quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

AVALIAR: UMA DÍFICIL TAREFA

AVALIAR: UMA DÍFICIL TAREFA
Joselia F.de Oliveira
Professora da rede pública

A educação tradicional considera a aprendizagem como atividade cognitiva, valendo-se apenas do lado esquerdo do cérebro funcionando de modo linear e lógico, apresentando apenas condições de compreender conceitos e idéias. A aprendizagem significante combina o lógico e o intuitivo, o intelecto e os sentimentos, o conceito e a experiência, as idéias e o significado.
A prática da avaliação manifestada nas escolas, através de provas e testes, tem sua origem na escola moderna e sistematizou-se a partir do século XVI e XVII com a cristalização da burguesia. Sendo assim, pode-se dizer que a pedagogia tradicional que se cristalizou por muitos anos traduzindo seus valores ainda nos dias atuais se faz presente.


Assim a atual prática avaliativa da aprendizagem escolar tem sido exercitada de forma inconsciente como se ela não estivesse a serviço de um modelo teórico de sociedade e de educação, como se fosse uma atividade neutra. Postura essa que indica uma defasagem no entendimento e na compreensão da prática social. (Luckesi, 1980 p.56).



A prática escolar predominante hoje se realiza dentro de um modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. (Althusser, 1975 p 43)) No entanto, o autoritarismo é o elemento necessário para a garantia desse modelo social, daí a prática de avaliação manifestar-se de forma autoritária.
Percebe-se que a presente avaliação educacional está a serviço de um atendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que se procura situá-la num outro contexto pedagógico, ou seja, temos que opostamente, colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupado com a educação como mecanismo de transformação social. A avaliação da aprendizagem escolar no Brasil, atualmente tomada in gênese, está a serviço de uma pedagogia dominante que, por sua vez, serve a um modelo social dominante, a qual genericamente, pode ser identificada como modelo social liberal conservador.
A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, terá de obrigatoriamente ser autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa perspectiva de sociedade, que exige controle e enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social, seja pela utilização de coações explícitas seja pelos meios sub-reptícios1 das diversas modalidades de propaganda ideológica. A avaliação educacional será assim, um instrumento disciplinador não só das condutas cognitivas como também das sociais, no contexto da escola. (Luckesi, 2002 p.23). A avaliação nas pedagogias preocupadas com a transformação deverá estar atenta aos modos de superação do autoritarismo e ao estabelecimento da autonomia do educando, pois o novo modelo social exige a participação democrática de todos. Isso significa igualdade, fato que não se dará senão conquistar a autonomia e a reciprocidade de relações.
Nesse contexto, a avaliação educacional deverá manifestar como um mecanismo de diagnóstico da situação, tendo em vista o avanço e o crescimento e não a estagnação disciplinadora. A avaliação pode ser caracterizada como uma forma de ajuste da qualidade do objeto avaliado, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo.
Conforme Luckesi (1978 p 8) afirma que, “a avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão”. O grande desafio da educação além de outros se refere à tomada de decisões acertadas. Assim, uma das grandes dificuldades dessa ação docente é o processo avaliativo. As avaliações praticadas no âmbito escolar evidenciam os descaminhos e as contradições. No entanto, normalmente a instituição requer ponte das docentes um ensino de qualidade a clientela, propõe uma avaliação formativa e aplicar-se uma avaliação como função apenas classificatória que continua a produzir fracassos sociais. As provas e exames são realizados conforme o interesse do sistema de ensino e do professor.
Neste contexto, a atenção dos educadores, políticos e da sociedade tem sido voltada para a dimensão social e política da avaliação por representar, muitas vezes, práticas incompatíveis com uma educação democrática. Sabe-se que no Brasil a forma de avaliação está fortemente fundamentada nos pressupostos norte-americanos, não só na sua estrutura através dos textos, mas também na ampliação da concepção de mensuração, quando se utiliza outros instrumentos ou variedades de procedimentos com base nas propostas de Tyler 1979.
Nesse contexto, a avaliação escolar estipulou como função na atual prática educativa do ato de avaliar a classificação e não o diagnostico. Ou seja, o julgamento de valor, que teria a função de possibilitar uma nova tomada de decisão sobre o objeto avaliado, passando a ter a função estática de classificar o objeto ou o individuo num padrão determinado.
Sendo assim, o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela; mas sim como meio de julgar a prática e torna-la estratificada.O educador que estiver em busca das transformações e dar um novo rumo para a prática da avaliação escolar deverá estar preocupado em redefinir ou em definir propriamente os encaminhamentos da sua ação pedagógica, para não ser neutra.No entanto, é fundamental redirecionar os caminhos da prática avaliativa e assumir um posicionamento pedagógico claro e explicito de tal modo que possa orientar a pratica pedagógica, o planejamento e a execução da avaliação.
A avaliação da aprendizagem, não deve se limitar a mera constatação de fracassos e sucessos dos alunos, mas,antes de tudo deve ser vista como um processo, através do qual, professores e alunos, acompanha seus desempenhos, dificuldades e desenvolvimento, progressos em suma, para a partir daí, avançar em busca de uma educação de qualidade.

