sábado, 16 de janeiro de 2010

ESTADO: A FUNÇÃO DO ESTADO NO ÂMBITO POLÍTICO

ESTADO: A FUNÇÃO DO ESTADO NO ÂMBITO POLÍTICO

O Estado remete a duas coisas direito e dever para com a sociedade e ao cidadão. Em virtude das limitações humanas não se consegue dar conta de sua real dimensão ou das suas manifestações. Sendo assim a formação do Estado moderno é um fato de estudo da várias ciências que se prende principalmente as questões políticas que passou a sociedade.
Nesse sentido o Estado moderno é um poder soberano constituído de um povo organizado para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social. É possível dizer ainda que o Estado é uma ordem jurídica subordinada dotada de atribuições regulamentar e quase totalidade dos interesses gerais de uma coletividade política institucionalizada e organizada fixada em território determinado e cujos governantes dispõem da competência maior tal como o direito internacional estabelece. A atuação do Estado remete ao campo do direito público como do privado mantendo sua única característica de direito público.
É necessário entender que o Estado constitucional moderno se submete a leis que limitam o exercício do seu poder, não perdeu suas prerrogativas de soberania. A razão pela qual continua a gerir os seus negócios com independências em relação aos demais Estados. Essa organização estatal atribui o direito de poder fazer uso legítimo da coerção física, também autoriza o uso aos particulares, o que não impede o direito de ser ele o titular exclusivo desse privilégio.
O Estado é a organização política sob a qual vive o homem moderno. Além disso compreende-se que o conjunto dos governantes mais o aparato organizacional identificam o Estado e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário como órgãos responsáveis pelas manifestações da totalidade do Estado.
É preciso que todos cumpram funções estatais como cidadão que tem deveres para com o Estado. O dever de votar constitui-se objeto do controle da sociedade e do encaminhamento das coisas públicas. Entretanto, é necessário que a sociedade como um todo sejam instituídas sobre as realidades políticas, que externem opiniões e discutam os problemas que afligem a população. Não podemos esquecer dos assuntos públicos, a falta de interesse pelas coisas públicas compromete o desenvolvimento das atividades em prol do cidadão. O bem-estar e o sucesso pessoal de todos dependem da competência e dos princípios de ética e moralidade. Por outro lado a origem do Estado compreende várias teorias, no entanto, no aspecto histórico o Estado como fato social em permanente evolução, um produto social decorrente da própria evolução da sociedade. Sem esquecermos de que a teoria teológica baseava-se no direito divino do governante. Essa idéia vai reforçar cada vez mais tendências absolutistas.
O Estado é reconhecido como tal segundo um pacto social da vontade entre os homens, visando principalmente proteger os direitos individuais de cada cidadão, além de promover o bem comum. Pode-se dizer que origina-se da soma de pactos recíprocos e sucessivos realizados entre os integrantes da sociedade. Esse contrato consiste na transferência total dos direitos individuais para a autoridade soberana que exercerá o poder comum.
Na concepção hobbesiana, o Estado aparece como a única instituição capaz de preservar a vida do homem, uma vez que tem por uma de suas finalidades manter a segurança de seus integrantes. No entanto, o Estado não tem conseguido garantir eficientemente a segurança do povo. Os problemas sociais atualmente vêm sendo multiplicados a cada dia. A violência principalmente nos grandes centros urbanos evidencia a inoperância do Estado. Na realidade, enfrenta-se comumente a falta de segurança, o medo das agressões advindas dos bandidos, dos assaltos, assassinatos, agressões dos mais diversos tipos.
Os esforços do Estado em manter a paz a segurança é o bem comum de todos não tem sido eficaz. A ineficiência do aparelho do Estado tem contribuído para o aumento da violência e de marginalidade. Acredita-se que existe uma relação entre os índices de violência e criminalidade com o desemprego no país. Percebe-se que o crescimento populacional, o desemprego tem gerado graves males para a sociedade.
Para Locke, o homem decide celebrar o pacto social, com o consentimento de todos, para formar uma sociedade que tem objetivos principais a realização do bem comum e a proteção de seus direitos e bens. E isso inclui direito ao trabalho.
Concordamos com Hobbes quando diz que não existe igualdade entre os homens. Na realidade a constituição do país que rege todos os direitos do cidadão através dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo não representa o direito de igualdade a todos apesar de legalmente está estabelecido de fato não se constitui um direito adquirido por todos os cidadãos. Percebe-se que estão envolvidos interesses diversos da sociedade.
O que falta são leis eficazes e um poder que apóie e estabeleça sentenças justas. O Estado é instituído para realizar o bem comum, em relação a violência ou a força. A finalidade portanto do estado, é a realização do bem comum apesar de que alguns vêem nele apenas um meio capaz de realizar seus interesses individuais, desprezando por completo a realização do bem comum da realidade, o Estado tem se constituído um veículo para o homem alcançar seus interesses particulares. No entanto, não podemos esquecer que o Estado é uma instituição multifacetária, sendo assim diversos são as finalidades dentre eles destacam-se a defesa, a segurança, o bem comum, o progresso, a educação, a saúde e a cultura do povo. Assim, o Estado é dotado de funções e finalidades próprias, cria o papel de indivíduo pois é ele quem concede direito e deveres, pode-se entender que o Estado é a fonte de todo o direito. Existe certa prevalência do Estado sobre o indivíduo.
Em Locke é incumbido ao Estado a realização do bem comum e a obrigatoriedade de respeitar a garantir a direitos fundamentais de cada indivíduo que compõe a sociedade. Além disso, a função do Estado reside em garantir sobretudo a segurança interna e externa,criar o Estado de justiça, proporcionar o bem-estar de seus integrantes. A função limitada do Estado remete basicamente a manutenção da ordem, à proteção da liberdade e da propriedade individual.
No entanto, o Estado enquanto instituição federal não tem desenvolvido ações governamentais preocupadas em atender as necessidades da população menos favorecida de maneira eficaz. Dessa forma, pode-se dizer que o Estado não tem cumprido sua função em proporcionar o bem comum à sociedade. Assim objetiva-se compreender o efeito das ações governamentais no país. Percebe-se a continuidade dos governos elitistas preocupados em promover o bem dos grandes empresários, banqueiros e interesses políticos individuais.
O Estado deve ter por finalidade a realização do bem comum a todos os cidadãos da sociedade, independente de sexo, cor, idade ou status social e outros. No entanto, percebe-se que os indivíduos não têm compreendido que o Estado é uma organização complexa a serviço da sociedade e não para indivíduos restritos. Não devemos esquecer que o poder legítimo do Estado é concedido pelo povo e para o povo, a soberania não reside no Estado, mas no povo. Assim sendo, a continuidade desse poder é responsabilidade da sociedade.
É fundamental a participação da sociedade nas questões referentes à escolha de seus dirigentes para representação do povo no Estado. Para tanto, o impeachment de Color foi um marco histórico da interferência do povo no contexto político do país. Atualmente, o voto vem expressando essa opinião pública. Além disso observa-se que no Governo de Fernando Henrique Cardoso, algumas características merecem atenção, haja visto que comprometeram o desenvolvimento do país. Uma vez que foram implementadas neste governo medidas a fim de reforçar e assegurar a permanência das idéias neoliberais no país.
Dessa forma, as metas implementadas pelo governo federal a fim de alcançar os seus objetivos consegue através da propaganda da mídia, manipular a sociedade de forma que a responsabilidade do Estado em garantir a escolaridade, segurança, moradia, saúde e trabalho para os cidadãos são colocados agora para a sociedade civil.
Através das campanhas direcionadas para um público alvo remete para os cidadãos a responsabilidade de cuidar da escola, da criança, do adolescente, quando é papel do Estado garantir o direito a um ensino de qualidade para todos. Além do direito, a saúde, habitação, trabalho, etc.
O terceiro setor que compõem as ONGs, fundações filantrópicas e outras, surgem com ares de “salvador da pátria”, são ações filantrópicas, os movimentos sociais e as atividades das ONGs que passam a nortear a organização da sociedade e o desenvolvimento do Estado.
Conforme Rubens Naves (2003, p.581), afirma:

A questão que se coloca, então, é da autonomia do terceiro setor: até que ponto depende do Estado e das empresas? Até que ponto as ONGs podem reeditar a história, já conhecida das instituições que usam da coisa pública em beneficio de pequenos grupos de poder? As ONGs podem ser consideradas representantes legítimas dos anseios da sociedade civil?

É importante buscar informações e cada vez mais conhecimento acerca da realidade no contexto das ONGs. Porque sem dúvida o crescimento das organizações não-governamentais têm sido em um número assustador. O que questiona no momento são contribuições dessas instituições até que ponto são benéficas realmente.
O discurso neoliberal tenta camuflar os prejuízos que a sociedade vem sofrendo através de programas governamentais para a população carente, no entanto sem nenhuma expressão de eficiência. O surgimento dos movimentos sociais em alguns estados brasileiros que seja pela classe trabalhadora ou não, são ações coletivas inconformadas com os desmandos no país. Sem dúvida as ações da Igreja Católica tem sido significativa para as comunidade carentes, entretanto, não pode solucionar todas as questões, haja vista, que os problemas se multiplicam a cada vez mais no país.
Assim, Naves (2003), ainda diz:


Ao mesmo tempo em que as ações voluntárias se multiplicavam e as ONGs se tornavam uma presença marcante, também se faziam claros os malefícios da globalização: agressões ao meio ambiente, miséria e desintegração social.

