terça-feira, 18 de dezembro de 2012

REFLEXÕES SOBRE IDENTIDADE NACIONAL E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA NEGRA

REFLEXÕES SOBRE A IDENTIDADE NACIONAL E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA NEGRA Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Pedagogia – UEPB O texto trata sobre a questão da identidade nacional e a influência da cultura negra na sociedade brasílica no período de dominação portuguesa (europeia). Compreender o pensamento nativo e as influências estrangeiras nos projetos de nacionalidade significa perceber as marcas da discriminação e da exclusão do negro. Neste contexto, ao enfatizar o papel centralizador e homogeneizado no campo cultural, econômico, político e social exige-se o exercício do repensar os ideais e projetos existentes nesta época. Vale ressaltar que, a posição social demonstrada através das manifestações de hierarquia e deferência é destacada pelo modo de vestir-se ou a maneira de falar constituindo-se um dos aspectos do comportamento idealizado pela e para a elite desta sociedade que priorizava o homem “civilizado”. Assim, os aspectos da vida social desse indivíduo passam a ser vistos pela população e contribui efetivamente para manter as aparências. Esta talvez fosse uma estratégia de honra apresentar-se dentro do perfil das formalidades. Desse modo, as regras de dominação impostas pela Corte principalmente no âmbito religioso estavam presentes nos rituais das missas, nas manifestações de apreço ao espaço público, o que evidenciava o poder do conservadorismo naquele momento. É importante afirmar que, no campo político os ideais iluministas representou papel significativo para o desejo de independência. Entretanto, o pensamento iluminista não se constitui um conjunto de princípios universais para todos. A igualdade, a liberdade e a fraternidade não representaram os anseios da maioria da elite, mas apenas dos menos favorecidos: o pobre, o negro e o índio. Por isso, a questão da escravização principalmente do negro permaneceu por longos anos. Sendo assim, o lema dos iluministas representou uma afronta contra a política dominante da época. Neste contexto, os ideais nacionalistas se expandem entre alguns intelectuais como o de José Bonifácio. No entanto, o poder político apresentava-se como fator desafiador no sentido de promover mudanças culturais numa sociedade que estava buscando a manutenção dos interesses elitistas. Evidentemente os impasses voltados a construção de uma identidade nacional ao longo dos anos foi sendo formada a partir das poesias, da música, das pinturas artísticas elitistas. Com isso, a cultura negra continuou sendo excluída desse universo. Constata-se que, a influência da raça branca, europeia tida como superior, dita as normas e as regras desta sociedade, haja vista o lucro alcançado com a escravização do negro. Associar identidade aos fatores biológicos e restringir o campo cultural dos povos aos saberes do cotidiano, ao conhecimento das técnicas agrícolas, ao uso das plantas não contribui necessariamente para as mudanças no âmbito nacional e das identidades nacionais, mas reforça as desigualdades culturais. As discussões apresentadas sobre: conceitos de raça, nacionalidade e o estudo da influência cultural das diferentes raças mostra que os aspectos físicos e psíquicos também foram marcantes para a formação do povo brasileiro. Portanto, os discursos e as memórias apresentadas pela historiografia dão conta de que as ideias veiculadas pela elite reservou o direito de dirigir e esboçar a cultura dessa nação ignorando o entrelaçamento das culturas para a construção das identidades nacionais. REFERÊNCIA: AGUIAR, Otavio José Formação Nacional no século XIX: as diversas representações da nação e os esforços classificatórios.

sábado, 13 de outubro de 2012

A ESCOLA E OS VALORES: AÇÃO DO PROFESSOR

A ESCOLA E OS VALORES: AÇÃO DO PROFESSOR Inicialmente, pode-se dizer que tais valores abrangem o conhecimento, moral e ético, sendo assim, o valor definido por Piaget (1954, p. 41), tem caráter afetivo do objeto, ou seja, refere-se a um conjunto de sentimentos lançados sobre as pessoas. E a escola inevitavelmente lida com valores humanos além da efetiva transmissão de conhecimentos. O conhecimento como sendo um sistema de informações articuladas, sem duvida, a questão do conhecimento como valor transcende as instituições educacionais. Entretanto, a moral, ou os valores morais corresponde às ações consideradas como obrigatórias, aos deveres. Assim, no que chama a atenção em relação a moral o valor diz respeito aos valores universais em qualquer sociedade. Apesar de todo avanço em direção aos valores morais, no entanto, o rumo da sociedade não tem se dirigido em direção efetiva e significativa no sentido de realmente os cidadãos poder viver em paz e harmonia, haja vista que tem sido crescente a violência principalmente no âmbito urbano. Vale salientar que freqüentemente o cotidiano escolar vivencia hostilidades e violência praticada por alunos e professores, aluno-aluno. A incivilidade tem tomado conta da sociedade. O tráfico de drogas, o comércio ilícito de armas, as falcatruas políticas, a corrupção, as rivalidades nas relações ocidentais entre muçulmanos. Percebe-se que a sociedade do “ter” prevalece fortemente ao invés do “ser” evidencia-se o divórcio entre os valores humanos e as relações entre os indivíduos, apesar da legislação constituída em relação aos Direitos Humanos. A sociedade civil convive com a insegurança, o medo, modificando o comportamento das pessoas promovendo a separação de convívio entre as pessoas. A tecnologia utilizada nas formas de controle das pessoas através dos radares, câmaras e tantos outros meios a fim de preservar a segurança dos indivíduos. Na escola, o problema da disciplina, das regras, da moral está nos princípios, percebe-se que o excesso das regras tem possibilitado a inversão que em muitos casos leva a quebra da disciplina. No que se refere a ação do professor, o conhecimento ultrapassa a escola. Na realidade a função da escola deve nortear a promoção e a formação moral de seus alunos.Dessa forma, é necessário que as escolas reflitam sobre os princípios que inspiram as regras de convívio e deixar claro para toda a comunidade. A eficácia das regras está Diretamente Ligada A Eficiência Dos Princípios. A Ética: Que vida eu quero viver? A questão da ética nos remete a um conjunto de deveres. Pode-se dizer que o plano ético coloca os valores no centro da questão. Conforme La Taille (2005), o sentido positivo do individualismo constitui-se em cada um ser livre para levar a vida como quiser e para escolher valores que lhe dêem sentido. Por outro lado, o ponto negativo refere-se a liberdade usufruída no plano ético se traduz por um egoísmo quando excluído do sentido da vida as pessoas que servem para o alcance da felicidades de alguém. A sociedade do ser abrange o ter no sentido de consumista, associa-se a felicidade ao sucesso profissional quando na realidade são âmbitos diferentes, complexos, uma vez que a felicidade não necessariamente depende da fama ou do êxito profissional, mas a um bem-estar pessoal independe dos valores econômicos. O avanço do capitalismo e as transformações comportamentais dos indivíduos nos levam a reflexão acerca da ética dos valores humanos. A Escola no epicentro da crise social Segundo José Sterza Justo, a realidade não se revela imediatamente na consciência humana mas resiste mediante as ilusões da consciência. Assim, vale ressaltar que na concepção marxista a ideologia concebida como um sistema de idéias e crenças destinado a justificar a o ordem social, política e econômica contudo seria o grande entrave para a consciência ou para o conhecimento efetivo do sistema e do funcionamento da sociedade. Na psicanálise enfatiza-se que o sujeito não se consegue apropriar-se de si mesmo como objeto do conhecimento de forma imediata e transparente, porque é constituído por qualidades e mecanismos psicológicos que dificultam e impede seu acesso à sua própria realidade psicológica. No marxismo refere-se principalmente ao contexto social e histórico a fim de apreender qualquer particularidade da realidade humana resultado das ligações com as produções sociais e ainda com as produções históricas. Na perspectiva histórico-social é fundamental revelar a lógica da acumulação de riquezas no capitalismo. Enquanto para a psicanálise pressupõe-se que todas as produções psíquicas que seja: o pensamento, os desejos, as percepções estão interligadas entre si, mesmo que não esteja visível e que exista a relação com as experiências do passado vivenciadas pelo sujeito. A escola em destaque entre as instituições modernas A escola constitui-se como instrumento de suma importância para o funcionamento da sociedade. As instituições que servem de base para a sociedade moderna a exemplo da Escola responsável pela socialização dos indivíduos mediante o ensinamento dos conhecimentos e valores básicos da cultura. Se por um lado pensar a escola como instrumento de dominação e confinamento a serviço do capitalismo, por outro lado, a escola pode contribui para a modificação dessas relações sociais enfraquecendo o autoritarismo, a diminuição da violência exercida em nome da disciplina, além disso possibilita a construção de uma sociedade mais humana caminhando em direção a permanência dos direitos humanos e da cidadania. A intensificação do ciclo de produção e de consumo, a expansão da circulação do capital exige-se cada vez mais, o alargamento das fronteiras geográficas e psicossociais, o aumento da velocidade e a movimentação cada vez maior de mercadorias, de capital, de subjetividade e de mão-de-obra, etc. As necessidades da economia capitalistas têm produzido outra lógica de organização e funcionamento da sociedade, não se trata mais de confinamento para os sujeitos em espaços fechados, mas de coloca-los em espaços abertos. A sociedade hoje não pode permanecer na lógica do confinamento, de manter os sujeitos cercados em espaços geográficos definidos nem mesmo sob a lógica da disciplina obtida sob vigilância efetiva exercida mediante o olhar próximo do outro e de medidas coercitivas e repressivas, mas deveria funcionar sob a lógica do desconfinamento, de dispersão, de retirada do sujeito de espaços fechados e de sua colocação em espaços abertos. Sendo assim, a sociedade não requer mais um sujeito parado, reto, coerente, previsível, controlado, comedido, estável, mas o contrário, um sujeito plástico, flexível, criativo, fragmentado, múltiplo. Difuso, impulsivo, intempestivo incontrolável e aventureiro, incontrolável. Um sujeito que possa transitar de um lugar para o outro, de um sentimento a outro, de um produto a outro, migrando também internamente, percorrendo todos os seus espaços internos, alargando o máximo possível suas possibilidades afetivas, cognitivas e executivas, acelerando ao extremo o ritmo de seu funcionamento. Assim, cada vez mais individualizado o sujeito está sendo liberado das amarras do sedentarismo e de vinculações estreitas a outros. Sendo assim, possibilita ao indivíduo ser mais dinâmico, ágil, útil e dispor de mais energia para o funcionamento da máquina social não sendo mecânica. O sujeito funciona de forma mais eficiente, o distanciamento dos indivíduos contribui para que possam circular como engrenagens capazes de executar seu movimento com autonomia e auto-suficiência, ajustando-se rapidamente a cada exigência ou necessidade tornando-se mais produtivo e interessante para o capitalismo, num ritmo maior, sem fronteiras, sem limites de tempo e espaço. Por outro lado, o mercado de trabalho exige-se um profissional mais rápido e eficiente com isso, percebe-se que tem se multiplicado o número de lesões por esforço repetitivo, o esgotamento físico e psíquico do sujeito, a insegurança, os temores diante da insegurança, o sentimento de impotência pelo enfraquecimento e pela falta da presença do outro, conseqüentemente a solidão pelo seu isolamento. Assim, as condições de existência humana na modernidade e pós-modernidade divergem no sentido primeiro: reprimir o indivíduo fortemente; na pós-modernidade o indivíduo não está confinado a espaços fechados porém é um período de extrema insegurança uma vez que o Estado entrega ao cidadão a inteira responsabilidade de sua existência. Além disso, o Estado remete tudo ao âmbito privado em nome da liberdade a sociedade vem produzindo desregulamentação, licenciosidade, enfraquecendo o coletivo, o cumprimento das regras bem como, colabora para a destruição dos valores de convivência humana resultando numa sociedade do controle e da submissão expressão da lógica do sistema vigente no país. Para Deleuze (1992), a sociedade disciplinar dá lugar ao controle através do avanço tecnológico, uma vez que se pode controlar qualquer pessoa até em movimento. O acesso a tecnologia a aos meios de controle dos indivíduos em movimento, a vigilância eletrônica e a automação dos serviços constitui-se num poderoso instrumento de exercício de poder e de dominação. ESCOLA: UMA INSTITUIÇÃO AINDA PRESERVADA E VALORIZADA A escola continua sendo considerada imprescindível para a formação e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, constitui-se o grande sustentáculo da sociedade bem como responsável pela construção da cidadania, do desenvolvimento tecnológico e da expansão da economia. No que se refere a educação e a instituição escolar, pode-se dizer que as mudanças de paradigmas na educação tende a modificar a instituição escolar conseqüentemente a sociedade que tende a colocar os indivíduos em conexões cada vez mais extensas e horizontalizadas e que acelera o tempo das aprendizagens. A escola enfrenta obstáculos diante das demandas e necessidades desse sujeito contemporâneo. O ritmo acelerado imputado ao mundo e a vida de todos não podem esperar uma escola organizada sob ritmos cadenciados fincada num tempo e num espaço. Por isso, a internet viabiliza o acesso aos conhecimentos imediatamente, considerado necessário a informação dos indivíduos, não se pode esperar pelos morosos conhecimentos escolares para atualização dos saberes. De fato, presencia-se a era da instantaneidade, da supercialidade e do consumismo exagerado. Sem dúvida esses aspectos também estão relacionados com o plano intelectual, por isso, os alunos preferem a internet ao invés dos livros. A escola enquanto organização educacional opera, dita normas, objetivos e práticas institucionalizadoras. A educação continua sendo a grande aliada do Estado e das exigências da economia e da sociedade capitalista contemporânea. O mercado consumidor precisa de uma produção para atender as necessidades de um consumidor refinado, instruído e capaz de acompanhar as transformações tecnológicas. Vale salientar que o grande descompasso entre a escola e a educação inclui as práticas pedagógicas defasadas que não conseguem responder as demandas da sociedade. Subjetivações destrutivas: a questão da violência A questão da violência é um assunto que vem chamando a atenção de todas as sociedades. No âmbito microssocial destaca-se a violência doméstica. Na visão macrossocial e política a operação norte-americana impondo sua força, seus interesses.É notório de que a violência abrange todos os planos da vida humana. Percebe-se que a escola como instituição sofre uma violência dirigida, concentrada num mesmo lugar através de um potencial humano explosivo e o declínio do espírito de grupo. A sociedade baseada nas leis neotribalista consiste em relações de comunidade emocional e não racional, a exemplo: os encontros afetivos provisórios: o ficar dos adolescentes sem vínculos duradouros. Entende-se que a instituição escolar tem responsabilizado o professor a fim de resolver as questões mal resolvidas da sociedade. Assim insiste em adotar a figura do líder nas relações verticais (com a hierarquização dos papéis e funções sociais), na centralização do comando e do poder repassando especificamente para o professor uma função clássica de liderança num momento em que nem a família é capaz de resolver. Assim, o descontrole da violência tem sido um forte foco de temor na sociedade como um todo, de maneira que produz também o medo social. Nesse sentido, a agressividade estará a serviço da violência propriamente dita sendo utilizada para a imposição pela força ou coação de uma vontade soberana e opressora. Sem esquecer que muitas vezes em prol da defesa do cidadão, ou seja, nos casos onde é necessária a ação da polícia a fim de manter a ordem, se dá a manifestação do caráter político. No âmbito escolar é necessário interromper os conflitos, as intolerâncias, a agressividade e as condutas violentas, incorporando elementos do neotribalismo ou re-ensinar formas de viver bem, o prazer de estar junto. ÉTICA, (In) DISCIPLINA E RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO É notório a (in) disciplina nas escolas cada vez maior tanto em relação a regras impostas ou construídas democraticamente. Vale salientar que a violência muitas vezes não é sinônimo de indisciplina, porém, a indisciplina em determinadas ocasiões é ética segundo a regra, ou a ordem pré-determinada em cada instituição que seja no âmbito militar ou civil. No entanto, a violência é antiética mesmo quando for no caso de cumprimento da moral. Sendo assim, a moral com um conjunto de regras e valores que têm por função regular as relações entre as pessoas numa dada sociedade. Neste sentido, a moral tem o caráter de garantir a vida societária. De fato, é fundamental tentar conscientizar as crianças, os adolescentes e a comunidade em geral de sua responsabilidade em relação também a preservação da escola, uma vez que lhes pertence. Assim, a conscientização da comunidade acerca do fato de que a instituição escolar é pública só é possível com a democratização das relações escolares. Isto remete a necessidade de mudança do tipo de relação interindividual estabelecida sempre de maneira coercitiva. Sendo assim, a escola deve necessariamente preparar-se para receber o aluno e não o oposto. É fundamental a formação do profissional o que contribui para uma visão diferente do aluno. Percebe-se que a indisciplina está relacionada ao fato de que os alunos não concordam com a maneira como os professores têm transmitido o conhecimento. É importante articular os conteúdos escolares a realidade do aluno. Sem dúvida, deve-se levar em consideração que alguns alunos tidos como indisciplinados pode estar ligado a falta de aquisição de valores morais públicos em sua personalidade, ou seja, sem limites morais insuficientes. Por outro lado, é necessário combater a impunidade e o aumento da violência, outrossim, pode-se dizer que a indisciplina está também relacionada com a falta de punição. A incapacidade de a escola romper com os atos de vandalismo, indisciplina e a violência, haja vista que a sociedade vem tratando desse fenômeno lamentavelmente como algo banal. E o pior, os meios de comunicação de massa tem contribuído para a banalização deste fenômeno, de maneira a deixar claro a incapacidade do diálogo entre os indivíduos. No entanto, pode-se combater a indisciplina superando dentre outros a impunidade, a falta de limites e dos valores éticos e morais na sociedade. De fato, para o desenvolvimento dos indivíduos destaca-se a interação social que compreende além do processo de escolarização, a necessidade de se estabelecer relações interpessoais vitais para a ocorrência do desenvolvimento moral (social) e conseqüentemente a apresentação de condutas disciplinadas. Vale salientar que Piaget (1954) não aceita a idéia de que a produção de comportamentos morais na sociedade ocorra apenas a partir do indivíduo, mas depende sobretudo de um conjunto de ralações interindividuais. Portanto, numa sociedade pautada nos valores e ideal democráticos, na escola a relação professor-aluno pode desempenhar tanto no equacionamento da disciplina quanto para a transformação de todos os cidadãos. Sobretudo, é necessário buscar efetivamente cultivar os valores éticos: o respeito-mútuo, justiça e a compreensão através do diálogo. Referência: LA TAILLE, Yves de Indisciplina/disciplina: ética e ação do professor. Porto Alegre: Mediação, 2005.

