sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A IDENTIDADE EM QUESTÃO

A IDENTIDADE EM QUESTÃO

Inicialmente em relação a questão da identidade em Stuart Hall, propõem-se a analisar acerca da identidade cultural na modernidade tardia partindo da idéia de que as velhas identidades que por muito tempo estabilizaram as sociedades no âmbito social, atualmente estão em declínio. Essa crise constitui-se talvez dos processos de mudanças ocorridas ao longo dos anos nas sociedades modernas abalando as estruturas centrais do mundo social no final do século XX.
Nesse sentido, se dá a fragmentação dos aspectos culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade. Tais elementos forneciam os fundamentos e o sentido de pertencimento dos indivíduos. Entretanto, percebemos que essas transformações têm resultado mudanças nas identidades individuais modificando a idéia de sujeito integrado. Por isso, os teóricos afirmam que essa descentração ou deslocamento dos indivíduos tanto do seu lugar no mundo social e cultural constitui-se em si uma crise de identidade.
A partir das afirmações de Staurt, defini-se identidade baseada em três concepções: a) sujeito do iluminismo; b) sujeito sociológico; c) sujeito pós-moderno. Em o sujeito do iluminismo baseia-se na concepção do antropocentrismo, na valorização do homem, na racionalidade, centrado totalmente nos valores humanísticos. Enquanto o sujeito sociológico, a identidade é formada na interação entre o eu e a sociedade, ou seja, nas relações com outras pessoas, ainda compreende o mundo pessoal e o público.
O sujeito pós-moderno conceitua-se como indivíduo sem identidade, uma vez que a identidade unificada e estável está se tornando fragmentada composta de várias identidades.
Dessa forma, a identidade torna-se variável, perdeu a essência de algo permanente, fixo, pertencente a sociedade. Na realidade, o fato ocorre devido a multiplicação dos sistemas de significação e representação cultural na sociedade. As sociedades tradicionais caracterizam-se pelas constantes mudanças rápidas e permanentes. Nesse sentido, a tradição constitui-se meio particular da continuidade do passado, presente e futuro. A modernidade abrange todas as sociedades e implica ainda não somente no rompimento com as estruturas antigas, mas, sobretudo caracteriza-se por um processo de fragmentação, pela diferença.
Pensar identidade para Laclau significa conviver com as diferenças que produzem uma variedade de diferentes posições de sujeito. Ou seja, de identidades individuais. Essas estruturas articuladas permanecem, mas, não se desintegram totalmente, porque os diferentes elementos e identidades são articulados.E o que está em jogo? As identidades permanecem constantes na sociedade, são contraditórias a medida que a identidade muda de acordo com a forma como o indivíduo está identificado. A partir da noção de sujeito moderno, pode-se dizer que reside na idéia de identidades plenamente unificadas e coerentes, mas que se tornaram totalmente deslocadas. Surgindo assim, uma nova forma de individualismo. De fato, a sociedade moderna faz parte de uma nova forma e decisiva de individualismo, centrada na concepção do sujeito (individual) e da identidade cultural. Historicamente o nascimento do sujeito soberano da época do humanismo e do Renascimento do século XVI e o iluminismo do século XVIII, ou século das luzes representou a ruptura dos valores medievais contribuindo para a permanência de uma nova época de transformação e de construção de identidades.
Os acontecimentos do século XVII e XVIII contribuíram de maneira significativa para a formação de novas identidades culturais. A Reforma Protestante constitui-se um marco histórico de suma importância> Além disso, as transformações ocorridas na Europa principalmente vêm possibilitar o desenvolvimento da sociedade tanto no âmbito comercial como sócio-político. As revoluções seguintes foram conseqüências de um desencadeamento de transformações na sociedade.
A mentalidade renascentista surge e dá voz aos pensadores (filósofos) e cientistas que pretendem romper com os dogmas e sofismas da Igreja, libertando a população da intolerância, da religiosidade extremista ou fanática, passando agora a ver o homem como um ser dotado de valores e qualidades, raciocínio e inteligência, de direitos e deveres. O homem passa a ser visto como um indivíduo racional, situando-se no centro do universo em todas as dimensões. O valor da sociedade renascentista é responsável por conferir ao homem poderes e capacidades intelectuais.
Descartes, Da Vinci, Maquiavel, Locke, Hobbes e tantos outros contribuíram para a formação e confirmação dos novos significados e representações da sociedade. Pensar a construção da identidade para Locke significa que a permanência contínua do sujeito depende da consciência do indivíduo. Entretanto, vale salientar que após a revolução industrial o indivíduo passa a ser visto como elemento norteador do processo de produção inserido nas grandes estruturas da sociedade capitalista. O homem enquanto ser humano sofre as conseqüências do progresso da modernidade do avanço tecnológico, da ciência.
