sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O CONTEXTO HISTÓRICO DO COTIDIANO ESCOLAR

O CONTEXTO HISTÓRICO DO COTIDIANO ESCOLAR



O texto trata da discussão referente a relação recíproca existente entre a sociedade enquanto realidade histórica e a vida cotidiana. Neste sentido, o conhecimento na sociedade implica o conhecimento da vida cotidiana e vice-versa. Em 1964, foi um período histórico marcante para a educação brasileira. Sem dúvida, o significado histórico do período entre 1964 e 1980 pode ser melhor entendido partindo da análise das principais mudanças ocorridas no país em termos políticos, econômicos e educacionais.
No que se refere aos aspectos políticos, o período de 31/03/1964 marcado pelo regime do autoritarismo político só vem ter seu fim em 1984 com a eleição indireta de Tancredo Neves, época convencionalmente de “abertura democrática”.
Economicamente, este período de 1964 a 1980 esteve ligado as características do desenvolvimento econômico dos anos 50. As características deste desenvolvimento econômico juntamente as questões dominantes contribuem para as mudanças educacionais neste período.
Segundo Celso Furtado (1982: 37), as modificações institucionais introduzidas entre 1964 e 1967 revelaram a intenção do novo governo militar baseado nas forças de mercado principalmente pelas sucessivas leis que proporcionaram benefícios as empresas transnacionais, o que provocou o arrocho salarial, conseqüentemente o crescimento da miséria fruto de altos juros referentes a dívida externa.
A urbanização tende a aumentar em São Paulo devido as instalações da primeira indústria automobilística, da refinaria de petróleo e da empresa siderúrgica brasileira em Volta Redonda. Entretanto, o desenvolvimento econômico não significa crescimento para a população em geral, mas o acentuamento das diferenças sociais. Por outro lado, verifica-se a evolução do desenvolvimento educacional.
O Ensino Municipal foi criado em 1956 independente do Estado, mas de forma precária com deficiência de vagas. Somente a partir dos anos 70 e 80 acontece o aumento na oferta de vagas, mas de não atendia a demanda da sociedade.
Conforme Penin (1989 p. 430, além da mudança escolar na organização a partir da reforma de Ensino de 1971 que visava diminuir as altas taxas de repetência e evasão escolar, não houve mudanças na rede pública).




A escola Alfa

A escola alfa criada em 1976 com uma estrutura de superlotação de alunos provocada pela falta de espaço físico provocava também o não-atendimento de modelo pedagógico de recuperação contínua. Geralmente, os alunos neste período eram filhos de pais analfabetos, conseqüentemente a qualificação profissional destes eram ocupações semiqualificada com baixa renda familiar.
Lamentavelmente, os gastos da União com a educação eram muitos baixos. Além disso, os recursos físicos, materiais e humanos eram escassos. O corpo docente da escola constitui o recurso humano fundamental, no entanto, era grande o número de faltas das professoras. Neste contexto, a carência de recursos de ordem física, material e humana constituía referência concreta para atuação dos elementos da escola. Entre outros aspectos as políticas de pessoal e de orientação pedagógicas interferiram negativamente sobre o trabalho da escola.
Inicialmente podemos dizer que se adotou a revogação da jornada dupla de trabalho; segundo decidiu-se que deveriam adotar novo programa de alfabetização sem questionar o valor pedagógico. Pior do que isso é a mistura de métodos no processo de alfabetização do aluno.
A autora Penin (1989), revela as várias faces da educação brasileira. Além disso, mostra a intensa interferência do sistema no ritmo de trabalho da escola, fragmentando o cotidiano escolar.
O trabalho escolar no que diz respeito aos aspectos administrativo e o pedagógico são repetitivos e se desenvolvem segundo determinado ritmos. As práticas e os processos acionados pelos agentes pedagógicos da escola ocorre de duas maneiras: aqueles que sugerem contribuições com a permanência de más condições de trabalho e baixa produtividade escolar. Uma das evidências de fragmentação do processo educativo refere-se a forma burocratizada de orientação a nível institucional dominada pelo modelo tecnicista de ensino. Os problemas educacionais da escola não eram objeto de reflexão dos educadores e as vezes nem eram detectados.
Por muito tempo foram marcantes as práticas de homogeneização e fragmentação apesar de alguns se posicionarem contrários. Portanto, o momento de construção da obra Alfa, o controle institucional exercido sobre a escola, bem como as medidas tomadas ao nível de organização escolar, contribuem para que o cotidiano escolar reproduza ações e práticas repetitivas e programadas. Entretanto, pode-se constatar algumas ações específicas de educadores e pais no sentido de provocar a superação da cotidianidade. A partir das ações dos diversos agentes do processo educativo já emergia uma estratégia de conquista dessa cotidianidade.



