pretendemos analisar as inovações que ocorreram na programação dos Festivais de Inverno, uma vez que assumiu uma nova roupagem mesmo que mantendo a tradição nos espetáculos haja vista que desde o seu nascimento em 1976 até 2005 as apresentações artísticas permaneceram da mesma forma, no sentido de produção da arte baseada nos espetáculos de música, dança e teatro sem direcionamento de uma temática para o espetáculo. Isto é, não havia a preocupação de novas práticas inovadoras no evento, persistindo o mesmo roteiro artístico ao longo dos anos.
A precursora, Eneida Agra, mostrou alguns deslizes ao decorrer de mais 30 anos sem mudar a forma do Festival de Inverno em Campina Grande, com a globalização, o avanço tecnológico poderiam inovar as concepções e posicionamentos culturais na cidade ao longo do processo.
Talvez devido à necessidade de não deixar morrer os Festivais Eneida Agra junto a coordenação do Evento decidiram realizar a partir de uma temática especifica para os eventos somente a partir de 2006, evidenciando uma nova roupagem nos Festivais, mas, mantendo a tradição da cultura brasileira. Por isso, tentarei mostrar as mudanças realizadas conseqüentemente provocadas pelos elementos da modernidade. De fato, a atualidade é marcada por debates acalorados em torno da possibilidade de estarmos ou não vivendo ainda a era moderna ou de já termos entrado numa era pós-moderna. Entendemos que estamos vivendo um momento inteiramente novo e original que exige novas teorias e políticas.
Vivemos um tempo de mudanças e transformações desde os anos 1960, uma vez que houve uma série de modificações na cultura e na sociedade de todo o mundo. Desse modo, os novos modelos culturais surgiram e desafiaram as formas estabelecidas de sociedade e cultura e produziram novas contracultura e formas alternativas de vida.
Neste texto abordo o significado político-cultural dos Festivais de música, de dança e de teatro organizados. Percebemos como características fundamentais desses Festivais a mistura de tradições culturais, a predominância do que Eric Hobsbawm designa “canções populares” que marca esta produção/criação artística.
Em 2005, o Festival de Inverno organizou várias atividades culturais e intelectuais para o publico campinense. Nesse sentido, realizou o 3º Congresso de Cultura, reunindo produtores de todas as regiões do Brasil. O 1º Encontro de Dramaturgos do Nordeste, o Encontro de Diretores da Rede Brasil de Promotores Culturais, além das tradicionais oficinas, conferências e espetáculos de dança, música, teatro e arte visuais, a exemplo de Ana Botafogo, Cia. de dança Alaya, grupo de Teatro SESC Amazonas, Sinvuca e orquestra sinfônica da Paraíba, Quinteto Paraíba, Belchior, entre dezenas de outros.
Segundo sua idealizadora Eneida Agra, “a credencial do Festival de Inverno é a sua própria história”. Criado em 1975, sobreviveu ao autoritarismo, fortaleceu-se na democracia e consolidou-se na contemporaneidade, acompanhando sempre o que existiu de mais moderno no país e no exterior, o Festival desenvolveu projetos culturais, sociais e educacionais, contribuindo não apenas para as atividades artísticas, mas para o desenvolvimento humano.
Embora com práticas artísticas diferentes, estes artísticas têm em comum o fato de serem construtores de um Nordeste, cuja visibilidade e dizibilidade estão centradas na memória, na reação ao moderno, na busca do passado como dimensão temporal; assinaladas positivamente em sua relação com o presente.
Em 2005, Elba Ramalho participou deste espetáculo juntamente com a apresentação da Cia. de dança mineira no Primeiro Ato, destacando o espetáculo “O Mundo Perfumado”. Também marcou presença Carlinhos de Jesus, dançarino que exportou o nome do Brasil para grandes acontecimentos internacionais de dança, na oportunidade o espetáculo “Isto é Brasil”, já enfatizado, contou com a participação muito especial da bailarina clássica Ana Botafogo.
É dentro deste contexto que surgem as formulações culturalistas, esta procura da harmonia alia-se à procura da permanência da manutenção da ordem. No entanto, percebemos que o pensamento nordestino se orienta mais pelo sentido de uma cultura tradicional baseada numa realidade rural. Sempre pensando como regiões rurais mesmo sendo desde longa data algumas das maiores regiões do país, são totalmente negligenciadas, seja na produção artística, seja na produção científica. As cidades nordestinas, mesmo nos eventos quando tematizados parecem ter parado no período colonial são abordadas como cidades folclóricas.
O Festival de Inverno na sua 30ª edição trouxe a apresentação do grupo de teatro “Tá Na Rua”, que há mais de 25 anos leva espetáculos de teor político às praças do Brasil, interagindo de maneira permanente com o público. Além disso, a celebração ao Dia do Folclore, 22 de agosto constitui-se em uma festa popular na Praça da Bandeira com apresentações de grupos populares de todo o Estado (Zabelê, Alcantil, João Pessoa, Riacho de Santo Antônio, Campina Grande).
Entendemos que os Festivais de Inverno proporcionam a participação dos mais diferentes grupos de artistas que de maneira democrática participam do evento de acordo com a cultura de sua região. Não existe uma melhor ou pior apresentação cultural, mas uma diversidade de talentos e mostras culturais brasileiras que engrandecem a comunhão entre a tradição e a cultura.
O Nordeste mesmo sendo visto por alguns modernistas como o último reduto da cultura brasileira, entendida como cultura luso-afro-ameríndia, por não ter passado pelo processo de imigração em massa. É importante, pois, acompanhar não apenas a institucionalização do evento, feita pelo discurso de seus governantes e coordenadores, ou pelo contraponto com o olhar dos intelectuais de outras áreas do país, mas também acompanhar o trabalho dos artistas e romancistas que produziram esta elaborada imagético-discursiva regional de real poder de impregnação e de reatualização. O Nordeste espaço da saudade, da tradição, foi também inventado pelo romance, pela música, pela poesia, pela pintura, pelo teatro etc.
Por isso, é notório nos Festivais de Inverno, os espetáculos marcados pelo regionalismo como: Alaya (Brasília), com o espetáculo “Matracar”; Experimental (PE) com espetáculo “Lúmem”; Cia. dos Homens (PE) com “Labirinto”; Andança (RS) com um espetáculo que mostrará a riqueza cultural das danças gaúchas e a Cia. Ilimitada, da Bahia, com o espetáculo “Imagens”, foram de suma importância para o prestígio dos Festivais de Inverno em Campina Grande-PB.
