domingo, 1 de julho de 2012

PERCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PÚBLICA A PARTIR DO FILME: “ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia - UEPB Professora da rede municipal de ensino - Campina Grande-PB. RESUMO A proposta deste artigo é analisar o filme: “Entre os muros da escola” e os problemas na prática pedagógica mediada pelo currículo no cotidiano da escola pública em particular nos países de “primeiro mundo”. Tal proposta visa identificar as relações entre docentes e discentes mediada pelo currículo escolar. O que vem contribuir para um melhor desempenho de futuros profissionais em educação. A questão do currículo escolar é fundamental para transmissão e possibilidades transformadoras do conhecimento no cotidiano escolar. O que constitui-se o elo para o desenvolvimento cada vez maior do educando. Assim, os estudos de Moreira (1994) contribuíram para a compreensão da importância do currículo. Enfim, a proposta remete a uma reflexão sobre a prática pegagógica mediada pelo currículo escolar na Escola pública nos países de “primeiro mundo” vem contribuir para o processo de transformação e/ou construção de novos saberes tanto numa perspectiva empírica quanto do ponto de vista teórico. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Currículo. Sociedade. 1 INTRODUÇÃO Na busca por compreender criticamente a realidade escolar e suas múltiplas relações cotidianas de seus sujeitos possibilitam uma maior percepção sobre a educação escolar montada nos países do “primeiro mundo”. O filme, “Entre os Muros da Escola” (2008), uma produção francesa dirigida por Laurent Cantet, tendo no elenco François Bégaudeau, professor na vida real e escritor do livro que inspirou o filme, oportuniza identificar as teorias curriculares envolvidas na prática docente, a partir dos seguintes aspectos: o papel do currículo na escola pública e as dificuldades dos discentes frente aos grandes desafios da escolaridade. Outro fator importante são as relações existentes entre professor-aluno e aluno-aluno que orientam e desafiam todo o tempo do filme contribuindo para a compreensão da educação escolar pública. No filme francês “Entre os Muros da Escola” podemos ver de maneira clara a ideologia tradicional. No tocante a importância do papel da escola, esta é tão somente uma reprodutora do conhecimento adquirido, onde os conhecimentos são transmitidos desconsiderando a realidade e cultura dos educandos. Percebemos que não há uma reflexão a respeito dos conteúdos; isto fica explicito no momento em que o professor Marin esta ensinando o “imperfeito do subjuntivo”, um termo da norma culta. Uma aluna questiona o seu uso no cotidiano, alegando que ninguém oraliza naquele tempo, o professor explica que é uma maneira diferente de falar, mas não diz em que situações e com qual finalidade, não apresenta, por exemplo, que a linguagem é um marcador social. Numa outra cena uma aluna no fim do ano letivo diz ao professor que não aprendeu nada, não compreendeu nada do que foi ensinado, sendo assim se ela obteve boas notas e foi promovida tudo deveu-se a memorização do conteúdo e não ao seu entendimento. As reflexões aqui apresentadas são baseadas no cotidiano apresentado no filme acima citado. Os elementos que constituem as reflexões permitem compreender as relações entre o currículo, cultura e sociedade enquanto elementos de poder estabelecidos na escola pública representada no filme: “Entre os muros da Escola”, sobretudo retrata as diferenças culturais e sociais geradoras de conflitos entre aluno-professor neste cenário educacional. Além disso, é possível afirmar que a linguagem é o centro norteador dos entraves cultuais no cotidiano da sala de aula, evidência de um choque de civilização. Neste contexto, a construção da ideologia na sociedade revelada produz efeitos de verdade no interior da escola. Por outro lado, não podemos esquecer que o exercício da repressão na escola apresentada no filme supracitado. Tais repressões são manifestadas através do controle sob o comportamento do aluno como expressão de poder. Sendo assim, o poder institucionalizado atravessa o corpo social e tem por função reprimir. Posto isto, o filme: “Entre os muros da Escola” aborda os problemas sobre a aquisição dos conhecimentos impostos pela escola e as dificuldades dos docentes e discentes frente aos desafios da educação. Entretanto, as relações conturbadas entre professor-aluno e aluno-aluno possibilitam a compreensão do cotidiano nesta escola pública. 