A globalização aliada ao avanço do sistema neoliberal no país tende a acentuar cada vez mais as desigualdades sociais, a perda da autonomia do Estado, a exclusão social a níveis jamais vistos. O agravamento das questões sociais nos remete a outro problema a instabilidade econômica do país e a incerteza com o futuro das gerações.
Vale ressaltar que as estratégias utilizadas pelas corporações aliadas ao governo federal em prol da criança e do adolescente a exemplo da Fundação Abring não tem conseguido inverter a situação de miséria em que grandes quantidades de crianças e adolescentes se encontram.
Na visão de Sader (2003), o Estado não precisa ser proprietário de empresas, mas tem de ser o responsável pelo acesso da cidadania aos bens essenciais. Serviços básicos têm de ser de responsabilidade do Estado – no máximo concedidos a empresas privadas com contrato limitado no tempo, sob forte controle do Estado e de cidadania organizada.
Portanto, quando o Estado assumir de fato o papel de atender as necessidades sociais da população prestando serviços de qualidade interferindo na realidade social de forma consciente e responsável será possível dizer que o Estado está cumprindo a finalidade e assim atingir os níveis de justiça social senão minimizá-los a partir da interferência do Estado com responsabilidade sem anular os direitos e valores dos cidadãos.

REFERÊNCIAS

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 253-255.

GENTILLI, Pablo. Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.63-118.

PINSKY, Jaime. História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p.563-583.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e ciência política. 4ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.29-56.

Revista de Política Pública / UFMA Unidade de Pós-graduação em Ciências Sociais, V. 6. São Luís: EDUFMA, 2002p.127-147.

SADER, Emir. Estado, democracia. São Paulo: Atlas. P.184-187.

A HISTORIA CONTINUA...

A HISTORIA CONTINUA…

A obra de Georges Duby: “a História Contínua”, destaca vários aspectos importantes. Inicialmente as abordagens estão voltadas a história do autor enquanto professor cuja preocupação estava basicamente voltada para a tese de doutorado. Entretanto, o problema a princípio reside na escolha do tema, aspecto ou elemento fundamental para realização de qualquer pesquisa. Nesse sentido no primeiro momento ele trata dos fatores relacionados a pesquisa histórica. O objeto de estudo é destacado como um dos elementos de suma importância para o desenvolvimento de uma pesquisa.
Ainda enfatiza as questões referentes ao levantamento de dados, a seleção dos conteúdos para construção do trabalho a ser realizado. Vale salientar que a investigação é algo constante na vida deste historiador uma vez que busca encontrar respostas para seus questionamentos.
Pode-se dizer que a investigação e a qualidade da produção depende dos documentos disponíveis para o êxito da pesquisa.
O historiador busca uma realidade concreta, no entanto, o que dificulta muitas vezes são os recursos materiais, haja visto que é comum nos casos de pesquisa o pesquisador depara-se com dados consistentes e muitas vezes com fontes menos confiáveis. O autor apresenta a grosso moda a história do pesquisador e o caminho percorrido pelo historiador na busca de encontrar elementos para construção de uma verdade.
Em seguida mostra o direcionamento da pesquisa histórica, o caminhar depende das informações, ou seja das fontes materiais que se pode encontrar. É possível dizer que as ferramentas do historiador não diferem muito de outras profissões; na realidade a pesquisa possibilita aprofundar conhecimentos, analisar, criticar e rever as fontes que seja documentais, depoimentos orais, textos enciclopédicos, etc, podendo utilizar-se dos fichamentos e resumos. Sendo assim leituras e releituras vão delineando as idéias, possibilitando a realização do trabalho. O ofício de historiador requer muito trabalho de pesquisa, paciência e determinação, haja visto que ao longo do tempo dia após dia cuidadosamente o estudo ganha corpo passa por um processo de transformação identifica-se os materiais para montagem do corpo material do trabalho para obtenção do esboço do projeto necessário para o resgate da história pelo historiador.
O autor afirma que, o historiador ao perscrutar suas fontes, deve ser neutro o mais que puder. No entanto, é difícil tornar-se indiferente diante dos fatos ou acontecimentos que nos causa impacto, uma vez que o ser humano não é um ser inerte. No entanto, é necessário observar com um olhar crítico, não descartar nada, mas tomar o cuidado de considerar os dados valorizando de acordo com sua especificidade. Ainda destaca a importância do senso crítico a imaginação do leitor, a subjetividade dos fatos. Não se trata apenas de contar os fatos, mas subjetivar os mesmos, pensar a mentalidade da época, os costumes, a cultura estabelecida, os aspectos influenciadores para construção ou reconstrução desta verdade.
Desse modo o historiador deve preocupar-se tanto pelos fatos como pelas relações existentes na sociedade. É importante para o autor levar em consideração a sensibilidade humana desvia-se de uma história fria, seca ou impassível, mas deve ser verdadeira. É fundamental abordar livremente os conteúdos de todos os documentos investigados sem distorcer a verdade. O historiador deve sim investigar livremente e aborda-los na integra priorizando pela verdade. Ou seja, o historiador empenha-se em confirmar em esclarecer os testemunhos, em não desnatura-los. Nesse sentido, se dá a reconstrução da história através dos elementos necessários para a formação e produção da história concreta e verdadeira possibilitando desvendar tanto os caminhos percorridos pela humanidade como os vivenciados pelas sociedades.
Percebe-se que para o autor não basta expor os fatos mas ver com os olhos desses autores, racionalmente, renunciando a busca da história da objetividade total. Além disso, não é possível acreditar na objetividade do historiador. Ela banca um desafio para os historiadores perceber as relações, classificar a se interrogar sobre o que pensavam determinada sociedade, sobre o que os levava a se comportarem uns com os outros desta ou daquela maneira. O estudo das sociedades do passado limita-se a fatores materiais, a produção, técnicas, no entanto, é preciso ir mais além, compreender as idéias que comandam a realidade de forma imperativa a organização e o destino da humanidade.
Ainda ressalta a importância depositada na escolha do orientador considera necessário que exista um elo de harmonia entre orientador e orientando que este transmite confiança, respeito, paciência e profissionalismo além de não esquecer a competência do profissional.
O estudo das estruturas medievais materiais enfatizadas pelo autor avança em direção as mentalidades ao pensamento das sociedades humanas. Tal imaginação em seu sentido amplo só existe na imaginação. Quando o autor descreve sua trajetória historia na produção da tese de doutorado considera que a mesma requer muito esforço obrigando-0 a tornar-se solitário já que o trabalho exige perseverança, tempo e dedicação.
Assim, destaca que ao longo de toda sua vida de pesquisa conviveu com o problema: qual seria a função da arte? Este livro conseguiu transforma-lo e liberta-lo em todos os sentidos. A experiência com a obra artística difere das experiências anteriores. Uma vez que o historiador tem como material: inventários, testemunhos, fontes escritas etc. Por outro lado, ao mostrar suas dúvidas e expectativas revela sua própria cultura, suas esperanças, seus temores, a maneira como pensa o mundo e a si mesmo. O interessante nesta obra é que o autor utiliza-se do fato como de um elemento revelador, utilizando-se das falas. Quando aprofunda um estudo avança deliberadamente em direção a outras formas que só existem no pensamento.
Em relação às viagens realizadas o autor penetra em sociedades cuja evolução se dera em outras formas e que ainda não haviam sido tocadas pela modernidade, mas superficialmente. Quando refere-se a honrarias considera um grave perigo quando os livros tornam-se produtos de amplo consumo, mercadorias lançadas com grande apoio publicitário, transformando os autores em estrelas e isso é perigoso. O autor se preocupa com a qualidade das produções artísticas desenvolvidas pela televisão, principalmente aquelas referente a um passado mais distante. Haja visto que os detalhes, as informações devem ser minuciosamente estudadas para não cair no erro, nas influências ou informações menos confiáveis. A lembrança, o jogo de memória e do esquecimento, e o particular só interessa quando informa o coletivo, o ideal, e os valores. Ainda diz ser necessário elevar o nível cultural da população preservar os valores selecionando para não ocorrer ao achatamento. Sendo assim, o autor mostra que a história ensina que uma civilização comece a desmoronar quando um sistema educacional se degrada. Se por um lado, a educação norteia a vida de todos os indivíduos representa o elo cultural que passa de geração em geração. Assim, a transição do feudalismo para o capitalismo gerou a ultrapassagem dos valores culturais, por isso, influenciou e influencia o pensamento marxista exercendo forte influencia sobre o modo de reflexão do passado. Em toda sociedade, é grande a distância entre o que os moralistas exortam a fazer, o que os códigos obrigam a fazer e o que as pessoas efetivamente fazem especialmente no terreno das relações sociais. A historia a respeito do comportamento das mulheres na Idade Média foram obtidos através dos homens depoimentos distorcidos deformados dos homens, uma vez que a maioria foram contados pelos homens da igreja. Ao fazer do testemunho objeto principal de suas pesquisas determina-se o deslocamento do ângulo de abordagens e a necessidade de adaptar os métodos de análise e crítica da História.
REFERENCIA:
DUBY, Georges, A história contínua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. UFRJ, 1993.