domingo, 1 de julho de 2012

PERCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PÚBLICA A PARTIR DO FILME: “ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia - UEPB Professora da rede municipal de ensino - Campina Grande-PB. RESUMO A proposta deste artigo é analisar o filme: “Entre os muros da escola” e os problemas na prática pedagógica mediada pelo currículo no cotidiano da escola pública em particular nos países de “primeiro mundo”. Tal proposta visa identificar as relações entre docentes e discentes mediada pelo currículo escolar. O que vem contribuir para um melhor desempenho de futuros profissionais em educação. A questão do currículo escolar é fundamental para transmissão e possibilidades transformadoras do conhecimento no cotidiano escolar. O que constitui-se o elo para o desenvolvimento cada vez maior do educando. Assim, os estudos de Moreira (1994) contribuíram para a compreensão da importância do currículo. Enfim, a proposta remete a uma reflexão sobre a prática pegagógica mediada pelo currículo escolar na Escola pública nos países de “primeiro mundo” vem contribuir para o processo de transformação e/ou construção de novos saberes tanto numa perspectiva empírica quanto do ponto de vista teórico. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Currículo. Sociedade. 1 INTRODUÇÃO Na busca por compreender criticamente a realidade escolar e suas múltiplas relações cotidianas de seus sujeitos possibilitam uma maior percepção sobre a educação escolar montada nos países do “primeiro mundo”. O filme, “Entre os Muros da Escola” (2008), uma produção francesa dirigida por Laurent Cantet, tendo no elenco François Bégaudeau, professor na vida real e escritor do livro que inspirou o filme, oportuniza identificar as teorias curriculares envolvidas na prática docente, a partir dos seguintes aspectos: o papel do currículo na escola pública e as dificuldades dos discentes frente aos grandes desafios da escolaridade. Outro fator importante são as relações existentes entre professor-aluno e aluno-aluno que orientam e desafiam todo o tempo do filme contribuindo para a compreensão da educação escolar pública. No filme francês “Entre os Muros da Escola” podemos ver de maneira clara a ideologia tradicional. No tocante a importância do papel da escola, esta é tão somente uma reprodutora do conhecimento adquirido, onde os conhecimentos são transmitidos desconsiderando a realidade e cultura dos educandos. Percebemos que não há uma reflexão a respeito dos conteúdos; isto fica explicito no momento em que o professor Marin esta ensinando o “imperfeito do subjuntivo”, um termo da norma culta. Uma aluna questiona o seu uso no cotidiano, alegando que ninguém oraliza naquele tempo, o professor explica que é uma maneira diferente de falar, mas não diz em que situações e com qual finalidade, não apresenta, por exemplo, que a linguagem é um marcador social. Numa outra cena uma aluna no fim do ano letivo diz ao professor que não aprendeu nada, não compreendeu nada do que foi ensinado, sendo assim se ela obteve boas notas e foi promovida tudo deveu-se a memorização do conteúdo e não ao seu entendimento. As reflexões aqui apresentadas são baseadas no cotidiano apresentado no filme acima citado. Os elementos que constituem as reflexões permitem compreender as relações entre o currículo, cultura e sociedade enquanto elementos de poder estabelecidos na escola pública representada no filme: “Entre os muros da Escola”, sobretudo retrata as diferenças culturais e sociais geradoras de conflitos entre aluno-professor neste cenário educacional. Além disso, é possível afirmar que a linguagem é o centro norteador dos entraves cultuais no cotidiano da sala de aula, evidência de um choque de civilização. Neste contexto, a construção da ideologia na sociedade revelada produz efeitos de verdade no interior da escola. Por outro lado, não podemos esquecer que o exercício da repressão na escola apresentada no filme supracitado. Tais repressões são manifestadas através do controle sob o comportamento do aluno como expressão de poder. Sendo assim, o poder institucionalizado atravessa o corpo social e tem por função reprimir. Posto isto, o filme: “Entre os muros da Escola” aborda os problemas sobre a aquisição dos conhecimentos impostos pela escola e as dificuldades dos docentes e discentes frente aos desafios da educação. Entretanto, as relações conturbadas entre professor-aluno e aluno-aluno possibilitam a compreensão do cotidiano nesta escola pública. 2 Percepções sobre o filme: “Entre os muros da escolar” A partir do filme: “Entre os muros da escola” a percepção que temos sobre a educação escolar pública nos países chamados de “primeiro mundo” revela uma realidade comum no âmbito escolar do ensino público, alunos indisciplinados, provocadores, rebeldes, atrevidos, sem limites. Enfrentam a autoridade dos professores e reclamam de tudo e forjam discussões sem sentido para desestruturar o professor. E assim, não acontece aprendizagem comprometendo todo processo de ensino-aprendizagem. No que se refere ao processo de escolarização do povo brasileiro sofremos um processo de colonização portuguesa onde foi imposto um modelo europeu mediado pelos jesuítas em desrespeito a cultura aqui estabelecida. Percebemos que na escola francesa a prioridade é a cultura local renegando as dos demais países. Não existe a preocupação com as diferenças culturais ali existentes. Na escola, os alunos asiáticos, africanos, latinos americanos a todos são impostos um currículo ignorando assim, suas diferenças culturais. Desse modo, a realidade da escola francesa mantém sua inflexibilidade e suas imposições, da mesma forma que, a escola pública brasileira também discrimina e excluem os indivíduos, demonstrando uma falsa aparência de democrática e inclusiva. A educação escolar francesa se assemelha com a brasileira, primeiro: são adolescentes oriundos das camadas populares com problemas diversos, sejam eles econômicos, políticos, sociais, psicológicos ou emocionais comuns a esta faixa etária. Além disso, usam as mesmas coisas que os jovens brasileiros gostam como as roupas. Os costumes são parecidos, o uso do celular, brincam, dorme na sala de aula, alguns são desatentos, outros desrespeitam o professor, ignoram a importância dos conteúdos, são irônicos, mas não tem noção do que é ser um cidadão com senso crítico para a sociedade. No entanto, sonham com um dia melhor. Contudo, suas frustrações são percebidas nas horas do intervalo, através da violência, do mau humor. Por isso, no âmbito escolar tais frustrações são lançadas contra a escola e seus profissionais. É preciso dizer que, a escola não pode ser culpabilizada sozinha dos problemas que os cidadãos das classes menos favorecidas padecem numa sociedade capitalista. De acordo com Moreira, (1994, p. 10), coube, assim, à escola, inculcar os valores, as condutas e os hábitos “adequados”. Por isso, percebemos um cenário escolar como qualquer outro de escola pública independente de ser francesa ou brasileira, haja vista que a escola destinada para as classes populares não tem sofrido mudanças significativas. Entendemos que a instituição passa por defasagens de materiais, de profissionais, de verbas, mas nada justifica a indisciplina ou o descaso contra a educação escolar. Segundo Moreira, (1994, p.10) (...) “o propósito de ajustar a escola às novas necessidades da economia. (...) organizar o currículo e conferir-lhe características de ordem, racionalidade e eficiência”. Na realidade, a educação sob as bases de mecanismos que visam conformar os alunos aos modelos do professor, nega a criatividade dos discentes e sua produção intelectual espontânea através, basicamente, de três formas: do exercício de uma rígida disciplina e o estabelecimento de uma relação autoritária entre professor-aluno além da imposição de uma prática pedagógica (tradicionalista) mecânica e repetitiva, uma vez que deixam de lado a prioridade de os alunos adquirirem novos saberes passando a valorizar apenas o comportamento. A escola mesmo aparelhada com os recursos tecnológicos, expressão da inclusão digital, entretanto, não apresenta mudanças em prol das transformações. Além disso, constatamos várias formas de controle disciplinar haja vista que o tempo também é monitorado, controlado: “é hora de...” ou “não é hora de...”. “pode fazer... não pode fazer”. O professor afirma: “vou corrigir daqui a 20 minutos”... Outro ponto percebido, o espaço, cada um no seu lugar sob o olhar vigilante do professor que fiscaliza a realização das atividades dos alunos todo o tempo, demonstra características de uma educação tecnicista e humanista. Entendemos que os conflitos existentes em sala de aula são motivados devido as provocações dos alunos contra o modelo educacional instituído, bem como, contra o currículo conteudista. Muitas vezes a tensão em sala de aula sobre os alunos contribui para a geração de discussões que ferem o regulamento da instituição escolar o que contribui para punição de qualquer aluno. Posto isto, os alunos que resistem ao controle disciplinar são ameaçados de punição e assim são excluídos do grupo. Essa ameaça aumenta o clima de tensão ao antecipar as conseqüências dos “maus atos” É fundamental para esta instituição o aluno obedecer as regras. A disposição dos alunos para seguir o modelo de “bom aluno” é reforçada pelo corpo docente. Entretanto, o professor François Marin deixa de ser imparcial e adota um comportamento negativo quando privilegia um aluno em detrimento de outros como foi visto nos depoimentos do professor frente aos pais. Lamentavelmente a tão falada democracia e liberdade de expressão ainda estão somente no papel. Podemos acrescentar ainda que, nas relações aluno-aluno e professor-aluno quando mediadas pelo currículo escolar apresentada no filme são marcadas por um processo meio desarticulado entre o que professor deseja e o que os alunos almejam. Isto fica evidenciado nos questionamentos constantes em sala de aula manifestados de forma irônica contra tudo aquilo que a escola se propõe a ensinar Desse modo, Moreira (1994, p. 8) afirma: “o currículo não é um elemento transcendente e atemporal - ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação”. Dessa forma, a proposta curricular torna-se sem sentido, haja vista que os conteúdos não atendem as expectativas dos alunos. Além disso, o professor não apresenta inovação. O conteúdo passa a ser colocado como algo repetitivo apenas para cumprir o planejamento. Parece não haver preocupação com o objetivo maior da educação que é preparar os jovens para a sociedade. Na realidade esta escola pública muitas vezes promove o conformismo, emocional, o estresse do profissional demonstrado através do cotidiano escolar que existe um clima de insatisfação e desmotivação tanto por parte dos professores como dos alunos. A sala dos professores lugar de desabafo foi cenário desse desgaste emocional, de um professor que não via possibilidades de mudanças devido a indisciplina dos alunos, tem um excesso de nervosismo e se mostra decepcionado com a profissão. Neste contexto, as