Sem dúvida, destacou-se os espetáculos de bailarinos e coreógrafos como Rui Moreira (MG), um dos mais premiados do país e com uma série de apresentações e prêmios recebidos no Brasil e exterior. Moreira apresentou o espetáculo “Receita”. Na parte musical, haverá ainda a apresentação da Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Percebemos que as outras regiões do país com culturas diferentes adotam como características artísticas o ballet moderno, como foi destaque em 2008 a apresentação do Ballet Quartier Latin e Beatles Lado D. Na realidade, a mudança nos códigos que regem a arte e a cultura se expressa no enfraquecimento dos fatores ditatoriais, na decadência do mundo arcaico.
Assim, na programação dos cursos e oficinas que aconteceram no Centro Cultural e Centro de Tecnologia Educacional Professor Severino Loureiro. Paralelo ao Festival, durante o III Congresso Paraibano de Cultura onde foram discutidos os últimos 30 anos de produção artística no Brasil, décadas vivenciadas pelo próprio Festival de Inverno. Também são ministrados cursos para bailarinos, atores, danças populares, além de um curso especial para educadores da Secretaria de Educação do Município. Todas as apresentações e oficinas acontecem no Teatro Municipal Severino Cabral, Praça da Bandeira, SESC- Serviço Social do Comércio, localizado no Centro, Circo da Cultura, Teatro Rosil Cavalcante e Teatro Raul Pryston (Monte Castelo).
Para Eneida Agra Maracajá, coordenadora do Festival, além das apresentações nacionais, o evento tem como meta valorizar a “prata da casa”, nas áreas de dança, teatro e música, inclusive com a realização de oficinas. “Campina Grande tem um celeiro de talentos, inclusive de dançarinos populares. O festival possibilita uma dimensão mais ampla, inclusive o caráter pedagógico através das oficinas”, inova no sentido histórico-cultural.
Mas é um caminho de pedras que ficará mais explicitado a profunda ambigüidade do projeto de transformação social muito voltado para o passado do que para o futuro. A arte trata da relação entre o artista e a cultura do seu tempo. Por muitos anos o Nordeste foi espaço de tradição, da saudade, não se faz apenas pelo discurso sociológico ou historiográfico. Ela é fundamental na transformação das formas visuais das imagens produzida pelo pintor, pela música, pelo teatro, enfim, pelas manifestações culturais como um todo.
A criadora dos Festivais é vista pelos jornais da cidade como aquela que promove a arte em Campina Grande-PB, sempre buscando inovar, no sentido de acompanhar o desenvolvimento da sociedade por isso, a partir do ano 2006 os Festivais de Inverno incorporou uma nova roupagem ao espetáculo. Este passou a seguir uma temática com o objetivo de atender a demanda da sociedade contemporânea em discussão a construção da cidadania. Atualmente a cultura local tem sido priorizada, uma vez que as manifestações culturais têm compromisso com a sociedade. E assim, as atrações culturais expressam a realidade de cada região brasileira porque cada espetáculo traz para o público uma produção independente, com característica especifica da região. E isso é fazer arte. É importante investir na cultura artística por que a arte é imortal
Em 2006, o Festival de Inverno de Campina Grande ostenta um cargo novo dentro do seu organograma: o de diretor de articulação. Atribuído ao sociólogo Noaldo Ribeiro , essa função designa, talvez, o amplo leque de atribuições que o mesmo tem dentro da estrutura de um evento que, finalmente, posicionou-se politicamente. Em uma de suas primeiras entrevistas promocionais, a educadora e “cangaceira da cultura”, Eneida Agra Maracajá, afirmou que “o Festival também é dos governantes, a cultura é um arco-íris, não tem partidos”, externando a idéia de que no evento há lugar para todas as cores, desde que o financiem. Essa fala da promotora incansável, apesar de sexagenária, indica que o mal-estar político do festival passado pegou mal. Num mesmo palco, na noite de abertura, trocaram farpas prefeito e governador e, atônita, a guerreira Eneida não pôde tomar partido de nenhum – afinal, como de praxe, recebeu verbas públicas de ambas as esferas do poder. Seria, no mínimo, deselegante para uma dama da cultura ser simpática ao verde em detrimento do laranja ou vice-versa. Sem uma captação de verba efetiva da iniciativa privada, o festival tem que ter muito jogo de cintura.
Com isso, firmando cada vez mais a hipocrisia e demagogia dos líderes políticos em Campina Grande, estes como outros posicionamentos negativamente egocêntricos, fazem com que a população veja os eventos como um pedestal de promoções de cunho político ou de qualquer área afim.
O Jornal da Paraíba entrevista Noaldo Ribeiro e aborda dentre outros assuntos o Festival de Inverno em Campína Grande-PB, inclusive a “neutralidade partidária”. Para Noaldo Ribeiro, o objetivo dos coordenadores do Festival de Inverno era criar uma instituição que pudesse captar recursos. No entanto, um fato singular acelerou esse processo.
É interessante notar que o fator econômico como determinante coaduna com o próprio momento histórico vivido no país, em que a transformação da estrutura econômica aparece como um imperativo. Momento em que os estudos econômicos abandonam significativamente os investimentos de fundo cultural.
Entretanto, a FUNARTE – Fundação Nacional de Arte, nos concedeu a honra de co-realizar o Festival, exigindo que o Poder Público Municipal delegasse ao Solidarium a tarefa de realizá-lo. Isto foi feito pela prefeitura e, a partir de então, passamos a assumir efetivamente a realização do evento.
Percebemos que em relação a captação de recursos, mas 90% dos recursos que são recebidos pelo evento tem sido de origem governamental (Governo do Estado, Prefeitura, FUNARTE- Fundação Nacional de Arte, CHESF – Companhia Hidrelétrica de Energia de São Francisco).
O discurso nacional-popular vai tendendo, pois, a reelaborar a própria noção de cultura introduzindo a necessidade de que esta, para expressar os interesses do povo, fosse dotada de uma visão revolucionária, em relação a condição deste povo, e da sociedade nacional. Cultura é vista como sinônimo das manifestações estéticas voltadas para a discussão da questão do poder e da política. Na realidade, a expressão cultural é reforçada cada vez mais para atender os interesses da classe média-alta, e sua participação no mundo da política do pais.
