segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

INVISIVEL NA ESCOLA: O RACISMO COMO FORMA DE VIOLÊNCIA

INVISIVEL NA ESCOLA: O RACISMO COMO FORMA DE VIOLÊNCIA Autora: Josélia Ferriera de Oliveira oliveira.joselia@hotmail.com Universidade Estadual da Paraíba Co-autora Inaldete de A. M. Leite inaldetemeira@hotmail.com Universidade Estadual da Paraíba 1.INTRODUÇÃO “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. Albert Einstein Este artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a Discriminação racial e o preconceito na escola. O interesse principal desta pesquisa se deu mediante a necessidade de desenvolver na escola um projeto sobre “DISCRIMINAÇÃO RACIAL E DO PRECONCEITO: A VIOLÊNCIA INVISIVEL NA ESCOLA”, uma vez que, os problemas gerados com a discriminação racial desestimula e prejudica os aspectos cognitivos das crianças negras, talvez, esta estimule a evasão escolar e provavelmente a reprovação de muitas crianças. Assim, combater o racismo na escola significa contribuir para a educação de qualidade para todos. Por esses motivos já elencados decidimos realizar uma pesquisa relativa a Discriminação Racial e preconceito na escola haja vista, a importância de podermos oferecer as crianças a oportunidade de tirar dúvidas e informá-las de forma clara e objetiva as questões relevantes a essa temática. Sabemos que, a criança negra participa como um dos atores desse cenário educacional. Sem dúvida, é importante que a escola enquanto instituição destinada a formação de crianças, jovens e adultos disponibilize para os seus alunos uma educação de qualidade. Dessa forma, a escola estará contribuindo para que o aluno adquira novos conhecimentos, possibilitando minimizar prováveis problemas no âmbito escolar. Portanto, a pesquisa é relevante no sentido de possibilitar a investigação acerca da Discriminação racial e do preconceito, bem como as várias formas de violência invisível presentes nas escolas; viabilizando ainda a identificação de determinadas posturas de professores na educação de crianças negras. 2. METODOLOGIA A pesquisa referente “Discriminação racial e do preconceito: A violência invisível na escola”. seguiu o caminho de uma pesquisa de cunho analitico-descritivo. Para tanto, realizamos pesquisas bibliográficas em livros segundo os estudiosos da temática, Cavalleiro, Heller, Gusmão, Romão, dentre outros. Além disso, utilizamos, artigos publicados via internet e reportagens sobre a temática. 3 Aspectos da discriminação racial e do preconceito É importante refletirmos sobre a discriminação racial e o preconceito como uma das formas de violência invisível na escola. Por isso, consideramos fundamental questionar especialmente porque os aspectos de natureza ética que dizem respeito à diversidade e a separação do preconceito e da discriminação racial são nomeados como conteúdos alternativos e não fundamentais na escola? O racismo constitui-se como uma ação ideológica que se realiza na sociedade de classes. (FERREIRA, 1991, p.25). E essa ação ideológica brasileira apresenta uma conotação racial bastante forte. Historicamente o racismo está ligado as ações das elites brasileiras desde a colonização e posteriormente quando incentivaram o processo de imigração de europeus para o país, a fim de promover cada vez mais a formação de uma nação branca. As classes dominantes estruturaram a sociedade se valendo da ideologia racial para que os não-europeus e seus afros descendentes fossem postos à margem da sociedade. Primeiro levando-os a desempenharem atividades de menos prestígio no campo econômico, segundo menosprezando sua inteligência e valor humano. O dilema do racismo e de classe social passa pelo preconceito e está relacionado a cor ou a raça, não sendo apenas uma questão de classe mas também de ordem cultural. É notório que a Lei Áurea não significou direito a cidadania para a população negra e afrodescendentes. A sociedade brasileira discrimina algumas vezes, invisível como a mídia deixa transparecer. Lamentavelmente a sociedade tende a relacionar o negro ao que é de menos valor. Na escola esse comportamento produz danos psicológicos graves. A auto-estima e a auto confiança das crianças diminuem no sentido de que vai se construindo um auto-conceito negativo sobre si mesmo e o outro. Assim, Lopes (2001, p.188), considera que, a educação escolar deve ajudar professores e alunos a compreenderem que a diferença entre pessoas povos e nações é saudável e enriquecedora. É preciso valorizá-la para garantir a