Para Luckesi (1996, p. 77), o processo de avaliação tem basicamente três passos: Conhecer o nível de desempenho do aluno; comparar essa informação com o que é considerado importante no processo educativo; tomar decisões que possibilitam atingir os resultados esperados.
Dessa forma, seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando provoca o desenvolvimento do educando. Segundo Libâneo (1991, p 103) diz: A avaliação escolar é uma tarefa diária necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Assim, os resultados obtidos, no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos e dificuldades e reorientar o trabalho para as correções necessárias.
As afirmações reforçam a concepção de avaliação e levam-nos a refletir sobre a complexa tarefa que não se restringe apenas a fazer prova e dar notas. A avaliação do desempenho escolar constitui-se parte integrante do processo ensino-aprendizagem e não uma etapa isolada.
Segundo Esteban (1999, p 85) É importante continuar discutindo a avaliação como um processo mais amplo de discussão do processo escolar, dos mecanismos que constituem possibilidades de reversão desse quadro, com a construção de sucesso escolar de todas as crianças das classes populares, as que efetivamente vivem no seu cotidiano o fracasso na aprendizagem.
Concorda-se plenamente com a afirmação acima pois devemos lutar na escola pela criação de momentos de reflexão sobre o sistema de avaliação adotado e os resultados advindos, analisando o que foi produzido o fracasso ou sucesso escolar que tem promovido à inclusão ou exclusão escolar.
Assim, Esteban (1999, p 7) afirma: “o processo de avaliação do resultado escolar dos alunos está profundamente marcado pela necessidade de criação de uma nova cultura sobre avaliação, que ultrapasse os limites da técnica e incorpore em sua dinâmica a dimensão ética.
A avaliação da aprendizagem ganhou um espaço amplo no processo de ensino que a prática educativa escolar passou a ser direcionada por uma “pedagogia do exame” baseada em testes e provas.
Entretanto, Hoffmman (2001, p 67), faz um confronte com a avaliação mediadora, entre objetos pretendidos e alcançados, interesses e valores dos alunos que não se destina a explicar o seu grau de aprendizagem.
Assim, a avaliação deve essencialmente subsidiar o professor e a escola no sentido de favorecer uma melhor compreensão dos limites e possibilidades dos alunos e de ações subseqüentes para favorecer o seu desenvolvimento. Uma avaliação em síntese que se projeta e vislumbra o futuro, tem por finalidade a evolução da aprendizagem dos educandos.
Percebe-se que as práticas tradicionais voltam-se para o passado, relatando e explicando o presente. Uma prática avaliativa direcionada ao futuro, diretamente, não tem por objetivo reunir informações para justificar ou explorar uma etapa de aprendizagem mas acompanhar com atenção e seriedade todas as etapas vividas pelo aluno visando alternativas de solução e melhoria da educação.
É fundamental que os profissionais em educação identifiquem o serviço de quem estão desenvolvendo seu trabalho, para que diante do aluno que fracassa, possam buscar com competência s causas de suas dificuldades colaborando dessa forma para superar os entraves da educação, redefinindo-se qualitativamente como profissional através dessa nova visão dos problemas de aprendizagem.
A necessidade de medir surgiu nos primórdios da vida do homem, quando este precisou usar o seu próprio corpo para buscar as primeiras unidades de comparação. Na escola, segundo Saul (1994, p 64), “a preocupação com a avaliação da aprendizagem escolar também é muito antiga. Estudos realizados por teóricos serviram pra que educadores repensassem suas formas de avaliar, percebendo que um instrumento de medir a aprendizagem de um aluno não pode se resumir apenas a uma medida”.
A avaliação da aprendizagem não deve seguir modelos ou haver mecanismos seletivos nem classificatórios. A escola deve dar ao aluno uma educação básica a que todos os cidadãos têm direito. Dessa forma, a seleção constitui-se um ato de violência a esse direito.
Conforme Tyler em seu estudo defendeu a variedade de procedimentos, a serem aplicados no processo avaliativo, como testes, questionários, fichas de registro, inventários, escolas de atividades e outros atrelados aos objetivos propostos pela proposta curricular. Enquanto Bloom foi contra a atribuição de notas nos testes aplicados aos alunos, defendeu a idéia de que no processo avaliativo professor e aluno são avaliados ao mesmo tempo. Assim os instrumentos aplicados deveriam ter a finalidade de verificar o domínio e a aprendizagem.Nos estudos realizados, verificamos aspectos relevantes como; aplicabilidade pratica dos conteúdos nas áreas de conhecimento. Importância e utilidade dos mesmos na vida dos alunos, É importante que o aluno saiba, analisa-las, critica-las, que use alógica, aplicando com compreensão os princípios da ciência, bem como o raciocínio lógico matemático. A percepção arcaica dos professores, técnicos e administradores em relação à atribuição de notas ou menções nas avaliações dos alunos têm representado um problema que vem causando recuos no processo ensino-aprendizagem.
Assim, torna-se imprescindível que o projeto educativo contemple a prática avaliativa dos professores repensando as alternativas dos autores pesquisados e postas em prática, resgatando numa dimensão mais consciente a concepção de avaliação dialética-libertadora no fazer pedagógico e em consonância a prática avaliativa como um meio de realizar a transformação social, num processo ativo onde o aluno seja o sujeito dessa transformação.
A avaliação conforme Hoffmman (1999), Luckesi, (2002), não é um fim, mas um meio, que permite verificar até que ponto os objetos estão sendo alcançados, identificando os alunos que necessitam de atenção individual e reformular o trabalho com a adoção de procedimentos que possibilitam somar as deficiências identificadas.
Assim, avaliar o aluno como um todo é uma das representações mais fortes entre os professores quando tratam da prática avaliativa. Em busca das mudanças na avaliação, encontram-se obstáculos, porém, um destes reside na tradição avaliativa predominante, são representações, valores, concepções que estão há muito tempo enraizadas nos educadores e que funcionam como elemento de resistência nos mesmos à construção de novas práticas pedagógicas.
Luckesi (1998) compreende a avaliação como um julgamento da qualidade dos conhecimentos e práticas relevantes, tendo em vistas o estabelecimento de um processo decisório a favor da democratização do ensino, estabelecendo o que é de suma importância para o ensino-aprendizagem no processo de não ser instrumento de poder nas mãos do professor, mas um meio de diagnosticar a situação do educando.
De acordo com Vasconcelos (1998, p 53),
a avaliação é um processo abrangente da existência humana implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar os avanços, resistências, dificuldades e possibilitando uma tomada de decisão e soluções para superação dos obstáculos.