Conforme Noaldo Ribeiro, o Festival de Inverno passou por um momento de transição. O fato de o Solidarium ter conseguido, sem interferência de nenhum outro agente, captar recursos junto à CHESF- Companhia Hidrelétrica de Energia de São Francisco e à PETROBRAS -, sendo que com esta última não foi possível assinar o contrato por problemas de tempo, já significa um grande avanço para um instituto que tem apenas dois anos. Por outro lado, ainda é incomum na região contar com a participação da iniciativa privada, embora seja esta a nossa perspectiva.
O crescimento numérico deste grupo social, notadamente a partir do crescimento dos setores ligados às profissões liberais e das grandes cidades torna esta classe não apenas uma das principais consumidoras dos artefatos e manifestações culturais do país, mas também umas das principais participantes deste movimento cultural e que o povo cada vez mais parecem ser composto dos estratos médios e burgueses da sociedade.
Na realidade, o Solidarium desenvolve outras ações além do Festival de Inverno, ou seja, as atividades desenvolvidas pelo Festival de Inverno (Cultura no Presídio, Projeto Carnavalesca e Girassóis do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) passaram a ser da responsabilidade da Solidarium. Segundo Noaldo Pereira, estas atividades estão ao alcance social de todos. Dentre esses projetos são visíveis, os objetivos no sentido de humanizar a vida carcerária, preservar os traços culturais do carnaval brasileiro e, finalmente, enriquecer os serviços em prol das crianças deste programa.
A necessidade de amarrar a história a esquemas conceituais, que a transformam num jogo de cartas marcadas, nasce exatamente do medo de seu caráter destruidor, sacrificial, medo da abertura para o vir-a-ser do finito limitado, para a surpresa que esta significa. Essa pretensão do tornar a história previsível e a realidade plenamente controlável pela visão não passa de uma vontade de poder, uma vontade de verdade e interpretação e não uma condição objetiva da história.
A trigésima primeira edição do festival traz como tema a Nordestinidade Brasileira, a partir de um conceito do antropólogo Gilberto Freire acerca da identidade cultural do homem nordestino. Que traços de diferenciação cultural do homem nordestino em relação aos demais deste país serão enfocados nas mostras deste ano.
Para Noaldo Ribeiro:
Na verdade, o tema escolhido tem um tom provocativo. Não se quer referendar a teoria do sociólogo de Apipucos, mas de colocá-la sob o crivo da discussão face às novas reflexões desenvolvidas atualmente, principalmente, pelos historiadores Michel Zaidan e Durval Muniz. Por isso, a preocupação das mostras de música, dança e teatro é a de fazer desfilar pelos palcos do Festival as várias estéticas artísticas que vão desde o violeiro repentista, passando pela tradição de Benedito do Rojão, adentrando a modernidade de Elba e Geraldinho Azevedo, até o som contemporâneo da Nação Zumbi.
Para o sociólogo, Noaldo Ribeiro, a atual relação do homem nordestino com os de outras regiões do país, em especial sul e sudeste, está havendo mais tolerância e respeito para conosco. Sabemos que a relação do nordestino com pessoas de outros estados brasileiros é permeada de certo mito que define o nordestino como um pobre coitado. Na verdade, temos um presidente nordestino, isso demonstra que a coisa não é bem assim. De fato, a própria dramaturgia e demais formas de artes, talvez, tenha contribuído para formar no imaginário essa imagem pejorativa sobre o nosso povo. É o caso de reagir, de ser sartreano: "Não importa o que os outros pensam da gente. O que importa é o que fazemos com aquilo que os outros nos fazem.”.
É fundamental notar que o discurso tradicionalista toma a história como o lugar da produção da memória, como discurso da reminiscência e do reconhecimento. Através do Festival, Eneida Agra faz dele um meio de os sujeitos do presente se reconhecerem nos fatos do passado. De reconhecerem uma região presente no passado, precisando apenas ser anunciada. Ela faz dos Festivais o processo de afirmação de uma identidade, da continuidade e da tradição e toma o lugar de sujeitos reveladores desta verdade, mas encoberta.
Comparando o Festival de Garanhuns, apesar de mais jovem, não conseguiu ultrapassar em nenhum aspecto o Festival Campinense. Noaldo Ribeiro (2006) considera que, o Festival de Garanhuns não pode ser visto isoladamente. Ele faz parte de todo um projeto que une as políticas cultural e turística do estado de Pernambuco, traduzido pelo Circuito do Frio. Enquanto acontece o Festival de Garanhuns, Gravatá se prepara para fazer o seu, Triunfo etc.
Neste contexto, essa memória espacial, esteticamente recuperada, inspiraria a criação de um futuro melhor, liberto dos ativismos, artificialismos e utilitarismos. Um espaço regional, feito para permanecer no tempo; construído com o agenciamento de monumentos, paisagens, tipos humanos, relações sociais, símbolos e imagens que pontilham este território estriado pelo poder.
No que se refere à estrutura organizacional do festival de C.Grande-PB, não permite um atrelamento significativo entre turismo e cultura maior que o daqui, mesmo com 30 longos anos de experiência. Observamos que os projetos desenvolvidos constatam que a nossa proposta mantém a essência artística, além de realizar o casamento entre cultura e turismo.
É na memória que se juntam fragmentos de história, um espaço sem claros, preenchido completamente por estes textos, imagens e sons que lhes dão espessura. Espaço onde nada é provisório, onde tudo parece sólido como os monumentos, a fim de alcançar a permanência do ritmo da sedimentação cultural da sociedade.
Supõe-se que por não tratar-se de um festival de caráter não personalizado, ou seja, não está associado a um organizador, mas a uma equipe múltipla de profissionais de marketing, turismo, cultura, etc. É impossível dissociar a criatura do seu criador. Estamos vivendo um momento de transição, cuja perspectiva é de criar um colegiado para gerir o Festival. No entanto, isto nunca irá apagar o nome da professora Eneida Agra Maracajá como figura que não somente criou o Festival de Inverno, mas que se tornou parte dele. Esse novo horizonte traçado para o Festival partiu da própria professora Eneida, que hoje assume a função de curadora do mesmo.
Na realidade, a propósito da professora Eneida, foi dito por ela em uma entrevista durante o lançamento do Festival deste ano (2006) que “o Festival também é dos governantes, a cultura é um arco-íris, não tem partidos”. Essa afirmação é uma forma de manter o festival de bem com todos os grupos políticos que administram as esferas públicas e que são, potencialmente, patrocinadores do evento.