O PAPEL DO ESTADO

O PAPEL DO ESTADO
O Estado remete a duas coisas: direito e dever para com a sociedade e ao cidadão. Em virtude das limitações humanas não se consegue dar conta de sua real dimensão ou das suas manifestações. Sendo assim a formação do Estado moderno é um fato de estudo da varas ciências que se prende principalmente as questões políticas que passou a sociedade.
Nesse sentido o Estado moderno é um poder soberano constituído de um povo organizado para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social. É possível dizer ainda que o Estado é uma ordem Jurídica subordinada dotada de atribuições regulamentar e quase totalidade dos interesses Gerais de uma coletividade política institucionalizada e organizada fixada em território determinado e cujos governantes dispõem de competência maior do que tal como o direito internacional estabelece. A atuação do Estado remete ao campo do direito público como do privado mantendo sua única característica de direito público.
É necessário entender que o Estado constitucional moderno se submete a leis que limitam o exercício do seu poder, não perdeu suas prerrogativas de soberania. A razão pela qual continua a gerir os seus negócios com independências em relação aos demais Estados. Essa organização estatal atribui o direito de poder fazer uso legítimo da coerção física, também autoriza o uso aos particulares, o que não impede o direito de ser ele o titular exclusivo desse privilégio.
O Estado é a organização política sob a qual vive o homem moderno. Além disso compreende-se que o conjunto dos governantes mais o aparato organizacional identifica o Estado e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário como órgão responsáveis pelas manifestações da totalidade do Estado.
É preciso que todos cumpram funções estatais como cidadão que tem deveres para com o Estado. O dever de votar constitui-se objeto do controle da sociedade e do encaminhamento das coisas públicas. Entretanto, é necessário que a sociedade como um todo sejam instituídas sobre as realidades políticas, que externem opiniões e discutam os problemas que aflingem a população. Não podemos esquecer dos assuntos públicos, a falta de interesse pelas coisas públicas compromete o desenvolvimento das atividades em prol do cidadão. O bem-estar e o sucesso pessoal de todos depende da competência e dos princípios de ética e moralidade. Por outro lado a origem do Estado compreende várias teorias, no entanto, o aspecto histórico o Estado como fato social em permanente evolução, um produto social decorrente da própria evolução da sociedade. Sem esquecermos de que a teoria teológica baseava-se no direito divino do governante. Essa idéia vai reforçar cada vez mais tendências absolutistas.
O Estado é reconhecido como tal segundo um pacto social da vontade entre os homens, visando principalmente proteger os direitos individuais de cada cidadão, além de promover o bem comum. Pode-se dizer que origina-se da soma de pactos recíprocos e sucessivos realizados entre os integrantes da sociedade. Esse contrato consiste na transferência total dos direitos individuais para a autoridade soberana que exercerá o poder comum.
Na concepção hobbesiana, o Estado aparece como a única instituição capaz de preservar a vida do homem, uma vez que tem por uma de suas finalidades manter a segurança de seus integrantes. No entanto, o Estado não tem conseguido garantir eficientemente a segurança do povo. Os problemas sociais atualmente vem sendo multiplicados a cada dia. A violência principalmente nos grandes centros urbanos evidencia a inoperância do Estado. Na realidade, enfrenta-se comumente a falta de segurança, o medo das agressões advindas dos bandidos, dos assaltos, assassinatos, agressões dos mais diversos tipos.
Percebe-se que o crescimento populacional a demanda pelo emprego, tem gerado graves males para a sociedade.
Os esforços do Estado em manter a paz a segurança é o bem comum de todos não tem sido eficaz. A ineficiência do aparelho do Estado tem contribuído para o aumento da violência e de marginalidade. Acredita-se que existe uma relação entre os índices de violência e criminalidade com o desemprego no país. Percebe-se que o crescimento populacional, o desemprego tem gerado graves males para a sociedade.
Para Socke o homem decide celebrar o pacto social, com o consentimento de todos, para formar uma sociedade que tem objetivos principais a realização do bem comum e a proteção de seus direitos e bens. E isso inclui direito ao trabalho.
Concordamos com Hobber quando diz que não existe igualdade entre os homens. Na realidade a constituição do país que rege todos os direitos do cidadão através dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo não representa o direito de igualdade a todos apesar de legalmente está estabelecido de fato não se constitui um direito adquirido à todos os cidadãos. Percebe-se que estão envolvidos interesses diversos da sociedade.
O que falta são leis eficazes e um poder que apóie e estabeleça sentenças justas.
O Estado é instituído para realizar o bem comum, em relação a violência ou a força. A finalidade portanto do estado, é a realização do bem comum que vêem nele apenas um meio capaz de realizar seus interesses individuais, desprezando por completo a realidade do bem comum da realidade, o Estado tem se constituído um veículo para o homem alcançar seus interesses particulares. No entanto, não podemos esquecer que o Estado é uma instituição multifacetária, sendo assim diversos são as finalidades dentre eles destacam-se a defesa, a segurança, o bem comum, o progresso, a educação, a saúde e a cultura do povo. Assim, o Estado é dotado de funções e finalidades próprias, cria o papel de indivíduo pois é ele quem concede direito e deveres, pode-se entender que o Estado é a fonte de todo o direito. Existe uma certa prevalência do Estado sobre o indivíduo.
Em Locke é incubido ao Estado a realização do bem comum e a obrigatoriedade de respeito a garantir a direitos fundamentais de cada indivíduo que compõe a sociedade. Além disso, a função do Estado reside em garantir sobretudo a segurança interna e externa,criar o Estado de justiça, proporcionar o bem-estar de seus integrantes. A função limitada do Estado remete basicamente a manutenção da ordem, à proteção da liberdade e da propriedade individual.

O TRATO DOS VIVENTES

O APRENDIZADO DA COLONIZAÇÃO

• No Peru e na maior parte da América espanhola, os conflitos opondo colonos ao clero e à coroa nascem da luta pelo controle dos nativos.
• CARLOS V reconhece a soberania indígena, prevêem o fim das encomendas, das concessões de indígenas feitas aos conquistadores, e a passagem gradual de todos os nativos à dependência direta da coroa à qual pagariam tributos.
• A política inovadora de governo indireto somente posta em prática três séculos mais tarde na África e na Índia pela Inglaterra contrariava concessões régias permitindo que os colonos levassem por sua conta, as primeiras paredes do edifício ultramarino.
• A partir de 1545 a prata de Potosi reorienta os fluxos de trocas americanas e permeabiliza o Peru à penetração comercial metropolitana. De modo que o poder imperial se habilita para elaborar um discurso global, coerente, associando a exploração das minas de prata americanas as empreendimento político e ideológico arquitetado na Europa.
• Angola apresenta um conflito político semelhante ao exemplo precedente. Constatando que Angola não tinha minas de prata, como se supusera até então, e que o tráfico Transatlântico de escravos emergia como a principal atividade da área. A coroa retorna a colônia em mãos.
• Ao contrário do sucedido no Atlântico, a presença portuguesa tem um impacto amortecido nas margens do Índico. Os europeus buscam se apropriar de zonas devassadas por mercadores árabes de Oman e indianos islamizados do Guzerate, importante região têxtil. Durante décadas a coroa procura drenar esse comércio para as águas lisboetas. Tal política dá lugar a desencontros entre a Metrópole e os portugueses da Ásia.
• Em razão da opulência indo-asiática e das possibilidades de enriquecimento que o contrabando e o comércio regional ofereciam aos oficiais d’el-rei, a administração portuguesa cai na desorganização.
• Em Moçambique a fragilidade do implante lusitano transparece mais durante ainda colonos; soldados assumem as funções dos fundatários nativos, os amambo, à frente dos domínios do vale do Zambeze.
• Deixando intocado o processo produtivo, os portugueses não conseguem reorientar em seu favor os circuitos regionais de comércio. Por muito tempo as trocas permanecem voltadas para o Norte e para o teste, com os árabes de Oman manobrando o tráfico para o golfo pérsico, principal mercado consumidor de escravos naquela ponte do Golfo.
• A coroa, indo além do poder de domínio, reivindica também o direito de propriedade sobre as terras a conquistar e a tutela dos povos conquistados. O choque entre os poderes ibéricos e seus vassalos ultramarinos ressoa de maneira diferente nas conquistas.
• Os investimentos privados efetuados nos primeiros tempos das Descobertas não eram exclusivamente portugueses. Excetuando-se certos monopólios, os estrangeiros católicos, residentes ou não em Portugal, obtinham privilégios análogos aos dos nacionais para transformar com as colônias.
• É o processo de colonização dos colonos: a coroa aprende a fazer os rios coloniais correrem para o mar metropolitano; os colonos compreendem que o aprendizado da colonização deve coincidir com o aprendizado do mercado, o qual será primeiro, e sobretudo o mercado reinol. Só assim podem se coordenar e se completar a dominação colonial e a exploração colonial.
• Na perspectiva dos jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos, o clero regular presente na América portuguesa. Na sua estratégia de evangelização dos índios, os jesuítas entram em conflito com os colonos, com o episcopado e com a coroa. Mas convém sublinhar o papel das missões como unidades de ocupação do território ultramarino. Na realidade; na ausência de guarnições militares importantes no ultramar antes da segunda metade do século XVIII, cabia principalmente ao clero a tarefa de manter a lealdade dos povos coloniais às coroas ibéricas.
• O controle espanhol repensa pouco sobre o processo de produção e bastante sobre a circulação das mercadorias. Metais preciosos, os produtos dos colonos espanhóis podiam ser atacados e transportados num sistema de frotas canalizado por três portos americanos e por Sevilha.
• A reprodução da produção colonial, o tráfico negreiro se apresenta como um instrumento de alavancagem do Império do Oriente. Pouco a pouco essa atividade transcende o quadro econômico para se incorporar ao arsenal político metropolitano.
• O tráfico de africanos constitui em segmento da rede que liga Portugal ao Médio e extremo Oriente. O comercio de escravos se apresenta como fonte de receita para o Tesouro Régio. Dessa forma, os ganhos fiscais do trato sobrepõem-se aos ganhos econômicos de escravidão.
• Além disso, o tráfico surge como vetor produtivo da agricultura das ilhas atlânticas. Mesmo onde as atividades giravam em torno da cultura de cereais e do trabalho livre.
• Do cortejo das demandas e dos memoriais do colonato emerge o desenho das forças sociais que movimentam o sistema colonial. Se é certo que os colonos se queixam de falta de braços desde o século XVII, também é verdadeiro eles protestam já na mesma época contra a “falta de terras”. Terra e trabalho não se apresentam aqui como dados independentes, mas como variáveis que são resultantes das forças matrizes do capitalismo comercial.