relações estabelecidas dentro do sistema educacional francês, tendo de um lado o professor e do outro o aluno, onde o professor quer impor modelos a seus alunos e a escola também a sua política educacional mediada pelas normas de organização da escola, no contexto da sala de aula, os relacionamentos tendem a ser difíceis, principalmente devido as diferentes culturas e a falta de tolerância. É impossível discorrer sobre este filme sem destacar a importância da linguagem como um dos aspectos marcantes dessa educação. No Brasil também nos foi imposto outra língua para como uma forma de aculturação. Por isso, podemos destacar ainda que o lugar dos conteúdos de linguagem ensinados pela escola retratada no filme evidencia a reprodução da cultura, bem como os aspectos sociais das estruturas dominantes vigente na sociedade. Desse modo, a linguagem enquanto meio de comunicação também é o veículo de conflitos e os questionamentos destes alunos em torno dos conteúdos do estudo da língua francesa, do ensino do verbo demonstram a insatisfação e a indiferença em relação a cultura francesa. Para os alunos estes conteúdos são considerados desnecessários, mas que são ensinados como sendo prioridade nesta instituição de ensino, talvez a questão do respeito a realidade do aluno seja um caminho a ser seguido pelo educador. . Talvez a educação escolar francesa do tipo “bancária”, tecnicista seja um aspecto forte e muito difícil, para que os professores possam descartá-la de sua prática pedagógica. Sabemos que, a instituição escolar está aparelhada de mecanismos sociais que viabilizam a reprodução da cultura oficial através do currículo escolar. Concordamos com Moreira (1994, p. 27 apud Bourdieu, 1979), quando enfatiza que, (...) a idéia de cultura é inseparável da de grupos e classes sociais. (...) a cultura é o terreno por excelência onde se dá a luta pela manutenção ou superação das divisões sociais. Assim, o currículo não é percebido “como um local de transmissão de uma cultura incontestada e unitária, mas como um campo em que se tentará impor tanto a definição particular de cultura da classe ou grupo dominante quanto o conteúdo dessa cultura. O que se confirma nesta instituição escolar alunos estrangeiros expostos a dupla opressão: primeiro a escola ignora a sua cultura, a sua realidade e impõe o seu padrão cultural. Na sala de aula, essa dupla opressão é sintetizada na figura do professor, mesmo sem agredir fisicamente fere a liberdade de expressão e o direito a sua cultura enquanto sentimento de pertencimento e de identidade. Entendemos o porquê de a escola ignorar a cultura do outro, tem haver com o autoritarismo característico nas sociedades capitalistas. Este fato é marcante tanto na escola francesa como na brasileira são aspectos comumente percebidos. Nesse sentido é notório as estratégias reprodutoras de cultura e a impossibilidade de transformação do conhecimento no cotidiano escolar representada no filme: “Entre os muros da escola”, pois nesta instituição educacional tudo ali é controlado e compreendido sem o enfrentamento e a crítica que promova mudanças em relação a qualidade do ensino. Até mesmo quando os alunos discordam de alguma coisa, é preciso que as reações sejam manifestadas de maneira disciplinada, caso contrário enfrentará as conseqüências de uma exclusão. Para Moreira, (1994, p.28-29), “o poder se manifesta em relações de poder, isto é, em relações sociais em que certos indivíduos ou grupos estão submetidos à vontade e ao arbítrio de outros”. Diante do exposto, entendemos a relação de poder vivenciada na escola por pais e alunos submetidos as decisões do diretor. Tais decisões não podem ser contestadas, por isso, a escola tem o poder de decidir expulsar o aluno indisciplinado. A família representada pela mãe, diante do Conselho Escolar não tem poder para enfrentar as imposições desta instituição. Mesmo não concordando com a intransigência ali estabelecida, não existe lugar para reclamações. A escola deixa claro o seu poder decisório. No que se refere às aproximações e distanciamentos ente a realidade francesa e a escola pública brasileira, podemos dizer que ambas tendem a reproduzirem a ideologia burguesa, haja vista que procuram responsabilizar os indivíduos pelos fracassos que são produzidos pelo próprio sistema capitalista. Contudo, a Sociologia da Educação tem-nos demonstrado que a função da escola é a reprodução da sociedade de classes, na qual vivemos. A educação em nossas escolas foi pensada pela e para a classe dominante, e é aplicada a todos os indivíduos, independentemente de sua classe social. Acontece que os alunos advindos das classes populares não conseguem se adaptarem a essa escola, que nada tem a ver com a sua realidade. Enfim, o filme retrata uma realidade que se aproxima da brasileira também porque ignoramos a importância da cultura de outros povos e muitas vezes as múltiplas realidades dos alunos que oferecemos os serviços educacionais. Enfim, o filme: “Entre os muros da escola” apresenta um modelo educacional excludente, burguês presente nas sociedades capitalistas. Para Bourdieu, a escola está longe de reduzir as desigualdades sociais, mas contribui para reproduzi-la. A cultura escolar não é neutra, mas particular, a da classe dominante, transformada em cultura legítima. No entanto, ela é arbitrária e de natureza social. Assim, a escola recebe a delegação, pelo grupo dominante de um poder de imposição, isto é, de poder impor conteúdos de acordo apenas com os interesses deste grupo. 3 Conclusões A escola apresentada do filme: “Entre os muros da Escola” cuja tendência educacional apresenta característica da tendência tecnicista privilegia o aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo. Seu interesse principal é produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças sociais. Essa escola vê o aluno como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações. Neste contexto, o currículo se apresenta como uma forma institucionalizada de transmissão dos elementos culturais nesta sociedade, constituindo um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes são fontes de matéria-prima de criação, recriação, bem como de contestação e transgressão estando também está atravessado por relações de poder. O conhecimento e a linguagem são representações e reflexo desta realidade que se fundamenta num modelo racionalista e humanista. O Currículo escolar visto “Entre os Muros da Escola” é inflexível, as aulas são exclusivamente expositivas, as atividades sempre individuais, o professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusivamente a escutá-lo, e também disciplinar. O ensino da linguagem se baseia na língua oficial do país e é por meio de imitação e formação de hábito e da repetição que o aluno vai formando seus “hábitos” e o uso correto da linguagem. O enfoque cultural dado aos processos de ensino e aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de extrema relevância, em particular no que se refere à maneira como se devem entender as relações entre educação e ensino-aprendizagem. A importância da relação interpessoal nesse processo, a relação entre cultura e educação e ao papel da ação educativa ajustada as situações de aprendizagem e as características da atividade mental construtiva do aluno em cada momento de sua escolaridade. Além disso, constatamos que a visão do professor em relação aos alunos está embasada na teoria tradicionalista do ensino. Por outro lado, consideramos que o papel da escola deva ser o de formar pessoas críticas através do ensino de conteúdos significativos, uma vez que é essencial para o êxito do processo, assim sendo, privilegiar uma metodologia de ensino baseada na exposição dos conhecimentos de forma oral e escrita reproduz apenas as práticas tradicionalistas já defasadas. Enfim, a educação escolar francesa tem como fator marcante a divisão social, apesar de sabermos que a sociedade está em constante acirramento de competição, assim, a instituição não favorece o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, por desconsiderar os valores do aluno e os conhecimentos já adquiridos, talvez estes aspectos possam atuar como fio condutor para o seu êxito escolar. REFERÊNCIAS MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: - Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, Direção: Laurent Cantet, baseado no livro de François Bégaudeau. França. 2007.

domingo, 22 de maio de 2011

MÃOS Á OBRA: DESCOBRINDO O MUNDO MÁGICO DA ARTE

PROJETO: “MÃOS À OBRA: DESCOBRINDO O MUNDO MÁGICO DA ARTE"
O presente artigo trata a respeito de uma experiência educacional vivenciada na Escola Municipal Dr. José Tavares, município de Campina Grande-PB, esta constitui-se em um processo que tem como objetivo educar, sensibilizar e estimular crianças, a respeito da importância de suas raízes culturais. O contato com a arte de Tarsila do Amaral oportuniza de forma lúdica compreender a cultura regional.
A produção artística, a pintura, a dobradura e outras técnicas ainda é vista como momentos sem grande importância, reforçando práticas educativas sem significados, é uma temática que ainda envolve muitos mitos ou tabus na educação. 
Por isso, no intuito de romper com esses tabus, desenvolveu-se em sala de aula uma prática comprometida com a educação destas crianças no sentido de promover novas metodologias possibiliteando desmistificar tais mitos.
Objetivo geral
Analisar a contribuição da produção artística como meio de reprodução da cultura e para educação de crianças das primeiras séries do ensino básico, mediante o contato com as obras regionalista de Tarsila do Amaral.    
 
Objetivos específicos

  Identificar a importância da re-leitura de obras artísticas na Educação de crianças da pré-escolar à básica.

Estimular através da re-leitura das obras de Tarsila do Amaral a produção artística de todos os alunos desta Instituição educacional.

O projeto se justifica mediante a necessidade das crianças em sala de aula adquirir conhecimentos novos sobre a cultura regionalista, a fim de minimizar a exclusão social dos alunos e contribuir para a educação destes como um todo. Educação Artística na escola é importante, haja vista a possibilidade de contribuir para o acesso de novos saberes de forma clara e objetiva sobre questões relevantes a um período da história brasileira contada através da arte.
Para o desenvolvimento do projeto utilizamos o método qualitativo de cunho descritivo-analítico. Realizamos pesquisas bibliográficas acerca do eixo temático. Além de buscarmos recursos materiais como: artigos e  pesquisas na Internet. Os estudos de: Arantes, (2004); Caldas (1998); Durval (2004); Hall (1997), dentre outros, foram significativos para elaboração do presente artigo. Com base nestes teóricos realizamos inicialmente uma análise acerca da contribuição da cultura regional na educação das crianças. Analisar a contribuição da produção artística como meio de reprodução da cultura e para educação de crianças das primeiras séries do ensino básico, mediante o contato com as obras regionalista de Tarsila do Amaral.    
 