Por isso, o Festival de Inverno é um instrumento que enxerga a cultura em três dimensões: como símbolos e signos do viver, do crer, do criar e do fazer de um determinado povo, o que se traduz pelas diversas artes; como promotor da cidadania; e como indutor do desenvolvimento econômico (esta é a perspectiva). Sendo assim, o Festival precisa manter uma relação de cordialidade, não apenas com o poder Mas, fundamentalmente, com a sociedade civil. A propósito da captação de recursos, junto a empresas privadas e federais foram feitos sem a menor injunção política, valeu no caso a competência do projeto.
Portanto, o 31º Festival de Inverno em Campina Grande apresentou o espetáculo intitulado “Som Nosso do Meio-Dia”, projeto elaborado para destacar dentro da Mostra de Música do evento os talentos campinenses. Na programação passou pelo palco da Praça da Bandeira um total de 17 cantores e bandas que apresentaram seus diversos estilos, indo do forró ao rock, da MPB à música instrumental.
No repertório, composições próprias e covers de sucessos conhecidos do público se revezaram no palco três bandas campinenses. O show da banda Carburaflôr, apresentou além de músicas autorais, homenagens aos artistas nordestinos, com releituras de clássicos como Asa Branca, Xote das Meninas, entre outras músicas, ao melhor estilo pop rock.
Compreender a “alma de sua terra”, descobrir sua identidade também era a preocupação de Eneida Agra. Ao recuperar a memória pessoal significa organizar a memória coletiva. Assim, a essência do regionalismo passa também pela descoberta de si mesma, de sua identidade como pessoa e como intelectual. A representação do Nordeste é apresentado nessa imagem espacial interiorizada, um espaço melancólico e cheio de sombras; um espaço de saudades e misticismos.
Os componentes da Carburaflôr, do guitarrista Cláudio Coruja, são trabalhos “Input Instrumental” e “Mistura de Ritmos”, num espetáculo totalmente instrumental, mostrando um pouco de cada estilo de suas influências: pop rock, baião, reggae, entre outros. A banda Agente S2, também de Campina Grande, apresentou covers de sucessos nacionais e internacionais do rock.
A preocupação de apresentar a alma da terra, a sua espiritualidade assentada no sobrenatural, na transcendência e na religiosidade atravessa também toda a história da cultura nordestina e do povo brasileiro. Assumindo sua condição de país místico tendo em suas fontes negras da memória e do inconsciente de um catolicismo nordestino sertanejo em que o sagrado se mistura com a natureza e com os vínculos sociais concretos. Um Nordeste de alma negra, mística, espiritual e oprimida em busca de sua redenção. Nordeste onde a mistura de sangue confundem os papeis sociais.
O novo programa dentro do 31º Festival de Inverno é coordenado por Alexandre Barros, o Tan, coordenador municipal de Cultura, juntamente com Noaldo Ribeiro. A idéia surgiu para retomar apresentações de artistas locais no Festival. As atrações foram selecionadas através de material encaminhado por artistas de todo o Estado. Em 2006, o Festival de Inverno em sua 31ª versão, na ocasião o diretor Noaldo Ribeiro, apresentou as novidades deste ano para o evento, o tema: Novidades do Brasil. Outro episódio de destaque foi o caso em 2006, por ocasião do 31º Festival de Inverno prefeito e governador trocaram farpas diante do público do Teatro Severino Cabral.
A este respeito Eneida Agra diz:
O Festival também é dos governantes, a cultura é um arco-iris, não tem partidos. A rivalidade política prejudica. O Festival de Inverno é um instrumento que percebe a cultura em três dimensões: como símbolos e signos do viver, do crê, do criar e do fazer de um determinado povo, o que se traduz pelas diversas artes; como promotor da cidadania e como indutor do desenvolvimento econômico. Sendo assim, o Festival precisa manter uma relação de cordialidade, não apenas com o poder. Mas, fundamentalmente com a sociedade civil.
Desta forma, Eneida aproveitou a oportunidade para externar a idéia de que no evento há lugar para todos desde que o financiem. Afinal, as verbas recebidas vieram de ambas as esferas do poder. Seria no mínimo deselegante para uma dama da cultura ser simpática ao verde em detrimento do laranja ou vice-versa. Sem uma captação de verba efetiva o festival não tem como acontecer.
Na realidade, a questão política em Campina Grande, tende a influenciar negativamente para a realização de qualquer evento público, principalmente se existir a necessidade de verbas do governo do estado ou município. O evento se torna um meio de legitimação política, assim, aquele que patrocina automaticamente está promovendo o sem nome. E em caso de oposição entre o governo estadual e municipal, essa rivalidade transforma-se em rivalidade entre a cidade e o Estado. Neste sentido, quem perde é a população. Assim, as querelas relativas aos eventos culturais apenas refletem parte de uma luta maior, que se trava em âmbito político. E do resultado dessa batalha influenciam os rumos das manifestações artísticas na cidade.
Por isso, no caso do nordeste as grandes empresas procuram explorar as atividades folclóricas e os produtos artesanais. O Estado deixa às empresas privadas a administração dos meios de comunicação de massa e investe, sobretudo, na esfera do teatro. O movimento cultural pós 64 se caracteriza por dois momentos que não são na verdade contraditórios; por um lado ele é um período da história onde mais são produzidos e difundidos os bens culturais, por outro ele se define por uma repressão ideológica e política intensa.
Na introdução do livro, Cultura Brasileira & Identidade nacional da autoria de Renato Ortiz, enfatiza que o tema referente à cultura brasileira e identidade nacional é um antigo debate que se trava no Brasil. No entanto, ele permanece atual até hoje, constituindo uma espécie de subsolo estrutural que alimenta toda a discussão em torno do que é o nacional. Pode-se dizer que a relação entre a temática do popular e do nacional é uma constante na história da cultura brasileira, a ponto de um autor como Nelson Werneck Sodré afirmar que só é nacional o que é popular.
A noção de cultura popular enquanto folclore recupera invariavelmente a idéia de “tradição,” seja na forma de tradição-sobrevivência ou na perspectiva de memória coletiva que age dinamicamente no mundo.
