sábado, 16 de janeiro de 2010

REPERCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA

A repercussão historiográfica nos leva a refletir sobre a problemática da escrita histórica a partir da ruptura entre modernidade e pós-modernidade, o problema da escrita do historiador e sua produção do conhecimento histórico compota uma preocupação fundamental voltada para reflexões dos saberes históricos. Pensar a escrita do historiador nos remete a experiência de construir e/ou produzir narrativas pautadas em fontes históricas. Produzir história para servir de base pra a construção da memória. Tal preocupação decorre das questões teóricas da tentativa de administrar as inspirações do historiador, bem como de suas idéias e escolhas como lidar com as positividades, as imprevisibilidades, certezas e incertezas que sempre cercam o universo do pesquisador.
A escrita histórica se baseava numa história factual principalmente em relatar acontecimentos e na datação como elementos fundamentais. No entanto, as fontes escritas são utilizadas para registro da memória, no sentido de expressão das idéias, sentimentos, impressões e conhecimentos. Aquilo que chamamos de documentos históricos ou fonte histórica não é necessariamente produzido pelos homens com o objetivo de deixar testemunhos para aqueles que viverão no futuro. Na realidade, em muitos casos, documentos, como diários, memórias e outros registros, são produzidos com a intenção declarada de deixar testemunhos. A mudança na escrita da história se configura haja vista que não se preocupam especificamente com datas, acontecimentos fantasiosos, heróis, lutas e guerras. Mas os pesquisadores ao escreverem sobre um determinado assunto, recorrem aos registros produzidos pelos homens, atribuindo–lhes um sentido, um significado. Por isso, para estudar a história dos homens, podemos utilizar vários documentos escritos como uma das fontes utilizadas para registros históricos. E assim, possibilita a escrita histórica baseada no cotidiano e nas vivências de um povo.
Esse universo é marcado por construções criativas e seus personagens são sempre vestidos com representações de uma vida alimentada pelas razões de quem as escrevem e de que as inspirou. Assim, esse trabalho de escrever a história não é também uma tarefa fácil, muito menos de pensar os seus temas. Geralmente as pessoas pensam que escrever história é simplesmente pôr palavras referente a um tempo passado no papel. É importante o historiador produzir histórias para construção da nação, para inventar novos mundos possíveis e assim inventar o passado. Assim, tomamos a história como um elo entre os vários saberes das diversas áreas do conhecimento.
Entretanto, é necessário compreendermos que o historiador historiciza os vestígios daquilo que foi produzido pelo homem. E assim, o historiador recria os dados problematizados a partir dos problemas do presente, e realiza a narrativa histórica no sentido de uma elaboração de um argumento, além da presença inevitável das implicações políticas e de pressupostos filosóficos. O historiador não pode escamotear o lugar histórico e social de onde fala, e o lugar institucional onde o saber histórico se produz.
Por isso, a escrita histórica sofreu mudanças, uma vez que requer novos paradigmas para reescrever a história, buscando um tom maior de sensibilidade e compreensão em relação as coisas ao seu redor a fim de permitir visualizar melhor a realidade e despertar a percepção dos indivíduos, contribuindo assim, para modificar os meios de aquisição de novos conhecimentos históricos. O historiador se propõe descrever as coisas tais como aconteceram. De fato, por muito tempo os historiadores estavam encarregados de distribuir elogios ou vitupério aos heróis mortos. Acreditamos que essa atitude corresponda a um instinto enraizado há muitos anos.