2 Percepções sobre o filme: “Entre os muros da escolar” A partir do filme: “Entre os muros da escola” a percepção que temos sobre a educação escolar pública nos países chamados de “primeiro mundo” revela uma realidade comum no âmbito escolar do ensino público, alunos indisciplinados, provocadores, rebeldes, atrevidos, sem limites. Enfrentam a autoridade dos professores e reclamam de tudo e forjam discussões sem sentido para desestruturar o professor. E assim, não acontece aprendizagem comprometendo todo processo de ensino-aprendizagem. No que se refere ao processo de escolarização do povo brasileiro sofremos um processo de colonização portuguesa onde foi imposto um modelo europeu mediado pelos jesuítas em desrespeito a cultura aqui estabelecida. Percebemos que na escola francesa a prioridade é a cultura local renegando as dos demais países. Não existe a preocupação com as diferenças culturais ali existentes. Na escola, os alunos asiáticos, africanos, latinos americanos a todos são impostos um currículo ignorando assim, suas diferenças culturais. Desse modo, a realidade da escola francesa mantém sua inflexibilidade e suas imposições, da mesma forma que, a escola pública brasileira também discrimina e excluem os indivíduos, demonstrando uma falsa aparência de democrática e inclusiva. A educação escolar francesa se assemelha com a brasileira, primeiro: são adolescentes oriundos das camadas populares com problemas diversos, sejam eles econômicos, políticos, sociais, psicológicos ou emocionais comuns a esta faixa etária. Além disso, usam as mesmas coisas que os jovens brasileiros gostam como as roupas. Os costumes são parecidos, o uso do celular, brincam, dorme na sala de aula, alguns são desatentos, outros desrespeitam o professor, ignoram a importância dos conteúdos, são irônicos, mas não tem noção do que é ser um cidadão com senso crítico para a sociedade. No entanto, sonham com um dia melhor. Contudo, suas frustrações são percebidas nas horas do intervalo, através da violência, do mau humor. Por isso, no âmbito escolar tais frustrações são lançadas contra a escola e seus profissionais. É preciso dizer que, a escola não pode ser culpabilizada sozinha dos problemas que os cidadãos das classes menos favorecidas padecem numa sociedade capitalista. De acordo com Moreira, (1994, p. 10), coube, assim, à escola, inculcar os valores, as condutas e os hábitos “adequados”. Por isso, percebemos um cenário escolar como qualquer outro de escola pública independente de ser francesa ou brasileira, haja vista que a escola destinada para as classes populares não tem sofrido mudanças significativas. Entendemos que a instituição passa por defasagens de materiais, de profissionais, de verbas, mas nada justifica a indisciplina ou o descaso contra a educação escolar. Segundo Moreira, (1994, p.10) (...) “o propósito de ajustar a escola às novas necessidades da economia. (...) organizar o currículo e conferir-lhe características de ordem, racionalidade e eficiência”. Na realidade, a educação sob as bases de mecanismos que visam conformar os alunos aos modelos do professor, nega a criatividade dos discentes e sua produção intelectual espontânea através, basicamente, de três formas: do exercício de uma rígida disciplina e o estabelecimento de uma relação autoritária entre professor-aluno além da imposição de uma prática pedagógica (tradicionalista) mecânica e repetitiva, uma vez que deixam de lado a prioridade de os alunos adquirirem novos saberes passando a valorizar apenas o comportamento. A escola mesmo aparelhada com os recursos tecnológicos, expressão da inclusão digital, entretanto, não apresenta mudanças em prol das transformações. Além disso, constatamos várias formas de controle disciplinar haja vista que o tempo também é monitorado, controlado: “é hora de...” ou “não é hora de...”. “pode fazer... não pode fazer”. O professor afirma: “vou corrigir daqui a 20 minutos”... Outro ponto percebido, o espaço, cada um no seu lugar sob o olhar vigilante do professor que fiscaliza a realização das atividades dos alunos todo o tempo, demonstra características de uma educação tecnicista e humanista. Entendemos que os conflitos existentes em sala de aula são motivados devido as provocações dos alunos contra o modelo educacional instituído, bem como, contra o currículo conteudista. Muitas vezes a tensão em sala de aula sobre os alunos contribui para a geração de discussões que ferem o regulamento da instituição escolar o que contribui para punição de qualquer aluno. Posto isto, os alunos que resistem ao controle disciplinar são ameaçados de punição e assim são excluídos do grupo. Essa ameaça aumenta o clima de tensão ao antecipar as conseqüências dos “maus atos” É fundamental para esta instituição o aluno obedecer as regras. A disposição dos alunos para seguir o modelo de “bom aluno” é reforçada pelo corpo docente. Entretanto, o professor François Marin deixa de ser imparcial e adota um comportamento negativo quando privilegia um aluno em detrimento de outros como foi visto nos depoimentos do professor frente aos pais. Lamentavelmente a tão falada democracia e liberdade de expressão ainda estão somente no papel. Podemos acrescentar ainda que, nas relações aluno-aluno e professor-aluno