Segundo Caldas (1988, p.11), no Brasil as mesmas formas de conduta e os padrões culturais mudam nitidamente de uma região para outra, embora formalmente haja unidade cultural determinada principalmente pela unicidade do idioma português e da religião (...). Há uma cultural regional (...) no nosso país, que bem caracteriza o estilo de vida do homem.
Para Caldas (1993, 14), uma cultura, é tamabém um grupo organizado de padr]ões culturais, normas, crenças, leis nataurais, convenções, entre outras coisas, em constante processo de tranformação. Assim, apesar da inter-relação cultura e sociedade ser muito estreita e ininterrupta de serem mesmo imprescinbdíveis uma à outra, temos de ter sempre em mente o seguinte aspecto: são duas coisas distintas que apresnetam dinâmicas diferntes.
Conforme Arantes (2004, p. 24-25), significação de valores são da essência da organização da cultura. É verdade que o empenho do homem está dirigido pára fins; mas esses fins são moldados pelos valores da cultura; e os valores são sentidos como intrísecos, não como meios. E os valores são variáveis e relativos, não predeterminados e eternos, embora certos univerais da biologia e da vida social humana pareçam ter gerado algumas constantes, ou quase constantes, que atravessam as diferenças culturais.
Albuquerque Júnior, (2004), considera que, o questionamento da região como uma identidade fixa passa pela crítica dessa História que participa desta cristalização identitária, passa pela retirada das fronteiras do campo historiográfico. O nacional e o regional não são referenciais pertinentes para fundar uma epistemologia. Uma história serial não pode se ater a estas divisões, visto que as séries históricas desconhecem estas fronteiras.
Para Hall, (1997, p.78) as identidades “globais”, uma vez colocadas acima do nível da cultura nacional começasm a deslocar e, algumas vezes, a apagar, as identidades nacionais. As identidades nacionais permanecem fortes, especialmente com respeito a cosias como direitora legais e de cidadania, mas as identidades locais, regionais e comunitárias têm se tornado mais importantes.
Concluiu-se que, 1. A CULTURA REGIONAL PERMITE obter uma visão consciente DOs PADrÕES DE COMPORTAMENTOS da sociedade, DOS VALORES E CRENÇAS DE UM POVO. 2. Os elementos da cultura regional São os aliados nessa empreitada educacional. Desta forma, há muito que fazer para que no decorrer dos próximos anos para que os indivíduos aprenda a valorizar cada vez mais a cultura local e regional.

O trabalho mediado pela cultura regional na escola, sobretudo se valendo do imaginário das obras de Tarsila do Amaral oportunizaram intervenções precisas, claras e objetivas para os alunos.
A diversidade cultural existente no Brasil contribuiu de forma significativa para os avanços no processo de ensino-aprendizagem

A EVOLUÇÃO DA ESCOLA RURAL NA PARAÍBA NA ERA VARGAS

RESUMO




Este estudo tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a Evolução da educação escolar e profissional em áreas rurais na Paraíba no contexto histórico do governo de Getúlio Vargas 1930/1950, partindo do princípio que o grande desafio é enfrentar o problema da instrução de qualidade para os indivíduos do campo. Nesse sentido, pode-se afirmar que o Brasil ainda não conseguiu universalizar direitos e enraizar a cidadania nas práticas sociais e educacionais. A instrução escolar constitui-se em um direito de poucos na vigente sociedade capitalista. Por conseguinte o analfabetismo é um problema que ao longo dos anos vem reproduzindo a exlusão escolar de uma parcela significativa da população brasileira. Para tanto, utilizamos a pesquisa bibliográfica segundo os estudiosos da temática. O que é possível concluir que a educação em áreas rurais no período estudado não obteve os resultados esperados apesar de constatarmos um crescimento no número de escolas construídas em todo Estado paraibano.
PALAVRAS-CHAVE: educação. evolução. rural.
















1 INTRODUÇÃO



O presente trabalho versa sobre a evolução da escola primária e profissionalizante no âmbito rural do Estado da Paraíba no período do Governo Getúlio Vargas (1930-1950). Para realização deste trabalho parti para a coleta dos dados da seguinte maneira: primeiro realizei visitas à Biblioteca Municipal de Campina Grande-PB, procurei pesquisar principalmente os arquivos referentes as obras raras, uma vez que esta temática não possui recursos bibliográficos locais amplos, também pesquisei no Museu Histórico de Campina Grande-PB busquei os arquivos de jornais e a “Voz da Borborema”, se destacava pela parceria política estabelecida entre os representantes do Jornal e do governo.
Nesses arquivos foi possivel digitalizar uma parte dos discursos políticos da época pesquisada. Consultamos ainda no Museu Histórico os livros de registros dos discursos oficiais dos políticos da Paraíba. Segundo: pesquisamos alguns exemplares voltados a temática na biblioteca da Universidade Federal de Campina Grande e da Universidade Estadual da Paraíba.
No intuito de darmos prosseguimento a pesquisa e dar embasamento teórico abordamos os estudos de Pinheiro (2002), e Scocuglia (2006), a fim de subsidiar este estudo. Podemos afirmar que o estudo é relevante no sentido de oportunizar recuperar a História da Educação no Estado paraibano, além de viabilizar à reflexão e o debate sobre as escolas do campo na Paraíba e como estas se apresentam na dinâmica das lutas pela implementação de um projeto educacional para as populações rurais visando o desenvolvimento econômico, político e social.
A educação escolar para o homem do campo é um process que vem se arrastando a longas datas. A falta de vontade política e a divergênias dos interesses internos e externos díficulta cada vez mais os avanços no que diz respeito a escolaridade no meio rural;. No entanto, podemos dizer que, no âmbito institucional a pesquisa viabiliza a percepção de que a escola no meio rural está sendo produzida numa dinâmica social, que é também um movimento sociocultural de humanização das pessoas que dele sobrevivem. No campo social este estudo é relevante porque diz respeito aos trabalhadores e trabalhadoras da terra que estão lutando para mudar o jeito da sociedade olhar para o campo e seus sujeitos.




2.1 Contexto histórico

Pensar a evolução da escola na Paraíba em áreas rurais significa buscar compreender as relações que são construídas a partir das práticas governamentais, uma vez que cada país mostra uma forma diferente de expansão de seu sistema público escolar, o qual se liga dentre outros aspectos ao tipo de “modernização” que cada Estado enquanto nação propôs para o sistema educacional dentro de precisas conjunturas históricas.
Estas relações precisam ser (re)conhecidas, uma vez que são “simultaneamente, o ponto de partida e o conteúdo real de novas alternativas tanto pedagógicas quanto políticas para a evolução da educação”. Diante delas, as prerrogativas do Estado podem ser assumidas ou não, podem ser recriadas ou, simplesmente, ignoradas. A realidade da escola no meio rural aparece sempre mediada pelas dificuldades dos sujeitos devido as suas atividade cotidiana.
As escolas existentes em lugares como vilas, fazendas, próximas a usinas distantes cerca de mais de uma hora das cidades mais próximas, revelam o descaso e o abandono das ações governamentais, explícitas nas precárias condições para o seu funcionamento. No entanto, isto nem sempre ocorreu como regra geral, porque em alguns lugares construíram prédios de boa estrutura física e organizacional, demonstrando um espaço de contradições gerado em muitos casos pelas relações políticas das pessoas dos lugarejos com os políticos. Nos lugares mais abandonados, significavam que apoiavam o candidato contrário ao “governo” e mantinha relações de conflitos com fazendeiros, usineiros, ou seja, os donos do poder e da posse das terras.
Na década de 1930 o Estado brasileiro passou por mudanças profundas na sua administração política da sociedade. Nesse período o projeto de industrialização do país e a crescente urbanização conseqüentemente exigia o acesso à escola em virtude da necessidade de qualificar os trabalhadores e assi obter-se melhor mão-de-obra, incluisive no meio rural..
O governo brasileiro pretendia superar a sua economia rural e agroexportadora, para isso era preciso implantar uma educação voltada para o homem do campo. Nesse sentido, foi necessário o Estado incentivar a educação para os trabalhadores rurais. Assim sendo, com o propósito de efetivar a educacão escolar na Paraíba foi construído um número significativo de escolas nas áreas rurais por todo Estado.
Assim, “as escolas rurais começam a ser criadas em meados da década de 1930, no contexto das políticas públicas implementadas pelo governo de Getúlio Vargas” (Cfr.SCOCUGLIA, 2006, p.134).
Os anos que seguem a década de 1930 são momentos históricos que fazem parte do processo de organização e evolução das escolas no meio rural na Paraíba, fazendo parte do movimento de interiorização do sistema escolar nacional preconizado e defendido pela elite política brasileira.
Neste contexto, a evolução das escolas na Paraíba neste período contribuiu para que os grupos escolares se tornassesm espaço para a difusão dos ideais escolanovistas em toda Paraíba. Não podemos esquecer que as propostas educacionais sofreram significativa influência dos Pioneiros da Escola Nova. A ampliação da oferta de educação escolar primária, o combate ao analfabestismo, a criação de um sistema de educação nacional eram temas centrais nos discursos da elite política, econômica e intelectual brasileira. Na Paraíba, um dos principais difusores dos ideais escolanovistas foi o professor José Batista de Mélo.
Essa década representou um momento de discussão dos ideais nacionalistas passando a ocupar um espaço relevante na política econômica e social. No transcorrer da difusão destes ideais o Estado se volta de modo particular para a educação escolar pública rural, haja vista que, o objetivo principal do governo Vargas a partir de 1931 era a formação do cidadão para engrandecer a Pátria. As questões nacionalistas faziam parte de todo um ideal político. O que servia para dominar, controlar e manipular a população barasileira.
Por isso, para alcançar os objetivos governamentais uma das soluções viáveis era priorizar a educação do campo. Um fator fundamental era a construção de um número maior de escolas. O que se constituiu aspecto importante para a reorganização do sistema educacional brasileiro e a consolidação dos ideais da ditadura.
Podemos destacar que a influência da imprensa serviu para formar a opinião pública paraibana e os interesses da ditadura de Getúlio Vargas. Assim em Campina Grande-PB através do Jornal “Voz da Borborema” - instrumento a serviço do governo Vargas, divulgava os discursos proferidos na Assembléia Legislativa principalmente do então governador Argemiro de Figueiredo em 1935 enfatizava em seus discursos a importância da educação para aos menos favorecidos do campo.
Cconforme afirmou na sessão ordinária que descrevemos abaixo:

“não se comprehendia, nestas alturas do seculo, que a Escola se circumscrevesse á exigua missão de ensinar a lêr, escrever e contar, mas que satisfizesse a todas as necessidades educacionais, formando integralmente as gerações novas, orientando-as para as actividades ruraes e technico-profissionaes. Assim fazia-se necessario uma reforma integral no ensino”.
(Cfr. Jornal VOZ DA BORBOREMA, 25/01/1938).

É notório que ele enquanto líder político do governo Vargas defendia a idéia de radicar-se o jovem no campo com o intuito de satisfazer os interesses elitistas. Para isso, era necessário a criação de escolas rurais. O discurso político enfatizava a importância do trabalhador rural obter preparo especial para desenvolver atividades relacionadas às condições do meio em que vivia de maneira intensa. Sendo assim, a escola deveria sobretudo abordar conhecimentos pertinentes a agricultura e a pecuária.
É possível afirmar que no período de 1930-1940 ocorreu o crescimento dos grupos escolares na Paraíba. Com a perspectiva de fixar os professores e atender a clientela rural foram criadas em 1946, as escolas rurais paraibanas, inaugurando nova forma de evolução da escola pública no estado. As primeiras unidades foram implantadas nos municípios de Sapé, Serraria e Maguari no agreste paraibano. A disseminação dos grupos escolares ocorrida neste período fez parte de um movimento gerador de profundas mudanças na organização escolar.
Por conseguinte, no que concerne à gestão da educação pública, esta foi feita mediante ações sintonizadas com as diretrizes do governo central. Inicialmente, podemos afirmar que na década de 1930 a oferta de escolas aumentou na área rural da Paraíba, ou seja, em áreas onde a base econômica era a agriculutura e pecuária.
Na realidade, o estabelecimento de escolas no meio rural visava sobretudo fixar o homem no campo, aliás seria responsável pelo melhoramento do habitat em que vive além da formação integralizada da população local.
Desse modo, as propostas de Getúlio Vargas em prol das escolas rurais e particularmente na Paraíba foram bem aceitas pelos gestores escolares já que estas mudanças eram desejadas desde final do século XIX. Vale ressaltar que o discurso político em relação a expansão dos grupos escolares no campo tinha como meta vencer o analfabetismo e consolidar uma noção de nacionalidade. Até porque o governo Vargas utilizava-se da aparência de bem feitor e protetor dos menos favorecidos para assim conquistar a simpatia das classes populares.
Assim,

(...) “o caráter elitista que tanto marcou a educação brasileira manteve: construiam-se grupos escolares bem planejados e aparelhados para atender às necessidades da classe média e da pequena burguesia (filhos de funcionários públicos, de profissionais liberais, de pequenos comerciantes e de grandes e médios proprietários de terras das cidades e do interior” (Cfr.SCOCUGLIA, 2006, p. 135)

Entretanto para a grande massa de trabalhadores os benefícios de uma educação de qualidade voltada para atender os interesses da população rural deixou muito a desejar, haja vista que não tinha estrutura física adequada. Para estas populações eram destinadas edificações de padrão arquitetônico inferior, por conseguinte, menos atraentes, menos confortáveis e desprovidas dos recursos didáticos-pedagógicos, de laboratórios, bibliotecas, museus de ciências, sala de educação artística, quadras de esporte, áreas de recreação etc, condizentes com uma educação moderna.
Contudo, mais do que equipar escolas era necessário também capacitar os profissionais e oferecer uma educação de acordo com as expectativas dessas populações, de forma contínua e permanente. No entanto, a educação no Brasil para os cidadãos das classes menos favorecidas não alcançou resultados favoráveis, haja vista que, os interesses elitista não estavam voltados para de fato atender as necessidades dos pobres que não tinham recursos econômicos no país.
A história da evolução da educação no campo destaca nas primeiras décadas do século XX, a intensificação dos movimentos migratórios entre campo e cidade consequentemente se evidencia o crescimento da população urbana. Isso fez com que tivessem início, as discussões mais efetivas em torno da Educação Rural no Brasil.