Não é possível aceitar a história baseada no discurso mecânico, como solução para reconstrução da história. Ora, se é através desses escritos que excetuando testemunhos materiais que conhecemos uma sociedade.Uma sociedade raramente é uma, ela decompõe em ambientes diferentes. Em cada um deles, as gerações nem sempre se superpõem, mas será que as forças que atuam sobre as pessoas são exercidas pelo menos com uma intensidade igual?
Assim perguntamos para que serve a História: Essa resposta não apenas mostra que a obrigação do historiador é difundir e explicar seus trabalhos. Ele deve saber escrever com clareza, simplicidade e a sabedoria dos mestres. A História não se ocupa apenas dos problemas intelectuais e científicos, mas culturais, políticos e sociais de um povo.
A história é uma ciência, mas uma ciência que tem como uma de suas características, o que pode significar sua fraqueza, mas também sua virtude, ser poética, pois não pode ser reduzida a abstrações, a leis e as estruturas. O produto de uma construção ativa dos historiadores possibilita transformar a fonte em documento e em seguida ser instrumento da construção de novos documentos. Esses fatos históricos talvez sejam um dos caminhos seguidos pelos historiadores em suas investigações.
No entanto, a destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas, é um dos fenômenos mais característicos e penosos ocorridos no final do século XX. Além disso, quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação com o passado público da época em que vivem. Por isso, o ofício do historiador é lembrar o que os outros esquecem, tornando-se mais importante que nunca no presente século XXI.
Não podemos esquecer que sem dúvida, a escrita da história mudou a partir da ruptura da modernidade e pós-modernidade, por isso, a escrituração histórica se faz com documentos escritos. Quando existem. Mas pode e deve fazer-se sem documentos escritos, se não existirem. Faz-se com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para construção do saber histórico. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que constrói, tudo o que toca, pode e deve fornecer informações sobre eles. A escrita da história a partir da ruptura modernidade e pós-modernidade sofreu mudanças no sentido de que todos os valores e critérios estão sendo reavaliados e foi ressignificado.
Vale lembrar que o discurso da história envolve vários discursos e possibilidades, com tendência a abandonar as suas pretensões antigas. Assim, a história se aproxima da arte, da literatura, da poesia, do cinema, da fotografia, da escultura, da música dentre outros. A adequação do seu discurso por algum tempo havia sido dominada por uma linguagem tradicional com fortes influências francesas retornando a uma discussão epistemológica, de caráter filosófico que a história do século XX havia rompido.
A micro-história retorna a um discurso quase idealista e até teológico. Entretanto, a história tem se aproximado dos vários campos de estudos fazendo a interdisciplinaridade com as ciências sociais, o que significa que a forma da história não é exterior ao seu conteúdo e indiferente à sua época. Esse discurso histórico não é só uma exposição analítica, conceitual e quantificada de uma documentação objetivamente elaborada. A história se aproxima e ressignifica as diversas linguagens.
Percebemos que a história busca a adequação do conhecimento histórico ao seu presente, para interpretá-lo e compreendê-lo o mais próximo possível dos seus próprios termos. A história não se baseia em estruturas de longas durações, quantidades, conceitos, coletividades anônimas, teleológicas fantasiosas, mas visa a criação de uma nova história.
