segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

MULHERES CHEFE DE FAMÍLIA E A MARGINALIDADE SOCIAL:

1.INTRODUÇÃO Este estudo tem como objetivo analisar a relação entre as condições socioeconômicas das mulheres chefe de família e as formas de marginalidade social no município de Campina Grande – PB. Nesse sentido, será realizada uma pesquisa de campo envolvendo, num primeiro momento um número de 700 famílias. Segundo, compreender a dinâmica de vida das mulheres chefes de família. A temática em questão está continuamente presente na minha vida acadêmica por fazer parte de meus estudos e pesquisas. Tais questões estão ligadas à exclusão social e às práticas preconceituosas contra as mulheres. Evidentemente as relações de gênero, estiveram em meio a minhas preocupações maiores. Por isso, constitui-se foco de interesse de meus estudos e trabalhos acadêmicos. Estas inquietações e os sentimentos de mal-estar perante a realidade social do país tem me motivado à participar de eventos e trabalhos de pesquisa ligados à temática de cunho social. As ideias e o objeto de estudo deste trabalho surgiu em decorrência do desenvolvimento de uma pesquisa realizada para a Universidade Estadual da Paraíba, (2005) no Curso de Especialização em Gestão e Análise ambiental tendo como Orientadora a Drª Marinalva Freire da Silva, cujo objetivo foi o de analisar a marginalidade social em áreas de degradação ambiental. Constatamos que, as mulheres estão sendo responsabilizadas por um número de obrigações no âmbito familiar cada vez maior, haja vista que precisam sustentar os filhos e as vezes até os próprios pais. Além disso, são economicamente menos favorecidas porque recebem salários menores do que os homens e também residem em condições muitas vezes piores. Neste estudo pretende-se, analisar a relação entre as condições socioeconômicas das mulheres chefe de família e as formas de marginalidade social no município de Campina Grande – PB. No segundo momento, compreender a dinâmica de vida das mulheres chefes de família e como se dá a sobrevivência dessas famílias. Por fim, discutir as condições de vida e os tipos de estratégias de sobrevivência utilizados pelas mulheres chefe de família; além de investigar o preconceito e a discriminação contra as mulheres chefe de família, bem como a ineficácia das políticas públicas sociais. 1.2. JUSTIFICATIVA A pobreza é uma experiência que marca drasticamente a vida dos seres humanos. Entender esse dilema só é possível no contato direto com a população, pois não apenas se desvenda a realidade, (...) mas também podemos vivenciar de perto o objeto de estudo. Por isso, [...] se, a distribuição de oportunidades no Brasil não é igualitária, como demonstra amplamente jornais, estudos acadêmicos, etc, significa dizer vivemos em uma segregação sexual. Isto é, mulher não tem usufruído proporcionalmente, dos mesmos benefícios que homens ao longo dos anos, apesar de ter ultrapassado 505 dos 169 milhões de habitantes do país, como mostram os estudos do censo demográfico do IBGE/2000. (CARVALHO, 2003, p. 246). Lamentavelmente a condição social da mulher ao longo dos anos continua quase a mesma, principalmente quando não têm renda familiar suficiente para suprir todas as necessidades da família. Posto isto, consideramos relevante investigar as formas de marginalização das mulheres chefe de família no universo de 100 Escolas da Rede Municipal ligada a Prefeitura de Campina Grande-PB, por constitui-se um universo de um número significativo de pessoas carentes e de um perfil socioeconômico relativamente baixo. A escolha deste tipo de estudo de cunho social nos faz entrar em contato com um universo enorme de famílias das camadas mais pobres da população desta cidade, sabendo que muitas delas estão em situação de risco social. (...) as mulheres mantêm taxas de desemprego mais altas e salários médio inferior ao dos homens. (...) os brasileiros ainda ganham cerca de 305 a mais que as brasileiras. Estas diferenças de rendimento entre homens e mulheres são verificadas em todos os setores de atividades econômica (...) esta discriminação de gênero está associada à gestação e à criação dos filhos, responsabilidade quase exclusiva das mulheres. (CARVALHO, 2003, p.247). A escolha por trabalhar com mulheres inseridas nas camadas de baixa renda e chefes de família se deve ao fato de esta situação parece encerrar em si mesma, uma tripla marginalidade, o que, como conseqüência, se traduz por precárias condições de vida Investigar estas questões através de entrevistas e vivências com algumas destas mulheres, e seus discursos, podem vislumbrar quem são e o que fazem como vivem e o que querem. Portanto, a partir destes dados, será possível analisar a relação entre as condições econômicas e as formas de marginalidade social das mulheres chefe de famílias marcadas pela pobreza. As reflexões aqui apresentadas são fruto das experiências vivenciadas ao longo do meu exercício profissional, já há mais de 20 anos convivo com as desigualdades sociais, pobreza e o descaso que as populações carentes e seus filhos sofrem por falta de ações significativas a favor desta parcela da população despossuídas a mercê dos ditames governamentais. Lendo nas entrelinhas que não tem direito a uma vida digna. O que lhes restam muitas vezes é o sentimento de desesperança em dias melhores. 2. OBJETIVOS: 2.1 Objetivo Geral: • Analisar a relação entre as condições socioeconômicas das mulheres chefe de família e as formas de marginalidade social no município de Campina Grande – PB. 2.2 Objetivos específicos: * Compreender a dinâmica de vida das mulheres chefes de família e como se dá a sobrevivência dessas famílias; * Discutir as condições de vida e os tipos de estratégias de sobrevivência utilizados pelas mulheres chefe de família; * Investigar o preconceito e a discriminação contra as mulheres chefe de família no município de Campina Grande-PB, bem como a ineficácia das políticas sociais. 3. PROBLEMATIZAÇÃO: A elevada concentração de renda nas mãos de poucos eleva os índices de desigualdade social, junto à população de baixa renda do país. Por si só, é grave e tem conseqüências desastrosas para a sociedade, até porque, A aceleração da urbanização provocou um progressivo movimento das populações pobres para as capitais, onde procuravam se estabelecer nas áreas centrais, próximo ao mercado de trabalho. Aí ocupavam, em sua maioria, habitações coletivas, casas de cômodo ou cortiços, cujos, ‘moradores embora na maior parte do sexo frágil.’ (DEL PRIORE, 2009, p.364). Neste contexto, as experiências de trabalho com estas mulheres chefes de família podem ser analisadas principalmente os aspectos referentes as formas de marginalidade social. Por isso, quais seriam suas expectativas frente ao futuro? Como, diante de tantas dificuldades, conseguem sobreviver? Como suportam as faltas de suprimento para viver? A quem ou a quê atribuem a sua situação de miséria que vive? Quais as estratégias que utilizavam para lidar com a situação de miséria na qual se encontram? 4. MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA E MARGINALIDADE SOCIAL: sobre preconceito e discriminação Historicamente a marginalidade social é uma realidade que se apresenta sob diversas formas de organização familiar específicas de um país enorme com graves conflitos sociais, sobretudo entre os indivíduos pobres, com necessidades urgentes de sobrevivência. No caso do Brasil, as famílias chefiadas por mulheres constituem grande parte da população marginalizada e economicamente ativa principalmente nas atividades profissionais de baixo rendimento como o trabalho das domésticas. Na realidade é comum que, as famílias encabeçadas por mulheres de baixa renda vivenciarem situações de extrema pobreza. Entretanto, A autonomia das mulheres pobres no Brasil da virada do século é um dado indiscutível. Vivendo precariamente, mais como autônoma do que como assalariada, improvisavam continuamente suas fontes de subsistência. (DEL PRIORE, 2009, p.379). Desse modo, as precárias condições econômicas das famílias chefiadas por mulheres são explicadas, pelo menos em parte, pela baixa remuneração do trabalho executado, porque estas mulheres são, freqüentemente, as únicas responsáveis, tanto pelo sustento familiar como pela realização das tarefas domésticas, alimentação, ou seja, pela provisão dos recursos materiais necessários para a manutenção de todos os membros daquela família. No que diz respeito a esse último aspecto, vários estudos têm demonstrado que a participação das mulheres brasileiras no mercado de trabalho se dá predominantemente no setor de serviços, no segmento informal e desprotegido, onde recebem rendimentos menores por desempenharem atividades supostamente menos qualificadas (BRUSCHINI, 2000). Segundo Pacheco (2005), os domicílios chefiados por mulheres no país, estão super-representados entre os pobres, provavelmente em decorrência das discriminações salariais por gênero. De fato, os núcleos domésticos-familiares chefiados por mulheres estão em desvantagem, não somente em relação à renda familiar, mas também em termos de acesso aos serviços públicos básicos, inclusive o de seus filhos à educação. É possível afirmar ainda que, se as oportunidades de inserção da mulher no mercado de trabalho são geralmente inferiores às dos homens, no caso das mulheres pobres as desigualdades se tornam ainda maiores. Pois, o mercado de trabalho geralmente oferece salários menores e ocupações dentro de um processo produtivo mecanizado, pouco qualificado e de contratos temporários, baseados na lógica de redução de custos, sem nenhuma forma real de valorização do trabalhador (BRUSCHINI, 2000). 4.1 A mulher na contemporaneidade Para Del Priore (2009, p.536) os “estudos antropológicos sobre famílias brasileiras de baixa renda têm apontado para a natureza aberta da unidade doméstica”. Assim, no cenário contemporâneo a mulher chefe de família, dependente do trabalho mal remunerado e alienado, ainda é a responsável pela criação dos filhos e vivendo em condições de conflito devido a falta de recursos econômicos para garantir sozinha o sustento e a sobrevivência da família. Tudo isto, em parte é dificultado pela baixa remuneração concedida a mulher. Pode-se constar que, Com a nova realidade do trabalho torna-se mais visível a discriminação contra as mulheres: salários menores, maior freqüência do não registro em carteira, além de assédio sexuais por parte dos feitores, empreiteiros e outros agentes do controle do trabalho (DEL PRIORE, 2009, p.563). Enfim, no caso das mulheres chefe de família com baixa renda, o reflexo das condições econômicas é determinante para acentuar a marginalidade social bem como o preconceito e a discriminação.

Uma releitura a partir do texto:Religião, paz, guerra e preconceito”: uma reflexão histórica ou, uma breve notícia.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMAPINA GRANDE- UFCG CENTRO DE HUMANIDADES – CH UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA – UAHis CURSO DE ATUALIZAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO: EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTINICO-RACIAIS ALUNA: JOSELIA FERREIRA DE OLIVEIRA Uma releitura a partir do texto: “Religião, paz, guerra e preconceito”: uma reflexão histórica ou, uma breve notícia. O presente texto objetiva apresentar uma releitura sobre a produção textual intitulada: “Religião, paz, guerra e preconceito: uma reflexão histórica, ou uma notícia” de autoria do professor Dr José Otávio de Aguiar. A partir da leitura, percebe-se inicialmente uma abordagem referente a questão da racionalidade ocidental e o questionamento deste fenômeno como instrumento do autoritarismo vigente na sociedade. Talvez, ainda fruto de uma sociedade que reproduziu e continua reproduzindo preconceitos e discriminações mediante formas diversificadas; seja contra raça, sexo, religião, homossexuais dentre outros que se manifestam constantemente no mundo ocidental. O ocidente tem registrado na linha do tempo a marca do preconceito religioso destacando-se principalmente pela imposição de um pensamento, ou professão de fé em determinada religião oficial no país. Neste sentido, a temática remete a pensar os aspectos da Península Ibérica do século XV no que diz respeito a dominação espanhola e a intolerância religiosa de alguns “fanáticos”. Geralmente contra os judeus, cristãos e muçulmanos que compartilharam conhecimentos e tradições. Entretanto, a força das divergências fortalecidas pelos interesses particulares da Igreja em detrimento da coletividade gerou uma onda de conversões forçadas nesta região, consequentemente se deu a expulsão dos judeus e muçulmanos. Neste contexto, o autor ainda proporciona a reflexão sobre a prática da tortura, tão comum nas questões ligadas a religião oficial no século XV e ao Tribunal do Santo Oficio. Lamentavelmente, a violência religiosa conseguiu manter-se de acordo com a recepção do lugar. Conforme se constatou os espanhóis foram responsáveis por espalhar terror, medo e o pânico, mediante as práticas de genocídio e etnocídio que vigorou por muitos anos possivelmente devido às alianças estabelecidas entre o Estado e a Igreja católica. Por conseguinte, a América portuguesa também esteve sob o jugo da Espanha e o Santo Ofício realizou com firmeza perseguições contra os cristãos novos, tidos como heréticos praticantes das crenças judias e os homossexuais como seres diabólicos. Sabe-se que, a religião em todos os tempos, os povos enquanto civilizações adotaram características próprias especificas de cada lugar. Por isso, merece destaque a cultura japonesa. O Japão não adotou o catolicismo como religião oficial, o que não significa dizer que foram menos preconceituosos do que outros povos que a adotou. Vale salientar que, os japoneses também disseminaram sua cultura na sociedade brasileira e transformaram o esporte dando vez ao judô, karatê e ao jiu jitsu. Além disso, no campo religioso ainda trouxeram a seita; Oomoto, a Messiânica e o Seicho-no-ie. Constatou-se que, do século XV ao XVII, o cristianismo e, por conseguinte os cristãos enfrentaram obstáculos frente às restrições governamentais dos setores locais. De acordo com o autor, os jesuítas investiram na pregação das doutrinas católicas e muitos padres foram massacrados, torturados e crucificados. Assim como o budismo também foi perseguido pelos Shoguns com a mesma força que rejeitaram o catolicismo. Ressalta-se que, a Reforma protestante na Europa constituiu-se um movimento contra as imposições religiosas disseminadas pelos reformistas em nome de um determinismo exagerado contra as escolhas do credo religioso. Assim sendo, constatou-se nos espaços da religião a violência e a intolerância intensamente e as primeiras vítimas desse confronto foram as mulheres (tidas como bruxas, aquelas possuídas por demônios) em segundo: os judeus não convertidos. A historiografia tem um leque de acontecimentos que marcaram a história das religiões por seus massacres e torturas. Neste estudo mereceu destaque a “Noite de Bartolomeu” por representar um dos fatos mais cruéis na História da humanidade. Neste cenário de interesses