democracia, entre outros, significa respeito pelas pessoas e nações tais como são, com suas características próprias e individualizadoras buscar soluções e fazê-las vigorar é uma questão de direitos humanos e cidadania. A discriminação é o julgamento realizado antes do conhecimento dos fatos, idéias preconceituosas, juízo prévio, conceito negativo que uma pessoa ou grupo de pessoas tem sobre o outro. Entretanto, é fundamental no ambiente escolar um trabalho de forma satisfatória contra as ideologias que reforçam a discriminação racial. Isso significa instaurar novas formas de relação entre as crianças negras, brancas e afro descentes. Romper com o discurso eurocêntrico, promover situações de diálogo e favorecer uma vivência que permita a toda comunidade escolar a garantia e a promoção do respeito ao diferente. A falta de discussões no espaço escolar sobre as várias formas de preconceito permanece de maneira sutil no cotidiano da escola e tem sido reforçado pelo silêncio estabelecido sobre o mesmo. É inegável a falta de sensibilidade dos professores em relação a discriminação e ao preconceito, e isso inclui funcionários e gestores insensíveis a questão racial e a diversidade humana. Os educadores tratam a temática apenas como um conteúdo relacionado a história e a arte, de caráter efêmero sem assegurar uma discussão ampla e contínua sobre o assunto. 3.1 A imagem estereotipada do negro Para Heler (1988), o preconceito está pautado em um forte componente emocional que faz com que os sujeitos se distanciem da razão. O afeto que se liga ao preconceito é uma fé irracional, algo vivido como crença, com poucas possibilidades de modificação. O preconceito difere do juízo provisório, já que este último é passível de reformulação quando os fatos objetivos demonstram sua incoerência, enquanto os preconceitos permanecem inalterados, mesmo após comprovações contrárias. Geralmente os livros didáticos, jornais, revistas, noticiários e reportagens reproduzem a imagem do negro muitas vezes estereotipado. Dentre os vários destacamos os seguintes: •Negros rejeitados ( imagem de criança barrada, castigada, faminta, isolada em último lugar); •Exercendo atividades subalternas; •Ênfase a minoria; •Incapaz, burro, ingênuo, desatento, desastrado, inibido; •Sem identidade, sem nome, sem origem; •Pobre, maltrapilho, favelado, esmoler; •Estigmatizado em papéis sociais específicos: cantor, jogador de futebol; •Desumanização do negro: associado a objeto, a formiga, a burro, a macaco. 3.1.1. As facetas dos estereótipos A postura do educador escolar reside na ideologia de interiorização, o que contribui para a invisibilidade do negro. Os efeitos discriminatórios raciais e do preconceito na criança são desastrosos: Podemos citar: recalque, auto-rejeição, auto desvalorização, desagregação da identidade étnico-racial e desmobilização coletiva dentre outros. Nesse sentido, a sistemática negação de uma imagem favorável do “branco”, acompanhada da versão estereotipada do negro constitui-se em um dos mecanismos da expressão dessa violência silenciosa, invisível, porém real vivenciada e experimentada na escola, o que significa fator de eliminação da criança negra. Parafraseando Bourdieu (1970, p. 13-30) sobre a questão da violência invisível no ambiente escolar; a violência simbólica é um termo inventado por esse pensador francês para descrever o processo pelo qual a classe que domina economicamente impõe sua cultura aos dominados. Para ele, a melhor maneira de favorecer os já favorecidos e desfavorecer os desfavorecidos, senão ignorando seja no âmbito dos conteúdos de ensino, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças de diferentes classes sociais. 3.2 Os Parâmetros Curriculares Nacional um instrumento da educação Os Parâmetros Curriculares Nacional é um instrumento de apoio aos professores, no sentido de que estes exercem o papel de estimular a construção de projetos pedagógicos e inovar os planos de aula. No entanto, se torna ineficaz por falta de uma combinação com elementos que não podem ser ignorados. Além do desenvolvimento maior da sensibilidade, é preciso obter-se informação e formação acerca das relações raciais na escola. 