REFERENCIA

ALENCASTRO, LUIS Felipe de . O trato dos viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul. p. II – 42.

AMERICA LATINA

PORTUGAL E O BRASIL: A ESTRUTURA POLÍTICA E
ECONÔMICA DO IMPÉRIO, 1580-1750

• Portugal no século XVI a terra era o principal componente de seu ativo, era mantida muito mais na forma da grande propriedade senhorial. Na mesma época Portugal foi também chamado de Monarquia marítima. A pesca era um recurso expressivo. As grandes descobertas do século XV, nos postos comerciais de Marrocos, das ilhas de cabo verde e da costa da Guiné passaram a fornecer a Portugal vários produtos como madeira, açúcar e vinho, que depois eram re-explorados para a Europa. Nesse momento o ouro da Guiné, as especiarias da Índia o Pau-Brasil e depois o açúcar do Brasil transformaram a economia Portuguesa.
• Na realidade era o rei quem detinha o monopólio do comércio que dominava a estrutura social e econômica. A administração do império Português se incluindo o Brasil, do final do século XVI no século XVIII, é complexa. No entanto, as expedições navais, a compra e venda de pimenta e o recolhimento das rendas reais, ficou a cargo do conselho da fazenda.
• Na esfera das finanças, o rei retomou o antigo sistema de vedores da fazenda, enquanto o conselho da fazenda parece ter continuado a exercer apenas as funções de tribunal.
• Em Lisboa, os órgãos mais importantes do governo estavam ligados primordialmente às questões fiscais. Os territórios coloniais eram terras pertencentes à coroa ou aos beneficiários da coroa.
• A autoridade do governador-geral foi diminuindo aos poucos |à medida que os Portugueses, nas últimas décadas do século XVI e XVII foram adentrando pelo interior do Brasil. O organizador municipal de Salvador era típica a administração urbana no Brasil.
• Meio século de guerras e mais de um século de pirataria resgatou enormemente a administração e principalmente as do império português na Ásia, na África e na América . e exauriu os recursos de Portugal.
• Os fortes foram construídos e reconstruídos; a armada do mar oceano, a esquadra dos altos mares, foi reorganizado em 1633; foram criadas frotas para a defesa de costa; foi necessário abastecer esquadrões navios e exércitos em vários continentes e outras ações. Os impostos e direitos em Portugal e por todo o império, não deram à coroa renda necessária para as despesas foi preciso buscar recursos por outros meios, inclusive empréstimos, voluntários ou forçados.
• Os mapas e os diários de bordo dos séculos XVI e XVII que foram preservados revelam que os portugueses haviam descoberto pouco tempo antes as rotas atlânticas mais diretas entre a Europa e a América.
• As embarcações que faziam o transporte comercial português no Atlântico eram navios transoceânicos. A exigência de Portugal de que o comércio das colônias ficasse restrito aos súditos nacionais não impediu que ficassem autorizados e usados navios estrangeiros nem que os estrangeiros investissem nos empreendimentos coloniais portugueses. Portugal nunca possui uma frota mercante de tamanho suficiente para lidar com o comércio de açúcar brasileiro.
• As hostilidades entre Holanda e a Europa após 1621 causou a perda do Nordeste do Brasil e de seu comércio, as atividades piratas holandesas se intensificaram, o comercio de Portugal com o restante do Brasil desintegrou-se.
• À medida que diminuíram as hostilidades e a pirataria no Atlântico, a companhia tornou-se mais eficiente e começaram a partir regularmente do Rio de Janeiro.
• A companhia geral do comércio terminou por ser abolida, mas foi mantida o sistema de frotas. O comércio entre Portugal, o restante do império português e o Brasil foi dominado no sentido oeste-leste pelo comércio de escravos e no sentido leste-oeste pelo de açúcar. Para o fornecimento de escravos os comerciantes usavam duas regiões da África.
• O comercio de escravos estava aberto a todos os portugueses sob pagamento de uma taxa. O ciclo do açúcar no Brasil durou um século pode ser dividido entre 1570 a 1680. Entre outras mercadorias envolvidas no comércio atlântico, o fumo era o mais importante. No século XVIII, a política de Portugal visava restringir o cultivo do fumo na metrópole. Com o crescimento do comércio escravista no Brasil, o fumo e o rum brasileiro se converteram nas mercadorias mais usadas para trocar por escravos nas costas africanas.
• Muitos outros produtos, além dos escravos e marfim eram importados para o Brasil. No século XVII e XVIII muitos navios que viajavam da Ásia para Europa paravam no Brasil, trazendo sedas e outras mercadorias de luxo. A crise da indústria brasileira do açúcar na década de 1680, depois de um século de crescimento e propriedade, desencadeia uma crise econômica em Portugal.

MAURO, FREDERIC In. BETHEL, Leslie (org) História da América Latina: A América Latina Colonial. I. Vol.1 São Paulo: USP, 1998.

OS ARGONAUTAS

OS ARCONAUTAS PORTUGUESES E O SEU VELO DE OURO
(SÉCULO XV-XVI).


• Navegação, comércio e conquista. É a bandeira manuelina. Houve navegação, guiada pelos instrumentos que mediam o sol e as estrelas. Comércio, desigual, com monopólio e presas. Conquistas nunca concluídas,da cidade, de territórios. Para não tomar a parte pelo todo não escolhemos o termo Descobrimento. O colonizador não de revê, em geral, no conhecimento e o ex-colonizado tem aversão ao termo descobrimentos.
• O termo civilizar é uma expressão que alguns gostariam de ver recuperado. O encontro de cultural permite aplacar as consciências sensíveis, mas esse envolveu confronte e também destruição de culturas.
• A expansão portuguesa dos séculos XV e XVIII envolveu milhares de navios de comercio e de guerra. A sua constituição e formas desiguais ficaram assinalados na galeria dos nomes.
• A caravela constitui por excelência da exploração e descobrimento do Atlântico. E também o navio próprio para levar e trazer informações. A caravela serviu também como navio de guerra.
• A expansão marítima dos portugueses e europeus promoveu em todos os mares combates e ferozes guerras marítimas. Os navios levaram aos portos mais distantes do globo o ribombar da artilharia.
• O grosso da população das naus da carreira da Índia era constituída por mareantes e militares e também por pequenos núcleos de mercadores profissionais e de religiosos. Os militares podiam ser marinheiros e os marinheiros soldados bem como os mercadores e os clérigos. Nos navios de menor tonelagem que cruzavam o Atlântico eram poucos os militares, mais os passageiros. Os navios dos argonautas portugueses necessitavam de bases, anseavam por terra. Para tratar das feridas, para satisfazer a forma física e sexual, para renovar os navios e os abastecimentos, para firmar os pés e reclinar a cabeça sem o balanço das ondas e a ameaça de corte pelas espadas inimigas, para ligar o ponto de chegada ao ponto de partida. Assim, a expansão portuguesa avançava marcando no espaço as bases e as fortalezas.
• Entretanto, ao longo do século XV, foram-se definindo os modelos que a expansão portuguesa iria desenvolver nos séculos XVI e XVII. O primeiro modelo encontrou na conquista e conservação de Ceuta e de outras praças marroquinas as linhas definidas. Em seguida com a colonização de Madeira e dos Açores. Inicialmente esta colonização assentou em terra livre com o só encargo do dízimo a Deus e organizada na pequena exploração camponesa ou na média com trabalho assalariado dos braceiros e a introdução do trabalho escravo.
• O terceiro caminho definiu-se com o estabelecimento da feitoria. A reserva de navegar, conquistar, comerciar é instituída em regime de monopólio henriquino-régio. No essencial, o monopólio garantia a cobrança do quinto das mercadorias pela ordem de Cristo, de que o infante era o governador, e reservava a navegação e o comércio para essa área do globo para aqueles a quem,mediante contra partida materiais, fosse dada licença, em primeiro lugar aos escudeiros e mercadores ligados à casa senhorial henriquina.
• As descobertas marítimas, o devassar das estradas líquidas dos mares e dos rios tornavam a terra finita, destapavam-lhe o corpo todo, revelavam aos europeus novos povos, novos climas, novos cultos, novas técnicas, novas plantas, novos animais, novas estrelas e muito ouro, planta, pedras preciosas, pimenta e canela, têxteis, porcelanas da china.
• As navegações crescem as receitas do Estado e as dos particulares e desenvolvem-se as forças produtivas. Os cereais tornaram-se um dos maiores negócios do século. A expansão portuguesa tem fome de cobre usado na artilharia, nas moedas e nos sinos das novas e velhas igrejas.
• No Brasil, os particulares desempenharam um papel decisivo. Duarte Coelho investiu em Pernambuco capitais adquiridos na zona de Malaca e nos mares da china. Fernando de Noronha e outros cristãos novos multiplicaram o seu capital com o comércio em exclusivo do pau-brasil e a exportação em grande escala de escravos negros para a América Espanhola e o Brasil. A febre da riqueza consomia largos estreitos da sociedade. A Igreja está muito preocupada com a ortodoxia e com a riqueza e o poder dos mercados portugueses. O alto clero e os fidalgos pretendiam reservar para si a direção da sociedade.



