sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

OS DOCUMENTOS QUE FALAM...

OS DOCUMENTOS QUE FALAM...

Josélia Ferreira de Oliveira


1. INTRODUÇÃO




O objetivo deste artigo é analisar a importância da linguagem e dos vários instrumentos que seja escrito, falado, para construção de novos conhecimentos históricos. Sabendo que um dos principais problemas do historiador tem sido a coleta de dados, ou seja, a aquisição de informações conseqüentemente a construção de novos conhecimentos para a sociedade. Sendo assim, iremos dialogar com Thompson (2002) e Albuquerque Junior (2007), no sentido de discutir os aspectos da modernidade influenciando a construção da produção científica. Desse modo, é possível dizer que a linguagem e a técnica são os traços definidores da condição humana. Por sua capacidade de usar instrumentos e signos para representar e transformar as coisas, os homens criaram para si mundos. Mundos que são culturalmente fabricados e, conseqüentemente, distanciados dos ambientes naturais. Desde as mais antigas formas de argumentar e persuadir até o advento do computador com as suas interfaces voltadas à ação dos usuários e o desenvolvimento dos meios usados para se comunicar, armazenar e produzir conteúdos simbólicos o que é fundamental para compreendermos o modo de vida criado pelas sociedades. (THOMPSON, 2002). Pois o uso de diversos meios de comunicação, ou mídias cria novas formas de relações e interações sociais que acabam constituindo o modo como as sociedades estão e são organizadas.
Sendo assim, a História e as mudanças culturais não estão dissociadas dos avanços tecnológicos dos artefatos (compreendido não só como máquinas ou instrumentos materiais, mas num sentido amplo que inclui fatos, linguagens, signos, procedimentos de trabalho, leis e normas) que podem disponibilizar recursos para reconstrução da História.





2. História e Linguagem


Nessa perspectiva, as várias inovações tecnológicas, materializadas em diversas mídias, situadas em diferentes contextos históricos, alteram profundamente o modo corriqueiro das pessoas interagirem entre si e atuar nos diversos mundos que conhecemos (lazer, trabalho, educação, etc).Todas as inovações tecnológicas estão inscritas num processo de desenvolvimento cultural, não podendo ser compreendida como uma força externa, vinda de fora e estranha ao homem. E assim,

A invenção do chip iniciou uma progressiva desreferencialização do mundo e sua integração em circuitos telemáticos. Passou a ser possível a simulação de realidades virtuais, em que o homem convive com o simulacro. Um mundo de escolhas rápidas, quantitativas, bíticas. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007)


Nesse caso específico, estamos discutindo o quanto e como as técnicas de produção, armazenamento e circulação de bens simbólicos disponíveis, alteram a nossa relação com as imagens, com os textos e com o conhecimento. Desse modo, a produção da história o armazenamento e o intercâmbio das informações e idéias ou qualquer outro bem simbólico, faz uso de algum meio técnico ou suporte material para registrar os fatos. Mesmo no tipo de interação face a face, precisamos do suporte material: o ar, cordas vocais e a laringe como recursos para a comunicação efetiva. Pode-se dizer que em todas as áreas profissionais se faz necessário trabalhar com ferramentas, no caso da História, a linguagem, tanto escrita como falada são responsáveis pela reprodução dos fatos, se constituindo em um universo de fontes para investigação.
Mesmo nas artes artesanais clássicas, os materiais, os instrumentos, as ferramentas, os procedimentos, as técnicas de produção são fatores condicionantes que interferem substancialmente na forma, no estilo e porque não, na própria concepção das obras. Nenhuma leitura dos objetos culturais recentes ou antigos pode ser completa se não se considerar relevantes, em termos de resultados e de uma lógica intrínseca do material e dos procedimentos técnicos que lhe dão formas. A história da arte não é apenas a história das idéias estéticas, como se costuma ler nos manuais, mas também e, sobretudo a história dos meios que nos permitem dar expressão a essas idéias. A troca de informação ou intercâmbio de idéias requer um certo distanciamento espaço-temporal do conteúdo com o contexto no qual foi criado. É claro que o grau de distanciamento alcançado dependerá das qualidades dos meios técnicos.
Conforme Albuquerque Junior (2007), “os indivíduos teriam que aprender a conviver com a crise do dado, haja vista que a sociedade pós-moderna nada é evidente”.O referente, o fenômeno e o signo deixam de ser dados fixos, realidade objetiva da qual partem as representações, para serem revelados como produto de invenção social e lingüista.Vivemos em uma era em que se define pela expansão das relações virtuais em inúmeras instâncias sociais, redimensionando, conseqüentemente, as categorias espaço e tempo, relações sociais e cultura. Era na qual o espaço é cada vez menor, o tempo cada vez mais veloz, e as relações sociais mais voláteis. Assim, a consideração pelo imaginário deixa de ser uma visão deformadora do conhecimento para se tornar um objeto de estudo na vertente da história cultural e das mentalidades, desenvolvendo-se no momento em que as posturas interpretativas também dão conta do real. Entende-se que,

O conhecimento histórico torna-se, assim, a invenção de uma cultura popular, num determinado momento, que, embora se mantenha colado aos monumentos deixados pelo passado, à sua textualidade e à sua visibilidade, tem que lançar mão da imaginação para imprimir um novo significado a estes fragmentos.(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007).


