sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ESCRITOS HISTORICOS

NIETZSCHE, Friedrich II Consideração Intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida. In: Escritos sobre História. Rio de Janeiro: Loyola, 2005.




O presente texto trata a respeito dos escritos sobre a História de autoria do filósofo Nietzsche: “Consideração Intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida”, tendo como eixo norteador a questão do passado, do conhecimento e o do saber histórico contribuindo para a vida.
O autor enfatiza a importância do esquecimento do passado, no sentido do indivíduo não se tornar coveiro do presente ou da cultura, mas, sobretudo poder assimilar e transformar as coisas passadas, reparando as perdas e reconstruindo as que foram destruídas. Por conseguinte, a sensibilidade histórica de um indivíduo pode ser extremamente limitada, no entanto aquele que pensa, medita, compara, separa pode utilizar o passado em benefício da vida e refazer a história.
Na realidade, a história que se apresenta aos nossos olhos constitui-se em um imenso quadro de acontecimentos, de ações, de figuras infinitamente variadas de povos. Povos e indivíduos que se sucedem uns aos outros, incessantemente. Assim, nos acontecimentos históricos, manifestam-se a atividade e os sofrimentos dos homens que em toda parte somos levados a nos reconhecer a nós mesmos, a tomar partido, a assumir uma posição que seja a favor ou contra, a respeito de determinadas ações. Somos envolvidos por uma confusão vertiginosa de conhecimentos que nos arrasta.
Nesse contexto, o sentido da história passa justamente, por uma indagação a respeito do exercício da reflexão. A necessidade que sentimos de tentar compreender o passado reflete a necessidade de entender o presente e compreender-se a si mesmo. Por outro lado, a razão subjetiva completa e enriquece a razão objetiva: o sentido do movimento histórico se dá a medida em que assumimos como um movimento. Percebe-se conforme as considerações do autor, somente quem olha racionalmente o mundo é capaz de reconhecer a racionalidade dele.
Entende-se que cada consciência é desafiada a superar as estreitezas de seus particularismos, de sua percepção imediata e de sua passividade, assim, superando-se a si mesma, alcançar a forma do espírito. A história da humanidade precisa se desdobrar nas experiências diversas dos diferentes povos precisa suportar os dramas, atravessando certos sofrimentos humanos, para que os povos, amadurecendo, façam a história. Entretanto, a razão da história, precisa da paixão para produzir resultados significativos e mudanças concretas. As grandes paixões que movem os grandes homens geram os seres humanos históricos. Esses indivíduos não são propriamente modelos de virtudes podendo inclusive apresentar até traços mesquinhos e lamentáveis em suas respectivas personalidades; são, no entanto, desencadeadores de transformações sociais necessárias ainda que talvez explosivas.
A falta de sensibilidade, de percepção de como as coisas são realmente permite ao homem viver um mundo sem significado. Assim, o desenvolvimento da percepção desperta para as questões que poderiam permanecer desapercebidas. Apesar de todo conhecimento histórico os homens pensam e agem de maneira a-histórica, não sabem o quanto a sua atividade de historiador é responsável pelo seu próprio comando e pela vida, e não pela busca pura do conhecimento.
O indivíduo pode aproveitar os conhecimentos para tentar apreender a direção dos movimentos da história, ou mesmo formular hipóteses para o futuro. A história serve de modelo para outros estudos, por isso, é possível distinguir a história monumental, tradicional e crítica, o que permite concluir que o passado poderá servir para o presente.
Nietzsche aborda as questões referentes a utilidade e os inconvenientes da História para a vida, além disso, enfatiza a importância e a necessidade do historiador agir no sentido de buscar o conhecimento e não afastar-se da vida e da ação, mas ser absorvido pelo presente. No entanto, é preciso saber o limite a partir do qual o passado deve ser esquecido e o indivíduo não se torne um elemento de destruição do presente. O autor ainda valoriza os aspectos referentes a sensibilidade histórica e a capacidade do indivíduo de ser coerente com seus julgamentos. Na realidade, a ausência de sentido histórico é semelhante a uma atmosfera sem vida. O prazer em torno do conhecimento para o historiador resulta na transformação dos valores das percepções e opiniões. Desse modo, acredita-se que o indivíduo é capaz de perceber e respirar a atmosfera a-histórica, na qual se produz todo grande acontecimento histórico, talvez enquanto sujeito do conhecimento poderá elevar-se a um ponto de vista supra-histórico.
Percebe-se ainda que os homens precisam do conhecimento histórico do passado tanto sobre a história monumental, tradicionalista ou crítica não necessariamente para julgar e condenar, mas para contribuir de alguma forma para construção de novos conhecimentos para vida. Compreender as mudanças na presente sociedade nos leva a perceber contradições que não se constitui a partir de uma única realidade, mas da existência de histórias. Entretanto, Nietzsche, considera que o excesso de história é nocivo para a vida por várias razões: uma delas, porque produz oposição ao conhecimento anterior realizado entre a interioridade e a exterioridade, enfraquecendo assim a personalidade dos indivíduos. Entende-se que a cultura histórica dos críticos impede que uma obra produza seu verdadeiro efeito sobre a vida e sobre suas ações.
Por outro lado, a objetividade histórica para Nietzsche compreende um estado de espírito que permite os historiadores poder examinar um fato considerando todos os seus motivos e conseqüências de maneira clara. Dessa forma, o historiador deve ser capaz de transformar uma verdade comum e de enunciar as generalizações de maneira simples e profunda. A história deve resolver o problema do saber histórico entendendo que tanto a educação como a cultura dos povos pode ser diferente e cabe a juventude perceber as realidades que são impenetráveis, além disso, é necessário desenvolver um olhar objetivo sobre as coisas que deve se colocar em evidência.

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