As transformações na sociedade possibilitaram o crescimento das desigualdades sociais e/ou mazelas sociais, a exploração do homem, e o empobrecimento cada vez maior dos menos favorecidos e o crescimento dos donos dos poderes econômicos e políticos, favorecendo ainda a formação de várias identidades individuais. A identidade é algo construído ao longo dos anos, através dos processos inconscientes, e não é inato, mas, sobretudo sofrem influências do meio ambiente e das transformações ocorridas na sociedade, porque o homem faz parte do meio. A questão dos deslocamentos de identidades individuais consiste nas rupturas ocorridas, nos avanços, nas mudanças de mentalidades, pensamentos, desconstruindo os mitos e teorias defasadas.
Assim, as construções de novos conhecimentos significados e representações são inerentemente instáveis, compartilhando constantemente com as diferenças. Não existe controle sobre os significados, ou acerca da construção das novas identidades. Para Foucault, o descentramento do sujeito reside na questão da disciplina, uma vez que a sociedade preocupa -se com as normas e regulamentos a instituição da ordem. Daí, constantemente a sociedade sofre mudanças influenciando continuamente na formação das novas identidades. Os acontecimentos dão o tom à construção de novas identidades culturais, distinguindo perfeitamente os indivíduos enquanto agentes responsáveis e transformadores da sociedade.
Podemos destacar ainda cinco aspectos do descentramento do sujeito que são:
1O O descentramento do sujeito às tradições marxistas;
2o O descentramento do pensamento ocidental do século XX, a descoberta dos estudos do inconsciente por Freud;
3o O descentramento lingüístico, os significados das palavras não são fixos. O significado surge nas relações individuais e coletivas de uma sociedade com suas diferenças e semelhanças no interior do código de língua;
4o Segundo Foucault, o descentramento do sujeito consiste no poder disciplinador, controlador do ser humano;
5o descentramento refere-se ao impacto do feminismo que contribuiu para incluir a formação das identidades sexuais e de gênero. Portanto, as mudanças conceituais pelas quais a identidade individual passa na modernidade tardia e da pós-modernidade têm resultado no sujeito fragmentado em termos dessa identidade cultural.
Questionam-se os aspectos afetados no que se refere às identidades culturais nacionais pelo processo de globalização. Ë notório dizer que as culturas nacionais constituem-se de fato fontes de identidade cultural. Apesar de conscientemente pertencermos a determinada nacionalidade ou qualquer fator específico do indivíduo para Stuart, as identidades nacionais não são determinantes para a formação dessa identidade nacional, mas são formadas e transformadas no interior das representações culturais da sociedade.
As culturas nacionais ao longo dos anos estavam determinadas através da língua oficial, dos padrões de alfabetização, das instituições educacionais. No entanto, o processo de industrialização na modernidade vem modificar as identidades individuais rompendo com a imagem de homogeneidade e uniformidade. A globalização tem contribuído para o deslocamento das identidades nacionais, antes centrada e coerente, tida como inteiras.
De fato, as culturas nacionais não são constituídas apenas por instituições culturais, mas, sobretudo pelos símbolos e representações. A cultura nacional favorece a construção dos sentidos na sociedade influenciando e organizando tanto as ações humanas quanto a imagem individual. Dessa forma ao produzir sentidos sobre a nação através das culturas nacionais podemos construir identidades. Isso se dá também pelas memórias que adquirimos mediante as estórias contadas do passado e do presente em relação à nação além das imagens construídas acerca daquela sociedade. Sendo assim, Anderson (1983) diz: a identidade nacional é uma comunidade imaginada.
Para Anderson (1983) as diferenças entre as nações evidenciam-se pelas formas diferentes de serem imaginadas, afim de possibilitar a construção do senso comum, a idéia de pertencimento de identidade nacional. Além disso, a formação das representações simbólica define o papel da identidade de um povo.
Segundo Hobsbawn, a tradição é algo inventado, constituindo um conjunto de políticas, de natureza ritual, simbólica que visa impregnar certos valores e normas de comportamentos na sociedade se valendo da repetição como forma de continuidade de um passado histórico adequado. Para tanto, as tradições inventadas transformam a realidade em mitos originais é uma maneira de forjar história camuflar o óbvio pelo irreal, pois muitas vezes as histórias sobre certas sociedades são apenas lendas repassadas de uma geração para outra geração, de forma folclórica. Dessa forma, constrói-se identidades colocando os fatos ambíguos entre o passado e o futuro. Apesar de universalmente pensarmos que a cultura nacional representa a unidade de identidades culturais representadas através da raça, da religião, da língua, dos valores morais e éticos impregnados na sociedade, é possível dizer que a construção da identidade unificada e nacional representa explicitamente os interesses de uma minoria estruturada economicamente e politicamente organizada constituindo-se num poder cultural.