O interesse pela arte desperta Eneida Agra a pensar a possibilidade de trabalhar com diferentes formas de expressão cultural e artística com os jovens, com grupos de teatro e as diversas experiências teatrais modificando assim o perfil das representações artísticas. Neste sentido, as manifestações culturais dentre elas os Festivais de Inverno, as rodas de viola, os concursos musicais de dança e teatro mostrou a arte em várias dimensões em suas expressões mais amplas.
Para Eneida:
A dança é a confluência de todas as manifestações artísticas advindas dos tempos mais remotos da civilização. Além da beleza coreográfica, envolvendo música e teatralidade, o canto, a plástica e o sentido oral real, oriundo da impulsividade humana. O Projeto Cultura no Presídio: Dança do Existencial, busca exercer junto aos cidadãos (apenados) duas de suas funções mais importantes, a de atuar como veículo de comunicação e o caráter terapêutico. A dança do existencial tem a pretensão de resgatar a condição de sujeito que o apenado vai perdendo na prisão. Não é apenas o direito de ir e vir que lhe é tirado, mas o direito à fala, a expressão .
Neste sentido, as manifestações artísticas são expressões de arte e cultura. Assim, o Festival de Inverno está diretamente ligado às produções artísticas de impacto, buscando demonstrar através dos movimentos e das expressões de seus projetos de cunho sócio-cultural e educacional a exemplo do Projeto: “Cultura no Presídio”, recuperar a esperança através da dança, por isso, o grupo de dança formado por apenados, de homens, ora excluídos da sociedade, que a arte pode libertar os pensamentos destes indivíduos mesmo por alguns momentos.
Segundo Eneida Agra Maracajá, a participação de um evento artístico de cunho internacional com um grupo de marginalizados, oferece a oportunidade de inclusão social. Assim, a coreografia como parte desse espetáculo, teve e tem como objetivo demonstrar que a dança é um instrumento que exerce a função de interferir sobre o indivíduo agindo no sentido de que, a mesma age, versando sobre o que não pode ser falado do universo interior do apenado. E assim, minimiza as angústias indizíveis, as barreiras instransponíveis, as humilhações e as descrenças existenciais, que por um “instante” encontra-se em sintonia com a arte.
No entanto, sabemos que os problemas do cidadão que se encontra em regime de “prisão”, não são fáceis de resolver. E a questão da arte em si não soluciona, mas silencia as angústias. Não podemos camuflar os problemas socioeconômicos do país usando como escudo a arte.
Para a organizadora deste Festival de Inverno, o incentivo a arte, principalmente quando em sua essência maior está envolvida a dança, da música ou do teatro significa dizer que a arte não foi, nem é privilégio de um povo, de uma época, de um meridiano, de uma cultura universal e eterna, nada contribui tanto para demonstrar a unidade do homem. Ele é um só, igual em seus anseios e sonhos, na necessidade de criar, e produzir arte, por isso, não podemos desprezar os talentos que compõem o humano.
Sendo a dança um momento ímpar para cada indivíduo, pode-se dizer que não tem um fim em si mesmo, não visa a formação de dançarinos precoces ou de profundos conhecedores da dança. Sua utilização deve ser feita como meio de alcançar uma série de objetivos da educação, que dentre outros se destacam a sensibilização, a socialização, a expressão corporal, a ampliação do desenvolvimento do ritmo, a autodisciplina, a aquisição da cultura. Desse modo, o Festival de Inverno é o memento em que a expressão da arte acontece nas várias dimensões que seja, na arte cênica, na música ou através da dança.
Por isso, a dança, para os povos primitivos, constituía também uma linguagem fundamental. Em todas as circunstâncias importantes da experiência humana, a dança era a representação daquilo que já tinha acontecido, do que estava acontecendo, ou do que se queria fazer acontecer que seja nas atividades cotidianas da vida ou da morte. Para Platão, a música desempenha um importante papel cultural e social: deveria ser cultivada desde a infância, mediante o adestramento da voz, do ouvido e da aprendizagem de um instrumento. Apesar dos diferentes pontos de vistas, uma coisa é certa, música e dança são atividades desde tempos primitivos elas aparecem associadas freqüentemente.
Segundo Renato Ortiz, a respeito afirma:
A cultura enquanto fenômeno de linguagem é sempre passível de interpretação, mas em última instância são os interesses que definem os grupos sociais que decidem sobre o sentido da reelaboração simbólica desta ou daquela manifestação. Os intelectuais têm neste processo um papel relevante, pois são eles os artífices deste jogo de construção simbólica. (ORTIZ, 2004, p.142)
Ainda segundo este autor, as manifestações culturais dependem dos interesses envolvidos, que seja os políticos, econômicos ou sociais a serem alcançados. Essa cultura “popular”, mais próxima do senso comum, mais identificada com os indivíduos, é produzida e consumida pela própria população local, sem necessariamente precisar de técnicas racionalizadas e cientificas. É uma cultura transmitida em geral oralmente, registrando as tradições e os costumes de determinado grupo social. Percebemos que a cultura alcança formas artísticas expressivas e significativas.
Entretanto, existe um tipo de criação cultural que não se identifica com um único víeis de criação artística. Essa produção é elaborada por músicos, escritores, dramaturgos, cineastas etc., cuja expressão é personalizada e criativa. E consegue manter um vínculo com a linguagem popular.
Na realidade, a “cultura” de um povo assim como os produtos desta cultura quer como o modo de vida, quer como o contexto do comportamento humano, etc., entretanto, há íntima ligação com a comunicação. Portanto, “cultura”, serve de mediadora da comunicação e é por esta avaliada. No entanto, a comunicação é mediada pela cultura, é um modo pelo qual a cultura é disseminada realizada e efetivada. Não há comunicação sem cultura e não há cultura sem comunicação, por isso, traçar uma distinção rígida entre ambas é afirmar que um dos lados é objeto legítimo de um estudo disciplinar enquanto o outro é relegado a uma disciplina diferente, constitui-se um exemplo da miopia e da futilidade das divisões acadêmicas arbitrárias do trabalho.
Definitivamente após 30 anos de realização do evento, chegou a um ponto de maturidade por parte de sua organização que passa a entender a necessidade de uma atitude profissional já a partir da criação desse instituto onde a captação de verbas obedecerá regras democráticas e poderá ser cobrado em termo de compromisso social.
