segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

REFLEXÕES SOBRE O MACHO NA OBRA DE DURVAL MUNIZ

RESENHA ANÁLITICA ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de Nordeste uma invenção do falo: uma história do gênero masculino (Nordeste-1920-1940) IN: A Invenção do Macho. Edições Catavento. São Paulo: 2003. Joselia Ferreira de Oliveira Professora da rede municipal de Ensino C.Grande-PB O presente trabalho trata-se de uma resenha analítica sobre a obra do autor Durval Muniz de Albuquerque Jr., intitulada: Nordeste-uma invenção do falo: uma história do gênero masculino. (Nordeste -1920-1940). Nesta obra o autor critica o discurso das elites regionais que construíram a idéia de Nordeste. Nesse contexto, a identidade regional entre as camadas populares vai formando a imagem do “macho” indivíduo, a partir do discurso do cordel. Além disso, faz uma análise sobre o regionalismo político que vinha se manifestando de forma crescente entre as elites dos Estados do Norte. Mas a grande novidade do regionalismo nordestino é que ele vai se caracterizando por uma ampla militância cultural e intelectual no sentido de definir a região e seu habitante. O regionalismo passa a ser apresentado como uma nova forma de pensar a realidade nacional e como a nossa forma particular de produzir cultura e arte. O autor discute as várias maneiras de nordestinidade expressas a partir de equivocadas definições onde o homem nordestino se encontra na contramão do mundo moderno. Os sertões de Euclides da Cunha coloca o nordestino de uma maneira problemática para os elaboradores de uma identidade regional no nordeste; além de apresentar a questão da divisão territorial e a formação de uma sub-raça no Norte. O autor critica a imagem preconceituosa formada sobre o homem nordestino, baseada na inspiração eugenista que privilegia a figura do nordestino como sendo aquela que expressa o futuro da raça regional, forte e homogênea. O discurso regionalista impregnado da idéia de que o nordestino era um tipo regional e, por isso, mesmo teria um caráter e uma índole ou uma psicologia própria que se revelaria na morfologia de seu corpo e no seu comportamento individual e social. Sendo assim, nasce a influência desses tipos de saberes. Esse discurso regionalista nordestino de base eugenista procuraria responder as constantes acusações de que seria o nordestino “um babel de tipos variados”, um subproduto de cruzamentos raciais díspares, homem tarado, entibrado e frouxo. Além disso, o Nordeste é definido como espaço regional autônomo no país, com traços de homogeneidade. O autor chama a atenção sobre a construção dessa identidade nordestina julgadas pelas lendas e mitos e dos costumes regionais caracterizados por uma natureza viril do macho, da masculinidade, por isso, somente uma pessoa com certos atributos poderia resistir a um ambiente tão hostil. Assim, os conceitos agenciados são meramente antropogeográficos numa sobreposição de imagens sociológicas e historicamente definidas. O nordestino seria fruto de uma hereditariedade cultural, mais do que racial, além disso, a literatura de cordel e outras manifestações literárias da região não cansavam de decantar homens valentes que conseguem resolver as questões mais difíceis. Esse discurso literário vai desenhando o nordestino como aquele que gozava de plena superioridade física e valentia, iletrado e analfabeto, o cordel é uma forma de resistência dessa cultura. Nesse sentido, o autor questiona o discurso estabelecido, haja vista que o nordestino é tido como um homem incubado, explosivo com reservas de talento e imaginação descritos como um homem rural, inculto e supersticioso. O autor busca desconstruir estas falas que inventaram o falo como significante de uma forma de ser regional, de uma identidade masculina regional questionando a própria legitimidade social dos atos de violência contra o feminino. Percebe-se que a cultura nordestina foi inventada a partir de uma lista de manifestações e estudos folclóricos construídos historicamente. O nordestino segundo o discurso das elites da região como um homem eternamente injustiçado pelas outras regiões e pelo governo federal, a resistência do nordestino seria sempre colocadas em dúvida. Os estudiosos em antropologia nordestina explicam o traço masculino da população na formação histórica da raça regional exigindo uma luta contra as adversidades e pela sobrevivência humana. Esse discurso naturalista reforça a idéia de gênero justificando a dominação masculina. Esta forma de ser nordestino talvez tenha sido transmitida principalmente pela educação das famílias. Dessa forma, os códigos de gênero são internalizados como naturais. Por isso, era necessário sistematizar uma cultura popular regional folclórica advinda do povo assim facilitar a transmissão de conteúdos de mensagens que interessavam a elite. As identidades forjadas são reforçadas ao longo dos anos pelos próprios indivíduos da região e principalmente tem sido estimulada pela educação tradicional repassada de geração em geração. A invenção do falo é uma obra que denuncia com muita propriedade os preconceitos estabelecidos em relação ao homem nordestino, uma leitura literária riquíssima, onde o autor se apropria de uma base teórica consistente a fim de refutar alguns mitos e preconceitos levando o leitor a reflexão construtiva no sentido de desconstruir conceitos produzidos historicamente e aceitos como verdadeiros, pronto e acabado. A leitura possibilita uma visão clara sobre os equívocos culturais em relação a construção da identidade do nordestino na invenção do falo, haja vista que a figura do nordestino gestada nos anos vinte agencia uma galeria de tipos regionais, sociais marcados por uma vida rural uma sociabilidade tradicional e acima de tudo desenhados por atributos masculinos.

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