A existência de inúmeras formas de conhecimento e linguagens produzidas e outras fontes de conhecimentos são representações utilizadas que estão diretamente voltadas para a produção e compreensão do conhecimento histórico principalmente em uma sociedade imagética caracterizada pela comunicação de massa, pela força das imagens produzidas para e pela televisão. A essência do conhecimento histórico são as ações humanas repletas de emoção, de sensibilidades, de contradições traduzidas no fato histórico.
Segundo Albuquerque Júnior (2007), “o historiador narra os fatos não inventa os dados, mas consulta arquivos, compila textos, realiza leituras e imagens deixadas pelas gerações passadas que são reescritas e revistas a partir dos problemas do presente e de novos pressupostos, transformando os documentos em instrumentos do historiador”. Portanto, as fontes históricas e o tratamento dado ao documento são fundamentais para construção de novos saberes. O trabalho com os documentos escritos, arqueológicos, figurativos, orais é interrogar os silêncios da História, algo que nos foi dado intencionalmente, ele é o produto de uma certa orientação da História.
No que se refere aos recursos defendidos por Thompson (2002) em relação as mídias e a modernidade, ele valoriza a conservação do conteúdo que existe numa conversa mas, considera inferior ao tipo de conservação proporcionado por um texto numa folha de papel, um vídeo ou um CD-ROOM. Numa conversa, seja por telefone ou face a face, o que é conservado depende muito da memória dos interlocutores. A qualidade de reprodução de um CD-ROOM, fotografia, vídeo ou impressão de um texto é um outro elemento que deve ser considerado na caracterização do meio técnico que dará mais suporte à informação.
Por isso, em Albuquerque Júnior (2007), considera que o ato de conhecer não é fruto de uma recepção passiva, mas conhecer é uma atividade. As mudanças nos paradigmas rompem com as categorias da modernidade, na qual a consciência histórica ocupou o centro de todos os saberes.
Entende-se que a construção da história a partir das fontes orais não é valorizada como as fontes escritas. Assim, Albuquerque Junior diz: o passado é como um abismo que não paramos de cavar. A escrita da história vista como uma forma de arte, um gênero literário, em que se embricavam entre os vários gêneros literários.A História narrativa, dos testemunhos exemplares implica o campo político e os pressupostos filosóficos.
No entanto, a História não se resume mais as narrativas enfadonhas, mas ao longo dos anos vem se diversificando e as novas tecnologias vem colaborando para a produção do conhecimento histórico, no sentido de armazenar os dados com maior eficiência, restaurar documentos, e assim a modernidade vem possibilitando reescrever o passado utilizando dos novos recursos.







3. Considerações Finais




É através da comunicação da linguagem que se molda a cultura de uma sociedade e assim faz parte de nossas mídias. A cultura é mediada e determinada pela comunicação, isto é, os sistemas de crenças e códigos historicamente produzidos, são transformados de forma fundamental pelo novo sistema tecnológico que serão ainda mais com o passar do tempo, conforme a mídia usada para se escrever, que seja inscrições em pedras ou outra. O historiador depende de quem escreve e daquele que fala.
Nesse sentido, a escrita é uma tecnologia que requer habilidades diferenciadas daqueles recursos exigidos pela fala. Vale ressaltar que a invenção da escrita contribuiu para a inscrição dos homens na história, a compreensão de que as coisas sofrem mudanças e são alteradas pelo saber-fazer humano e não é menos verdade que será instrumento de dominação.Esse espelho cultural no qual estamos inseridos faz parte ao mesmo tempo das técnicas disponíveis que estão sendo materializadas dos vestígios de nossa própria história.E a linguagem é responsável pela reprodução da cultura, dos conhecimentos e a es escrita da história das sociedades.
Aquilo que chamamos de documentos histórico ou fonte histórica não é necessariamente produzido pelos homens com o objetivo de deixar testemunhos para aqueles que viverão no futuro. É verdade que, em muitos casos, documentos, como diários, memórias e outros registros, são produzidos com a intenção declarada de deixar testemunhos. Mas são os pesquisadores que, ao estudarem um determinado assunto, recorrem aos registros produzidos pelos homens, atribuindo-lhes um sentido, um significado. E assim, os diferentes tipos de documentos históricos: escritos, visuais, orais, sonoros e o material cultural das sociedades faz parte desse conjunto que são documentos e fornecem informações sobre o modo de vida dos homens, incluem-se também nessa cultura os monumentos arquitetônicos e as construções em geral instrumentos que servem para leitura dos historiadores sobre a cultura de um lugar.




4. Referências:

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. “História e a arte de inventar o passado”. IN: História a arte de inventar o passado. Ensaios de Teoria da História. Bauru, SP: EDUSC, 2007, pp. 53-66 (Coleção História).

THOMPSON, J.B. A Mídia e a modernidade: Uma Teoria Social da Mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p.261.

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