sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A CONSAGRAÇÃO DO “EU”

A CONSAGRAÇÃO DO “EU”

O texto de Gilles Lipovetsky nos leva a reflexão sobre a consagração do EU, da moda, do consumo na sociedade contemporânea e propõe uma crítica das concepções excessivamente simplistas bem como, a respeito da realidade, no sentido de pensar de maneira mais complexa os fenômenos deste mundo. A sociedade contemporânea não apenas não conseguiu concretizar os ideais das Luzes que objetivava alcançar, mas, também, ao invés de avalizar um trabalho de real libertação, deu lugar a um empreendimento de verdadeira subjugação, burocrática e disciplinar, exercendo igualmente sobre os indivíduos.
Percebemos que numa sociedade pós-disciplinar na qual não era redutível tão somente ao esquema disciplinar se nos dávamos ao trabalho de encará-la pelo domínio do efêmero por excelência, a moda. O surgimento da moda é indissociável da competição de classes e das rivalidades entre as classes sociais não podendo ser o princípio explicativo das variações incessantes da moda. Assim, as eternas reviravoltas da moda são antes de tudo o resultado de novas valorações sociais ligadas a uma nova posição e representação do indivíduo no que se refere ao conjunto coletivo.
Mas o desenvolvimento da autonomia que a moda alicerça, desempenha papel fundamental no momento da inflexão da sociedade num sentido contemporâneo. Isso porque é com a extensão da lógica da moda ao conjunto do corpo social, quando a sociedade inteira que se reestrutura segundo a lógica da sedução, da renovação permanente e da diferenciação marginal emerge no mundo contemporâneo.
E a era da moda extrema, em que a sociedade se submete a sedução, a diferenciação e ao efêmero da forma da moda se apresenta como sociedade superficial e frívola que impõe a normatividade não mais pela disciplina, mas pela escolha e pela espetacularidade. Com a difusão da lógica da moda pelo corpo social inteiro entramos em um momento muito preciso que amplia a esfera da autonomia subjetiva, multiplicarem-se as diferenças individuais, esvaziarem-se de sua substância transcendente os princípios sociais reguladores e dissolver-se a unidade das opiniões e dos modos de vida.
A lógica da moda começa a permear de modo íntimo e permanente o mundo da produção e do consumo de massa e a impor-se perceptivelmente. Ou seja, o hiperconsumo, um consumo que absorve e integra parcelas cada vez maiores da vida social, funciona cada vez menos segundo o modelo de confrontações simbólicas. Segundo uma lógica emotiva e hedonista faz com que cada um consuma antes de tudo para sentir prazer, mais que para rivalizar com outrem. O próprio luxo, elemento de distinção social entra na esfera do hiperconsumo porque é cada vez mais consumido pela satisfação que proporciona aos indivíduos, isto é, um sentimento de eternidade num mundo entregue a fugacidade das coisas e não porque permite exibir status.
O fato é que ele é adequado para marcar uma mudança de perspectiva nada negligente nessa mesma história. De início pensa-se o consumo segundo dois aspectos: o individualismo e a igualdade. A sociedade contemporânea representa o momento histórico preciso em que todos os freios institucionais que se opunham à emancipação individual se esboroam e desaparecem. A contemporaneidade é uma sociedade caracterizada pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade, indiferente como nunca antes foi nos grandes princípios estruturais da sociedade, que precisaram adaptar-se ao ritmo para não desaparecer.
. Os indivíduos contemporâneos são ao mesmo tempo mais informados e mais desestruturados, mais adultos e mais instáveis, menos ideológicos e mais tributários das modas, mais abertos e mais influenciáveis, mais críticos e mais superficiais, mais céticos e menos profundos. A sociedade contemporânea funciona mesmo segundo a lógica da reciclagem permanente do passado, e nada parece escapar a seu domínio. É evidente que a sociedade contemporânea, ao exacerbar o individualismo e dar cada vez menos importância aos discursos tradicionais, caracteriza-se pela indiferença para com o bem público, pela prioridade freqüentemente conferida ao presente e não ao futuro; pela escalada dos particularismos e dos interesses corporativistas; pela desagregação do sentido de dever ou de dívida para com a coletividade. Lipovetsky propõe uma interpretação sobre a sociedade contemporânea que se pretende e segundo a qual a tomada de responsabilidade é a pedra angular do futuro de nossa sociedade. Mas também deve ser uma escolha individual, pois cabe a cada um assumir a autonomia que nos foi legada.

A mídia se viu obrigada a adotar a lógica da moda, inserir-se no registro do espetacular e do superficial e valorizar a sedução e o entretenimento em suas mensagens. Assim cada vez mais

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