políticos e econômicos, têm-se de um lado, os católicos com o firme propósito de executar a política inquisitorial e o objetivo de destruir todos os indivíduos não católicos. Do outro, os calvinistas, baseado na doutrina da predestinação também manifestou ações de intolerância, prepotência e preconceito religioso. Contudo, a partir do século XVIII a Inglaterra surpreende apresentando um número pequeno de condenação pelo crime relacionado a bruxaria ou sortilégios. A história da Inglaterra do século XVII ao XVIII também registra a presença dos Quackers que defenderam a liberdade e a protagonista desta história Elizabeth Margaret Chandler (poetisa) que lutou por suas convicções, seus ideais abolicionistas, a favor do negro e do índio. Destaca-se nos Estados Unidos da América no século XIX um grupo racista conhecido como o Ku Klux Clã, que se manifestou de maneira ferrenha contra os negros até o século XX. A violência mais uma vez, a prepotência e os interesses exclusos se impôs frente às vidas humanas. São fatos que marcaram diferentes épocas, mas com a mesma intensidade de destruição e intolerância. Além disso, na França se destaca a figura dos cátaros, indivíduos defensores das ideias espíritas que acreditava na reencarnação. Estes foram perseguidos pelo Vaticano, torturados e queimados vivos; um número significativo de indivíduos que representavam a hierarquia cátara, com o propósito de conseguir por fim ao movimento. Pode-se acrescentar ainda outro fato marcante no campo da religião Espírita, a publicação: “O Livro dos Espíritos” e o “Evangelho Segundo o Espiritismo” na França do século XVIII por Alan Kardec, que atraiu adeptos de todas as nacionalidades, sejam judeus, hinduístas, católicos ou protestantes. É importante considerar ainda que dentre os objetivos e ideais do espiritismo incluía-se a defesa da mulher, a igualdade dos direitos humanos. Porém, a reação da Igreja ultramontana conhecida como: “Auto de fé de Barcelona” foi o episódio da queima em praça pública de cerca de 300 exemplares de “O Livro dos Espíritos”. Percebe-se que, a resistência contra o direito à fé religiosa individual é uma luta que ainda vem sendo travada por muitos. A ignorância do ser humano chega aos extremos de querer controlar e ditar normas e regras que devem ser seguidas de maneira igual para todos, como se todos os indivíduos independentes de nacionalidades agissem de uma única maneira e por meio de um único pensamento. Apesar de tudo isto, as pessoas conseguem resistir aos ditames de alguns. É o caso do espiritismo, do candomblé, do catolicismo, do protestantismo, cada um se guia pelo que acredita. O Brasil do século XIX abraçou o espiritismo, bem como, as demais religiões que foram sendo introduzidas seja de origem africana ou não sem restrições. No entanto, em relação a religião sabe-se que não vão deixar de existir críticas seja qual for a época. Na realidade, em virtude de um passado histórico perpassado por mudanças e transformações religiosas, na época do Império no Brasil, o imperador D.Pedro II contribuiu para o fortalecimento das instituições religiosas e a liberdade de culto. Assim, o candomblé como religião nas terras brasileiras foi introduzido como um processo de construção entre o século XVI ao XIX. Mesmo enfrentando a repressão da Igreja católica conseguiu sobreviver e fincar suas raízes no solo brasileiro. Neste contexto, a umbanda surge como uma junção das crenças africanas, indígenas e europeias. Sabe-se que, as várias manifestações de cunho espiritual disseminada ao longo dos anos através das religiões, se entrelaçam entre as necessidades físicas e espirituais dos homens. Pode-se ainda afirmar que, o Brasil no período republicano adotou o sistema laico de ensino religioso. Sendo assim, garantiu a ampla liberdade de expressão de culto. Portanto, nos dias atuais, as mudanças repercutem na ciência tecnológica e na racionalidade científica. No campo religioso, as orientações são privadas destacando-se o fundamentalismo pelos princípios religiosos radicais. Entretanto, consideram-se os diferentes sentidos atribuídos as religiões e as crenças dos diferentes povos, o que se constitui um dos aspectos da cultura marcada pela singularidade. Enfim, as religiões não podem ser consideradas fontes de verdades absolutas. No entanto, é preciso conviver com as diferenças e respeitar entendendo que o indivíduo é produto de sua cultura ao mesmo tempo em que é influenciado pelos conhecimentos de outros povos e credos religiosos. REFERÊNCIA: AGUIAR, J. Otávio Religião, paz, guerra e preconceito: uma reflexão histórica ou, uma breve notícia.

O PODER DA PALAVRA SEGUNDO CLASTRES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMAPINA GRANDE- UFCG CENTRO DE HUMANIDADES – CH UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA – UAHis CURSO DE ATUALIZAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO: EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTINICO-RACIAIS DISCIPLINA: CONFLITOS ÉTNICOS NA AMÉRICA: UMA VISÃO HISTÓRICA ALUNA: JOSELIA FERREIRA DE OLIVEIRA A SOCIEDADE CONTRA O ESTADO: O DEVER DE PALAVRA Pierre Clastres, em seu livro “A sociedade contra o Estado”, comenta a questão do poder nas sociedades indígenas e como relacionar poder versus Estado. Acaba sendo um documento de antropologia política já que se baseando nas sociedades primitivas, verifica-se o poder de sua chefia e poder é o direito de agir, de decidir e mandar. Além disso, apresenta as sociedades ameríndias como sociedades que valoriza a liberdade e nestas não co-existe a presença do Estado coercitivo, nem tão pouco relações de mando obediência ao líder. Além disso, não há diferenças entre os indivíduos, por isso, não se conhece dominantes e dominados. No texto sobre “O dever de palavra”, o poder e palavra estão intrinsecamente ligados. Clastres considera que o homem de poder não é somente o homem que fala, mas a única fonte de palavra legítima. Neste sentido, as sociedades sem Estado e as tribos indígenas tratam da questão sobre o poder diferentemente. Nestas sociedades a palavra é o dever do poder, ou seja, as sociedades indígenas exigem que o homem destinado a ser chefe prove seu domínio sobre as palavras. Vale ressaltar que, um chefe não pode de maneira alguma se manter silencioso, caso contrário não é mais um chefe. Estas sociedades primitivas sabem por natureza que a violência é a essência do poder. E a forma de ter o chefe somente no movimento da palavra, garante que ele está no extremo oposto da violência, pois a sociedade é o lugar real do poder. Entende-se que, com o dever da palavra do chefe, tem-se a garantia que proíbe que o homem de palavra se torne o homem de poder. Percebe-se que, nas sociedades sem Estado, é dever de quem exerce o poder falar, mas não é obrigação de ninguém ouvir. Se por acaso, o chefe tribal decidir impor seu poder sobre os demais membros da tribo, segundo Clastres (1982) “ele acabará sendo abandonado, pois a sociedade primitiva não aceita a imposição de nenhuma autoridade, como na nossa sociedade organizada em Estado”. O poder não coercitivo é realizado de forma que uma figura mítica represente o chefe nos rituais que servem para rememorar a organização social. Na realidade, é uma tradição sendo necessário apenas a figura do chefe tribal, não necessariamente a mesma, mas que cumpra a função de líder. No entanto, ele não tem e nem exerce poder nenhum sobre os membros da sociedade, simplesmente porque não existe esse poder. Enfim, Clastres considera as sociedades primitivas e as sociedades civilizadas diferentes a segunda é marcada pelo surgimento do Estado uma espécie de revolução política. Assim, nas sociedades civilizadas o poder é coercitivo e nas sociedades primitivas o poder está na palavra. Falar é antes de tudo o poder de não falar, pois o chefe tribal possui o domínio da palavra na tribo, sendo essa uma função específica que constitui a existência de tal cargo. O chefe na tribo tem por dever manter as tradições, relembrar os feitos dos antepassados. Esse exercício de manutenção e transmissão dos conhecimentos detém na fala sua eficácia. REFERÊNCIA: CLASTRES, P. O dever de palavra In:A sociedade contra o Estado: Pesquisas de Antropologia Política. 