quando mediadas pelo currículo escolar apresentada no filme são marcadas por um processo meio desarticulado entre o que professor deseja e o que os alunos almejam. Isto fica evidenciado nos questionamentos constantes em sala de aula manifestados de forma irônica contra tudo aquilo que a escola se propõe a ensinar Desse modo, Moreira (1994, p. 8) afirma: “o currículo não é um elemento transcendente e atemporal - ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação”. Dessa forma, a proposta curricular torna-se sem sentido, haja vista que os conteúdos não atendem as expectativas dos alunos. Além disso, o professor não apresenta inovação. O conteúdo passa a ser colocado como algo repetitivo apenas para cumprir o planejamento. Parece não haver preocupação com o objetivo maior da educação que é preparar os jovens para a sociedade. Na realidade esta escola pública muitas vezes promove o conformismo, emocional, o estresse do profissional demonstrado através do cotidiano escolar que existe um clima de insatisfação e desmotivação tanto por parte dos professores como dos alunos. A sala dos professores lugar de desabafo foi cenário desse desgaste emocional, de um professor que não via possibilidades de mudanças devido a indisciplina dos alunos, tem um excesso de nervosismo e se mostra decepcionado com a profissão. Neste contexto, as relações estabelecidas dentro do sistema educacional francês, tendo de um lado o professor e do outro o aluno, onde o professor quer impor modelos a seus alunos e a escola também a sua política educacional mediada pelas normas de organização da escola, no contexto da sala de aula, os relacionamentos tendem a ser difíceis, principalmente devido as diferentes culturas e a falta de tolerância. É impossível discorrer sobre este filme sem destacar a importância da linguagem como um dos aspectos marcantes dessa educação. No Brasil também nos foi imposto outra língua para como uma forma de aculturação. Por isso, podemos destacar ainda que o lugar dos conteúdos de linguagem ensinados pela escola retratada no filme evidencia a reprodução da cultura, bem como os aspectos sociais das estruturas dominantes vigente na sociedade. Desse modo, a linguagem enquanto meio de comunicação também é o veículo de conflitos e os questionamentos destes alunos em torno dos conteúdos do estudo da língua francesa, do ensino do verbo demonstram a insatisfação e a indiferença em relação a cultura francesa. Para os alunos estes conteúdos são considerados desnecessários, mas que são ensinados como sendo prioridade nesta instituição de ensino, talvez a questão do respeito a realidade do aluno seja um caminho a ser seguido pelo educador. . Talvez a educação escolar francesa do tipo “bancária”, tecnicista seja um aspecto forte e muito difícil, para que os professores possam descartá-la de sua prática pedagógica. Sabemos que, a instituição escolar está aparelhada de mecanismos sociais que viabilizam a reprodução da cultura oficial através do currículo escolar. Concordamos com Moreira (1994, p. 27 apud Bourdieu, 1979), quando enfatiza que, (...) a idéia de cultura é inseparável da de grupos e classes sociais. (...) a cultura é o terreno por excelência onde se dá a luta pela manutenção ou superação das divisões sociais. Assim, o currículo não é percebido “como um local de transmissão de uma cultura incontestada e unitária, mas como um campo em que se tentará impor tanto a definição particular de cultura da classe ou grupo dominante quanto o conteúdo dessa cultura. O que se confirma nesta instituição escolar alunos estrangeiros expostos a dupla opressão: primeiro a escola ignora a sua cultura, a sua realidade e impõe o seu padrão cultural. Na sala de aula, essa dupla opressão é sintetizada na figura do professor, mesmo sem agredir fisicamente fere a liberdade de expressão e o direito a sua cultura enquanto sentimento de pertencimento e de identidade. Entendemos o porquê de a escola ignorar a cultura do outro, tem haver com o autoritarismo característico nas sociedades capitalistas. Este fato é marcante tanto na escola francesa como na brasileira são aspectos comumente percebidos. Nesse sentido é notório as estratégias reprodutoras de cultura e a impossibilidade de transformação do conhecimento no cotidiano escolar representada no filme: “Entre os muros da escola”, pois nesta instituição educacional tudo ali é controlado e compreendido sem o enfrentamento e a crítica que promova mudanças em relação a qualidade do ensino. Até mesmo quando os alunos discordam de alguma coisa, é preciso que as reações sejam manifestadas de maneira disciplinada, caso contrário enfrentará as conseqüências de uma exclusão. Para Moreira, (1994, p.28-29), “o poder se manifesta em relações de poder, isto é, em relações sociais em que certos indivíduos ou grupos estão submetidos à vontade e ao arbítrio de outros”. Diante do