quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

NOS SERTÕES DA PARAÍBA: ENTRE O MODERNO E O TRADICIONAL

O presente estudo tem como objetivo o de analisar os aspectos da modernidade na cidade de Cajazeiras, oportunamente o texto base para análise: “A viagem das formas: a aquisição do moderno”. É um estudo que aborda os ares da modernidade na década de 1920 no município de Cajazeiras-PB. A década de vinte neste município é apresentada pelo autor Osmar Luiz Silva Filho em sua dissertação de doutorado e enfatiza aspectos referentes ao desenvolvimento da cidade especificamente as modificações significativas na vida material e cultural do município.
Entretanto, o autor Antonio Assis Costa, escritor da elite de Cajazeiras-PB, destaca as memórias de um lugar na obra: “A(s) Cajazeiras que eu vi e onde vivi.” Retrata em suas memórias de infância, sua vida e os elementos do cotidiano naquela época comum de uma cidade do interior onde as conversas giravam em torno das questões políticas e econômicas. A chegada do jornal, era um momento importante para a elite da cidade.
Tota Assis ressalta os problemas de saúde ocorridos no município, as epidemias e como era tratada pelos médicos da cidade, além disso, o uso das ervas era utilizado como complemento para a cura dessas doenças. Assim, o cotidiano é revelado de forma peculiar fornecendo elementos para a interpretação dos acontecimentos pelo leitor. Outro aspecto importante é em relação ao período da seca, momento temido pelos moradores do campo, são alguns dos elementos enfatizados por esse autor. Tota Assis conta a história unindo autobiografia com fatos políticos econômicos e sociais de maneira espontânea. Muitas vezes, impregnados da subjetividade de seus conceitos e princípios.
Saudosista, o autor relembra sua chegada em Cajazeiras, em dezembro de 1917 aos 4 anos e meio de idade. Em 1918 foi um ano de crise devido a falta de chuvas o que resultou pouco desenvolvimento da agricultura. Relembra a epidemia conhecida como a “Bailarina”, a praga da lagarta rosada na região que prejudicou o comércio do algodão. A produção do algodão era comercializada em Campina Grande-PB, que se tornou o portão de entrada para o sertão e o cariri.
O comércio desenvolvido entre C. Grande e Cajazeiras não se resumia apenas a venda do algodão. Contudo, o comércio de produtos tanto de primeiras necessidades, como medicamentos, alimentos, inclusive armas, munições de caça, perfumaria, querosene para as lamparinas e os faróis eram comercializados em C.Grande.
Outro fato importante se refere neste momento, a política dos coronéis que dominava na época, tanto no sertão nordestino como no litoral, o que retrata a luta pelo poder do Estado no período das eleições como bem Tota Assis, relembra as eleições “bico de pena”.
Percebemos que ambos os autores conta a história a partir do lugar de cada um, seja de cunho acadêmico ou memorialista, científico, crítico, político, ou da elite a história é permeada por dados importantes sobre a história da cidade. Estudar o passado é uma possibilidade de reviver a história de um povo e ao mesmo tempo compreendermos os percursos desenvolvidos por cada um. A construção de rodagens, de açudes, da linha férrea que em 1922 chega a cidade, são elementos que marcaram o desenvolvimento desse município.
Os ares de modernidade como bem fala Gervazio, são destacados pelos autores no que se refere aos elementos que são integrados a cidade, conforme citados acima, além do telégrafo, das revistas da moda e a preocupação com os melhoramentos da cidade em processo de urbanização.
Através da obra de Tota Assis é possível analisar o lugar de fala desse autor e perceber a importância de suas memórias para a construção da história. Concordamos com Osmar Luiz, quando afirma: “a construção da história pela memória oral exige uma reflexão teórica e metodológica em torno da memória, visto que a mesma por estar fundada no ato individual de lembrar não é a prova do real, ou uma realidade em si mesma.” Por isso, o estudo de análise desenvolvida foi de forma crítica, no sentido de compreendermos as verdades de cada um, sem menosprezar ou supervalorizar as informações.
Sabemos que a memória da cidade pode ser contada seja por um lado de maneira monumental, articulada em torno de marcas visuais, por outro, o cotidiano de cada um vivido nos percursos de ruas e praças individuais.
Vale ressaltar que ambos enfatizaram aspectos da economia algodoeira local, haja vista que predominava a cultura do algodão, o que contribuiu para o desenvolvimento da cidade e conseqüentemente para imprimir alguns traços de modernidade com a instalação de vários equipamentos como a implantação da ferrovia e a abertura da primeira estrada que interligava as cidades circunvizinhas, bem como a implantação da energia elétrica.
Além disso, a implantação da rede ferroviária em 1922 veio impulsionar o escoamento da produção agrícola do algodão. Sem esquecer que a construção da rede ferroviária através da Dwight P.Robinson contribuiu duplamente para o desenvolvimento da cidade naquele momento. Primeiro porque a construção das estradas melhoraram o transporte do algodão da zona rural para as cidades, por outro lado, os novos modelos de vida dos americanos que vieram inovar a vida do povo em Cajazeiras.
Essas transformações são, sem dúvida, decorrência de um processo de desenvolvimento natural que aos poucos vão sendo implementados no universo das cidades. E com isso novos modelos de vida são incorporados, dando assim ares de modernidade. Portanto, o estudo realizado parte do princípio de que as referências desses autores determinam as suas formas de assimilar e interpretar os acontecimentos de uma época, que envolveram suas vidas e outras tantas. O que queremos enfatizar é a importância dessas formas de assimilação e interpretação do acontecer histórico e social que ao se revelarem se apresentam como fontes documentais permitindo ampliar as possibilidades de enriquecimento no campo histórico. Em Tota Assis, a memória é eminentemente social e têm no passado vivido um dos seus maiores suportes legais. Desta forma, a memória subordinada as circunstâncias do momento em que as memórias são expressas, pode-se apresentar como fruto de um trabalho que define o seu lugar social e as suas relações com os demais.

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