3.3 A discriminação racial no livro didático O livro didático enquanto um importante meio de ensino, entretanto, apresenta-se muitas vezes como instrumento de discriminação racial, de preconceito e construção de estereótipos. Diante das ações do Movimento Negro no Brasil, esse veículo de conhecimentos vem passando por um processo de dissimulação das expressões raciais. Apresentam constantemente a imagem estereotipada do negro e atribuem a estes personagens características principalmente como: ignorantes e subordinados. A História da África contada através dos livros demanda mais estudos a fim de promover a compreensão acerca do povo africano, uma vez que apresentam conteúdos insuficientes devido a complexidade do assunto. Consideramos que o ensino sobre esse conhecimento consiste em uma estratégia de recuperação dos fatos, da superação da visão eurocêntrica dos indivíduos, mas também como elemento de valorização da população frente a um processo de auto-estima dos mesmos por meio do conhecimento de suas origens. Na realidade, tudo isso, não altera de forma considerável o conhecimento sobre este universo. Já que os conteúdos privilegiam regiões de uma África contemporânea e pós colonização sem abordar os processos históricos e as atuais relações étnicas e raciais. 3.4 O Silêncio como discurso excludente A questão do silêncio sobre o racismo na escola significa uma forma de manutenção das diferenças. Este silêncio não é em si mesmo uma ausência de discurso, mas um discurso em que o não dito ganha significados ambíguos ou se estabelece em relação apenas a uma das partes da relação racial. O comportamento passivo ou menos preditivo das professoras sobre os alunos negros principalmente quanto a baixa expectativa diante de crianças negras; tende a reforçar as desigualdades e a discriminação. É responsabilidade de a escola promover a igualdade de oportunidades e tratamento digno a todos, ao invés de manter o que as representações sociais e reapresentações culturais determinam nos “lugares de negros” e “lugares de brancos”. Entretanto, os professores precisam aprofundar os conhecimentos sobre a temática da diversidade. O racismo e a discriminação provocam na criança negra frustrações e sofrimento de toda ordem: agressão verbal, física e do não-reconhecimento da diversidade como aspecto de igualdade. A violência silenciosa manifestada de maneira invisível na escola por parte das professoras que ora minimiza a ação discriminatória da criança branca, levando a negra a entender nas entre linhas que a melhor coisa é esquecer. Não dá importância. E assim, vai se educando a criança negra a “suportar” o racismo e a discriminação como se fossem realidades imutáveis. Portanto, essa atitude é reafirmada pela linguagem não-verbal, quando estudos demonstram que parece haver uma ausência de contato físico afetivo dos professores para com as crianças negras, demonstrando a rejeição e causando-lhes sofrimento. A sua dor invisível não é reconhecida, havendo uma aparente falta de acolhimento por parte das pessoas "autorizadas" (educadores), que silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal postura denuncia a banalização do preconceito e a conivência dos profissionais com ele (ROMÃO, 2001). 4 Considerações Finais É importante reconhecer a existência do problema racial na sociedade brasileira. É preciso buscar de forma intensiva refletir sobre o racismo e seus derivados no cotidiano escolar. Enfim, é fundamental respeitar a diversidade presente no ambiente escolar e promover a igualdade através da participação de todos os alunos nas discussões sobre as atitudes preconceituosas e discriminatórias na sociedade e no espaço escolar. O respeito entre crianças e adultos deve fazer parte das relações interpessoais na escola. 5. REFERENCIAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Pluralidade Cultural. Brasilia: MEC/SEF, 1997. BOUDIEU, Pierre e Passeron, Jean-Claude, "A reprodução. Elementos para uma teoria do sistema de ensino", Lisboa, 1970. CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Humanitas – FFLCHUSP; Contexto, 2000. FERREIRA, Yedo. Ideologia racial e estrutura social. In: A Questão étnica e os Movimentos Sociais. Revista Proposta. Rio de Janeiro, FASE, n. 51, p.24-25, nov/91. GUSMÃO, N.M. "Linguagem, cultura e alteridade: imagens do outro". In: Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas n.107, julho, 1999. HELER, A. "Sobre os preconceitos" In: Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e terra, 1988. LOPES, Vera Neusa. Racismo, Preconceito e Discriminação. In: MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001. ROMÃO, J. "O educador e a construção de uma auto-estima positiva no educando negro" In: Cavalleiro (org) Racismo e anti-racismo na educação. São Paulo: Summus, 2001.

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