4 ed. Francisco Alves. São Paulo-SP. 1982. ( VII cap). ___________, A questão do poder nas sociedades primitivas. In: Arqueologia da Violência: Ensaio de Antropologia Política. Editora brasiliense São Paulo-SP. 1982. (p.105-111). DISCIPLINA: CONFLITOS ÉTNICOS NA AMÉRICA: UMA VISÃO HISTÓRICA Ao enfatizar sobre as questões referentes as culturas ameríndias pode-se dizer inicialmente que a disciplina: “Conflitos étnicos na América: uma visão histórica” contribuiu no sentido de que fomentou uma série de questionamentos não apenas sobre as possíveis interpretações das populações excluídas como as indígenas na história da América, mas também a possibilidade de uma leitura crítica dos textos selecionados e estudados. Desse modo, contribuiu para melhorar a dinâmica em sala de aula consequentemente o desempenho profissional, uma vez que na graduação as leituras realizadas muitas vezes de maneira apressada e fragmentada deixa a desejar. Assim, os conteúdos apresentados em seus diversos contextos foram significativos ao promover mudanças de postura levando o aluno a perceber a importância histórica dos povos da América. Muitas vezes a desinformação do aluno contribui para resultados desagradáveis. Esta disciplina viabilizou caminhos que permitiram a reflexão e um novo olhar sobre as crenças e valores dos povos. Portanto, os estudos realizados foram de suma importância no sentido de ressignificar a prática pedagógica. A história das sociedades ameríndias nos leva a pensar na importância da ética para a convivência com as diferenças entre os povos. Campina Grande, 22 de dezembro de 2012.

BULLING, NÃO!

“BULLYING: UM DESAFIO A ENFRENTAR” Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Pedagogia- UEPB Introdução O presente texto sobre o “bullying” objetiva contribuir para uma maior atenção dos educadores e da sociedade como um todo sobre este fenômeno que a Escola precisa enfrentar. Pode-se afirmar que, o Bulling é entendido como uma ação comportamental desviante; geralmente manifestada em forma de agressão verbal e/ou física que não se manifesta de forma homogênea na escola, mas, multifacetada. É uma ação repetitiva e constante nem toda provocação aleatória pode ser considerada Bulling. A característica marcante é a repetitividade contra o Outro. Entretanto, a escola tem o papel fundamental de conscientizar e combater o fenômeno bullying, suas características, tipos e consequências etc. O interesse pelo tema se deu em virtude da preocupação com o aumento da violência no âmbito Escolar, haj vista que este vem se destacando como um fenômeno abrangente na escola de forma crescente e com consequências graves. Nesse sentido, considera-se importante sensibilizar os profissionais em Educação acerca do Bullying na Escola a fim de oportunizar a compreensão das causas e suas consequências para os indivíduos e assim viabilizar ações no sentido provocar mudanças comportamentais saudáveis para todos. Por isso, discutir acerca do Bullying, com os docentes e equipe técnica da Escola, é fundamental. Além disso, é uma oportunidade de proporcionar a reflexão sobre as consequências do Bullying na Escola, no sentido de contribuir para que ocorra a manifestação de relações amistosas na Escola. Logo, propõe-se que, as reflexões sobre a temática bullying sejam desenvolvidas sob a forma de apresentação oral individual, em uma sessão de estudo, junto aos professores e equipe técnica da Escola. ORIGEM DO BULLYING NA ESCOLA A origem pode estar num apelido de mau gosto, em ameaças de agressão ou simplesmente em atitudes de desprezo, nas quais a escola, considerada um importante agente socializador para os alunos, pode vir a tornar-se um campo inimigo para os mesmos, e levá-los a ser ridicularizado pelo grupo e, consequentemente, torná-los mais frágeis. (GUARESCHI, 2008, p.17). A VIOLÊNCIA NO CONEXTO ESCOLAR A violência nas escolas é um problema social grave e complexo, sendo o mais frequente e visível o da violência juvenil. O comportamento violento é resultado da interação entre o desenvolvimento pessoal do jovem e os contextos sociais nos quais ele está inserido, como a família, a escola e a comunidade (GUARESCHI, 2008, p.49). COMBATER O BULLYING É UM DESAFIO PARA A ESCOLA A escola deve priorizar a conscientização geral de seus alunos e estimulá-los ao engajamento em projetos antibullying (...) para, desse modo, mostrar aos autores que eles não terão seu apoio, nem sua omissão (GUARESCHI, 2008, p.77). Além do envolvimento de professores e funcionários da escola, é também fundamental a colaboração dos pais. A família exerce influência decisiva na vida da criança, tanto como possível vítima de bullying, quanto como agressora.( GUARESCHI,2008,p.79). PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO * Envolver os pais e a comunidade em atividades planejadas para esclarecimento acerca da ocorrência do bullying; * Discutir com os pais possíveis formas de enfrentamento do problema; * Promover palestras junto aos alunos no sentido de ajudá-los na identificação de situações ou comportamentos compatíveis com “bullying”, analisando as consequências para as vítimas; É importante incentivar a participação dos alunos em atividades organizadas pela escola focalizando o bullying: dramatizações, teatro, capoeira, oficina de dança e de Hip Hop. Oportunizar a vivência de dinâmicas de grupo para sensibilizar os alunos; Organizar sessões para exibição de filmes de cunho pedagógico, discutir com os alunos e orientá-los na elaboração de resumos, histórias em quadrinhos etc. 5. REFERÊNCIA GUARESCHI, Pedrinho A. e SILVA, Michele Reis da (coord.). Bullying: mais sério do que se imagina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

REFLEXÕES SOBRE IDENTIDADE NACIONAL E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA NEGRA

REFLEXÕES SOBRE A IDENTIDADE NACIONAL E SUAS INFLUÊNCIAS NA CULTURA NEGRA Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Pedagogia – UEPB O texto trata sobre a questão da identidade nacional e a influência da cultura negra na sociedade brasílica no período de dominação portuguesa (europeia). Compreender o pensamento nativo e as influências estrangeiras nos projetos de nacionalidade significa perceber as marcas da discriminação e da exclusão do negro. Neste contexto, ao enfatizar o papel centralizador e homogeneizado no campo cultural, econômico, político e social exige-se o exercício do repensar os ideais e projetos existentes nesta época. Vale ressaltar que, a posição social demonstrada através das manifestações de hierarquia e deferência é destacada pelo modo de vestir-se ou a maneira de falar constituindo-se um dos aspectos do comportamento idealizado pela e para a elite desta sociedade que priorizava o homem “civilizado”. Assim, os aspectos da vida social desse indivíduo passam a ser vistos pela população e contribui efetivamente para manter as aparências. Esta talvez fosse uma estratégia de honra apresentar-se dentro do