exposto, entendemos a relação de poder vivenciada na escola por pais e alunos submetidos as decisões do diretor. Tais decisões não podem ser contestadas, por isso, a escola tem o poder de decidir expulsar o aluno indisciplinado. A família representada pela mãe, diante do Conselho Escolar não tem poder para enfrentar as imposições desta instituição. Mesmo não concordando com a intransigência ali estabelecida, não existe lugar para reclamações. A escola deixa claro o seu poder decisório. No que se refere às aproximações e distanciamentos ente a realidade francesa e a escola pública brasileira, podemos dizer que ambas tendem a reproduzirem a ideologia burguesa, haja vista que procuram responsabilizar os indivíduos pelos fracassos que são produzidos pelo próprio sistema capitalista. Contudo, a Sociologia da Educação tem-nos demonstrado que a função da escola é a reprodução da sociedade de classes, na qual vivemos. A educação em nossas escolas foi pensada pela e para a classe dominante, e é aplicada a todos os indivíduos, independentemente de sua classe social. Acontece que os alunos advindos das classes populares não conseguem se adaptarem a essa escola, que nada tem a ver com a sua realidade. Enfim, o filme retrata uma realidade que se aproxima da brasileira também porque ignoramos a importância da cultura de outros povos e muitas vezes as múltiplas realidades dos alunos que oferecemos os serviços educacionais. Enfim, o filme: “Entre os muros da escola” apresenta um modelo educacional excludente, burguês presente nas sociedades capitalistas. Para Bourdieu, a escola está longe de reduzir as desigualdades sociais, mas contribui para reproduzi-la. A cultura escolar não é neutra, mas particular, a da classe dominante, transformada em cultura legítima. No entanto, ela é arbitrária e de natureza social. Assim, a escola recebe a delegação, pelo grupo dominante de um poder de imposição, isto é, de poder impor conteúdos de acordo apenas com os interesses deste grupo. 3 Conclusões A escola apresentada do filme: “Entre os muros da Escola” cuja tendência educacional apresenta característica da tendência tecnicista privilegia o aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo. Seu interesse principal é produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças sociais. Essa escola vê o aluno como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações. Neste contexto, o currículo se apresenta como uma forma institucionalizada de transmissão dos elementos culturais nesta sociedade, constituindo um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes são fontes de matéria-prima de criação, recriação, bem como de contestação e transgressão estando também está atravessado por relações de poder. O conhecimento e a linguagem são representações e reflexo desta realidade que se fundamenta num modelo racionalista e humanista. O Currículo escolar visto “Entre os Muros da Escola” é inflexível, as aulas são exclusivamente expositivas, as atividades sempre individuais, o professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusivamente a escutá-lo, e também disciplinar. O ensino da linguagem se baseia na língua oficial do país e é por meio de imitação e formação de hábito e da repetição que o aluno vai formando seus “hábitos” e o uso correto da linguagem. O enfoque cultural dado aos processos de ensino e aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de extrema relevância, em particular no que se refere à maneira como se devem entender as relações entre educação e ensino-aprendizagem. A importância da relação interpessoal nesse processo, a relação entre cultura e educação e ao papel da ação educativa ajustada as situações de aprendizagem e as características da atividade mental construtiva do aluno em cada momento de sua escolaridade. Além disso, constatamos que a visão do professor em relação aos alunos está embasada na teoria tradicionalista do ensino. Por outro lado, consideramos que o papel da escola deva ser o de formar pessoas críticas através do ensino de conteúdos significativos, uma vez que é essencial para o êxito do processo, assim sendo, privilegiar uma metodologia de ensino baseada na exposição dos conhecimentos de forma oral e escrita reproduz apenas as práticas tradicionalistas já defasadas. Enfim, a educação escolar francesa tem como fator marcante a divisão social, apesar de sabermos que a sociedade está em constante acirramento de competição, assim, a instituição não favorece o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, por desconsiderar os valores do aluno e os conhecimentos já adquiridos, talvez estes aspectos possam atuar como fio condutor para o seu êxito escolar. REFERÊNCIAS MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: - Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, Direção: Laurent Cantet, baseado no livro de François Bégaudeau. França. 2007.