quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O IMAGINÁRIO PORTUGUÊS E OS MEDOS DO MAR

O IMAGINÁRIO PORTUGUÊS E OS MEDOS DO MAR



- O século XII, o novo reino peninsular se afirmava como o mais ocidental das fronteiras da cristandade rural contra o islão urbano e mercantil, o mar conceptualizava-se como caos e desordem.

- Na hagiografia de Teotônio, o mar e os seus disformes seres simbolizavam ameaças particularmente temidas, aquelas que só um santo podia neutralizar e exorcizar.

- As imagens nascidas e difundidas durante a alta Idade Média, quando o litoral europeu, tanto o mediterrâneo como o atlântico fora progressivamente invadido e ocupado por povos não cristãos, primeiro por mulçumanos e depois os escandinavos. Sendo o mar a sua estrada e em certa medida o seu modo de vida ele passou a comungar da destruição e da impiedade que lhes eram atribuídos.

-A difusão dessas idéias contribuíram para as migrações dos clérigos evangelizadores da Europa continental vindos em grande parte do norte da África e da Itália.

- O medo promovido pelas histórias contadas sobre os terrores do mar promoveu e incentivou a cristanização da Europa, uma vez que a Igreja podia superar as humilhantes perdas sofridas nos continentes dos seus fiéis.

-Na realidade a intenção dos evangelizadores eram construir uma aliança com o papado, ou seja, preparar as forças necessárias para proteção da cristandade. Por outro lado, a cristandade rural pensava com apreensão e temor aos povos urbanos e mercantis que partilhavam o litoral.

-A visão negativa sobressaltada a respeito do mar, suas gentes e fainas e atividades, essa representação mental não seria tão marcante entre as comunidades estabelecidas no litoral do entre os rios Minho e Tejo.

-Para os camponeses-pescadores das aldeias e vilas do litoral atlântico o mar era uma realidade bem presente e integrada nos quotidianos sociais. Definia um meio de subsistência explorado pela pesca e pela extração do sal.
-As historias e as peripécias de alguns homens que se aventuravam em alto mar, até hoje não sabemos até que ponto são falsas ou verdadeiras. As histórias de prisões contadas pelos aventureiros tem sido muito discutida.

- Nesse sentido, as ilhas visitadas remeteriam aos arquipélagos da Madeira e das Canárias, os quais constituíram o vértice de um triângulo oceânico cuja base corresponderia às costas atlânticas portuguesas e marroquina.

- Ao contrário de um antimundo caótico, imprevisível e ímpio, o atlântico era susceptível de ser pensado como realidade capaz de ser conhecida e navegável. A partir da segunda metade do século XIII, quando Portugal rural e guerreiro começa a ocupar o atual sul do país, passando a dominar os povoados de áreas portuárias do litoral meridional atlântico e mediterrâneo.

-A cristandade ultrapassando a sua tonalidade de civilização continental e rural cercada de povos mritimos hostis disputavam o acesso ao mar, nesse meio ia se definindo com espaço as rotas mercantis e marítimas.

- O mar afirmava-se como espaço de memória e como território percorrido por santos que nele deixam presença e relíquias a espera de devotos e peregrinos. As navegações dos heróis da antiguidade atribuindo-se a santos proezas. Por outro lado os escritos pelos clérigos integrados ao cristianismo celta retiravam-se recordações de um passado próximo.

-Porém para além de Cristóvão os viajantes do mar e as pessoas que se dedicavam a fauna marítima os pescadores ainda procuravam protetores celestes mais específicos. O medo e o receio de um mar como morada de santos e espaço de manifestação de lugares teológicos como o purgatório ou o paraíso tornaram a vida e a prática marítima perfeitamente integradas ao quotidiano da sociedade cristã.
-Em 1415, os barcos da armada portuguesa que se dirigia a Ceuta amainaram as velas ao dobrar o cabo de S. Vicente em sinal de respeito e de procura do apoio do santo para a empresa, sendo assim, o país que assim iniciava as descobertas fazia-o símbolo da possibilidade de dominar e exorcizar os medos, os receios e os perigos do mar.

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