Os caminhos apontados por José Carlos Reis em relação a pós-modernidade se resume a valorização da alteridade, da diferença regional e local; microrrecortes no todo social; a micronarrativa e à descrição densa em detrimento de explicações globalizantes; além da redefinição da interdisciplinaridade e do tempo longo; abertura a todos os fenômenos humanos no tempo, com ênfase no individual, no imaginário, nas representações, nas manifestações subjetivas e culturais. Não se quer negar a ordem estrutural das experiências humanas, que continuam sendo pressupostas.
A escrita histórica é limitada as suas ações do sujeito, criativo e eficiente. Não se tematiza homens passivos, dominados por forças transcendentais universais ou objetivas e impessoais. Percebemos que a filosofia retorna como instrumento indispensável da história para reflexão sobre o mundo produzido por sujeitos locais, descentralizados e negociam permanentemente as suas identidades com a sociedade e com os outros sujeitos históricos.
Em a História: a arte de inventar o passado de autoria do Professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, se apresentam aspectos da literalidade, da racionalidade, da crise do dado, dos eventos importantes da modernidade, a crise da História, o ato de conhecer o passado e o papel do historiador além da ciência e da arte. A história não expressa somente dados sistemáticos, mas revela a racionalidade e uma finalidade. Entendemos que o conhecimento histórico na pós-modernidade é relativo as condições históricas não podendo utilizar os mesmos modelos, teorias e metodologias anteriores. Mas o saber histórico implica uma nova idéia de fazer história e os desdobramentos teórico-metodológico necessários.
O avanço tecnológico, a rapidez das informações têm produzido mudanças rápidas na sociedade do lucro, dando lugar as transformações nas relações de trabalho bem como, no sistema sócio-econômico. O mundo da linguagem das categorias modernas exige cada vez mais novos paradigmas no campo do saber. O conhecimento passa a ser considerado relevante para o mundo das experiências. A História é a arte de inventar novos mundos e de inventar o passado.
A importância de um saber histórico prévio é fundamental para assim compreendermos o presente, não apenas os vestígios ou as fontes. Sabemos que são fundamentais, mas, sobretudo deve-se adquirir um conhecimento prévio sobre o objeto de estudo. A falta de um conhecimento histórico coloca o indivíduo diante da própria racionalidade histórica e dos mitos. O caráter nacional, contextual e plural de qualquer acontecimento histórico elimina a possibilidade de uma argumentação sob um ponto fixo e a própria relatividade da história.
O conhecimento da arte pode favorecer para a construção de uma produção artística com liberdade de criação e uma experimentação instaurada pela vanguarda modernista. Em relação a crise do dado esta representa a fragilidade dos dados, uma vez que não podem ser fixos. A relação entre os significantes e os significados altera-se deixando de existir significado fixos e universais. O mundo construído é um mundo de experiências que se constitui pelas experiências e não tem nenhuma pretensão à verdade, no sentido de corresponder a uma realidade. Desse modo, a história a serviço da memória está sempre desfazendo as imagens do passado. Sendo assim, a história promove o avanço do conhecimento, da ciência, da razão e da consciência. O conhecimento torna-se a invenção de uma cultura particular, em um determinado momento. Entretanto, a modernidade o cientificismo e o racionalismo têm por base a arte.
Nessa perspectiva, as várias inovações tecnológicas, materializadas em diversas mídias, situadas em diferentes contextos históricos, alteram profundamente o modo corriqueiro das pessoas interagirem entre si e atuar nos diversos mundos que conhecemos (lazer, trabalho, educação, etc).Todas as inovações tecnológicas estão inscritas num processo de desenvolvimento cultural, não podendo ser compreendida como uma força externa, vinda de fora e estranha ao homem. E assim,