COELHO, Antonio Borges. Os Argonautas Portugueses e o seu velo de Ouro (Século XV-XVI) In: TENGARINHA, José (org) Bauru; SP: EDUSC, Inst: tuto Camões, 2000. p. 57-74.

HOBBES

OBRA: THOMAS HOBBES:

CAPÍTULOS XIII À XIX

• A natureza humana são iguais tanto no que diz respeito às faculdades do corpo como do espírito.
• A prudência nada mais é do que experiência que um tempo igualmente oferecem a todos os homens. Pois a natureza dos homens é tal que embora saibam que existem outros mais capazes dificilmente aceitam que haja outros tão sábios que eles mesmos.
• Desta igualdade quanto à capacidade, deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins.
• A desconfiança de uns em relação aos outros; não existe nenhuma maneira de evitar. Por outro lado, os homens não sentem prazer na companhia dos outros e sim um desprazer quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito. Porque cada um pretende que lhe seja atribuído o mesmo valor que faz de se próprio.
• Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os mânter a todos em respeito, eles se encontram em condições de guerra.
• Portanto, tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é valido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes poder ser oferecida para sua própria força e sua própria invenção.
• Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é conseqüência: que nada pode ser injusto. As nações de bem e de mal, de justiça e injustiça. Não podem aí ter lugar.
• As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida confortável e a esperança de consegui-las através do trabalho. E a razão sugere adequadas normas de paz, em torno das quais os homens podem chegar ao acordo. Essas normas são as Leis de natureza.
• O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam Jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida.
• Entende-se por liberdade a ausência de impedimento externo, que muitas vezes tiram parte do poder que cada um tem de fazer o que quer, mas não pode obstar a que uso o poder que lhe resta conforme o que seu julgamento e razão lhe ditarem.
• Uma lei de natureza (lex naturalis) é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pensa poder contribuir melhor para preservá-la.
• E dado que a condição do homem é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada um governado por, sua própria razão, e não havendo nada, de que possa lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua vida contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros.
• Desta Lei Fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os homens que procurem a paz, deriva esta segunda lei o que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo. Renunciar ao direito a alguma coisa é o mesmo que privar-se da liberdade de negar ao outro o benefício de seu próprio direito à mesma coisa.
• Na realidade, quando alguém transfere seu direito ou a ele renuncia, em consideração a outro direito que reciprocamente lhe foi transferido, ou a qualquer outro bem daí espera. Nesse sentido, a transferência mútua de direitos é o que se chama de contrato.
• Num estado civil, onde estabelecido um poder para coagir aqueles que de outra maneira violaram o contrato, esse temor deixa de ser razoável. Por esse motivo, aquele que segundo o pacto deve cumprir primeiro é obrigado a fazê-lo.
• Os homens liberados de seus pactos de duas maneiras: ou cumprindo ou sendo perdoados. Pois o cumprimento é o fim natural da obrigação e o perdão é a restituição da liberdade, constituindo a retransferência daquele direito em que a obrigação consista.
• Daquela lei de natureza pela qual somos obrigados a transferir aos outros aqueles direitos que ao serem conservados, impedem a paz da humanidade,segue-se uma terceira: que os homens compram os pactos que celebrarem. Sem esta lei os pactos seriam vãos, e não passariam de palavras vazias; como o direito de todos os homens a todas as coisas continuaria em vigor, permaneceríamos na condição de guerra. Nesta lei de natureza reside a fonte e a origem da justiça. Porque sem um pacto anterior não há transferência de direito, e todo homem tem direito a todas as coisas, consequentemente nenhuma ação pode ser injusta. Mas, depois de celebrado um pacto, rompe-lo é injusto.
• As palavras, justo e injusto são atribuídas a homens, significam uma coisa, e quando são atribuídas a ações significam outra. No caso dele são atribuídas a homens indicam conformidade ou incompatibilidade entre os costumes e a razão diferente de coisas. A justiça distributiva é a justiça de um árbitro, isto é; o ato de definir o que é justo. Tal como a justiça depende de um pacto antecedente, assim também a gratidão depende de uma graça antecedente. A questão de decidir quem é melhor homem não tem lugar na condição de simples natureza, na qual todos os homens são iguais. No entanto, por mais desejosos de cumprir estas leis que os homens estejam, é não obstante sempre que possível surjam controvérsias relativas às ações. Supõe-se que cada um faz todas as coisas tendo em vista seu próprio benefício, ninguém pode ser árbitro adequado em causa própria. São estas as leis de natureza que ditam a paz como meio de conservação das multidões humanas, e as únicas que dizem respeito à doutrina da sociedade civil.
• Todas as leis que obrigam in foro interno podem ser violadas, não apenas por um fato contrário à lei mas também por um fato conforme a ela, no caso do seu autor considera-lo contrário. As leis de natureza são imutáveis e eternas, pois jamais poderá ocorrer que a guerra preserve a vida, e a paz a destrua.
• E a ciência dessas leis é a verdadeira e única filosofia moral. Porque a filosofia moral não é mais do que a ciência do que é bom e mau, na conservação e na sociedade humana.
• Quanto às pessoas artificiais, em certos casos algumas de suas palavras e ações pertencem àqueles a quem representam. Nesses casos a pessoa é o ator, e aquele a quem pertencem suas palavras e ações é o autor.
• Há duas espécies de autores. O autor é aquele que pertence à ação de um outro. Da segunda é aquele a quem pertence uma ação, ou um pacto de um outro, condicionalmente.
• Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros, o que queremos que nos façam), por si mesmos.
• Os pactos sem a espada não passam de palavras sem força para dar a menor segurança a ninguém.
• É desta instituição do Estado que derivam todos os direitos e faculdades daqueles a quem o poder soberano é conferido mediante o consentimento do povo reunido.
• Visto que o fim desta instituição é a paz e a defesa de todos, e visto que quem tem direito a um fim tem direito aos meios, constitui direito de qualquer homem;
• A diferença entre essas três espécies de governo Monarquia e Aristocracia não reside numa diferença de poder, mas numa diferença de conveniência, isto é, de capacidade para praticar a paz e segurança do povo fim para o qual foram instituídas. Não existe uma forma perfeita de governo em que a decisão da sucessão não se encontre nas mãos do próprio soberano.

MEDO E ESPERANÇA

OS CLÁSSICOS DA POLÍTICA
Texto de Hobbes: O medo e esperança


• Sabermos que Hobbes é um contratualista; a origem do Estado/sociedade está num contrato: os homens viveriam naturalmente, sem poder e sem organização que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política.
• A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito. Igual o bastante para que nenhum possa triunfar de maneira total sobre outro.
• Por isso, se não há um estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional.
• De modo que na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança;e terceiro a glória.
• A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas.
• Hobbes pede um exame de consciência: “conhece-te a ti mesmo” estamos carregados de preconceitos. Mas o mito de que o homem é sociável por natureza nos impede de identificar onde está o conflito, e de conte-lo.
• O indivíduo em Hobbes almeja a honra. Entre as causas da violência, uma das principais reside na busca da glória. Uma lei de natureza é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem.
• A sociedade e o Estado em Hobbes está fundido num só porque se há governo, é justamente para que os homens possam conviver em paz: sem governo os homens se matam uns aos outros. Por isso, o poder do governante tem que ser ilimitado. Ou o poder é absoluto, ou continuamos na condição de guerra, entre poderes que se enfrentam.
• Do Estado derivam todos os direitos, na medida em que pactuam, deve entender-se que não se encontram obrigados por um pacto anterior a qualquer coisa que contradiga o atual.
• Dado que o direito de representar a pessoa de todos é conferido ao que é tornado soberano mediante um pacto celebrado apenas entre cada um e cada um, e não entre o soberano e cada um dos outros, não pode haver quebra do pacto da parte de soberano, portanto, nenhum dos súditos pode libertar-se da sujeição sob qualquer pretexto de infração.
• Igualdade e liberdade é o fator que à guerra de todos. Significa em sentido próprio, a ausência de oposição (entretanto por oposição os impedimentos externos do movimento).
• Resta uma liberdade ao homem. Quando o indivíduo firmou o contrato social, renunciou ao seu direito de natureza, isto e, ao fundamento jurídico da guerra de todos.
• Ninguém tem a liberdade de resistir à espada do estado, em defesa de outrem, seja culpado ou inocente. Porque essa liberdade priva a soberania dos meios para proteger-nos, sendo portanto destrutiva da própria essência do estado.
• Às outras liberdades, dependem do silêncio da Lei. O soberano não está atado pelas Leis humanas de justiça, por isso, de seu ponto de vista, não há diferença em castigar um culpado ou agredir um inocente.
• No estado absoluto de Hobbes, o indivíduo conserva em direito á vida talvez sem paralelo em nenhuma outra teoria política moderna.
• O soberano governa pelo temor que aflinge seus subidos. Porque, sem medo, ninguém abriria mão de toda a liberdade que tem naturalmente; se não temesse a morte violenta o poder soberano mantém temerosos os súbitos, o indivíduo bem comportado obediente às regras não terá problemas com o soberano.
• O Estado não se limita a deter a morte violenta. Na realidade o papel do contrato assume amplas dimensões primeiro, o homem é o autor de sua condição de seu destino, e não Deus ou a natureza, segundo o homem pode conhecer tanto a sua presente condição quanto os meios de alcançar a paz e a prosperidade, esses aspectos continuam inspirando o pensamento sobre o poder e as relações sociais.