Pensar em culturas nacionais como unificadas nos leva a refletir as diferenças existentes. Desse modo, pode-se dizer que a diferença é representada como identidades unificadas. Não podemos esquecer das profundas divisões e diferenças internas existentes em todas as nações enquanto sociedade, considerando a unidade somente quando no exercício das diferentes formas de poder cultural. Entretanto, nas fantasias do “eu,” inteiro de que fala a teoria psicanalítica lacaniana, as identidades nacionais continuam sendo representadas como unificadas.
Entretanto, a sociedade moderna rompe o mito da cultura étnica, não existe nação composta por um único povo, nem tão pouco partilhando as mesmas tradições religiosas ou lingüísticas, mas são compostas por características culturais diversas que seja nas tradições, costumes ou sentimentos de pertencimento ao lugar. Constata-se comumente o hibridismo cultural entre as nações modernas. Portanto, questiona-se a idéia de que as identidades nacionais tenham sido alguma vez na história homogêneas, apesar do discurso estabelecido através das representações. No entanto, as culturas nacionais na modernidade têm dominado e as identidades nacionais tendem a sobrepor as mais particulares fontes de identificação cultural.
O século XX foi o cenário do deslocamento das identidades culturais nacionais: sobretudo causado pelo conjunto de forças de mudanças que convenientemente pode ser sintetizado sob o termo globalização. Sendo assim, se refere basicamente aos processos globais na economia modificando o desenvolvimento na sociedade; integrando fronteiras comerciais nacionais, organizações em combinações de espaço-tempo de maneira veloz. As conseqüências desse processo sobre as identidades culturais são especificamente a desintegração destas identidades nacionais resulta na homogeneização cultural do pós-moderno global, outras estão sendo reforçadas pela resistência contra a globalização, no entanto, não podemos esquecer que as identidades nacionais estão em declínio, entretanto, novas identidades estão sendo formadas e estabelecendo-se de maneira híbrida.
A globalização proporcionou a aceleração dos processos globais de forma que pensamos que o mundo tornou-se menor com se as distâncias tivessem sido encolhidas.O que ocorre é a destruição do espaço através do tempo pela rapidez das telecomunicações dos satélites e dos transportes possibilitando impactos imediatos sobre a vida das pessoas, em lugares os mais distantes. Os processos globais sobre a sociedade moderna tende a enfraquecer as formas nacionais de identidade cultural. No entanto, a respeito dos direitos legais e de cidadania as identidades permanecem fortalecidas. Dessa forma, os fluxos culturais, entre as nações, e os consumismos globais criam possibilidades de identidades partilhadas. À medida que as culturas nacionais sofrem as influências externas do mundo, é impossível conservar as identidades culturais unificadas ou impedir o enfraquecimento dos impactos causados pela infiltração cultural, principalmente através dos meios de comunicação de massa.
Entende-se que a globalização não é responsável pela destruição das identidades nacionais, mas que provavelmente produz novas identificações globais e novas identificações locais. Vale salientar que o argumento referente a homogeneização global das identidades pode-se acrescentar que aa globalização se dá de maneira totalmente desigual em sua distribuição ao redor do mundo, tanto entre as regiões, bem como nas diferentes partes do globo terrestre inserida nas regiões. O padrão de trocas cultural desigual existe desde as primeiras fases da globalização e continuam na modernidade tardia.
A Homogeneização das identidades globais tem como conseqüência possível a globalização. De fato, paralelamente ocorre um fortalecimento das identidades locais; desiguais com sua própria lógica de poder retendo alguns aspectos de dominação global ocidental, embora as identidades culturais estejam em toda parte, relativamente através do impacto de compreensão do espaço-tempo. Além disso, as migrações legais ou ilegais contribuíram para a pluralização de culturas e de identidades nacionais.
Num mundo de fronteiras dissolvidas e de culturas fragmentadas tem se tornado problemático a questão da identidade. Nesse sentido, a continuidade e identidade são questionadas pela imediatez e pela intensidade dos impactos culturais globais. O fundamentalismo constitui-se algo que rejeita as inovações, além dos valores culturais ocidentais em sua forma total e a fusão entre as diferentes tradições culturais. Sendo assim, o fundamentalismo é um forte fenômeno nos estados islâmicos pobres que visa, sobretudo a restauração da fé islâmica atuando como uma poderosa força política e ideológica mobilizadora e unificadora.
REFERÊNCIA:
HALL, Stuart A identidade cultural na pós-modernidade 10 ed. Rio de janeiro DP&A, 2005

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