Assim, a partir de 2006 os espetáculos adotam uma temática para realização do evento. Nesse contexto, neste ano de sua trigésima primeira edição, o Festival de Inverno trouxe como tema a “Nordestinidade Brasileira”, a partir de um conceito do antropólogo Gilberto Freyre acerca da identidade cultural do homem nordestino. A relação do nordestino com os indivíduos das demais regiões brasileiras é permeada de certo mito que define o nordestino como um pobre coitado.
Por isso, Renato Ortiz, em relação à cultura, afirma,
De qualquer maneira persiste o elemento conservador; valoriza-se a tradição como presença do passado, todo “progresso” implicando um processo de dessacralização da sabedoria popular. Um exemplo típico desta forma de literatura é o Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre. Concebe-se assim uma pretensa autenticidade das manifestações populares que irá radicalmente se opor a qualquer movimento de transformação da realidade social .
O Festival de 2006 trouxe para se apresentar o pernambucano Geraldo Azevedo na Praça da Bandeira, onde foi exibido o conjunto das estéticas culturais citando a arte nativa na música de Biliu de Campina e Cabruêra, evidencia os aspectos da regionalidade de Gilberto Freyre.
O Nordeste de Gilberto Freyre é enfatizado como o lugar da tradição, sempre tematizado de forma negativa como uma região de ignorantes pela literatura regionalista das mais diversas obras, a exemplo de Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e outros. As obras desses autores contribuem para que o Nordeste seja visualizado apenas como lugar das manifestações folclóricas, das crendices populares. Desse modo, o Festival de Inverno incorpora através da cultura e da arte, a tendência regionalista baseado na denúncia das tendências regionais.
Luiz Gonzaga e sua visão tradicionalista são responsáveis por divulgar uma cultura regional diante do processo de generalização dos bens culturais produzidos pela sociedade. O nordeste de Gonzaga é criado para realimentar a memória. Assim, a cultura marcada por estereótipos solidifica uma identidade regional.
A música de Gonzaga vai ser pensada como representante de uma identidade regional que se firmou por meio da produção freyreana. Não é só o ritmo que vai instituir uma escuta do Nordeste, mas as letras, o próprio grão da voz de Luiz Gonzaga, sua forma de cantar, as expressões locais que utiliza os elementos culturais populares e, principalmente, rurais que agencia a forma de vestir, de dar entrevista, o sotaque, tudo vai significar o Nordeste.
O Festival de Inverno tendo como temática “Nordestinidade” remete a saudade como uma constante tanto nas músicas de Gonzaga como na vida de Eneida Agra. A saudade da terra, do lugar, dos amores ou da família. E assim, a idéia de passado de memória evocado saudosamente em forma de misticismo. Um espaço marcado por uma produção cultural tradicionalista.
Luiz Gonzaga assume a identidade de “voz do Nordeste”, que quer fazer sua realidade chegar ao Sul e ao governo. Sua música tornou o Nordeste conhecido em todo o país, chamando atenção para seus problemas, despertando o interesse por suas tradições e cantando suas coisas positivas. Condizente com a visão populista que dominava a política brasileira neste momento e muito próximo da criação tradicional da política da região, Gonzaga se coloca como o intermediário entre o povo e o Nordeste e o Estado, que deseja saber quais são os problemas deste povo, cabendo ao artista torná-los visíveis. A seca surge no discurso de Gonzaga como o único grande problema do espaço nordestino. Para chamar atenção para este fato ele compõe Asa Branca, com Humberto Teixeira que chamou mais tarde de música de protesto cristão. Durante a seca de 1953, compõe com Zé Dantas Vozes da seca, na qual cobra proteção e providência por parte do Estado, surgindo inclusive soluções a serem tomada para o problema agenciando claramente enunciados e imagens do já quase secular discurso da seca.
Neste Festival, as apresentações artísticas além da música, da dança, do teatro e dos espetáculos de violeiros, repentistas, marcaram a tradição na arte. A saudade nas músicas de Rosil Cavalcanti aflorou as sensibilidades do público. E assim, o nordeste cantado através das músicas de Luiz Gonzaga: “Paraíba” ao mesmo tempo Eneida Agra é chamada de “Cangaceira das Artes”, pelo então prefeito Veneziano Vital do Rego. Essas saudades vêm se juntar as saudades de Eneida de um passado que ela não quer deixar esquecer .
Na realidade ainda podemos dizer que a preocupação maior de Gonzaga era com a conquista do espaço para a cultura nordestina, para sua música e com o reconhecimento do sul, expressando o já estabelecido complexo de inferioridade dos produtores culturais e intelectuais nordestinos que precisam sempre da validação do Centro-sul para seu trabalho.
E assim, a produção cultural de um povo, desde a pré-história até nossos dias, evidencia que o homem faz cultura, ao mesmo tempo em que manifesta por meio dela o seu conhecimento e a sua visão de mundo. O folclore da Bahia destaca a cultura de um povo é a oportunidade de comparar as diversidades culturais.
Neste sentido, Eneida como representante deste Festival desenvolve uma postura irreverente, tenta passar a idéia de que o espetáculo somente tem acontecido porque ela está a frente, como guerreira, batalhando sem cansar para a realização do evento. A figura da promotora incansável exerce a função de coordenadora e incentivadora da arte e da cultura no município.
Sabemos que isto se deve ao fato de que a cultura é uma invenção recente assim como o nordeste fruto em grande parte deste próprio desenraizamento do espaço da cultura e da memória do passado, não é apenas evocação, mas principalmente da criação de um espaço imaginado e de tradições feitas em contraponto a realidade urbana enfrentada e reforçada pela construção da identidade neste espaço e que possibilita a invenção desta cultura. A escuta é um dos principais mecanismos de delimitação desses novos territórios.
Assim, os festivais evidenciam um espetáculo a favor da arte, práticas estas que se constitui num dos efeitos e materialização dos discursos elitistas circulante, principalmente entre a elite local, tendência que se acentua paulatinamente. Culturalmente, ressignifica a eficácia da memória e da identidade social e contribui para valorização da arte popular. Essa temática sofre permanente atualização, tal como na literatura do cordel; tende para a crônica do cotidiano.
O Nordeste é criado para realimentar a memória do migrante. Não é por se ligar a estes setores marginalizados, no entanto a música nordestina vai se mantendo e continuando como uma música regional. Como expressão de uma região que era vista como o espaço de atraso, fora de moda, do pais; região marginalizada pela própria forma de como se desenvolveu a economia e como foi gestada discursivamente.