É importante considerar que há um descompasso entre os princípios e conceitos que norteiam a formação profissional baseados não só na pedagogia tradicional, mas em toda a representação cultural alicerçada na seleção estratificação, padronização e a performance do público que trabalhamos no dia-a-dia.
Ao tratar a avaliação como mera verificação da aprendizagem, afastam-se de seus objetivos e propósitos na relação entre o ensino-aprendizagem e a formação de indivíduos para atuarem conscientemente e criticamente na sociedade.
Para Hoffmann (1993, p 23), a avaliação contínua é vista como acompanhamento da aprendizagem, identificando as conquistas, problemas e o desenvolvimento dos alunos.
Na realidade, a avaliação contínua é uma atuação e ocupação do professor com a apropriação efetiva do conhecimento e a interação do aluno que é objeto de conhecimento isolado, para assim, poder cumprir a função de beneficiadora do processo ensino-aprendizagem.
Ainda a autora destaca dois tipos de avaliação tais como: avaliação diagnóstica - Constitui-se um dos meios pelos quais pode-se conhecer os alunos. O que permite acompanhar a trajetória do educando, descrevendo seus problemas e potencialidades. A avaliação diagnóstica que envolve a descrição e classificação, está relacionada a uma metodologia do diagnóstico. Uma forma de diagnosticar é determinar o nível de domínio dos conteúdos previstos. Outra forma, de avaliar e verificar se os alunos adquiriram conhecimento e habilidades previstas, a fim de orientar o ensino-aprendizagem.
Para neto (1980, p 39) afirma:
Avaliação diagnóstica pretende definir o nível de aprendizado apresentado por cada aluno no sentido de verificarem-se pré-requisitos estabelecidos para o programa, o curso ou período foram atendidos. De outro modo, a avaliação diagnóstica analisa, se o aluno apresenta os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para prosseguir as demais atividades.

