sábado, 16 de janeiro de 2010

O TRATO DOS VIVENTES

O APRENDIZADO DA COLONIZAÇÃO

• No Peru e na maior parte da América espanhola, os conflitos opondo colonos ao clero e à coroa nascem da luta pelo controle dos nativos.
• CARLOS V reconhece a soberania indígena, prevêem o fim das encomendas, das concessões de indígenas feitas aos conquistadores, e a passagem gradual de todos os nativos à dependência direta da coroa à qual pagariam tributos.
• A política inovadora de governo indireto somente posta em prática três séculos mais tarde na África e na Índia pela Inglaterra contrariava concessões régias permitindo que os colonos levassem por sua conta, as primeiras paredes do edifício ultramarino.
• A partir de 1545 a prata de Potosi reorienta os fluxos de trocas americanas e permeabiliza o Peru à penetração comercial metropolitana. De modo que o poder imperial se habilita para elaborar um discurso global, coerente, associando a exploração das minas de prata americanas as empreendimento político e ideológico arquitetado na Europa.
• Angola apresenta um conflito político semelhante ao exemplo precedente. Constatando que Angola não tinha minas de prata, como se supusera até então, e que o tráfico Transatlântico de escravos emergia como a principal atividade da área. A coroa retorna a colônia em mãos.
• Ao contrário do sucedido no Atlântico, a presença portuguesa tem um impacto amortecido nas margens do Índico. Os europeus buscam se apropriar de zonas devassadas por mercadores árabes de Oman e indianos islamizados do Guzerate, importante região têxtil. Durante décadas a coroa procura drenar esse comércio para as águas lisboetas. Tal política dá lugar a desencontros entre a Metrópole e os portugueses da Ásia.
• Em razão da opulência indo-asiática e das possibilidades de enriquecimento que o contrabando e o comércio regional ofereciam aos oficiais d’el-rei, a administração portuguesa cai na desorganização.
• Em Moçambique a fragilidade do implante lusitano transparece mais durante ainda colonos; soldados assumem as funções dos fundatários nativos, os amambo, à frente dos domínios do vale do Zambeze.
• Deixando intocado o processo produtivo, os portugueses não conseguem reorientar em seu favor os circuitos regionais de comércio. Por muito tempo as trocas permanecem voltadas para o Norte e para o teste, com os árabes de Oman manobrando o tráfico para o golfo pérsico, principal mercado consumidor de escravos naquela ponte do Golfo.
• A coroa, indo além do poder de domínio, reivindica também o direito de propriedade sobre as terras a conquistar e a tutela dos povos conquistados. O choque entre os poderes ibéricos e seus vassalos ultramarinos ressoa de maneira diferente nas conquistas.
• Os investimentos privados efetuados nos primeiros tempos das Descobertas não eram exclusivamente portugueses. Excetuando-se certos monopólios, os estrangeiros católicos, residentes ou não em Portugal, obtinham privilégios análogos aos dos nacionais para transformar com as colônias.
• É o processo de colonização dos colonos: a coroa aprende a fazer os rios coloniais correrem para o mar metropolitano; os colonos compreendem que o aprendizado da colonização deve coincidir com o aprendizado do mercado, o qual será primeiro, e sobretudo o mercado reinol. Só assim podem se coordenar e se completar a dominação colonial e a exploração colonial.
• Na perspectiva dos jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos, o clero regular presente na América portuguesa. Na sua estratégia de evangelização dos índios, os jesuítas entram em conflito com os colonos, com o episcopado e com a coroa. Mas convém sublinhar o papel das missões como unidades de ocupação do território ultramarino. Na realidade; na ausência de guarnições militares importantes no ultramar antes da segunda metade do século XVIII, cabia principalmente ao clero a tarefa de manter a lealdade dos povos coloniais às coroas ibéricas.
• O controle espanhol repensa pouco sobre o processo de produção e bastante sobre a circulação das mercadorias. Metais preciosos, os produtos dos colonos espanhóis podiam ser atacados e transportados num sistema de frotas canalizado por três portos americanos e por Sevilha.
• A reprodução da produção colonial, o tráfico negreiro se apresenta como um instrumento de alavancagem do Império do Oriente. Pouco a pouco essa atividade transcende o quadro econômico para se incorporar ao arsenal político metropolitano.
• O tráfico de africanos constitui em segmento da rede que liga Portugal ao Médio e extremo Oriente. O comercio de escravos se apresenta como fonte de receita para o Tesouro Régio. Dessa forma, os ganhos fiscais do trato sobrepõem-se aos ganhos econômicos de escravidão.
• Além disso, o tráfico surge como vetor produtivo da agricultura das ilhas atlânticas. Mesmo onde as atividades giravam em torno da cultura de cereais e do trabalho livre.
• Do cortejo das demandas e dos memoriais do colonato emerge o desenho das forças sociais que movimentam o sistema colonial. Se é certo que os colonos se queixam de falta de braços desde o século XVII, também é verdadeiro eles protestam já na mesma época contra a “falta de terras”. Terra e trabalho não se apresentam aqui como dados independentes, mas como variáveis que são resultantes das forças matrizes do capitalismo comercial.

REFERENCIA

ALENCASTRO, LUIS Felipe de . O trato dos viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul. p. II – 42.

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