quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Igreja católica nos territórios de além –mar

-Uma das características do desenvolvimento da Igreja católica nos territórios de além –mar foi a freqüente animosidade entre o clero secular e o regular. A estrutura hierárquica da Igreja exige que todas as suas atividades organizadas se subordinem ao controle e direção dos bispos, na qualidade de sucessores dos apóstolos, e a autoridade suprema do papa, como sucessor direto de São Pedro.

-O complexo de superioridade das ordens religiosas vem desde a Idade Média foi marcada por muitos altos e baixos, seu e seu nível de qualidade nem sempre foram altos ou rigorosamente cuidados. Mas, antes das reformas induzidas pelo Concílio de Trento, o papado tendia a reconhecer, implícita, a superioridade moral da vida ascética, monástica, comunitária sobre a dos membros ordinários do clero secular, convertendo estes últimos numa categoria inferior ou de segunda classe.

-Os jesuítas podem ser absolvidos do pecado da ganância, do qual foram freqüente e injustamente acusados, mas a história mostra que muitos deles eram apegados demais ao poder e relutavam bastante em abrir mão dele. O preconceito racial também foi responsável pela atitude de menosprezo com que o clero regular olhava os padres seculares no mundo não europeu.

- No que diz respeito a América hispânica, onde os jesuítas chegaram mais tarde do que na Ásia ou no Brasil, eles nunca alcançaram nos vice-reinos do México e do Peru a mesma preponderância que tiveram na Ásia portuguesa, no Brasil e no Maranhão.

-A superioridade relativa dos jesuítas, se é que houve, não é difícil de explicar. Eles eram mais exigentes com os noviços, o período de noviciado era mais longo e tinham o costume de afastar prontamente os que não se saiam de maneia adequada.

-O apoio mútuo entre a cruz e a coroa na fronteira de pacificação expansão da América hispânica e nas Filipinas foi facilitado pela estrutura do Patronato. Essa instituição transformou os missionários em servos a um só tempo da Igreja e do rei.

-Se a prática usual entre os pioneiros da ação missionária era que os padres chegassem acompanhados por uma pequena escolta militar, em certas ocasiões, missionários desacompanhados conseguiram obter resultados bastante sólidos.

-A situação na Índia portuguesa, onde as áreas controladas pela Coroa Lusitana eram mínimas em comparação com as vastas regiões reclamadas pelas duas monarquias ibéricas na América, era sob muitos aspectos bem parecidos.

-Em Moçambique, o clero europeu e o clero goense nunca primaram pelo alto nível intelectual ou cultural e os frades dominicanos do século XVIII eram particularmente pouco qualificados.

-Por sucessivas gerações, os jesuítas e frades missionários constituíram os pilares principais dos dois impérios ibéricos, a leste e a oeste. Durante séculos, a união entre cruz e coroa foi representada pela instituição da patronagem real.
-O Estado monárquico, ganhou direito de transferir, promover ou afastar os clérigos, de determinar os limites de suas jurisdições, de arbitrar os conflitos de jurisdição que porventura ocorressem entre membros do clero e o poder civil, e entre os próprios eclesiásticos.

-Apesar da determinação do papado de reduzir a amplitude e os privilégios do Padroado português depois de 1640, e a despeito do apoio dada pela Santa Sé aos seus rivais franceses, italianos e espanhóis nas áreas de conflito de jurisdição, as exigências da política européia induziram a Igreja de Roma a comtemporizar com as pretensões da Coroa de Portugal.

-Apesar da intensa rivalidade entre o Padroado português e o Patronato de Castela, muitas vezes exarcebada pela xenofobia recíproca, também houve situações em que predominou a cooperação cordial entre os missionários das duas nacionalidades.

-É importante notar que os superiores-gerais da Companhia de Jesus em Roma, a despeito de suas origens nacionais, sempre se empenharam para dar à Ordem um caráter verdadeiramente internacional nos campos missionários da Igreja militante.

-A Inquisição espanhola na forma que lhe granjeou fama ou infâmia foi criada como instituição político-religiosa durante o governo dos reis católicos. Fernando e Isabel. O ramo da inquisição foi criado em 1536, por insistência do rei João III e a despeito de um longo tempo de indecisão por parte da Santa Sé, hesitação que, aliás, somente foi superada cok muito suborno e muita maquinação de bastidores.

-Os tribunais espanhóis e portugueses instauraram processos contra heresias protestantes e outras, contra a bruxaria, feitiçaria, bigamia, sodomia e desvios sexuais e a censura contra a palavra escrita.

--O número dos que morreram na fogueira nos autos-de-fé é insignificante se comparado com as vítimas da solução final de Hitler nas câmaras de gás, dos campos de concentração de Stálin e outras atrocidades totalitárias contemporâneas.

-Os métodos da Inquisição para obter provas valorizavam especialmente as atividades de informantes, mexeriqueiros e caluniadores.

-A fobia antijudaica que caracterizou os perseguidores, religiosas ou leigos, evidencia-se de modo impressionante e odioso nos sermões proferidos durante os autos-de-fe. Os inquisitores instalavam processos por atos de sodomia ou desvios sexuais de natureza homossexual ou heterossexual, os quais geralmente investigavam em detalhes.

-O objetivo da Inquisição na Espanha e em Portugal não foi meramente o de preservar a pureza e a ortodoxia teológica, mas eliminar toda nova idéia que pudesse ameaçar ou desacreditar os dogmas da religião católica ensinada na Península Ibérica.

-A idade do ouro dos inquisidores ibéricos se é possível usar essa expressão no caso do Santo Oficio coincidiu mais ou menos com o século XVII. Período de máxima influência e atividade.

-Embora a animosidade entre o clero secular e o clero regular não fosse necessariamente um impendimento à cooperação recíproca, e até promovesse uma saudável rivalidade entre os dois setores da Igreja, quase sempre deu origem a estéreis conflitos internos.

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