perfil das formalidades. Desse modo, as regras de dominação impostas pela Corte principalmente no âmbito religioso estavam presentes nos rituais das missas, nas manifestações de apreço ao espaço público, o que evidenciava o poder do conservadorismo naquele momento. É importante afirmar que, no campo político os ideais iluministas representou papel significativo para o desejo de independência. Entretanto, o pensamento iluminista não se constitui um conjunto de princípios universais para todos. A igualdade, a liberdade e a fraternidade não representaram os anseios da maioria da elite, mas apenas dos menos favorecidos: o pobre, o negro e o índio. Por isso, a questão da escravização principalmente do negro permaneceu por longos anos. Sendo assim, o lema dos iluministas representou uma afronta contra a política dominante da época. Neste contexto, os ideais nacionalistas se expandem entre alguns intelectuais como o de José Bonifácio. No entanto, o poder político apresentava-se como fator desafiador no sentido de promover mudanças culturais numa sociedade que estava buscando a manutenção dos interesses elitistas. Evidentemente os impasses voltados a construção de uma identidade nacional ao longo dos anos foi sendo formada a partir das poesias, da música, das pinturas artísticas elitistas. Com isso, a cultura negra continuou sendo excluída desse universo. Constata-se que, a influência da raça branca, europeia tida como superior, dita as normas e as regras desta sociedade, haja vista o lucro alcançado com a escravização do negro. Associar identidade aos fatores biológicos e restringir o campo cultural dos povos aos saberes do cotidiano, ao conhecimento das técnicas agrícolas, ao uso das plantas não contribui necessariamente para as mudanças no âmbito nacional e das identidades nacionais, mas reforça as desigualdades culturais. As discussões apresentadas sobre: conceitos de raça, nacionalidade e o estudo da influência cultural das diferentes raças mostra que os aspectos físicos e psíquicos também foram marcantes para a formação do povo brasileiro. Portanto, os discursos e as memórias apresentadas pela historiografia dão conta de que as ideias veiculadas pela elite reservou o direito de dirigir e esboçar a cultura dessa nação ignorando o entrelaçamento das culturas para a construção das identidades nacionais. REFERÊNCIA: AGUIAR, Otavio José Formação Nacional no século XIX: as diversas representações da nação e os esforços classificatórios.

sábado, 13 de outubro de 2012

A ESCOLA E OS VALORES: AÇÃO DO PROFESSOR

A ESCOLA E OS VALORES: AÇÃO DO PROFESSOR Inicialmente, pode-se dizer que tais valores abrangem o conhecimento, moral e ético, sendo assim, o valor definido por Piaget (1954, p. 41), tem caráter afetivo do objeto, ou seja, refere-se a um conjunto de sentimentos lançados sobre as pessoas. E a escola inevitavelmente lida com valores humanos além da efetiva transmissão de conhecimentos. O conhecimento como sendo um sistema de informações articuladas, sem duvida, a questão do conhecimento como valor transcende as instituições educacionais. Entretanto, a moral, ou os valores morais corresponde às ações consideradas como obrigatórias, aos deveres. Assim, no que chama a atenção em relação a moral o valor diz respeito aos valores universais em qualquer sociedade. Apesar de todo avanço em direção aos valores morais, no entanto, o rumo da sociedade não tem se dirigido em direção efetiva e significativa no sentido de realmente os cidadãos poder viver em paz e harmonia, haja vista que tem sido crescente a violência principalmente no âmbito urbano. Vale salientar que freqüentemente o cotidiano escolar vivencia hostilidades e violência praticada por alunos e professores, aluno-aluno. A incivilidade tem tomado conta da sociedade. O tráfico de drogas, o comércio ilícito de armas, as falcatruas políticas, a corrupção, as rivalidades nas relações ocidentais entre muçulmanos. Percebe-se que a sociedade do “ter” prevalece fortemente ao invés do “ser” evidencia-se o divórcio entre os valores humanos e as relações entre os indivíduos, apesar da legislação constituída em relação aos Direitos Humanos. A sociedade civil convive com a insegurança, o medo, modificando o comportamento das pessoas promovendo a separação de convívio entre as pessoas. A tecnologia utilizada nas formas de controle das pessoas através dos radares, câmaras e tantos outros meios a fim de preservar a segurança dos indivíduos. Na escola, o problema da disciplina, das regras, da moral está nos princípios, percebe-se que o excesso das regras tem possibilitado a inversão que em muitos casos leva a quebra da disciplina. No que se refere a ação do professor, o conhecimento ultrapassa a escola. Na realidade a função da escola deve nortear a promoção e a formação moral de seus alunos.Dessa forma, é necessário que as escolas reflitam sobre os princípios que inspiram as regras de convívio e deixar claro para toda a comunidade. A eficácia das regras está Diretamente Ligada A Eficiência Dos Princípios. A Ética: Que vida eu quero viver? A questão da ética nos remete a um conjunto de deveres. Pode-se dizer que o plano ético coloca os valores no centro da questão. Conforme La Taille (2005), o sentido positivo do individualismo constitui-se em cada um ser livre para levar a vida como quiser e para escolher valores que lhe dêem sentido. Por outro lado, o ponto negativo refere-se a liberdade usufruída no plano ético se traduz por um egoísmo quando excluído do sentido da vida as pessoas que servem para o alcance da felicidades de alguém. A sociedade do ser abrange o ter no sentido de consumista, associa-se a felicidade ao sucesso profissional quando na realidade são âmbitos diferentes, complexos, uma vez que a felicidade não necessariamente depende da fama ou do êxito profissional, mas a um bem-estar pessoal independe dos valores econômicos. O avanço do capitalismo e as transformações comportamentais dos indivíduos nos levam a reflexão acerca da ética dos valores humanos. A Escola no epicentro da crise social Segundo José Sterza Justo, a realidade não se revela imediatamente na consciência humana mas resiste mediante as ilusões da consciência. Assim, vale ressaltar que na concepção marxista a ideologia concebida como um sistema de idéias e crenças destinado a justificar a o ordem social, política e econômica contudo seria o grande entrave para a consciência ou para o conhecimento efetivo do sistema e do funcionamento da sociedade. Na psicanálise enfatiza-se que o sujeito não se consegue apropriar-se de si mesmo como objeto do conhecimento de forma imediata e transparente, porque é constituído por qualidades e mecanismos psicológicos que dificultam e impede seu acesso à sua própria realidade psicológica. No marxismo refere-se principalmente ao contexto social e histórico a fim de apreender qualquer particularidade da realidade humana resultado das ligações com as produções sociais e ainda com as produções históricas. Na perspectiva histórico-social é fundamental revelar a lógica da acumulação de riquezas no capitalismo. Enquanto para a psicanálise pressupõe-se que todas as produções psíquicas que seja: o pensamento, os desejos, as percepções estão interligadas entre si, mesmo que não esteja visível e que exista a relação com as experiências do passado vivenciadas pelo sujeito. A escola em destaque entre as instituições modernas A escola constitui-se como instrumento de suma importância para o funcionamento da sociedade. As instituições que servem de base para a sociedade moderna a exemplo da Escola responsável