3 Reflexões sobre a evolução das escolas rurais na Paraíba (1930-1950).


Ao refletirmos sobre a Evolução da educação escolar e profissional em áreas rurais na Paraíba no período do governo de Getúlio Vargas e partindo do princípio de que o grande desafio é enfrentar o problema da instrução de qualidade para todos os indivíduos do campo. Não podemos esquecer que a educação escolar no Brasil tem suas raízes em um contexto de opressão e exclusão da elite sobre a maioria da população brasileira, sendo esta maioria, pessoas que vivem no e do campo e que, durante muitos anos a educação escolar serviu como uma expressão das formas de dominação dos menos favorecidos.
Entendemos que a questão da educação está ligada às condições econômicas dos cidadãos. No caso dos trabalhadores rurais o problema da instrução escolar vem sendo cada vez mais agravado; o que tem impossibilitado-os ao acesso a uma escolaridade de qualidade, haja vista que esta para os trabalhadores do campo na Paraíba não tem significado o meio desencadeador para transformação da realidade rural paraibana, entretanto, existe um contingente significativo de pessoas que tiveram suas vidas marcadas pelas exclusão escolar. Evidentemente a escola como instrumento do Estado ainda não conseguiu romper com o analfabetismo do país, deixando claro o fracasso governamental da oferta de educação no país.
É notório que não existe interesse em promover a educação de qualidade para todos, mas manter os privilégios e as regalias a uns poucos em detrimento de muitos homens e mulheres trabalhadores do campo.
O que impulsionou na década de 1930 a preocupação com os trabalhadores rurais foi o excedente populacional vindo do campo para os centros urbanos, onde se iniciava o processo de industrialização, em busca de oportunidades de trabalho. O importante era manter o homem do campo, no campo para evitar o inchaço populacional. A preocupação com o desenvolvimento sócio-econômico do país exigia a instrução de trabalhadores para servir ao processo industrial excedente do país.
Sendo assim, o governo pressionado pelo intenso movimento migratório interno, o aumento da miséria no campo e na cidade, o movimento dos pioneiros da educação, a pressão dos setores urbanos da população por escola, o interesse do empresariado para que tivesse uma capacitação da força de trabalho dos migrantes rurais ou estrangeiros, teve início uma série de iniciativas dentre as quais, as campanhas educativas nacionais, a educação de adultos, as missões rurais, os programas radiofônicos, a implementação da extensão rural em todo país. Assim, em meio a tantos conflitos sociais durante todo o Estado Novo, período de 1930/1945, foi implementado a escolarização rural tendo como base o desenvolvimento industrial.
Na Paraíba a educação escolar na Era Vargas foi o meio para atender aos interesses da classe dominante, e só a ela coube traçar os objetivos para a educação que deveriam ter acesso os povos do campo.
No entanto, a criação da Sociedade Brasileira de Educação Rural em 1937 e em 1942 o VIII Congresso Brasileiro de Educação, não foram suficientes para desencadear nenhum fator significativo à construção de uma educação pensada a partir das necessidades dos povos do campo, e diante daquele contexto seria até utópico esperar tal fato, o que tínhamos e se refletiu até algumas décadas foi uma concepção de educação preocupada com a elite.
Para a educação rural não restou grandes benefícios advindos das políticas públicas para a educação escolar voltadas às pessoas do campo. A elite não considerava a importância da educação escolar para as pessoas que trabalhavam no campo, por considerar que de nada lhes adiantavam aprender a ler e a escrever se estas pessoas estavam fadadas a permanecerem sem direito a cidadania, estrangeiros em sua própria terra.
Enfim, os homens e mulheres do campo ficaram a mercê da própria sorte. O discurso vigente era manter as populações conformadas sem reinvindicar o direito a Educação escolar. Assim a Educação Rural teve por meta capacitar o homem do campo a fim de atender as novas exigências do setor agrícola. A instrução para o homem do campo não visava a promoção deste cidadão, mas mantê-lo na terra assistidos por programas educacionais pronto e acabado sem nenhuma expectativa de mudanças da realidade dos indivíduos rurais, uma vez que esses sujeitos possuem competência para adquirir não apenas conhecimentos restrito as atividades rurais, mas podem e devem ter o direito à aquisição de novos saberes diferenciados que atendam a uma maior gama de expectativas destes indivíduos. Não se delimitando a conhecimentos escassos, substimando a capacidade e os sonhos de realização desses que ali vivem do e no campo.

3.1.Aspectos da evolução da educação rural paraibana

A História da Paraíba reconhece a Era vargas como o marco da modernidade, haja vista que alavancou o processo de desenvolvimento da industrialização e urbanização. Além disso, os fatos históricos como: a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932 (movimento cujo objetivo visava obter de volta o poder da elite paulista, seguimento da Primeira República) E o Estado Novo, em 1937 repercutiram no país mudando os rumos da sociedade brasileira.
Durante todo esse século XX, a educação rural passa a ser considerada em diferentes perspectivas nos documentos oficiais, entre os quais se destacam a Constituição Federal de 1934; a Constituição Federal de 1937; o Decreto n° 9.613, Lei Orgânica do Ensino Agrícola / 1946; a Constituição Federal de 1946; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 4024, de 1961; a Constituição Federal de 1967; a Lei de Diretrizes para o Ensino de 1º e 2º Graus 5692, de 1971; a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394, de 1996.
Apesar da efetiva legislação vigente no país em prol da educação da população que vive e trabalha no campo, esta não recebeu a devida atenção, tanto no âmbito das políticas públicas federais quanto estaduais. A partir do final dos anos 90 é que as discussões a respeito da Educação do Campo tomam força, especialmente marcadas pela realização dos seguintes eventos: I ENERA (I Encontro Nacional das Educadoras e Educadores da Reforma Agrária -1997) e a I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo (1998). Esse é o momento em que se sinaliza uma mudança conceitual, de Educação Rural para Educação do Campo.
A exclusão escolar no período de Getúlio Vargas foi fato evidente em nosso país principalmente para aqueles despossuídos e advindos das classes de baixo, resultando em um alto índice de analfabetismo que ainda está presente em todo o Brasil. E no meio rural ele é ainda maior, reduzindo as oportunidades de melhoria de vida da população.
Em relação as instituições profissionalizantes como: o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) atualmente busca promover o trabalhador por meio da alfabetização de jovens e adultos, com estratégias de ensino baseadas no educando e seu meio, haja vista que, alfabetizado, o indivíduo passa a interpretar a sua realidade, interagir com a sociedade e melhorar suas chances sócio-econômicas.
Essas ações desenvolvidas pelo SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) - inclui também à Formação Profissional Rural e as atividades de Promoção Social voltadas para o "Homem Rural", contribuindo para sua profissionalização, integração na sociedade, estimulando a permanência do homem no campo, despertando o seu interesse e incentivando-o a produzir mais, em nome de uma pseudo cidadania.
O SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - enquanto instituição destinada a oferecer cursos de ordem profissional teve como eixo norteador e objetivo principal organizar, administrar e executar, em todo território nacional, a Formação Profissionalizante no âmbito Rural e a Promoção Social de jovens e adultos, homens e mulheres que exerciam e ainda exercem atividades no meio rural. Enfim, o discurso estabelecido era o de incentivar o desenvolvimento de aptidões pessoais e sociais do trabalhador rural e de sua família, numa perspectiva de maior qualidade de vida, consciência crítica e participação na vida da comunidade.
Entretanto, os cursos profissionalizantes não conseguiram alcançar mudanças no sentido de minimizar a discriminação contra o homem do campo. Podemos afirmar que, apesar de reconhecido constitucionalmente, o direito à educação, na Paraíba da Era Vargas não representou imediatamante em resultados favoráveis para a maioria dos paraibanos. Por isso, persistiram nos governos posteirores as profundas desigualdades no campo educacional, uma vez que excluiu um número considerável n meio rural o que impediu o desenvolvimento e o acesso a escolaridade de crianças, jovens e adultos, principalmente do meio rural. Esperamos que essa realidade consiga ser mudada.

3.1.1 A capacitação dos indivídusos nas instituições de curso profissional: SENAI, SENAC, SENAR e SENAT

No governo de Getúlio Vargas a profissionalização se destacou tanto no campo como na cidade, entretanto os resultados nãos foram significativos para ambos. Mesmo tendo por objetivo refletirmos acerca da educação no campo se torna indissociável a história da edcuação do campo e da cidade.
Por isso, faz necessário dizer que, no meio urbano foi instituído na década de 1940 o sistema de financiamento para a preparação de profissionais necessário à indústria e ao comércio através de uma contribuição compulsória das empresas sobre a folha de pagamento. Inicialmente, foram criados dois sistemas nacionais de formação profissional, a saber: SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e SENAC, (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), os quais foram considerados centros de excelência para a qualificação profissional e posteriormente surgirama o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e o SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem de Transportes).
No entanto, durante o período em que se estruturou o sistema de formação para o trabalho, o Brasil não investiu de forma efetiva na educação do ensino fundamental e básico.Entretanto, a elite frequentava a escola privada reproduzindo e aprofundando no campo educacional as desigualdades sociais.
As escolas técnicas, os Centros de Educação tecnológica e os centros de treinamento especializados, as universidades e as instituições como: SENAI, SENAC, SENAR e SENAT, são exemplos da prática de formação profissional no Brasil.
Por sua vez, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, instituição de educação profissional objetivava a execução em nível nacional de duas vertentes de trabalho sendo elas: a Formação Profissional Rural e a Promoçãoa Social de Trabalhadores e pequenos proprietários rurais. Além disso, desenvolveu e desenvolve uma educação não-formal, no intuito de atender às necessidades da comunidade rural.
Na realidade, a ideologia elitista tinha como principal objetivo preservar o equilíbrio econômico e o desenvolvimento do país. Já no campo da educação o interesse estava voltado à necessidade de atualizar o conhecimento científico e técnico oferecidos nos diferentes níveis de ensino, acrescente-se ainda que, o ensino profissional foi um dos projetos educacionais empreendidos pela ditadura. A educação tecnicista, utilitarista e discriminadora inserida nesse contexto visava preparar o homem para o mercado de trabalho, entretanto, a escola não garantia a ascensão social.

4. Considerações finais

Este trabalho foi de suma importância para mim, um desafio refletir sobre a educação por ser uma questão polêmica e com tantas contradições e injustiças realizadas contra aqueles que vivem do campo e no campo. Não podemos esquecer que o Brasil é um país essencialmente agrícola. Em sua maioria a economia depende da produção rural. E porque tantos demandos e descasos contra os principais atores da história do Brasil? Ao longo de minhas pesquisas foram muitas as angústias, as dúvidas no que escrever sobre uma temática que está tão perto e ao mesmo tempo tão distante de nossa compreensão. Compreender as injustiças sociais é algo complexo.
Aceitar ainda se torna mais constrangedor. Mas o que fazer? Como acabar com tantas injustiças e desigualdades sociais? No caso dos paraibanos continuamos sofrendo com as disparidades governamentais, com a falta de uma educação continuada de qualidade, para os profissionais em educação. Ou até mesmo a falta de condições para obter-se uma mínima formação superior. Constantamos no meio rural profissionais sem capacidade para o exercício profissional. O que podemos fazer? Quem são os culpados:? A história revela a falta de uma vontade política que resolva os problemas da educação. Na realidade quem são os verdadeiros culpados?
Este trabalho não tem a pretensão de responder tais perguntas, mas possibilitou-me compreender que não se deve acreditar que apenas debater sobre a escola pública rural pode proporcionar mudanças imediatas. Muitas escolas do campo estão sem perspectivas para o futuro próximo, com o povo sem horizontes e buscando sair dele por não viabilizar a expansão da escolarização para todas as pessoas que ali vivem. A natureza de um futuro melhor para o direito à educação de qualidade dos cidadãos do campo em particular não pode ser pensada doutrinariamente, mas no processo histórico.
Contudo aprendemos a pensar no caráter histórico de nosso ofício de professor. A importância de ser professora. O olhar sobre o passado impõe a tarefa de pensar, baseados na educação, dos anos da ditadura 1930-1950 e o que queremos para não cairmos no erro das exclusões e na precariedade do passado e nas que se anunciam no presente. Conforme Paulo Freire nos disse em suas reflexões sobre a pedagogia do oprimido: a escola não transforma a realidade mas pode ajudar a formar os sujeitos capazes de fazer a transformação, da sociedade, do mundo, de si mesmos. Se não conseguirmos envolver a escola no movimento de transformação do campo, ele certamente será incompleto, porque indicará que muitas pessoas ficaram fora dele.
Espero que mesmo que de forma pequena este trabalho possa contribuir para refletirmos sobre a importância da expansão das escolas públicas em áreas rurais. Sabendo que os graves problemas da instrução pública sempre estiveram relacionadas a questão das estruturas econômicas e sociais dos indivíduos. Uma grande massa de pessoas ficaram privadas da escola em virtude da falta de vontade política, por parte dos grupos dominantes, resíduo de um país escravista e dos governos ditatoriais.
Desse modo, esse estudo pode ainda provocar a sensibilidade dos futuros profissionais em educação, no sentido de os mesmos perceberem que a educação no Brasil para os menos favorecidas não têm alcançado resultados favoráveis, haja vista que, as questões socioeconômicas da maioria dos jovens não permitem alcançar patamares mais elevados na escalada da escolaridade.
Portanto, este trabalho servirá de “pontapé” para no futuro podermos escavarmos os vestígios dos impactos sociais que a falta de condições econômicas e de escolaridade nas áreas rurais causaram e ainda estão causando na Paraíba da década de 1930/1950 ao momento atual. Mesmo sendo lacunosa a história da educação paraibana, ela está ainda em construção principalmente no meio rural o que demanda estudo específico e cuidadoso, por isso considero interessante continuarmos os estudos sobre a evolução da escola do campo na época da ditadura e pós-ditadura.