O Festival de Inverno de Campina Grande é um evento que, há décadas, trás para a cidade grandes valores culturais. É um momento das artes, seja ela musical teatral ou dançante. Contudo, e cultural da Paraíba, a FIEP apóia o Festival de Inverno. Para o Instituto de Arte, Cultura e Cidadania - SOLIDARIUM é responsável mesmo chegando a sua 32ª edição, o evento ainda sofre um entrave para a sua realização: a falta de patrocínio.
O espaço desenhado nos Festivais de Inverno temáticos e imagens já cristalizadas, ligados a própria produção cultural popular, fruto das manifestações da cultura popular. Por abranger os versos dos poetas, o circo, os fragmentos da literatura oral como provérbios e ditos populares, lendas, crenças e superstições.
Comprometida com o desenvolvimento industrial do Estado e também com o segmento social pela realização do evento. “O apoio da Federação não se resume apenas ao financeiro, a FIEP patrocina a “cara” do Festival que é o material gráfico e ratifica o grande momento nacional da cultura, pois este evento tem história, e a FIEP sempre chega na hora certa, Buega sempre chega na hora certa, pois ele conhece o Festival. O apoio da Federação vem dar o aval de credibilidade em um momento muito especial e, principalmente, confirmar a importância do Festival de Inverno que, há 32 anos, promove a cultura na cidade”, destacou a presidente do SOLIDARIUM, Eneida Agra Maracajá.
Em vários momentos os Festivais de Inverno transmitem uma visão bem-humorada da vida do ser nordestino. Despertar o interesse dos patrocinadores para a cultura no Estado é difícil, uma vez que historicamente foi construída uma visão depreciativa do artista, os estereótipos ainda persistem e assim passa a encarar a imagem da dependência econômica, demarca fronteiras, institui a dependência cultural dos eventos na cidade como o lugar de perda dos valores tradicionais, da vida da informando as transformações históricas e sociais ocorrendo no pais significando recusa destas mudanças.
A coordenação do Festival de Inverno de Campina Grande revelou ainda que, desde o ano passado, vem distribuindo, junto às empresas de grande porte, o Projeto do Festival de Inverno, mas a morosidade e a greve no Ministério da Cultura criaram entraves no processo, razão pela qual, surgiram dificuldades para fechar a programação deste ano contou com a participação das companhias de dança de Campina Grande e o conceituado Choro e Valsas do ballet de Niterói.
O espaço do Festival de Inverno é construído por um saber que implica uma nova visibilidade do nacional. Uma geografia de toques, de sons, de requebros, de ritos, de territórios “livres” onde brota a arte os bailarinos. Um espaço onde os indivíduos possuem o controle do tempo, de suas vidas e de seus trabalhos. O equilíbrio, a força, os gestos, a harmonia da arte se misturam de maneira a proporcionar a oscilação entre a realidade e a fantasia ministrados pela música dos Beatles.
Em 2008 o XXXIII Festival de Inverno de Campina Grande tendo como temática: “Infinita Utopia”. Os tempos atuais, marcados pelo processo de globalização e todas as adversidades delas advindas renova uma velha questão quase arquivada pela exacerbação da competitividade e pela ascensão desmedida do individualismo. Esse quadro provoca a necessidade de um olhar atento no retrovisor da história, tornando atualíssimo e pertinente a luta pela construção de uma nova utopia, capaz de reacender o humanismo, colocando-o em primeiro plano.
O estabelecimento de um novo mundo, a transformação de uma realidade, de um sonho, de um desejo de mudança começa a simular novas possibilidades de existência. Transformar o real em sonho é a única forma de sair da cena, é fundar um mundo onde possa reencontrar a estabilidade, através da arte das imagens fixas e nítidas de um mundo globalizado.
“Infinita Utopia”, sob o manto desse monte inspirador, o Festival de Inverno de Campina Grande, o mais antigo da região nordestina e o 4º mais antigo do país realizam a sua XXXIII edição conservando sua premissa de não apenas fazer círculos as artes e promover o intercâmbio, mas induzir a comunidade à prática da reflexão e o exercício da cidadania, sem falar como constituir-se em objeto da atividade turística de forma a gerar ocupação e renda cumprindo, há mais de trinta anos, os requisitos hoje adotados pela Secretaria de Comunicação da presidência da república no que toca a celebração de patrocínio.
Este espaço é simulado por meio de seus personagens marcados pelo ambiente físico e social pela linguagem, pela forma e pelo conteúdo do dizer e do olhar. Este espaço expressa, no entanto, a universalidade da cultura. Um espaço que surge como uma produção que cerca os mundos culturais diferentes quanto a capacidade de transformação do mundo pelo homem.
O evento ao completar 33 anos de realização tendo como tema principal “Infinita Utopia” contando com a participação da Companhia de dança Quartier Latin (SP) e o espetáculo Beatles lado D, cada música apresentava um conjunto de sutilezas, intrigantes extasiantes esculpindo corpos embalados por uma canção, também a Companhia de Dança Débora Colker (RJ), Cia de Teatro Denise Stoklos (SP), ainda shows com Nana Vasconcelos (RJ), cordel de fogo encontrado (PE) e o grupo Teatro Mágico (SP), fizeram dessa mostra de arte e cultura momentos de inclusão social.
A produção de imagens expressivas nestas apresentações da Cia. de Dança Quartier Latin do Estado de São Paulo significou a expressão de uma tendência contemporânea das manifestações artísticas marcada pela identificação com o nacionalismo em oposição à cultura tradicional formalista da arte. Entretanto, persiste ainda a influência americana, uma vez que as músicas dos Beatles deram o tom da temática.
De acordo com a coordenadora do evento Eneida Agra, o evento ganhou dimensão nacional e tornou-se um laboratório de idéias e saberes enquanto cultura brasileira. Os Festivais de Inverno é composto de: música, dança, peças de arte e desfiles. Nada melhor para exercitar esse sentimento libertário do que beber nas fontes das culturas e das artes, sempre essas últimas verdadeiras tradutoras da experiência vivenciada pelo homem e por vezes inventoras de novas realidades, especialmente quando induzem, a partir do concreto, formas e ou modelos de contraculturas, caso que se coloca como necessidade para alterar a paisagem social, política econômica e cultural vigentes.
A temática “Infinita Utopia” marcou a apresentação como um verniz moderno. Assim, a produção cultural aliada a imagem nacional, mostraram uma imagem privilegiada. Nesse contexto, o ballet emergiu como uma temática privilegiada deste Festival, preocupada com as questões sociais do país, com a sua cultura e com a necessidade de transformação desta realidade. A crítica chega a tomar a modernidade como pré-requisito básico para mostrar um Brasil, a partir da perspectiva social.