pela socialização dos indivíduos mediante o ensinamento dos conhecimentos e valores básicos da cultura. Se por um lado pensar a escola como instrumento de dominação e confinamento a serviço do capitalismo, por outro lado, a escola pode contribui para a modificação dessas relações sociais enfraquecendo o autoritarismo, a diminuição da violência exercida em nome da disciplina, além disso possibilita a construção de uma sociedade mais humana caminhando em direção a permanência dos direitos humanos e da cidadania. A intensificação do ciclo de produção e de consumo, a expansão da circulação do capital exige-se cada vez mais, o alargamento das fronteiras geográficas e psicossociais, o aumento da velocidade e a movimentação cada vez maior de mercadorias, de capital, de subjetividade e de mão-de-obra, etc. As necessidades da economia capitalistas têm produzido outra lógica de organização e funcionamento da sociedade, não se trata mais de confinamento para os sujeitos em espaços fechados, mas de coloca-los em espaços abertos. A sociedade hoje não pode permanecer na lógica do confinamento, de manter os sujeitos cercados em espaços geográficos definidos nem mesmo sob a lógica da disciplina obtida sob vigilância efetiva exercida mediante o olhar próximo do outro e de medidas coercitivas e repressivas, mas deveria funcionar sob a lógica do desconfinamento, de dispersão, de retirada do sujeito de espaços fechados e de sua colocação em espaços abertos. Sendo assim, a sociedade não requer mais um sujeito parado, reto, coerente, previsível, controlado, comedido, estável, mas o contrário, um sujeito plástico, flexível, criativo, fragmentado, múltiplo. Difuso, impulsivo, intempestivo incontrolável e aventureiro, incontrolável. Um sujeito que possa transitar de um lugar para o outro, de um sentimento a outro, de um produto a outro, migrando também internamente, percorrendo todos os seus espaços internos, alargando o máximo possível suas possibilidades afetivas, cognitivas e executivas, acelerando ao extremo o ritmo de seu funcionamento. Assim, cada vez mais individualizado o sujeito está sendo liberado das amarras do sedentarismo e de vinculações estreitas a outros. Sendo assim, possibilita ao indivíduo ser mais dinâmico, ágil, útil e dispor de mais energia para o funcionamento da máquina social não sendo mecânica. O sujeito funciona de forma mais eficiente, o distanciamento dos indivíduos contribui para que possam circular como engrenagens capazes de executar seu movimento com autonomia e auto-suficiência, ajustando-se rapidamente a cada exigência ou necessidade tornando-se mais produtivo e interessante para o capitalismo, num ritmo maior, sem fronteiras, sem limites de tempo e espaço. Por outro lado, o mercado de trabalho exige-se um profissional mais rápido e eficiente com isso, percebe-se que tem se multiplicado o número de lesões por esforço repetitivo, o esgotamento físico e psíquico do sujeito, a insegurança, os temores diante da insegurança, o sentimento de impotência pelo enfraquecimento e pela falta da presença do outro, conseqüentemente a solidão pelo seu isolamento. Assim, as condições de existência humana na modernidade e pós-modernidade divergem no sentido primeiro: reprimir o indivíduo fortemente; na pós-modernidade o indivíduo não está confinado a espaços fechados porém é um período de extrema insegurança uma vez que o Estado entrega ao cidadão a inteira responsabilidade de sua existência. Além disso, o Estado remete tudo ao âmbito privado em nome da liberdade a sociedade vem produzindo desregulamentação, licenciosidade, enfraquecendo o coletivo, o cumprimento das regras bem como, colabora para a destruição dos valores de convivência humana resultando numa sociedade do controle e da submissão expressão da lógica do sistema vigente no país. Para Deleuze (1992), a sociedade disciplinar dá lugar ao controle através do avanço tecnológico, uma vez que se pode controlar qualquer pessoa até em movimento. O acesso a tecnologia a aos meios de controle dos indivíduos em movimento, a vigilância eletrônica e a automação dos serviços constitui-se num poderoso instrumento de exercício de poder e de dominação. ESCOLA: UMA INSTITUIÇÃO AINDA PRESERVADA E VALORIZADA A escola continua sendo considerada imprescindível para a formação e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, constitui-se o grande sustentáculo da sociedade bem como responsável pela construção da cidadania, do desenvolvimento tecnológico e da expansão da economia. No que se refere a educação e a instituição escolar, pode-se dizer que as mudanças de paradigmas na educação tende a modificar a instituição escolar conseqüentemente a sociedade que tende a colocar os indivíduos em conexões cada vez mais extensas e horizontalizadas e que acelera o tempo das aprendizagens. A escola enfrenta obstáculos diante das demandas e necessidades desse sujeito contemporâneo. O ritmo acelerado imputado ao mundo e a vida de todos não podem esperar uma escola organizada sob ritmos cadenciados fincada num tempo e num espaço. Por isso, a internet viabiliza o acesso aos conhecimentos imediatamente, considerado necessário a informação dos indivíduos, não se pode esperar pelos morosos conhecimentos escolares para atualização dos saberes. De fato, presencia-se a era da instantaneidade, da supercialidade e do consumismo exagerado. Sem dúvida esses aspectos também estão relacionados com o plano intelectual, por isso, os alunos preferem a internet ao invés dos livros. A escola enquanto organização educacional opera, dita normas, objetivos e práticas institucionalizadoras. A educação continua sendo a grande aliada do Estado e das exigências da economia e da sociedade capitalista contemporânea. O mercado consumidor precisa de uma produção para atender as necessidades de um consumidor refinado, instruído e capaz de acompanhar as transformações tecnológicas. Vale salientar que o grande descompasso entre a escola e a educação inclui as práticas pedagógicas defasadas que não conseguem responder as demandas da sociedade. Subjetivações destrutivas: a questão da violência A questão da violência é um assunto que vem chamando a atenção de todas as sociedades. No âmbito microssocial destaca-se a violência doméstica. Na visão macrossocial e política a operação norte-americana impondo sua força, seus interesses.É notório de que a violência abrange todos os planos da vida humana. Percebe-se que a escola como instituição sofre uma violência dirigida, concentrada num mesmo lugar através de um potencial humano explosivo e o declínio do espírito de grupo. A sociedade baseada nas leis neotribalista consiste em relações de comunidade emocional e não racional, a exemplo: os encontros afetivos provisórios: o ficar dos adolescentes sem vínculos duradouros. Entende-se que a instituição escolar tem responsabilizado o professor a fim de resolver as questões mal resolvidas da sociedade. Assim insiste em adotar a figura do líder nas relações verticais (com a hierarquização dos papéis e funções sociais), na centralização do comando e do poder repassando especificamente para o professor uma função clássica de liderança num momento em que nem a família é capaz de resolver. Assim, o descontrole da violência tem sido um forte foco de temor na sociedade como um todo, de maneira que produz também o medo social. Nesse sentido, a agressividade estará a serviço da violência propriamente dita sendo utilizada para a imposição pela força ou coação de uma vontade soberana e opressora. Sem esquecer que muitas vezes em prol da defesa do cidadão, ou