O IMPÉRIO DA VIOLÊNCIA

O IMPÉRIO DA VIOLÊNCIA


As cenas de violência nos dias atuais são comuns e tem sido considerada normal no cotidiano da vida urbana tornando-se algo banal. Entretanto, surgem novos tipos de violência que seja: física ou a subtração de um bem, de um objeto. Por outro lado, vale ressaltar que os delitos são praticados principalmente por menores numa forma explícita de descaso dos órgãos competente e da fragilidade da lei vigente no país.
A criação da FEBEM – Fundação do Bem Estar ao Menor tem a função de promover a re-socialização do menor. Segundo Souza (1988) com muita propriedade enfatiza a violência em suas várias dimensões tanto no que se refere a prática de roubos com a questão da droga, dos entorpecentes, dos crimes e assassinatos cometidos.
Por isso, acrescenta:


A violência tem escritório de compra e venda, onde produtos são oferecidos e adquiridos. (...) a mesma coisa acontece com as drogas: alguém usa, alguém compra, alguém vende. Uma lei de oferta e da procura, e que possui um canal direto com a violência, embora muitos dos adeptos da droga façam de tudo para descrever o seu mundo como um mundo de felicidade e alegria. (SOUZA, 1988, p.15).


Na realidade no mundo do tráfico não existe amostra grátis, e aquele que precisa se torna dependente passando a sentir a necessidade física e psíquica da droga acaba cometendo pequenos furtos, a partir da própria residência ou aliando-se ao tráfico para garantir a sua parte. O mundo da droga é um mundo que para aqueles que não conhecem cedo ou tarde a dependência acaba se encontrando com a violência.
A insensibilidade consiste em um sintoma presente na sociedade. Assim, a legislação pune com mais rigor as pessoas condenadas por crimes de furtos ou roubos mais do que a um assassino. Outro tipo de insensibilidade que acontece contra as pessoas processadas por cometerem agressões, graves, leves, nada significa diante do número de mortos, mutilados e portadores de ferimentos provocados por acidentes de trânsito. O automóvel transformou-se em uma arma, um símbolo de violência uma vez que tem sido utilizada com mais intensidade de irresponsabilidade e impunidade.
A violência tende a ampliar suas fronteiras e seus domínios. No entanto, a sociedade só é o que é porque nós a construímos desse modo. Sendo assim, ainda acrescenta: “Foi assim que cresceram os muros, os esquemas de proteção, alterando completamente a arquitetura das cidades. As grades nas janelas tornaram-se obrigatórias, os cacos de vidros tomaram conta dos muros, os alarmes estão por toda parte.” ( SOUZA, 19988, p.17)
Esses comportamentos foram construídos a partir da violência reproduzida na sociedade e pela sociedade. Dessa forma, as pessoas reproduzem gestos automáticos no sentido de proteger seus bens, as pessoas que amam e os objetos que possuem. Não podemos modificar o fenômeno da violência de uma hora para outra, uma vez que seus efeitos são conseqüências das causas e fatores.
Existe uma relação direta entre frustração e agressão, como também entre a necessidade e o crime, ligação direta entre a miséria e a marginalidade misturando causas e fatores. “ É por isso que a violência existe não só na criminalidade, mas em toda parte. De qualquer forma, na parte mais visível da criminalidade nos deparamos com um círculo vicioso. É o círculo, que possui prisioneiros, que envolve os menores de um lado e os presídios de outro. ” (SOUZA, 1988. p.27)
A sociedade entende que a prisão cumpra o papel de reeducar, mas como educar aqueles que nunca foram educados.Paradoxalmente a prisão se transformou numa espécie de mãe e os presos em seus filhos. Nesse contexto,. A mãe-prisão segundo Souza (1988), considera aquela que constrói-se em um mundo fechado, com regras, linguagens e conceitos próprios. Ou seja, possui um código de ética particular. Nesse sentido, é necessário compreender as mazelas sociais,ocasionadas pelo desemprego, abandono de crianças sem moradia, sem perspectiva o que favorece a formação de grupos de marginais.
Percebe-se que os problemas sociais não são levados a sério pelas autoridades constituídas, mas tem sido medidas paliativas que não resolvem provocando assim a multiplicação da violência.para Souza (1988, p.21), é necessário seguir alguns caminhos em primeiro reduzir os índices de violência a fim de possibilitar um certo grau de segurança e de vida razoável a todos os cidadãos. Em segundo, reeducar os cidadãos de formas adequada, visto que os presídios tem significado depósito de seres humanos, tornou-se uma escola de criminalidade contrário aos objetivos desejados que seria a regeneração do indivíduo para a sociedade. Em terceiro, a lei deve ser cumprida sem deixar espaço para a omissão. Em quarto, é necessário encarar de frente a questão dos menores, tratar o problema desde suas raízes e não de forma superficial.
Em quinto, a sociedade despreza essas informações e usa as muralhas das prisões não como fatores de segurança, mas de maneira significativamente simbólica, mas não ver o que se passa atrás dela. Afasta o criminoso da sociedade, mas as causas continuam agindo, provocando ações e comportamentos criminosos. Em sexto, a questão da violência não se resume ao aumento do corpo efetivo de policiais. É fundamental evitar que as carências da população transformem-se em focos de criminalidade; não permitir que o menor abandonado seja corrompido por adultos para iniciar uma vida criminosa; possibilitar a inclusão dos indivíduos que havia ajustado suas contas com a sociedade, assim evitaria a reincidência dos criminosos.
Segundo Souza considera,


A insensibilidade que vai tomando conta de nós, como violência em metástase, leva a situações que poderiam até ser vistas como curiosas, se não fossem absurdas: existe um tipo de violência que é considerado legal, aceitável, tolerável, admissível, até mesmo necessário. (SOUZA, 1988 p. 34)


Entende-se que a violência é vista por um só ângulo, seja o roubo que justifica a criminalidade, que somente as pessoas menos favorecidas sejam criminosos. A criminalidade é vista como causa e não como efeito do descaso da sociedade. É preciso compreender que não se mudam comportamentos através de uma prisão. Não existe medicações contra a miséria, a injustiça e a violência em geral, mas é preciso melhores condições de vida social para todos e assim poderá ser extirpado a violência.
Enfim, de acordo com Souza (1988, p. 59), a questão da violência tem implicações diretas e imediatas para a vida cotidiana e a maneira pela qual é enfrentada terá conseqüências sérias quanto às próprias possibilidades de transformações mais aprofundada da realidade. Entretanto, as fontes que geram as múltiplas formas de criminalidade são consideradas causas efetivas e continuam em plena produção.
REFERENCIA:
SOUZA, Percival de O império da violência São Paulo: Ícone, 1988 pp.11-61.