5. Referências


BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB n° 36/2001. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo.Brasília: MEC/CNE, 2003.

CALAZANS, M. J. C. Para Entender a Educação do Estado no Meio Rural: traços de uma trajetória, 2005. Disponível em: http://www.tvbrasil.com.br/salto. Acesso em: dez. 2007.

JORNAL VOZ DA BORBOREMA: “A instrucção e o governo do sr. Argemiro de Figueiredo” Campina Grande-PB, 25.01.1938.

PILETTI, Nelson História da Educação no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1990.

PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira Da Era das Cadeiras Isoladas à Era dos Grupos Escolares na Paraíba. Campinas–SP. Autores Associados, São Paulo: Universidade São Francisco, 2002, - (Coleção educação contemporânea).

SCOCUGLIA, Afonso Celso Pesquisa e Historiografia da Educação Brasileira (org) In: A Era da Escolas Rurais Primárias na Paraíba (1935 a 1960). Campinas: São Paulo. Autores Associados, 2006. – (Coleção Memória da Educação).

XAVIER, Maria Elizabete História da Educação.São Paulo: FTD. 1994. (Coleção Aprender & Ensinar).

domingo, 1 de agosto de 2010

LUGARES DE MEMÓRIA EM CAMPINA GRANDE-PB

CAMINHADAS PELA HISTÓRIA DE CAMPÍNA GRANDE-PB


Pensar a História de Campina Grande-PB especificamente no início do século XX nos leva a refletir sobre alguns marcos históricos. Consideramos que ao longo dos anos os autores de nossa história campinense foram deixando pelas ruas, cabarés, bares e cafés as marcas de um passado significativo para as gerações posteriores.
Inicialmente enfatizamos a chegada do trem em Campina grande no dia 02 de outubro de 1907 a exato 101anos depois ainda fascina e encanta, ao mesmo tempo em que povoa o imaginário das pessoas. É a impressão que se tem ao observar o espaço da estação velha com seus objetos e iconografias que denunciam de que história, de que lugar se quer falar.
Percebemos que é possível identificar este como lugar de memória. No texto que a guia do museu transcorre fala dos principais personagens da cidade de Campina Grande. Dos responsáveis pelo período de maior desenvolvimento e progresso do município. “A era do ouro branco”. Aqui destacam-se: O mocinho o herói, “Cristiano Lauritzen” e o seu cavalo de ferro o “Trem”.





ESTAÇÃO VELHA – ATUAL MUSEU DO ALGODÃO



E A HISTÓRIA CONTINUA...



Cristiano Lauritzen comerciante de jóias, gringo, Dinamarquês, forasteiro chegou em Campina em 1880 e casou-se com a filha de Alexandrino Cavalcanti, pessoa muito importante da cidade. Coronel que pertencia a burguesia rural ( liberais, fazendeiros, descendentes das famílias antigas). Dessa maneira fixou-se em Campina e apesar de ser um Forasteiro que para Epaminondas Câmara pertencia á burguesia Urbana conseguiu ser prefeito de Campina Grande. Foi prefeito vitalício por quase vinte anos. Deixou o cargo apenas após a morte. Nessa época as eleições não eram diretas. O prefeito era escolhido por indicação.
O casamento com a filha de uma pessoa da elite burguesa rural rendeu-lhe mais posse do que ouros e diamantes.
Em 1904 viajou a capital do Brasil que na época era a cidade do Rio de Janeiro para reivindicar a construção da linha de ferro.

“ Sr. Ministro, v. exc. Não se envergonha, como paulista e como brasileiro, que um estrangeiro, conquanto brasileiro naturalizado, venha de tão longe, do fundo de um logarejo perdido nos sertões do Brasil advogar perante o governo do país a realização dum beneficio de utilidade geral, com sacrifício das suas economias de pequeno comerciante, e ainda tenha o desprazer de arrostar com o desdém manifesto de um órgão do poder público?”

Três anos depois em 1907 o trem chegava pela primeira vez em Campina Grande. O povo aguardava esse tão almejado dia, um sonho que se tornou realidade. Foi um marco muito importante o dia 02 de outubro de 1907 o dia da chegada do trem. Esse marco é indicado como sendo o responsável pelo apogeu econômico de Campina Grande que já era favorecida por sua localização geográfica que fica no entreposto entre o litoral e o sertão.
Antes da chegada do trem o algodão produzido na região era transportado pelos Tropeiros. Os tão conhecidos Tropeiros da Borborema. Que levavam suas tropas de burros até a cidade de Itabaiana para de lá pegar o trem e transportar o algodão para o porto de Cabedelo. Com a chegada do trem não havia mais a necessidade de deslocamento. Essa facilidade atraiu para cidade agricultores de varias localidades para comercializar o algodão. Os comerciantes locais compravam o algodão descaroçavam, prensavam e guardavam o produto em armazém para aguardar o trem que transportava o algodão para o porto de cabedelo e de lá seguia para Europa e Estados unidos.
Esse fato coloca a chegada do trem como o que lançou Campina para o progresso e desenvolvimento á nível internacional. A partir daí muita coisa vai acontecer. Pois a velocidade do trem trouxe o intercambio rápido. Falam-se que muitos ficaram ricos com a industria do algodão.
A chegada do trem foi um momento festivo para o povo. Parecia até feriado nacional e a cidade parava para assistir esse espetáculo que a modernidade permitia.

“A alegria pública assumiu um caráter como nunca se notara em Campina. O comércio cerrou as suas portas. Estalavam foguetes no ar. A Banda Marcial União atroou as ruas com os seus dobrados retumbantes. A cidade encheu-se do povo. Um dos oradores entusiastas, em frente ao palacete de Cristiano Lauritzen, atulhado de gente, perorava: “A estrada de ferro é uma realidade em Campina, senhores”.


O trem tanto levava mercadoria como também trazia. Gerou riqueza e nesse inicio de século XX o algodão agora é o “ouro branco” que impulsionou o desenvolvimento da industria especializada no produto a exemplo da SAMBRA que não só beneficiava o algodão como aproveitava a semente na fabricação de óleo. Até 1970 a SAMBRA dominou o podium de maior industria algodoeira da América Latina. Essa série de fatores contribuíram para colocar Campina como uma das praças de Algodão mais importante do “mundo”. Chegando a competir com Liverpol na Inglaterra. Campina ganha agora o apelido de a Liverpol brasileira. É a “Era do ouro branco”.
Nessa época, Além de investimentos econômicos a cidade atrai também pessoas em busca de investir em relacionamentos conjugais. Que não deixa de ser econômicos também. A exemplo do próprio Cristiano Lauritzen que adotou a Paraíba como mãe e investiu aqui principalmente seus espermatozóides. Unidos trem e algodão atraíram para Campina Grande “Grandes” investimentos que implicavam muito além do interesse no “ouro branco”. O matrimonio com filhos e filhas de coronéis, da burguesia rural tornou-se cobiça de muitos forasteiros. Assim era também uma moeda de ouro.
Surgia uma nova elite, a burguesia urbana que comercializava e transitava nas ruas da cidade. Criou-se então a necessidade de uma vida boemia e noturna para atender essa clientela, de novos ricos. Nasce uma outra industria. Aquela que o produto é o corpo e o lucro é o prazer. O comércio dos desejos tinha o nome de Cassino Eldorado. Um local bem freqüentado. Por homens de dinheiro e estrangeiros. O trem trazia também produtos de desejos como mulheres, comcubinas, dançarinas e vedetes de luxo do Rio de Janeiro que vinham abrilhantar as noites no Cassino ElDorado. Relatos confirmam que até Nelson Gonçalves chegou de trem em Campina para se apresentar no Eldorado. O cassino Eldorado esteve no auge até quando durou o ciclo do algodão e quando o trem ainda era sinônimo de euforia e modernidade. Entrando em declínio logo em seguida.
Nas primeiras décadas do século XX os metais preciosos oscilavam em Campina Grande entre; “O ouro branco”, “A estrada de ferro” e o “Cassino Eldorado”.
Então para os memorialistas de plantão é impossível falar da história de Campina Grande sem citar essa fase de glamour e encantamento. Tem-se a impressão que foi gerado nesse período o embrião que lança o marketing “Campina Grande, Grande cidade”. Uma das maiores praças de algodão do “mundo”. Cidade do interior desenvolvida e reconhecida internacionalmente. O trem que trouxe a “modernidade” e o algodão esse “Ouro branco” que beneficiado pela construção da linha de ferro trouxe riqueza e muita gente importante para cidade.
O prédio da Estação Velha construído pela empresa inglesa G.W.B.R conserva sua estrutura original. A última vez que o trem parou na Estação Velha foi em fevereiro de 1961 quando foi inaugurada a Estação Nova que funcionou como trem de passageiros até 1978. A estação velha ficou totalmente desativada por muitos anos. Em 2001 passou a abrigar o Museu do Algodão.
O discurso reproduzido ao longo do tempo enfatiza bem a importância do trem e de como foi essencial para o desenvolvimento de Campina e da industria. Porém Campina não se tornou um pólo algodoeiro só e simplesmente depois da chegada do trem. O algodão já era um comercio importante bem antes da chegada do trem. Apenas a linha de ferro veio a facilitar o transporte.
No entanto a placa em homenagem ao centenário da chegada do trem, atualiza cem anos depois todos os sentimentos contidos nos discursos. É a visão de que Lauritzen esta intrísicamente ligado a história do trem. Coloca-se o trem como um sonho do Cristiano Lauritzen e conseqüentemente como um sonho geral da população de Campina Grande e que ninguém estava contra a construção da linha de ferro que todos apoiavam. Segundo as fontes, todos apoiando seria basicamente as elites econômicas e políticos. A população pobre aparece apenas como espectador que assistiu bestializado esse filme.



PRAÇA VERGNIAUD WANDERLEY

O açude “Velho” considerado como instrumento proliferador das doenças na cidade de acordo com Hotênsio de Souza Ribeiro. Entretanto, o monumento em homenagem a Vegrniaud Wanderley foi colocado de maneira estratégica contra uma determinada memória que ainda tem na imagem de Vergniaud Wanderley como sendo um grande destruidor que cometeu na cidade várias atrocidades á uma determinada memória a uma memória de elite. Uma memória das famílias tradicionais da cidade.
Contudo, a imagem do prefeito do “bota abaixo” fica escondida aos olhos da população Campinense passando despercebida por quase todos. A estátua Foi estendida ironicamente perante uma igreja como um castigo, ( Sendo ele ateu convicto e declarado) e colocada de costas para o charco de imundices do maior banheiro publico de Campina Grande que é o açude velho.


PRAÇA ANTONIO PESSOA

É notA estátua em homenagem ao Presidente João Pessoa foi transferida da área central da cidade durante a reforma do prefeito Vergniaud Wanderley causando o descontentamento de toda a população. Essa transferência provocou a ira pessoas como Cristino Pimentel que criticou a atitude do prefeito considerando o deslocamento do monumento como sendo um afronto a memória Campinense. Pois a imagem retirada de um lugar visível aos olhares de todos e foi levada para uma localidade muito distante. Na época a praça Antonio pessoa era pouco habitada e passava longe do centro.
Cristino Pimentel acusou Vergniaud Wanderley de tentar destruir a boa imagem política de João Pessoa como bom e grande representante de atividades publicas. Sua figura foi de supremo significado para a Paraíba. Principalmente após a sua morte.







RUA DA POROROCA


A rua da Pororoca ficou conhecida pela noites de fanfarrs e alegria que os boêmios em Campina Grande se deleitavam. Rua também onde residiu Maria Garrafada, “Prostituta de Campina Grande” local e ponto de encontros amorosos daqueles que se serviam dos encantos e habilidade da professora do sexo.

“Maria Garrafada virou tradição. Tem relevantes serviços prestados a várias gerações campinenses, incorporando-se, com muita justiça, ao patrimônio histórico-sentimental da cidade. Virou símbolo. É a prostituta de Campina Grande”.

Na rua da pororoca ou beco da pororoca, foi possível identificar uma das raras placas que trás o nome atual e indica o nome antigo da rua.