seja, nos casos onde é necessária a ação da polícia a fim de manter a ordem, se dá a manifestação do caráter político. No âmbito escolar é necessário interromper os conflitos, as intolerâncias, a agressividade e as condutas violentas, incorporando elementos do neotribalismo ou re-ensinar formas de viver bem, o prazer de estar junto. ÉTICA, (In) DISCIPLINA E RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO É notório a (in) disciplina nas escolas cada vez maior tanto em relação a regras impostas ou construídas democraticamente. Vale salientar que a violência muitas vezes não é sinônimo de indisciplina, porém, a indisciplina em determinadas ocasiões é ética segundo a regra, ou a ordem pré-determinada em cada instituição que seja no âmbito militar ou civil. No entanto, a violência é antiética mesmo quando for no caso de cumprimento da moral. Sendo assim, a moral com um conjunto de regras e valores que têm por função regular as relações entre as pessoas numa dada sociedade. Neste sentido, a moral tem o caráter de garantir a vida societária. De fato, é fundamental tentar conscientizar as crianças, os adolescentes e a comunidade em geral de sua responsabilidade em relação também a preservação da escola, uma vez que lhes pertence. Assim, a conscientização da comunidade acerca do fato de que a instituição escolar é pública só é possível com a democratização das relações escolares. Isto remete a necessidade de mudança do tipo de relação interindividual estabelecida sempre de maneira coercitiva. Sendo assim, a escola deve necessariamente preparar-se para receber o aluno e não o oposto. É fundamental a formação do profissional o que contribui para uma visão diferente do aluno. Percebe-se que a indisciplina está relacionada ao fato de que os alunos não concordam com a maneira como os professores têm transmitido o conhecimento. É importante articular os conteúdos escolares a realidade do aluno. Sem dúvida, deve-se levar em consideração que alguns alunos tidos como indisciplinados pode estar ligado a falta de aquisição de valores morais públicos em sua personalidade, ou seja, sem limites morais insuficientes. Por outro lado, é necessário combater a impunidade e o aumento da violência, outrossim, pode-se dizer que a indisciplina está também relacionada com a falta de punição. A incapacidade de a escola romper com os atos de vandalismo, indisciplina e a violência, haja vista que a sociedade vem tratando desse fenômeno lamentavelmente como algo banal. E o pior, os meios de comunicação de massa tem contribuído para a banalização deste fenômeno, de maneira a deixar claro a incapacidade do diálogo entre os indivíduos. No entanto, pode-se combater a indisciplina superando dentre outros a impunidade, a falta de limites e dos valores éticos e morais na sociedade. De fato, para o desenvolvimento dos indivíduos destaca-se a interação social que compreende além do processo de escolarização, a necessidade de se estabelecer relações interpessoais vitais para a ocorrência do desenvolvimento moral (social) e conseqüentemente a apresentação de condutas disciplinadas. Vale salientar que Piaget (1954) não aceita a idéia de que a produção de comportamentos morais na sociedade ocorra apenas a partir do indivíduo, mas depende sobretudo de um conjunto de ralações interindividuais. Portanto, numa sociedade pautada nos valores e ideal democráticos, na escola a relação professor-aluno pode desempenhar tanto no equacionamento da disciplina quanto para a transformação de todos os cidadãos. Sobretudo, é necessário buscar efetivamente cultivar os valores éticos: o respeito-mútuo, justiça e a compreensão através do diálogo. Referência: LA TAILLE, Yves de Indisciplina/disciplina: ética e ação do professor. Porto Alegre: Mediação, 2005.

domingo, 1 de julho de 2012

PERCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PÚBLICA A PARTIR DO FILME: “ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Josélia Ferreira de Oliveira Discente do Curso de Licenciatura em Pedagogia - UEPB Professora da rede municipal de ensino - Campina Grande-PB. RESUMO A proposta deste artigo é analisar o filme: “Entre os muros da escola” e os problemas na prática pedagógica mediada pelo currículo no cotidiano da escola pública em particular nos países de “primeiro mundo”. Tal proposta visa identificar as relações entre docentes e discentes mediada pelo currículo escolar. O que vem contribuir para um melhor desempenho de futuros profissionais em educação. A questão do currículo escolar é fundamental para transmissão e possibilidades transformadoras do conhecimento no cotidiano escolar. O que constitui-se o elo para o desenvolvimento cada vez maior do educando. Assim, os estudos de Moreira (1994) contribuíram para a compreensão da importância do currículo. Enfim, a proposta remete a uma reflexão sobre a prática pegagógica mediada pelo currículo escolar na Escola pública nos países de “primeiro mundo” vem contribuir para o processo de transformação e/ou construção de novos saberes tanto numa perspectiva empírica quanto do ponto de vista teórico. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Currículo. Sociedade. 1 INTRODUÇÃO Na busca por compreender criticamente a realidade escolar e suas múltiplas relações cotidianas de seus sujeitos possibilitam uma maior percepção sobre a educação escolar montada nos países do “primeiro mundo”. O filme, “Entre os Muros da Escola” (2008), uma produção francesa dirigida por Laurent Cantet, tendo no elenco François Bégaudeau, professor na vida real e escritor do livro que inspirou o filme, oportuniza identificar as teorias curriculares envolvidas na prática docente, a partir dos seguintes aspectos: o papel do currículo na escola pública e as dificuldades dos discentes frente aos grandes desafios da escolaridade. Outro fator importante são as relações existentes entre professor-aluno e aluno-aluno que orientam e desafiam todo o tempo do filme contribuindo para a compreensão da educação escolar pública. No filme francês “Entre os Muros da Escola” podemos ver de maneira clara a ideologia tradicional. No tocante a importância do papel da escola, esta é tão somente uma reprodutora do conhecimento adquirido, onde os conhecimentos são transmitidos desconsiderando a realidade e cultura dos educandos. Percebemos que não há uma reflexão a respeito dos conteúdos; isto fica explicito no momento em que o professor Marin esta ensinando o “imperfeito do subjuntivo”, um termo da norma culta. Uma aluna questiona o seu uso no cotidiano, alegando que ninguém oraliza naquele tempo, o professor explica que é uma maneira diferente de falar, mas não diz em que situações e com qual finalidade, não apresenta, por exemplo, que a linguagem é um marcador social. Numa outra cena uma aluna no fim do ano letivo diz ao professor que não aprendeu nada, não compreendeu nada do que foi ensinado, sendo assim se ela obteve boas notas e foi promovida tudo deveu-se a memorização do conteúdo e não ao seu entendimento. As reflexões aqui apresentadas são baseadas no cotidiano apresentado no filme acima citado. Os elementos que constituem as reflexões permitem compreender as relações entre o currículo, cultura e sociedade enquanto elementos de poder estabelecidos na escola pública representada no filme: “Entre os muros da Escola”, sobretudo retrata as diferenças culturais e sociais geradoras de conflitos entre aluno-professor neste cenário educacional. Além disso, é possível afirmar que a linguagem é o centro norteador dos entraves cultuais no cotidiano da sala de aula, evidência de um choque de civilização. Neste contexto, a construção da ideologia na sociedade revelada produz efeitos de verdade no interior da escola. Por outro lado, não podemos esquecer que o exercício da repressão na escola apresentada no filme supracitado. Tais repressões são manifestadas através do controle sob o comportamento do aluno como expressão de poder. Sendo assim, o poder institucionalizado atravessa o corpo social e tem por função reprimir. Posto isto, o filme: “Entre os muros da Escola” aborda os problemas sobre a aquisição dos conhecimentos impostos pela escola e as dificuldades dos docentes e discentes frente aos desafios da educação. Entretanto, as relações conturbadas entre professor-aluno e aluno-aluno possibilitam a compreensão do cotidiano nesta escola pública. 