O ESPÍRITO DA HISTORIOGRAFIA

Segundo o autor José Carlos Reis, o espírito da historiografia pós-moderna se baseia na alteridade, da diferença regional e local; microrrecortes no todo social; apego à micronarrativa e à descrição densa em detrimento da explicação globalizante; no sentido de uma redefinição da interdisciplinaridade e do tempo longo; conseqüentemente abertura a todos os fenômenos humanos no tempo, com ênfase individual, no irracional, no imaginário, nas representações, nas manifestações subjetivas, culturais. Percebemos que essas idéias estão articuladas na concepção de Certeau.
Por isso, conforme Michel de Certeau, toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômico-político e cultural. E é em função deste lugar que se estabelecem o método em que se delineia uma série de interesses que os documentos e as questões que lhes serão propostas se organizam. Diferentemente da história positivista, que se trabalhava com a idéia de verdade dos fatos, hoje, toda interpretação histórica depende de um sistema de referência. É, pois impossível analisar o discurso histórico independente da instituição em função do qual ele se organiza silenciosamente, ou sonhar com uma renovação da disciplina, assegurada pela única e exclusiva modificação de seus conceitos, sem que intervenha uma transformação das situações postas.
A instituição determina a vertente histórica a ser seguida pelos historiadores, por isso, um novo texto histórico quer dizer, uma nova interpretação, uma nova escrita aliados ao exercício de métodos novos, bem como a elaboração de outras pertinências visando um deslocamento da definição e o do documento etc, é o produto de um lugar social. Se é verdade que a organização da história é relativa a um lugar e a um tempo, isso ocorre, por causa de suas técnicas de produção.
Para Certau, este é o momento mais produtivo, pois em história tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em documentos certos objetos distribuídos de outra maneira. Enquanto a pesquisa é interminável, o texto deve ter um fim e esta estrutura de parada chega até a introdução, já organizada pelo dever de terminar. Também o conjunto se apresenta como uma arquitetura estável de elementos, de regras e de conceitos históricos que constituem sistema entre si e cuja coerência vem de uma unidade designada pelo próprio nome do autor. Nesse sentido, a escrita histórica permanece controlada pelas práticas das quais resulta bem mais que isto, ela própria é uma prática social que confere ao leitor um lugar bem, determinado. Assim, a construção historiográfica a partir de um lugar social, conseqüentemente, a pesquisa, tem por base os documentos e as questões propostas organizadas e submetidas as imposições ligadas aos privilégios e suas particularidades. Sendo assim, é a partir desse lugar que se determinam os limites e os métodos de pesquisa a fim de atender os verdadeiros interesses. Entretanto, a produção historiográfica é partilhada entre a escrita e o conhecimento científico do pesquisador. Além disso, é fundamental a neutralidade do pesquisador.
O discurso assume uma posição neutra, uma forma de transformar-se na maneira de defender o lugar. O não-dito é ao mesmo tempo o inconfessado dos textos que se tornaram pretextos, a exterioridade daquilo que se faz com relação àquilo que se diz, e a eliminação de um lugar ou de uma força que se articula numa linguagem.
O autor enfatiza que o lugar é determinante para se escrever sobre ele, uma vez que o historiador para escrever a história precisa saber como funciona essa sociedade. Por isso, a natureza e a cultura são de fato fundamentais para a pesquisa. A operação historiográfica fabrica o historiador. Todo trabalho científico opera uma redistribuição do espaço e o estabelecimento das fontes através de uma ação instaurada por técnicas de transformação.
Portanto, entendemos que, os procedimentos teóricos-metodológicos necessários para a elaboração de uma análise historiográfica dependem das técnicas atuais utilizadas levando o historiador a separar o que é imprescindível para o seu trabalho e para construção dos objetos da pesquisa e acumulação dos dados. Destacamos ainda que as particularidades existentes, a mutação do sentido ou do real na produção historiográfica ou dos desvios significativos, a posição do particular como limite do pensamento e a composição de um lugar que instaura no presente a figura do passado e do presente e suas ambivalências. A prática se constitui no próprio momento investigativo e os procedimentos teórico-metodológicos são utilizados pelo historiador no momento dessa prática transformando a natureza em cultura, o dado no criado. E a escrita histórica se compõe em um conjunto coerente de dados, permanecendo influenciada pelas práticas sociais, assim, cria o passado. Entretanto, essa escrita também pode enterrar o passado, no sentido de que a linguagem tem a função de reconstrução. Essa linguagem permite a prática de situar-se em relação ao seu outro, o passado e a historiografia efetua uma nova distribuição de práticas sistematizadas tendo no discurso histórico uma representação escriturária privilegiada da prática e das relações sociais.
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REPERCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA

A repercussão historiográfica nos leva a refletir sobre a problemática da escrita histórica a partir da ruptura entre modernidade e pós-modernidade, o problema da escrita do historiador e sua produção do conhecimento histórico compota uma preocupação fundamental voltada para reflexões dos saberes históricos. Pensar a escrita do historiador nos remete a experiência de construir e/ou produzir narrativas pautadas em fontes históricas. Produzir história para servir de base pra a construção da memória. Tal preocupação decorre das questões teóricas da tentativa de administrar as inspirações do historiador, bem como de suas idéias e escolhas como lidar com as positividades, as imprevisibilidades, certezas e incertezas que sempre cercam o universo do pesquisador.
A escrita histórica se baseava numa história factual principalmente em relatar acontecimentos e na datação como elementos fundamentais. No entanto, as fontes escritas são utilizadas para registro da memória, no sentido de expressão das idéias, sentimentos, impressões e conhecimentos. Aquilo que chamamos de documentos históricos ou fonte histórica não é necessariamente produzido pelos homens com o objetivo de deixar testemunhos para aqueles que viverão no futuro. Na realidade, em muitos casos, documentos, como diários, memórias e outros registros, são produzidos com a intenção declarada de deixar testemunhos. A mudança na escrita da história se configura haja vista que não se preocupam especificamente com datas, acontecimentos fantasiosos, heróis, lutas e guerras. Mas os pesquisadores ao escreverem sobre um determinado assunto, recorrem aos registros produzidos pelos homens, atribuindo–lhes um sentido, um significado. Por isso, para estudar a história dos homens, podemos utilizar vários documentos escritos como uma das fontes utilizadas para registros históricos. E assim, possibilita a escrita histórica baseada no cotidiano e nas vivências de um povo.
Esse universo é marcado por construções criativas e seus personagens são sempre vestidos com representações de uma vida alimentada pelas razões de quem as escrevem e de que as inspirou. Assim, esse trabalho de escrever a história não é também uma tarefa fácil, muito menos de pensar os seus temas. Geralmente as pessoas pensam que escrever história é simplesmente pôr palavras referente a um tempo passado no papel. É importante o historiador produzir histórias para construção da nação, para inventar novos mundos possíveis e assim inventar o passado. Assim, tomamos a história como um elo entre os vários saberes das diversas áreas do conhecimento.
Entretanto, é necessário compreendermos que o historiador historiciza os vestígios daquilo que foi produzido pelo homem. E assim, o historiador recria os dados problematizados a partir dos problemas do presente, e realiza a narrativa histórica no sentido de uma elaboração de um argumento, além da presença inevitável das implicações políticas e de pressupostos filosóficos. O historiador não pode escamotear o lugar histórico e social de onde fala, e o lugar institucional onde o saber histórico se produz.
Por isso, a escrita histórica sofreu mudanças, uma vez que requer novos paradigmas para reescrever a história, buscando um tom maior de sensibilidade e compreensão em relação as coisas ao seu redor a fim de permitir visualizar melhor a realidade e despertar a percepção dos indivíduos, contribuindo assim, para modificar os meios de aquisição de novos conhecimentos históricos. O historiador se propõe descrever as coisas tais como aconteceram. De fato, por muito tempo os historiadores estavam encarregados de distribuir elogios ou vitupério aos heróis mortos. Acreditamos que essa atitude corresponda a um instinto enraizado há muitos anos.
Não é possível aceitar a história baseada no discurso mecânico, como solução para reconstrução da história. Ora, se é através desses escritos que excetuando testemunhos materiais que conhecemos uma sociedade.Uma sociedade raramente é uma, ela decompõe em ambientes diferentes. Em cada um deles, as gerações nem sempre se superpõem, mas será que as forças que atuam sobre as pessoas são exercidas pelo menos com uma intensidade igual?
Assim perguntamos para que serve a História: Essa resposta não apenas mostra que a obrigação do historiador é difundir e explicar seus trabalhos. Ele deve saber escrever com clareza, simplicidade e a sabedoria dos mestres. A História não se ocupa apenas dos problemas intelectuais e científicos, mas culturais, políticos e sociais de um povo.
A história é uma ciência, mas uma ciência que tem como uma de suas características, o que pode significar sua fraqueza, mas também sua virtude, ser poética, pois não pode ser reduzida a abstrações, a leis e as estruturas. O produto de uma construção ativa dos historiadores possibilita transformar a fonte em documento e em seguida ser instrumento da construção de novos documentos. Esses fatos históricos talvez sejam um dos caminhos seguidos pelos historiadores em suas investigações.
No entanto, a destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas, é um dos fenômenos mais característicos e penosos ocorridos no final do século XX. Além disso, quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação com o passado público da época em que vivem. Por isso, o ofício do historiador é lembrar o que os outros esquecem, tornando-se mais importante que nunca no presente século XXI.
Não podemos esquecer que sem dúvida, a escrita da história mudou a partir da ruptura da modernidade e pós-modernidade, por isso, a escrituração histórica se faz com documentos escritos. Quando existem. Mas pode e deve fazer-se sem documentos escritos, se não existirem. Faz-se com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para construção do saber histórico. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que constrói, tudo o que toca, pode e deve fornecer informações sobre eles. A escrita da história a partir da ruptura modernidade e pós-modernidade sofreu mudanças no sentido de que todos os valores e critérios estão sendo reavaliados e foi ressignificado.
Vale lembrar que o discurso da história envolve vários discursos e possibilidades, com tendência a abandonar as suas pretensões antigas. Assim, a história se aproxima da arte, da literatura, da poesia, do cinema, da fotografia, da escultura, da música dentre outros. A adequação do seu discurso por algum tempo havia sido dominada por uma linguagem tradicional com fortes influências francesas retornando a uma discussão epistemológica, de caráter filosófico que a história do século XX havia rompido.
A micro-história retorna a um discurso quase idealista e até teológico. Entretanto, a história tem se aproximado dos vários campos de estudos fazendo a interdisciplinaridade com as ciências sociais, o que significa que a forma da história não é exterior ao seu conteúdo e indiferente à sua época. Esse discurso histórico não é só uma exposição analítica, conceitual e quantificada de uma documentação objetivamente elaborada. A história se aproxima e ressignifica as diversas linguagens.
Percebemos que a história busca a adequação do conhecimento histórico ao seu presente, para interpretá-lo e compreendê-lo o mais próximo possível dos seus próprios termos. A história não se baseia em estruturas de longas durações, quantidades, conceitos, coletividades anônimas, teleológicas fantasiosas, mas visa a criação de uma nova história.
Os caminhos apontados por José Carlos Reis em relação a pós-modernidade se resume a valorização da alteridade, da diferença regional e local; microrrecortes no todo social; a micronarrativa e à descrição densa em detrimento de explicações globalizantes; além da redefinição da interdisciplinaridade e do tempo longo; abertura a todos os fenômenos humanos no tempo, com ênfase no individual, no imaginário, nas representações, nas manifestações subjetivas e culturais. Não se quer negar a ordem estrutural das experiências humanas, que continuam sendo pressupostas.
A escrita histórica é limitada as suas ações do sujeito, criativo e eficiente. Não se tematiza homens passivos, dominados por forças transcendentais universais ou objetivas e impessoais. Percebemos que a filosofia retorna como instrumento indispensável da história para reflexão sobre o mundo produzido por sujeitos locais, descentralizados e negociam permanentemente as suas identidades com a sociedade e com os outros sujeitos históricos.
Em a História: a arte de inventar o passado de autoria do Professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, se apresentam aspectos da literalidade, da racionalidade, da crise do dado, dos eventos importantes da modernidade, a crise da História, o ato de conhecer o passado e o papel do historiador além da ciência e da arte. A história não expressa somente dados sistemáticos, mas revela a racionalidade e uma finalidade. Entendemos que o conhecimento histórico na pós-modernidade é relativo as condições históricas não podendo utilizar os mesmos modelos, teorias e metodologias anteriores. Mas o saber histórico implica uma nova idéia de fazer história e os desdobramentos teórico-metodológico necessários.
O avanço tecnológico, a rapidez das informações têm produzido mudanças rápidas na sociedade do lucro, dando lugar as transformações nas relações de trabalho bem como, no sistema sócio-econômico. O mundo da linguagem das categorias modernas exige cada vez mais novos paradigmas no campo do saber. O conhecimento passa a ser considerado relevante para o mundo das experiências. A História é a arte de inventar novos mundos e de inventar o passado.
A importância de um saber histórico prévio é fundamental para assim compreendermos o presente, não apenas os vestígios ou as fontes. Sabemos que são fundamentais, mas, sobretudo deve-se adquirir um conhecimento prévio sobre o objeto de estudo. A falta de um conhecimento histórico coloca o indivíduo diante da própria racionalidade histórica e dos mitos. O caráter nacional, contextual e plural de qualquer acontecimento histórico elimina a possibilidade de uma argumentação sob um ponto fixo e a própria relatividade da história.
O conhecimento da arte pode favorecer para a construção de uma produção artística com liberdade de criação e uma experimentação instaurada pela vanguarda modernista. Em relação a crise do dado esta representa a fragilidade dos dados, uma vez que não podem ser fixos. A relação entre os significantes e os significados altera-se deixando de existir significado fixos e universais. O mundo construído é um mundo de experiências que se constitui pelas experiências e não tem nenhuma pretensão à verdade, no sentido de corresponder a uma realidade. Desse modo, a história a serviço da memória está sempre desfazendo as imagens do passado. Sendo assim, a história promove o avanço do conhecimento, da ciência, da razão e da consciência. O conhecimento torna-se a invenção de uma cultura particular, em um determinado momento. Entretanto, a modernidade o cientificismo e o racionalismo têm por base a arte.
Nessa perspectiva, as várias inovações tecnológicas, materializadas em diversas mídias, situadas em diferentes contextos históricos, alteram profundamente o modo corriqueiro das pessoas interagirem entre si e atuar nos diversos mundos que conhecemos (lazer, trabalho, educação, etc).Todas as inovações tecnológicas estão inscritas num processo de desenvolvimento cultural, não podendo ser compreendida como uma força externa, vinda de fora e estranha ao homem. E assim,

