já estabelecidos como verdadeiros’...”.
( Soihet).
Mais que isso, a história das mulheres questionaria o que era tido como que teve importância no passado. Ela faz aparecer os espaços privados onde as mulheres são encontradas quando a historia busca recuperar sua presença e sua voz. Por isso, para Rachel Soihet, é preciso ampliar os campos de investigação histórica buscando investigar as esferas onde as evidencias da participação feminina seja maior. Entretanto mesmo sendo muitas vezes escassas as pistas sobre as mulheres é em sua ausência e nos silêncios deixados que é possível encontra-los, pois as mulheres foram espoliadas do mundo masculino não pela sua ausência, mas ao contrario, em função da sua presença. Assim como o disse tão bem Mary Del Priore, a história das mulheres “foi fundada na constatação da negação e do esquecimento” seu passado é disperso e por isso, ela questiona na:
“(...) como ouvir suas vozes, extraindo-as do limbo da maioria tirando-as do próprio limbo?... colocando em termos históricos uma diferença de sexos, pouco estudada pela historiografia que eram produzidas...?(...)”(in: - Cardoso, Vainfas, 2001 p 217).

E continua questionando como dar visibilidade à diferença de sexos e as mulheres num cenário onde os autores principais eram os homens. É com o movimento feminista que as mulheres são “trazidas” à história, as feministas fizeram a história das mulheres antes mesmo dos historiadores foi atrelado ao movimento, 1970, que a história das mulheres ganhou corpo, ancorada também na emergência da história das mentalidades e da história social, além das pesquisas inéditas sobre a memória popular. É concordante entre os historiadores a grande contribuição do movimento feminista, estes juntamente com a entrada das mulheres nos mercados de trabalhos quebraram o silêncio das historiadoras, pois começou-se a discutir dentro das Universidades questões que estavam sendo discutidas pelo movimento. Em 1960 nas Universidades dos Estados Unidos, e em 1970 na França foram criados curso e grupos de reflexão dedicados aos estudos das mulheres, enquanto isso já havia no Brasil algum estudo, mas não era tido como uma grande questão histórica. Enfim, as feministas, porém, não reivindicavam apenas a inclusão das mulheres na história, elas tinham um projeto que propunha mudar o comportamento da sociedade, além de reivindicar a legalização da contracepção e do aborto, mas as questões religiosas e a questão de países em desenvolvimento eram obstáculos a tais reivindicações.

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