A obra Beta

À escola Beta criada em 1976, sendo instalada precariamente atende a uma população carente de renda familiar baixa; do qual os pais dos alunos compreendiam de trabalhadores semiqualificados. Evidencia ainda que os meios de comunicação a exemplo do rádio e da televisão serviam como lazer para os alunos.
A questão sócio-econômica-cultural dos alunos e suas famílias também provocavam uma situação desfavorável para um bom rendimento escolar. Além disso, a escola ainda apresentava problemas com a falta de professores, administrativos e técnicos. Havia carência no sentido também de segurança e higiene.
A falta de professoras decorrentes da ineficiência da contratação profissional também interferiu negativamente no processo de aprendizagem, haja vista que as várias substituições de professoras não significam maior aproveitamento no rendimento escolar.Sem dúvida, as condições de trabalho adversas comprometeram a qualidade do ensino. Neste contexto, reproduziu-se a condição de trabalho homogeneizada impedindo a transformação do cotidiano.
No entanto, as práticas presentes na dinâmica escolar cotidiana já eram contestadas. Dessa forma, oportuniza as resistências dos aspectos negativos da homogeneização do trabalho escolar. Enfim, a construção da Obra Beta se dá em meio a conflitos e contradições de várias ordens, o que dificultou o avanço da obra frente as questões da cotidianidade.

A obra Gama

No contexto social, a escola Gama foi instalada em 1964 com disponibilidade de classes possibilitando a modificação do horário de algumas classes para atender a demanda. O aumento de vagas na Escola Pública se dá principalmente devido a quantidade de alunos transferidos para a Escola particular.
Portanto, destaca-se nesse momento a interferência institucional que provocaram a fragmentação do trabalho escolar. Este trabalho de rotina fragmenta a prática pedagógica. A busca da homogeneidade e a fragmentação do trabalho escolar eram freqüentes no cotidiano escolar, mas algumas práticas resistiam a programação desse cotidiano.








A obra Delta

A escola Delta foi criada em 1964 semelhante a situação encontrada na escola Gama. A escola sofreu alterações quanto a quantidade e as características sócio-econômicas da clientela. No ano seguinte houve mudança tanto no número de alunos quanto no seu perfil sócio-econômico.
O nível sócio-econômico das famílias preenchia as condições mínimas para assegurar o aproveitamento escolar satisfatório dos seus filhos. Por outro lado, os recursos desta escola eram melhores, além de contar com uma estrutura física e de recursos privilegiados que favoreceram o desenvolvimento dos alunos.
De fato, pode-se dizer que os recursos humanos nesta escola também passaram por momentos de dificuldades com a falta de professores que ora eram substituídas por profissionais efetivos o que comprometia o rendimento escolar.
Percebeu-se que as decisões tomadas pelo sistema de ensino em 1980 provocaram conseqüências negativas também nas escolas Alfa, Beta e Gama, com a remoção de professoras em dois momentos do ano letivo. A escola Delta apresentou rendimento escolar satisfatório devido a vários fatores: infra-estrutura adequada; práticas de ensino e processos específicos que orientavam o movimento da escola contra a cotidianidade.
Portanto, a história da construção da obra Delta mostra que as práticas educativas encontraram movimentos diferenciados no interior da escola o que gerou conflitos que possibilitaram o desenvolvimento de práticas satisfatórias para o rendimento escolar e a educação como um todo.







REFERÊNCIA:

PENIN, Sônia Cotidiano e escola: a obra em construção. São Paulo: Cortez, 1989. p.35-99.

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