A invenção do chip iniciou uma progressiva desreferencialização do mundo e sua integração em circuitos telemáticos. Passou a ser possível a simulação de realidades virtuais, em que o homem convive com o simulacro. Um mundo de escolhas rápidas, quantitativas, bíticas. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007)


Nesse caso específico, estamos discutindo o quanto e como as técnicas de produção, armazenamento e circulação de bens simbólicos disponíveis, alteram a nossa relação com as imagens, com os textos e com o conhecimento. Desse modo, a produção da história o armazenamento e o intercâmbio das informações e idéias ou qualquer outro bem simbólico, faz uso de algum meio técnico ou suporte material para registrar os fatos. Mesmo no tipo de interação face a face, precisamos do suporte material: o ar, cordas vocais e a laringe como recursos para a comunicação efetiva. Podemos dizer que em todas as áreas profissionais se faz necessário trabalhar com ferramentas, no caso da História, a linguagem, tanto escrita como falada são responsáveis pela reprodução dos fatos, se constituindo em um universo de fontes para investigação.
Mesmo nas artes artesanais clássicas, os materiais, os instrumentos, as ferramentas, os procedimentos, as técnicas de produção são fatores condicionantes que interferem substancialmente na forma, no estilo e porque não, na própria concepção das obras. Nenhuma leitura dos objetos culturais recentes ou antigos pode ser completa se não se considerar relevantes, em termos de resultados e de uma lógica intrínseca do material e dos procedimentos técnicos que lhe dão formas. A história da arte não é apenas a história das idéias estéticas, como se costuma ler nos manuais, mas também e, sobretudo a história dos meios que nos permitem dar expressão a essas idéias. A troca de informação ou intercâmbio de idéias requer um certo distanciamento espaço-temporal do conteúdo com o contexto no qual foi criado. É claro que o grau de distanciamento alcançado dependerá das qualidades dos meios técnicos.
Conforme Albuquerque Junior (2007), “os indivíduos teriam que aprender a conviver com a crise do dado, haja vista que a sociedade pós-moderna nada é evidente”.O referente, o fenômeno e o signo deixam de ser dados fixos, realidade objetiva da qual partem as representações, para serem revelados como produto de invenção social e lingüista.Vivemos em uma era em que se define pela expansão das relações virtuais em inúmeras instâncias sociais, redimensionando, conseqüentemente, as categorias espaço e tempo, relações sociais e cultura. Era na qual o espaço é cada vez menor, o tempo cada vez mais veloz, e as relações sociais mais voláteis. Assim, a consideração pelo imaginário deixa de ser uma visão deformadora do conhecimento para se tornar um objeto de estudo na vertente da história cultural e das mentalidades, desenvolvendo-se no momento em que as posturas interpretativas também dão conta do real. Entendemos que,

O conhecimento histórico torna-se, assim, a invenção de uma cultura popular, num determinado momento, que, embora se mantenha colado aos monumentos deixados pelo passado, à sua textualidade e à sua visibilidade, tem que lançar mão da imaginação para imprimir um novo significado a estes fragmentos.(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007).

A existência de inúmeras formas de conhecimento e linguagens produzidas e outras fontes de conhecimentos são representações utilizadas que estão diretamente voltadas para a produção e compreensão do conhecimento histórico principalmente em uma sociedade imagética caracterizada pela comunicação de massa, pela força das imagens produzidas para e pela televisão. A essência do conhecimento histórico são as ações humanas repletas de emoção, de sensibilidades, de contradições traduzidas no fato histórico.
Segundo Albuquerque Júnior (2007), “o historiador narra os fatos não inventa os dados, mas consulta arquivos, compila textos, realiza leituras e imagens deixadas pelas gerações passadas que são reescritas e revistas a partir dos problemas do presente e de novos pressupostos, transformando os documentos em instrumentos do historiador”. Portanto, as fontes históricas e o tratamento dado ao documento são fundamentais para construção de novos saberes. O trabalho com os documentos escritos, arqueológicos, figurativos, orais é interrogar os silêncios da História, algo que nos foi dado intencionalmente, ele é o produto de uma certa orientação da História.
Por isso, em Albuquerque Júnior (2007), o ato de conhecer não é fruto de uma recepção passiva, mas conhecer é uma atividade. As mudanças nos paradigmas rompem com as categorias da modernidade, na qual a consciência histórica ocupou o centro de todos os saberes. Entendemos que a construção da história a partir das fontes orais não é valorizada como as fontes escritas. Assim, Albuquerque Junior diz: “o passado é como um abismo que não paramos de cavar’. A escrita da história deve ser vista como uma forma de arte, e a narrativa, dos testemunhos exemplares implica conhecer o campo político e os pressupostos filosóficos. No entanto, a História não se resume apenas as narrativas enfadonhas, mas ao longo dos anos vem se diversificando e as novas tecnologias vem colaborando para a produção do conhecimento histórico, no sentido de armazenar os dados com maior eficiência, restaurar documentos, e assim a modernidade vem possibilitando reescrever o passado utilizando dos novos recursos.

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