PRAÇA DA BANDEIRA

A inauguração do prédio dos correios foi o pretexto para a realização do comício e das festas que contavam com a presença de Argemiro de Figueiredo e Renato Pereira Lira. O evento provocou rivalidades entre os partidos. Uma parte da população apoiava José Américo e repudiava principalmente Pereira Lira. A outra parcela era fanática por Argemiro de Figueiredo. Por motivo de protesto ocorreram graves conflitos na praça da bandeira que culminou na morte de três pessoas e mais de 15 feridos. O fatídico 09 de julho ocorreu em 1950.
Ainda se destaca o COLÉGIO “ALFREDO DANTAS” , também é um local de memória em Campina Grande-PB, haja vista que, foi o prédio onde funcionou no passado o instituto de doenças venéreas coordenado pelo Dr. Arlindo Correia. O instituto aparece como ponto de referencia pedagógica nas primeiras décadas do século XX.

PRAÇA JOÃO RIQUE



Praça João Rique com monumento em homenagem a Nilton Rique. Local onde justamente ficava instalada a estatua de João Pessoa antes de ser deslocada na reforma urbana de Vergniaud Wanderley para os confins da praça Antonio Pessoa. Nessas extremidades funcionava também o comércio do algodão. Conhecido como praça do algodão e pavilhão Epitácio Pessoa.








RUA VENÂNCIO NEIVA MACIEL PINHEIRO

É importante para o historiador saber olhar para além do meramente mais visível. É preciso olhar para cima dos prédios que por vezes passam despercebidos em meio a poluição visual e a transeuntes apressados pela vida moderna desinteressados em perceber o visível e o sensível.
As ruas Venâncio Neiva e Maciel Pinheiro guardam a maior estrutura de Arte Décor do Nordeste e para descobrir essa arte impressa na paisagem da arquitetura faz-se necessário olhar para cima. Ao olhar além do visível, além do que estar a frente se descobre uma outra cidade que aparece cega ao menos desatentos.
A Arte Décor é caracterizada por figuras geométricas, quadrados e retângulos. Essa estrutura arquitetônica foi bastante utilizada na reforma urbana. Na época ainda nõa existia sobrados em Campina, E esse tipo de construção recuava as edificações beneficiando o alargamento das ruas.







Rua onde fica localizado o sobrado do coronel Alexandrino Cavalcanti herdado por Cristiano Lauritzen com a chegada a família Cavalcanti. Em seguida passa a ser do filho Ernani Lauritzen ficando em posse da família até a década de 40 do século XX. O sobrado que ainda existe foi encoberto pela construção da livraria pedrosa que hoje não existe mais atualmente o espaço é ocupado por uma loja de artigos femininos.
O objetivo seria mesmo por questões políticas. Encobrir o passado para não ter que relembrar os antigos senhores da política Campinense. Então se construiu um prédio para tapar a visão. Foi nesse casarão dos Lauritzen que se hospedou Argemiro de Figueiredo e os demais políticos da UDN no famoso episodio do massacre da praça da Bandeira em 1950.
Foi também no beco 31 conhecido na época como pavilhão ou complexo Epitácio Pessoa que funcionou o Jornal Correio de Campi de posse do Cristiano Lauritzen onde Cristino Pimentel começou a trabalhar na área jornalística.
A partir de 1928 com o jornal Correio já destituído no prédio passa a funcionar a tão famosa A Fruteira local de trabalho de Cristino Pimentel. Local para onde afluíam os letrados que iam debater questões da cidade onde acabavam aglutinados. O estabelecimento não vendia apenas fruta, era bem freqüentado por intelectuais que trocavam idéias. A fruteira foi o escritório de Cristino Pimentel. A faculdade onde fez seu Bacharelado e concluiu seu doutorado sem nunca ter freqüentado uma escola.

BUNINAS


Foi construído nas Buninas o primeiro cemitério da cidade em 1856, devido a uma epidemia de cólera. Porém já no final da década de 90 do século dezenove o cemitério se encontrava lotado e não comportava mais nenhum morto.
No final do século XIX foi construído o novo cemitério que ficava um pouco mais afastado do centro. O cemitério do “Monte Santo”. Na ocasião da transferência dos restos mortais o processo foi feito de maneira indistinta sem cuidados e sem respeitar as identidades dos mortos.
Esse fato levou Elpidio de Almeida a comentar no livro História de Campina Grande o seguinte: “Enquanto lá no Oriente a tumba de Raquel esposa de Jacó era muito bem identificada apesar de ter morrido á anos e anos atrás. As pessoas de Campina não sabiam localizar onde estavam enterrado seus antepassados. Sendo assim um povo desprovido de almas e memórias.

RUA MACIEL PINHEIRO LOCAL ONDE FELIX ARAÚJO ENCONTROU O SEU DESTINO

ANTIGA CÂMARA MUNICIPAL

Em 1953 Felix Araújo desceu do prédio onde localizava-se a câmara municipal e foi abordado e alvejado por João Madeira. Foi socorrido para o hospital Pedro I não resistiu e faleceu em seguida.
João Madeira buscou refugio na casa de Plínio Lemos e foi preso. Plínio lemos foi acusado de autor intelectual do crime.
Ainda na Maciel Pinheiro, no número 142 funcionava o jornal A Batalha do jornalista Arlindo Correia.


RUA FLORIANO PEIXOTO ANTIGA RUA DA MATRIZ


De acordo com algumas fontes o povoado de Campina Grande teria seu marco nesse local. Nas proximidades surgiu a primeira rua que foi a Vila Nova da Rainha. A rua Afonso Campos era chamada na época de rua do meio porque ficava entre as duas primeiras ruas da cidade de Campina.
Até a década de 30 do século XX funcionava ao lado da Igreja Catedral o Paço Municipal. O prédio foi destruído durante a reforma urbana de Vergniaud Wanderley. O motivo maior do bota abaixo se devia ao fato de que naquelas instalações funcionavam as atividades do Estado e não ficava bem o prédio ao lado da Igreja pois ostentaria a supremacia do poder Religioso sobre o poder estatal.
Na leitura de Severino Cabral a demolição representou um aviso uma maneira de amedrontar o poder religioso. Passando a mensagem de que se derrubou um prédio tão perto da Igreja provavelmente ela poderia ser a próxima vitima.
Em frente a Igreja Catedral se avista o antigo Telegrafo Nacional que posteriormente ocupa a cadeia municipal onde ficou preso Frei Caneca. Hoje atual museu Histórico de Campina Grande. Ao lado do museu fica o famoso “Beco da merda” um dos únicos locais que escapou da reforma de Vergniaud Wanderley para desespero da elite Campinense. Por ironia do destino o prefeito do bota abaixo demoliu palacetes e monumentos da memória campinense deixando intacto o beco da imundice onde as pessoas na calada da noite e até mesmo do dia iam defecar e aliviar suas necessidades fisiológicas. Um local mal cheiroso que servia de latrina para a população.

Antigo El Dourado


RUÍNAS DO CASSINO ELDORADO



Rua Manoel Pereira de Araújo, a conhecida “Rua Boa” dos tempos idos. Recebeu esse nome justamente pela honra de ter em seu espaço o Cassino Eldorado e no segmento da rua vários cabarés. Foi uma rua que tinha um comércio diferente, o comércio de “Mulheres” que vendiam o corpo. Atualmente funciona na rua um comércio de galinhas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A História de Campina Grande-PB não está registrada apenas na literatura mas também nas vivências de suas ruas históricas; esconde um passado de lutas e vitórias políticas. Um estrado cultural que nomeia vultos importantissimos desta cidade.

REFERENCIAS
ARANHA , Gervasio B. “Seduções do moderno na Parahyba do Norte: Trem de ferro, luz elétrica e outras conquistas materiais e simbólicas.
DINÓA, Ronaldo . “zefa tributino” et “Maria Garrafada In: Memórias de Campina Grande.
PIMENTEL Cristino. Mais um mergulho na história Campinense.
SYLVESTRE, Josué. “O fatídico 9 de julho” et “O desassombro de um idealista” et”Os bilhetes do colega Félix e os registros da poesia popular sobre sua morte. In; Lutas de Vida e de morte: Fatos e personagens da história de Campina Grande (1945-1953).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

– UM OLHAR SOBRE A MISCIGENAÇÃO E

A SEXUALIDADE NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA.




A perspectiva de Gilberto Freyre1 frente a temática da sexualidade em processo de miscigenação, em um momento histórico no Brasil nos leva a refletir as relações entre os europeus e uma negra, um europeu e uma índia, constituía-se assim uma nova população.As misturas estabelecidas de um mulato com uma branca produzindo outras cores que se aproximarão do branco, ou do negro, na proporção da progressão parece declarada a miscigenação no Brasil. Dessa forma, esta classe de habitantes, cuja constituição é muito robusta, a que executava todas as artes mecânicas e todas as ocupações da sociedade que requerem atividades e que em geral as pessoas das classes superiores jamais iria desempenhá-la seja por vaidade ou talvez por outra causa.
Sendo assim, os negros são vistos nesse momento como uma raça ou sub-raça salientando ódios que separavam essas classes sociais ou subclasses, uma das outras. Na realidade, a população se divide em duas partes: pessoas livres e pessoas escravas que decerto não apresentavam afinidades.
Lamentavelmente não ocorreu no Brasil um fenômeno que evidenciasse uma homogeneidade e encontrasse condições de uma perfeita igualdade. Entretanto, estabeleceu-se relações opostas e inimigas entre negros livres, mulatos livres, brancos natos e brancos adotivos, sem contar os índios por eles considerados uma raça à parte. Assim, eram todos rivais um dos outros na proporção de suas respectivas classes. Os mulatos não aceitavam quando livres a autoridade de um branco e defendia direitos iguais, uma vez nascidos no mesmo solo.
Dessa negação que nunca foi sistemática no Brasil, dos direitos a pardos ou mulatos livres resultaram aqui agitações de sentido social, disfarçado às vezes em político. Os aspectos mais ostensivos do que alguns consideram patologia da miscigenação, dando diagnóstico caráter nitidamente biológico, quando essa tal patologia talvez tenha sido o resultado principalmente de circunstâncias sociais desfavoráveis.
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1- Cf. Freyre, Gilberto Sobrados e Mucambos:a continuação de Casa Grande e Senzala Rio de Janeiro, Record, 2000. 11ª ed.


A questão da patologia da miscigenação se apresenta entre os negros (nesse grupo sofredor) os seus traços mais grosseiros, talvez na sua expressão mais dramática. Eles sentiram o problema ou ainda estão sofrendo mesmo que seja em menor intensidade o problema social dos renegados ao lado do biológico, de meio-sangue. Em alguns casos em um grupo dos renegados se perceba a fragilidade física que talvez contribua nesse momento para criar a idéia de uma população fraca. E assim observa-se nas populações mestiças em geral, ao que parece, por motivos puramente sociais baseado nos aspectos exteriores.
A tendência de certas raças e de certos estados é explicada sem conhecimento associando de modo absoluto a grupos étnicos, outros ao clima. As influências sociais parecem favorecer o desenvolvimento da tuberculose em alguns negros, bem como doenças mentais entre os mestiços. Imagina-se que o negro norte-americano é menos predisposto a doenças da coluna, de obesidade, surdez, doenças nos olhos, das fossas nasais e da garganta, a uma série de males. Além disso, é menos suscetível à febre tifóide, à malária, à bexiga e ao câncer.
O mulato também apresenta várias dessas predisposições dos negros, mas se excede extraordinariamente ao branco nas estatísticas de tuberculose e de doenças venéreas. A tuberculose talvez tenha sido entre os negros, mulatos e mestiços a causa principal de sua fragilidade física. Essa falta de resistência a doenças de civilizados herdada de uma raça primitiva em contato com os portadores da doença vindos da Europa.
Para Freyre2, é fundamental ter em vista a questão do ambiente social incluída a situação econômica do mulato e do negro transplantado para as Américas. O caso do raquitismo, muito comum entre os negros do meio urbano norte americano comprovaram que durante o inverno, o pouco sol, o ar poluído, a alimentação deficiente, tudo agia contra o indivíduo favorecendo o possivelmente as doenças, a freqüência da deformação de corpo entre os meninos de cor. A pobreza foi o grande inimigo das crianças tanto negras como de qualquer outra cor na América, conseqüentemente as doenças. A tuberculose é uma doença que se manifesta com maior evidência no meio urbano.
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2- Cf. Freyre, Gilberto Sobrados e Mocambos: a continuação de Casa Grande e Senzala: Rio de Janeiro, Record, 2000. 11ª ed. p.p.632-662.