Dessa forma, nada melhor do que o Festival de Inverno de Campina Grande vindo a converter-se em arena não apenas para circulação de artistas, iniciação e formação de artistas, mas fundamentalmente para colocar na pauta do dia os desejos e impasses capazes de prover de sustentabilidade, o direito ao sonho possível e o direito à utopia.
Por isso cai como uma luva em mãos certas, discutir se a produção cênica e musical e assim continuar a ensejar o desejo coletivo no que se refere ao desenho de novas formas de viver; e que representa as artes cênicas contemporânea no processo de invenção de uma nova realidade social; o que se pode extrair da musicalidade brasileira em termos de perspectivas utópicas.
Dessa forma, percebemos que o mais flexível possível dessas preocupações permearam as mostras de teatro, dança e música, mas se concentraram nos debates, por meio do Fórum das culturas ferramenta que concentra o teor reflexivo do Festival. Ademais, buscando garantir o acesso democrático as artes, o Festival ampliará os espaços gratuitos, como a Praça da Bandeira (coração da cidade), as próprias ruas do Centro, apresentando, principalmente, a chamada música erudita, e o teatro e a dança em plena Praça Clementino Procópio, também no centro da cidade. Portanto, além dos benefícios artísticos culturais, o Festival priorizará as ações de natureza cidadã e, simultante, continuará o seu esforço para fortalecer o desenvolvimento econômico, abrindo portas para o turismo cultural, agregando-se ao Trade turístico e buscando a ampliação de seus apoios no seio da iniciativa privada.
A idéia de popular se confunde com as do tradicional e antimoderno, fazendo com que a elaboração imagética tenha enorme poder de impregnação nas camadas populares, já que estas facilmente se reconhecem em sua visibilidade. Parece, hoje, ser preciso ultrapassar as nações ou as regiões para permitir a emergência do novo. Porque a nação, tanto quanto a região se tornaram maquinarias de captura do novo, do diferente e por isso vivem permanentemente em crise.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Festivais de Inverno é uma celebração que reúne todas as artes. A música, o teatro, a dança, as artes plásticas, o artesanato e a liturgia. Elas fazem parte das coisas que inventamos para preencher o mistério vazio. A arte alimenta a alma, povoa sonhos e nos revela a presença da cultura. Nas coreografias dos bailarinos, na gestualidade corporal dos atores, na beleza colorida dos figurinos e alegorias, na singeleza da liturgia e em tudo que é realizado reconhecemos arte e cultura.
O florescimento da literatura dramática brasileira tornou-se signo da maturidade artística e eis que o Golpe Militar de 1964, desastroso em todos os sentidos trouxe para o palco a hegemonia da censura. Ela não veio de repente, como se houvesse outras prioridades a cumprir. A sobrevivência do teatro tornou-se dificílima com a edição do Ato Institucional nº 5 e o advento do governo Médici, que sufocou o que ainda restava de liberdade.
No palco do Teatro Severino Cabral só se passou a respirar de novo com a abertura política iniciada no governo Geisel e prosseguida no governo Figueiredo. Mesmo assim, os espetáculos teatrais marcaram significativamente a cultura na cidade de Campina Grande-PB. A iniciativa de Eneida Agra Maracajá funde o dramaturgo nos espetáculos que se desenvolveram enriquecendo o teatro. Alia o espontâneo ao elaborado, o popular ao erudito, a linguagem comum ao estilo terso, o regional ao universal.
A característica marcante dos Festivais de Inverno é uma mistura mística de religiosidade e superstições folclóricas. Eneida Agra tem como devoção a Santa Teresinha, e assim tomou como padroeira dos Festivais de Inverno a Santa Teresinha. Os festivais de Inverno têm em sua abertura a realização de um memorial a todos os credos, tanto se homenageiam os negros afro-brasileiros, como as demais manifestações de cultura brasileira mesclada de todos os credos e da cultura de todos os povos. E assim, o Festival tem um lugar para todas as culturas.
A história em seu caráter disruptivo, é apagada e, em seu lugar, é pensada uma identidade regional a-histórica, feita de estereótipos imagéticos e enunciativos de caráter moral, em que a política é sempre vista como desestabilizadora e o espaço é visto com estável. A questão que se coloca é como produzir cultura, lançando mão das mais diferenciadas informações, matérias e formas de expressão, seja de que procedência for e, ao mesmo tempo, não se submeter às centrais de distribuição de sentindo nacionais ou internacionais, como ser global e singular. É preciso, para isso, se localizar criticamente dentro destes fluxos culturais e não tentar barrá-los e produzir uma permanente crítica das condições de produção do conhecimento da cultura no país em suas diversas áreas. E assim, ter um olhar crítico em relação a esta cultura.
Não se trata de buscar uma cultura nacional ou regional, mas uma identidade cultural, buscar diferenças culturais. O discurso historiográfico pode contribuir sobremaneira para a ruína das tradições e identidades que nos aprisionam e nos reproduz como esta nação sempre a procura de si mesma. É fundamental reconhecer o subdesenvolvimento econômico e a estrutura de classes da região, haja vista não são suficientes para explicar a dificuldade em transformar este espaço em espaço moderno. Existe uma verdadeira falta de interesse político, de legitimidade social, do valor da inovação, um acentuado apego ao tradicional, ao antigo, fazendo com que a modernização atue no nordeste no sentido de mudar o menos possível as relações sociais, de poder e de cultura.
Portanto, os Festivais de Inverno apresentam uma forma de “cultura nordestina, no sentido de constituir-se um complexo cultural historicamente datável”. É fruto de uma criação político-cultural, que busca diluir as próprias diversidades e heterogeneidades existentes neste espaço, em nome da defesa de seus interesses e de sua cultura. Precisamos sim, renunciar a todas as continuidades irrefletidas, sobretudo termos como tradição, identidade, cultura regional e nacional, desenvolvimento, subdesenvolvimento, evolução, e para sermos capazes de pensar o diferente e a pensá-lo fazer diferente. Diferença que, longe de ser origem esquecida e recoberta, é a dispersão do que somos e fazemos.
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ENTREVISTA:
Eneida Agra Maracajá concedida em 05/05/2008 e 10/07/2008.
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