A invenção do chip iniciou uma progressiva desreferencialização do mundo e sua integração em circuitos telemáticos. Passou a ser possível a simulação de realidades virtuais, em que o homem convive com o simulacro. Um mundo de escolhas rápidas, quantitativas, bíticas. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007)


Nesse caso específico, estamos discutindo o quanto e como as técnicas de produção, armazenamento e circulação de bens simbólicos disponíveis, alteram a nossa relação com as imagens, com os textos e com o conhecimento. Desse modo, a produção da história o armazenamento e o intercâmbio das informações e idéias ou qualquer outro bem simbólico, faz uso de algum meio técnico ou suporte material para registrar os fatos. Mesmo no tipo de interação face a face, precisamos do suporte material: o ar, cordas vocais e a laringe como recursos para a comunicação efetiva. Podemos dizer que em todas as áreas profissionais se faz necessário trabalhar com ferramentas, no caso da História, a linguagem, tanto escrita como falada são responsáveis pela reprodução dos fatos, se constituindo em um universo de fontes para investigação.
Mesmo nas artes artesanais clássicas, os materiais, os instrumentos, as ferramentas, os procedimentos, as técnicas de produção são fatores condicionantes que interferem substancialmente na forma, no estilo e porque não, na própria concepção das obras. Nenhuma leitura dos objetos culturais recentes ou antigos pode ser completa se não se considerar relevantes, em termos de resultados e de uma lógica intrínseca do material e dos procedimentos técnicos que lhe dão formas. A história da arte não é apenas a história das idéias estéticas, como se costuma ler nos manuais, mas também e, sobretudo a história dos meios que nos permitem dar expressão a essas idéias. A troca de informação ou intercâmbio de idéias requer um certo distanciamento espaço-temporal do conteúdo com o contexto no qual foi criado. É claro que o grau de distanciamento alcançado dependerá das qualidades dos meios técnicos.
Conforme Albuquerque Junior (2007), “os indivíduos teriam que aprender a conviver com a crise do dado, haja vista que a sociedade pós-moderna nada é evidente”.O referente, o fenômeno e o signo deixam de ser dados fixos, realidade objetiva da qual partem as representações, para serem revelados como produto de invenção social e lingüista.Vivemos em uma era em que se define pela expansão das relações virtuais em inúmeras instâncias sociais, redimensionando, conseqüentemente, as categorias espaço e tempo, relações sociais e cultura. Era na qual o espaço é cada vez menor, o tempo cada vez mais veloz, e as relações sociais mais voláteis. Assim, a consideração pelo imaginário deixa de ser uma visão deformadora do conhecimento para se tornar um objeto de estudo na vertente da história cultural e das mentalidades, desenvolvendo-se no momento em que as posturas interpretativas também dão conta do real. Entendemos que,

O conhecimento histórico torna-se, assim, a invenção de uma cultura popular, num determinado momento, que, embora se mantenha colado aos monumentos deixados pelo passado, à sua textualidade e à sua visibilidade, tem que lançar mão da imaginação para imprimir um novo significado a estes fragmentos.(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007).

A existência de inúmeras formas de conhecimento e linguagens produzidas e outras fontes de conhecimentos são representações utilizadas que estão diretamente voltadas para a produção e compreensão do conhecimento histórico principalmente em uma sociedade imagética caracterizada pela comunicação de massa, pela força das imagens produzidas para e pela televisão. A essência do conhecimento histórico são as ações humanas repletas de emoção, de sensibilidades, de contradições traduzidas no fato histórico.
Segundo Albuquerque Júnior (2007), “o historiador narra os fatos não inventa os dados, mas consulta arquivos, compila textos, realiza leituras e imagens deixadas pelas gerações passadas que são reescritas e revistas a partir dos problemas do presente e de novos pressupostos, transformando os documentos em instrumentos do historiador”. Portanto, as fontes históricas e o tratamento dado ao documento são fundamentais para construção de novos saberes. O trabalho com os documentos escritos, arqueológicos, figurativos, orais é interrogar os silêncios da História, algo que nos foi dado intencionalmente, ele é o produto de uma certa orientação da História.
Por isso, em Albuquerque Júnior (2007), o ato de conhecer não é fruto de uma recepção passiva, mas conhecer é uma atividade. As mudanças nos paradigmas rompem com as categorias da modernidade, na qual a consciência histórica ocupou o centro de todos os saberes. Entendemos que a construção da história a partir das fontes orais não é valorizada como as fontes escritas. Assim, Albuquerque Junior diz: “o passado é como um abismo que não paramos de cavar’. A escrita da história deve ser vista como uma forma de arte, e a narrativa, dos testemunhos exemplares implica conhecer o campo político e os pressupostos filosóficos. No entanto, a História não se resume apenas as narrativas enfadonhas, mas ao longo dos anos vem se diversificando e as novas tecnologias vem colaborando para a produção do conhecimento histórico, no sentido de armazenar os dados com maior eficiência, restaurar documentos, e assim a modernidade vem possibilitando reescrever o passado utilizando dos novos recursos.