sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A OPERAÇÃO HISTORIOGRAFICA

A operação historiográfica do autor: Michel de Certau. O autor apresenta o texto a partir de um lugar social, no sentido de que a pesquisa, tendo por base os documentos e as questões propostas sejam organizadas e submetidas as imposições ligadas aos privilégios e as particularidades. Sendo assim, é a partir desse lugar que se determinam os limites e os métodos de pesquisa a fim de atender os verdadeiros interesses. Entretanto, a produção historiográfica é partilhada entre a escrita e o conhecimento científico do pesquisador. Além disso, é fundamental a neutralidade do pesquisador.
O discurso assume uma posição neutra, numa forma de transformar-se numa maneira de defender o lugar. O não-dito é ao mesmo tempo o inconfessado dos textos que se tornaram pretextos, a exterioridade daquilo que se faz com relação àquilo que se diz, e a eliminação de um lugar ou de uma força que se articula numa linguagem.
O autor nos mostra que o lugar é determinante para se escrever sobre ele, uma vez que o historiador para escrever a história é preciso saber como funciona essa sociedade. Por isso, a natureza e a cultura são de fato fundamentais para a pesquisa. A operação historiográfica fabrica o historiador. Todo trabalho científico opera uma redistribuição do espaço e o estabelecimento das fontes através de uma ação instaurada por técnicas de transformação.
Segundo o autor a utilização de técnicas atuais leva o historiador a separar o que é necessário ao seu trabalho, inclusive está ligado a construção de objetos de pesquisa e acumulação dos dados.Destaca-se ainda conforme o autor as particularidades existentes a mutação do sentido ou do real na produção historiográfica e dos desvios significativos; a posição do particular como limite do pensamento e a composição de um lugar que instaura no presente a figura do passado e do presente e suas ambivalência.
De fato, a escrita histórica compõe um conjunto coerente que permanece influenciada pelas práticas sociais, assim, cria o passado.Deste ponto de vista, o acontecimento é visto como aquele que recorta a fim de obter-se uma inteligibilidade.A escrita também pode enterrar o passado, no sentido de que linguagem tem a função de reconstrução. A linguagem permite a uma prática de situar-se em relação ao seu outro, o passado.A historiografia efetua uma nova distribuição de práticas sistematizadas. O discurso histórico é uma representação privilegiada de uma ciência e do sujeito e das relações que um corpo social mantém com a sua linguagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Operação Historiográfica precisamente possibilita analisar as produções históricas e o próprio objeto de estudo para reflexão, haja vista que em história todo pensamento remete a “lugares “ sociais, econômicos, culturais, etc. A operação histórica se refere a junção de um lugar social de práticas científicas e de uma escrita, esta se constrói em função de uma instituição. Na realidade, toda pesquisa historiográfica se articula num lugar de produção sócio-econômico, político e cultural o que implica certas imposições ligadas a privilégios particulares. Ao analisar-se a falta do objeto tira da história o privilégio do qual se vangloriava quando se pretendia encontrar a verdade.Vale ressaltar que a relatividade histórica tem por base que a totalidade histórica se destaca pela multiplicidade de filosofias individuais. Essa relatividade não funciona senão no interior de um campo fechado
A instituição histórica não dá apenas uma estabilidade social a uma doutrina. Sabe-se que em História toda “doutrina” é abstrata e recalca sua relação com a sociedade. A produção histórica se encontra partilhada entre a obra literária de quem constitui autoridade e o trabalho científico de quem faz pesquisa. Desde a obtenção dos dados documentais à redação do livro, a prática histórica é inteiramente relativa a estrutura da sociedade. Se ocorre na sociedade uma mudança, permite ao historiador um afastamento com relação aquilo que se torna globalmente um passado.
Outro aspecto importante em pesquisa histórica remete a neutralidade. A história permanece voltada a fabricação localizada em tal ponto deste sistema. A articulação da história com um lugar é a condição de uma análise da sociedade. Levar a sério o seu lugar não é ainda explicar a história. Fazer história é uma prática, na verdade, a organização histórica é relativa a um lugar e a um tempo.
Pode-se afirmar que o historiador tem o tempo como material de análise ou como objeto de estudo, e trabalha de acordo com seus métodos de estudo. Sendo assim, a operação histórica é científica a medida que transforma o meio ou que faz de uma organização social, literária, etc a condição e o lugar de uma transformação. Além disso, em História tudo inicia-se a partir de um gesto de separar, de reunir, de transformar em documentos certos objetos distribuídos de outra maneira.
Um trabalho é considerado científico quando opera uma redistribuição do espaço e consiste em dar lugar ao estabelecimento das fontes. Além do mais a análise contemporânea buscar reconstruir o objeto a partir de cenários e a utilização das técnicas atuais de informação leva o historiador a separar aquilo que, em seu trabalho esteve ligado a construção de objetos de pesquisa e das unidades de compreensão e a acumulação dos dados.
Entretanto, o historiador não pretende reconstruir uma história global, mas, racionaliza as informações adquiridas. O trabalho determinado por um limite é uma estratégia da prática histórica que se prepara para a teorização de acordo com as possibilidades oferecida pela ciência da informação. A história se torna um lugar de controle onde se exerce uma função de falsificação. Nela podem ser evidenciados os limites de significabilidade relativos aos modelos que são experimentados.
No que se refere ao conhecimento histórico pode-se dizer que ele é julgado mais por sua capacidade de medir exatamente os desvios, não apenas quantitativos, mas qualitativos com relação as construções formais presentes. Assim, o historiador se coloca na fronteira onde a lei de uma inteligibilidade encontra seu limite como aquilo que deve incessantemente ultrapassar deslocando-se daquilo que não deixa de encontrar sob outras formas.
O lugar que a história criou, combinando o modelo com os seus desvios, ou agindo na fronteira da regularidade representa um aspecto da definição. Mais importante que a referência ao passado é a sua introdução sob a forma e uma distância tomada. A operação histórica tem um efeito duplo, de um lado, historiciza o atual, exige a explicitação sobre a relação da razão em um lugar próprio que por oposição a um passado se torna presente.
De fato, a escrita histórica permanece controlada pelas práticas. Por outro lado, os resultados da pesquisa se expõem de acordo com uma ordem cronológica. A temporalização cria a possibilidade de tornar coerente uma ordem. Se a historiografia resulta de uma operação atual e localizada, enquanto escrita, repete outro início impossível de datar ou de representar. A escrita histórica compõe um conjunto coerente de grandes unidades, uma estrutura de lugares e de personagens . Além disso, a escrita põe em cena uma população de personagens, mentalidades sob formas e conteúdos diferentes.
Portanto, a escrita não fala do passado senão para enterrá-lo. Ela é um túmulo no duplo sentido de que através de um mesmo tempo ele honra e elimina. A linguagem permite a uma prática de situar-se com relação ao outro, o passado. E o passado por si mesma é uma prática. E a historiografia se serve da morte para articular uma lei do presente. Ela não descreve as práticas silenciosas que a constroem, mas efetua uma nova distribuição de práticas já sistematizadas.

REFERENCIA:

CERTAU Michel de A operação historiográfica In:A Escrita da História Rio de Janeiro: Universitária, 1982.

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