As doenças de cortiço devido as péssimas condições de moradia, do chão úmido, da presença da água podre. O problema é de higiene, é ecológico, da má desigualdade social. Essas populações miseráveis em luta pela sobrevivência muitas vezes acabam amontoados nas favelas sem nenhuma condição de sobrevivência, ou seja, condições sub-humanas de existência, em ambientes sem infra-estrutura. Os mucambos, os cortiços, as favelas, são habitados pelos mestiços, casebres abafados e úmidos sem ventilação, tanto no Brasil como em outras partes do mundo.(FREYRE, 2000).
Sendo a tuberculose como é, doença que se aproveita das condições precárias de vida, inclusive, do déficit nutritivo, assim, a população mulata e negra no Brasil, mal abrigada e mal alimentada fossem as primeiras vítimas dessa enfermidade. Além disso, biologicamente os negros não têm a mesma defesa imunológica que os brancos vem acumulando ao longo dos séculos.
Conforme Freyre,3 (2000), o negro e o mulato nestes quatro séculos vem acumulando vigor físico apesar de ter enfrentado as adversidades do ambiente quando trazidos da África, hoje, apresenta-se cheios de oportunidades e possibilidades como de afirmações sócio-econômicas e de capacidade intelectual.
É preciso destacar que essas afirmações e possibilidades reúnem atualmente no Brasil, talvez mais o mulato do que o negro puro. As influências de ambiente social invocadas no caso da tuberculose e de sua generalização entre as populações mestiças devem ser tomadas em conta na interpretação das doenças mentais entre pretos e mulatos. As psicoses tóxicas e infecciosas domina entre os negros e o alcoolismo determinou nessa época um número expressivo maior do que os brancos e mestiços doentes de alcoolismo. Incluem-se nesse quadro as mulheres no Rio de Janeiro, a habitual alcoolização das mulheres negras ou a pouca resistência ao álcool. O fenômeno começa a divergir da raça negra, visto que a mulher mulata já revela atenuado o fenômeno em face do tóxico social. Nessa linha descendente de alcoolismo da mulher preta, que é socialmente a mais degradada, a prostituta de beco, a fêmea do soldado de polícia ou de marinheiro bêbado para a branca, que é a mulher socialmente fina, talvez reflita a influência do fator social, de modo mais poderoso que qualquer outra. São também as mulheres de cor do Rio de Janeiro que mais adquirem as doenças venéreas com a sífilis cerebral.
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3- Freyre, Gilberto Sobrados e Mucambos: Rio de Janeiro, Record, 2000 11ª ed. p.p.632-662
Em Freyre,4 (2000), socialmente o negro sofreu e continua sofrendo as mazelas sociais dessa sociedade branca, não apenas sofreu o descaso, as humilhações e o desprezo como também adquiriu as fragilidades físicas devido as péssimas condições de vida que lhes foram impostas. E assim, o negro permanece sendo duramente satirizado a qual exprime claramente o desprezo social contra a raça negra e de mulatos pelos brancos das classes mais pobres.

É comum ouvir a seguinte expressão:

“ Negro quando não suja na entrada suja na saída”.
“Negro em pé é um toco, deitado é um porco”.
“Negro só nasceu para espoleta dos brancos”.

E também nas cantorias das feiras:

“Negro velho quando morre
tem cantiga de xexéu,
Permita Nossa Senhora
Que negro na vá ao céu”.

Percebe-se que o negro não é ridicularizado apenas pelas suas diferenças físicas ou sua condição social, mas, sobretudo pelo racismo cultural, mesmo o branco afirmando não ser racista, ele é racista interiormente devido a uma gama cultura que fortalece esse fenômeno na sociedade brasileira. Existe sim, um disfarce de aceitação das diferenças culturais. O primeiro ponto que se constitui um choque cultural está relacionado as religiões africanas. Nas mínimas coisas o negro e desprezado, a educação brasileira através do seu folclore reforça pelos usos e costumes do negro.



4- Freyre, Gilberto Sobrados e Mocambos. Rio de Janeiro, Record: 2000 11ª ed. pp.632-662



A simpatia do mulato foi um dos pré-requisitos que conquistou a sociedade brasileira, foi o mulato formado em competição com o advogado branco, com o médico, com o político que procurou vencer o competidor, agradando a sua clientela mais do que os outros. Seu riso foi não só um dos elementos como um dos instrumentos mais poderosos de ascensão profissional, política, econômica. Um momento onde o negro, o mulato marca a sua transição do estado de servil para o de mando ou domínio da situação, de igualdade como o dominador branco.
No uso brasileiro de diminutivo, o negro procurou através dessas palavras encurtar a distância pelos meios mais doces a distância social entre ele e o grupo dominante. Assim, foi ele que deu mais força e vigor e enriqueceu de tendências e significados sociais particularmente brasileiros. Esse instrumento foi utilizado para seus interesses, e romper suas dificuldades de um indivíduo em transição de uma classe para outra. E o diminutivo adoçando as palavras representou a maneira de ser ainda mais respeitoso, de falar dos assuntos usando um tom íntimo junto aos senhores outrora mais distantes e dos quais só os brancos tocavam.Essa foi uma característica marcante do mulato em processo de ascensão para branco. E vencer entre ele e o grupo dominante a distância social entre o bacharel mulato e o branco.
No que se refere a fecundação no Brasil, uma coisa é certa para Gilberto Freyre5, as regiões ou áreas de miscigenação mais intensa se apresentam as mais fecundas. No Maranhão foi considerada uma sub-região de mestiçamento intenso com predominância do negro sobre o índio entre os elementos de cor. Nesse sentido, a relação entre a cultura erótica e a ciência parecem ter sido sempre tensas e complicadas, não apenas no Brasil, aliás, neste país talvez tenha sido até mais fácil se comparado com os países de tradição puritana. O erótico permeia o cotidiano dos brasileiros, de norte a sul, das piadas aos jogos de sedução, das roupas aos comportamentos.
Atualmente, vive-se uma cultura nessa sociedade extremamente sexualizada em todos os sentidos, inclusive da violência enquanto que a imagem da sexualidade-tropical-do sul do Equador, não deixa de ser muito estimulada pelas indústrias do turismo, na exportação das mulatas sensuais, do samba, do carnaval e de tudo aquilo que é conhecido no imaginário do Brasil Tropical.
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5- Freyre, Gilberto Sobrados e Mocambos Rio de Janeiro, Record, 2000. 11 ed. pp. 632-662.


Ronaldo Vainfas6, questiona a imagem desregrada da Colônia produzida pelos observadores dos primeiros séculos da colonização, encontrando muitas regras, normas e formas de culpabilização. A fornicação tropical não faltaram as normas rígidas por mais que intoxicada tenha sido a colônia como quer Gilberto Freyre7, os valores da família, mescla da cultura popular e do discurso oficial se fizeram presentes. Entretanto, não se trata precisamente de decidir sobre a moralidade ou imoralidade historicamente constitutiva do país, mas de desconstruir as narrativas históricas produzidas e reproduzidas incessantemente, destacando a importância que o discurso da sexualidade assume na leitura que os brasileiros fazem de suas origens. Como observou Richard Parker, a noção de sexualidade no Brasil, não está apenas presente na percepção que cada indivíduo faz de sua existência, mas na auto-interpretação de toda a sociedade. E o discurso médico sobre o corpo e a sexualidade é apropriado como verdade absoluta.
Gilberto Freyre considera que a vida sexual no Brasil é positiva, responsável pela democracia racial, apesar da propagação das doenças venéreas. O povo brasileiro se origina nesta perspectiva, da miscigenação das três raças que no Brasil especialmente não tiveram maiores problemas para se fundirem, pois a atração sexual foi mais forte do que as exigências legais e racionais de união entre os diferentes. Daí uma cultura particular, marcada pela cordialidade, pela leveza, pelo instinto, pelo corporal e pela tolerância. As relações primárias em Freyre se caracterizariam pela intensa atividade sexual.
Além disso, a sexualidade adquire ainda uma dimensão muito poderosa na interpretação de Freyre, na medida em que é fator fundamental na determinação das relações que se estabeleceram na esfera pública. Esta molda por modelos emprestados do mundo privado, onde as relações primárias são, sobretudo marcadas pelo sado-masoquismo. Assim, o modelo de relação sexual sado-masoquista estabelecido entre senhor e escravas ou escravo transfere-se para a esfera pública, caracterizando as relações sociais.
A miscigenação decorre, pois de uma quantidade excepcional do português em se cruzar com outras raças. Freyre explica que isso se deve em grande parte à forma de emigração dos portugueses, que vieram sós. E assim, a falta de mulheres brancas sempre foi um problema de toda a colonização européia em territórios ultramarinos.
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6- Cf. Vainfas, Ronaldo – Trópicos dos Pecados. Moral Sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1989 pp. 130-150.
7- Freyre, Gilberto Sobrados e Mocambos Rio de Janeiro, Record, 2000. 11 ed. pp. 632-662
É interessante observar que a concepção de História fundamentada no materialismo histórico e dialético, utilizada para construir sua interpretação da realidade nacional, o autor incorpora as análises e os preconceitos difundidos pela documentação em que se apóia, seja a que elaboram viajantes, colonizadores. Além disso, a própria estruturação do livro acaba por colocar a sexualidade, considerada em uma acepção mais abrangente no fundamento mesmo da constituição da vida em sociedade. A sexualidade é referida como centro de explicação da organização social e como lugar privilegiado da leitura que se produz a respeito do passado e da cultura brasileira. Nesse sentido que a questão do lugar central da sexualidade na construção da identidade nacional e na interpretação da história brasileira pode ser enunciada pela releitura historiográfica.
A sexualidade ocupa na construção das interpretações sobre a realidade brasileira e da idéia de identidade nacional principalmente no que se refere a questão sexual, produziu-se ao longo da história traços que se constituíram desde os primórdios da colonização, nas relações primárias quando chegaram os conquistadores iniciando um processo de miscigenação racial.
Percebe-se que a cultura brasileira desde os primórdios da colonização é marcada por uma identidade nacional que reforça a estigmatização do outro percebido como desvio, perverteram o sexo e todas as práticas sexuais foram postas sob o signo do discurso intelectual, explicada e analisadas, classificadas e condenadas. Em Freyre8, a aproximação entre as diferentes raças decorre de um forte impulso sexual. Assim, foram sexualidades exaltadas dos dois povos que primeiro se encontraram na América. Contrário da idéia de lubricidade maior comunicou-se ao brasileiro o africano, parece que foi precisamente este, dos três elementos que se juntaram para formar o Brasil, o mais fracamente sexual e o mais libidinoso, o português.






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8- Cf. Gilberto Freyre Casa Grande & Senzala Rio de Janeiro. Schmidt Editor, 1936 2 ed. p.60.
O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, se não atolava o pé na carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeus por um pente ou um caco de espelho. (FREYRE, 1936 p. 60).




Sergio Buarque, não fundamenta a construção de caráter brasileiro no campo da sexualidade, a exemplo de Paulo Prado9 e Gilberto Freyre, enfatiza como tração marcante da brasilidade o predomínio do emocional e do instintivo sobre o racional. A mestiçagem brasileira é vista antes de tudo como uma resultante do problema sexual da raça dominante, e por centro o colono branco. Neste cenário de três raças, uma dominando e duas sendo dominadas estando em contato é o branco que dirige a seleção sexual no sentido do embranquecimento. Entretanto, a temática deixa claro que em grande parte os brasileiros se percebem através da sexualidade, mas também através da cor, além disso, existe a dificuldade das ciências sociais trabalhar essa questão, reconhecendo a centralidade que esta assume no discurso científico. Mas recentemente, as pressões dos movimentos feministas, dos homossexuais e do negro forçam a incorporação de novos olhares. A invasão do feminino na cultura: o instintivo, o sagrado, o sexual, o corpo passam a ser objeto de discussão, aceitos como importantes dimensões constitutivas das práticas sociais e das formas de conhecimento.
Nesse sentido, a questão do lugar central da sexualidade na construção da identidade nacional e na interpretação da história brasileira pode ser enunciada forçando uma releitura da historiografia. A figura da prostituta a margem da sociedade confere a história uma pagina importante. O crescimento da população e a falta de condições financeiras para sobreviver a prostituição constituem-se uma das mais antigas profissões do mundo. No Brasil, a questão da miscigenação, a junção das três para formação do povo brasileiro tem alcançado uma diversidade de culturas que faz do país um celeiro de saberes. A contribuição do povo nativo, do negro e do branco trouxe para essa nação uma forma diferente de existência. E assim, os trópicos foram vistos como lugar da promiscuidade, do português aventureiro que veio para cá e possuía um pensamento obcecado com a sexualidade.

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9- Cf. Prado, Paulo Retrato do Brasil. Ensaio sobre a Tristeza Brasileira. São Paulo, 1929, IIIa. Edição, 5. milherio.
No Brasil a tristeza sucedeu a intensa vida sexual do colono, desviada para as perversões eróticas, e de um fundo acentuadamente atávico. A hiperestesia sexual que vimos no correr deste ensaio ser traço peculiar ao desenvolvimento étnico de nossa terra evitou a segregação do elemento africano, como se deu nos Estados Unidos, dominados pelos preconceitos das antipatias raciais. Aqui a luxúria e o desleixo social aproximaram e reuniram as raças. (PRADO, Paulo, 1929, p.121-188).


Enfim, os homens da ciência não paravam de falar da sexualidade desde o século XIX, principalmente para condená-la. Dissecaram o corpo da meretriz, do cafetão, do homossexual, perverteram o sexo. Assim, todas as práticas sexuais foram postas sob o signo do discurso científico. De fato, a ciência tentou explicar, classificar e condenar. Na realidade, talvez a própria sexualidade tenha se transformado a primeira importância desde os primórdios dos séculos, e assim cada vez mais existe uma conexão entre sexualidade e subjetividade. A aproximação entre as diferentes raças desenvolveu impulsos sexuais, onde o europeu exaltado não soube controlar-se. A vantagem da miscigenação no Brasil correspondeu a uma desvantagem diante da sifilização. Juntas o Brasil sofreu um processo de civilização deformada, da má nutrição, das questões econômicas fragilizada. O desregramento dos europeus participa da construção e formação de um novo país.
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