Compreende-se que a avaliação é útil quando é um processo de retroalimentação, um instrumento de aprendizagem que ajuda a instituição a evitar erros e a tomar decisões acertadas.É necessário que a avaliação assuma uma característica democrática, utilizada como instrumento para o desenvolvimento de atividades didáticas, sendo compreendida como elemento integrado entre aprendizagem e o ensino.
A avaliação formativa é uma forma que busca identificar as insuficiências principais na aprendizagem inicial, necessária à realização de outras aprendizagens. Além de providenciar elementos para de maneira devida, orientar a organização do ensino-aprendizagem em etapas posteriores de aprendizagem corretiva ou terapêutica. Nesse sentido, deve ocorrer freqüentemente durante o ensino. Esse tipo de avaliação é uma parte integrante do processo de ensino.
Vale salientar que esta avaliação deve ser baseada no conteúdo cumulativo destinada a medir diferentes etapas do programa. A avaliação é importante sobre a aprendizagem bem como para ajustar as diferenças existentes no grupo.
A avaliação somativa é também conhecida como classificatória ou tradicional. É um processo de descrição e julgamento para classificar os alunos ao final de uma unidade, semestre ou curso, segundo os níveis de aproveitamento expressos em notas ou conceitos indicando ao aluno que for adquirido por todos. Embora a avaliação formativa possa ser empregada como somativa e diagnóstica, a questão fundamental é que a primeira observa o domínio do aluno gradativamente e hierarquicamente em cada etapa da instrução.
E segundo a avaliação diagnóstica contribui para a formativa, na medida em que facilita a discriminação das dificuldades do aluno e do grupo. Desta forma constitui uma etapa inicial de avaliação formativa. Assim, a avaliação tanto formativa como diagnóstica, podem contribuir para a avaliação somativa. Isto é, quando o professor durante o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utiliza-se dos recursos da avaliação diagnóstica e formativa empregando-se no final a somativa.

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