2 Percepções sobre o filme: “Entre os muros da escolar” A partir do filme: “Entre os muros da escola” a percepção que temos sobre a educação escolar pública nos países chamados de “primeiro mundo” revela uma realidade comum no âmbito escolar do ensino público, alunos indisciplinados, provocadores, rebeldes, atrevidos, sem limites. Enfrentam a autoridade dos professores e reclamam de tudo e forjam discussões sem sentido para desestruturar o professor. E assim, não acontece aprendizagem comprometendo todo processo de ensino-aprendizagem. No que se refere ao processo de escolarização do povo brasileiro sofremos um processo de colonização portuguesa onde foi imposto um modelo europeu mediado pelos jesuítas em desrespeito a cultura aqui estabelecida. Percebemos que na escola francesa a prioridade é a cultura local renegando as dos demais países. Não existe a preocupação com as diferenças culturais ali existentes. Na escola, os alunos asiáticos, africanos, latinos americanos a todos são impostos um currículo ignorando assim, suas diferenças culturais. Desse modo, a realidade da escola francesa mantém sua inflexibilidade e suas imposições, da mesma forma que, a escola pública brasileira também discrimina e excluem os indivíduos, demonstrando uma falsa aparência de democrática e inclusiva. A educação escolar francesa se assemelha com a brasileira, primeiro: são adolescentes oriundos das camadas populares com problemas diversos, sejam eles econômicos, políticos, sociais, psicológicos ou emocionais comuns a esta faixa etária. Além disso, usam as mesmas coisas que os jovens brasileiros gostam como as roupas. Os costumes são parecidos, o uso do celular, brincam, dorme na sala de aula, alguns são desatentos, outros desrespeitam o professor, ignoram a importância dos conteúdos, são irônicos, mas não tem noção do que é ser um cidadão com senso crítico para a sociedade. No entanto, sonham com um dia melhor. Contudo, suas frustrações são percebidas nas horas do intervalo, através da violência, do mau humor. Por isso, no âmbito escolar tais frustrações são lançadas contra a escola e seus profissionais. É preciso dizer que, a escola não pode ser culpabilizada sozinha dos problemas que os cidadãos das classes menos favorecidas padecem numa sociedade capitalista. De acordo com Moreira, (1994, p. 10), coube, assim, à escola, inculcar os valores, as condutas e os hábitos “adequados”. Por isso, percebemos um cenário escolar como qualquer outro de escola pública independente de ser francesa ou brasileira, haja vista que a escola destinada para as classes populares não tem sofrido mudanças significativas. Entendemos que a instituição passa por defasagens de materiais, de profissionais, de verbas, mas nada justifica a indisciplina ou o descaso contra a educação escolar. Segundo Moreira, (1994, p.10) (...) “o propósito de ajustar a escola às novas necessidades da economia. (...) organizar o currículo e conferir-lhe características de ordem, racionalidade e eficiência”. Na realidade, a educação sob as bases de mecanismos que visam conformar os alunos aos modelos do professor, nega a criatividade dos discentes e sua produção intelectual espontânea através, basicamente, de três formas: do exercício de uma rígida disciplina e o estabelecimento de uma relação autoritária entre professor-aluno além da imposição de uma prática pedagógica (tradicionalista) mecânica e repetitiva, uma vez que deixam de lado a prioridade de os alunos adquirirem novos saberes passando a valorizar apenas o comportamento. A escola mesmo aparelhada com os recursos tecnológicos, expressão da inclusão digital, entretanto, não apresenta mudanças em prol das transformações. Além disso, constatamos várias formas de controle disciplinar haja vista que o tempo também é monitorado, controlado: “é hora de...” ou “não é hora de...”. “pode fazer... não pode fazer”. O professor afirma: “vou corrigir daqui a 20 minutos”... Outro ponto percebido, o espaço, cada um no seu lugar sob o olhar vigilante do professor que fiscaliza a realização das atividades dos alunos todo o tempo, demonstra características de uma educação tecnicista e humanista. Entendemos que os conflitos existentes em sala de aula são motivados devido as provocações dos alunos contra o modelo educacional instituído, bem como, contra o currículo conteudista. Muitas vezes a tensão em sala de aula sobre os alunos contribui para a geração de discussões que ferem o regulamento da instituição escolar o que contribui para punição de qualquer aluno. Posto isto, os alunos que resistem ao controle disciplinar são ameaçados de punição e assim são excluídos do grupo. Essa ameaça aumenta o clima de tensão ao antecipar as conseqüências dos “maus atos” É fundamental para esta instituição o aluno obedecer as regras. A disposição dos alunos para seguir o modelo de “bom aluno” é reforçada pelo corpo docente. Entretanto, o professor François Marin deixa de ser imparcial e adota um comportamento negativo quando privilegia um aluno em detrimento de outros como foi visto nos depoimentos do professor frente aos pais. Lamentavelmente a tão falada democracia e liberdade de expressão ainda estão somente no papel. Podemos acrescentar ainda que, nas relações aluno-aluno e professor-aluno quando mediadas pelo currículo escolar apresentada no filme são marcadas por um processo meio desarticulado entre o que professor deseja e o que os alunos almejam. Isto fica evidenciado nos questionamentos constantes em sala de aula manifestados de forma irônica contra tudo aquilo que a escola se propõe a ensinar Desse modo, Moreira (1994, p. 8) afirma: “o currículo não é um elemento transcendente e atemporal - ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação”. Dessa forma, a proposta curricular torna-se sem sentido, haja vista que os conteúdos não atendem as expectativas dos alunos. Além disso, o professor não apresenta inovação. O conteúdo passa a ser colocado como algo repetitivo apenas para cumprir o planejamento. Parece não haver preocupação com o objetivo maior da educação que é preparar os jovens para a sociedade. Na realidade esta escola pública muitas vezes promove o conformismo, emocional, o estresse do profissional demonstrado através do cotidiano escolar que existe um clima de insatisfação e desmotivação tanto por parte dos professores como dos alunos. A sala dos professores lugar de desabafo foi cenário desse desgaste emocional, de um professor que não via possibilidades de mudanças devido a indisciplina dos alunos, tem um excesso de nervosismo e se mostra decepcionado com a profissão. Neste contexto, as relações estabelecidas dentro do sistema educacional francês, tendo de um lado o professor e do outro o aluno, onde o professor quer impor modelos a seus alunos e a escola também a sua política educacional mediada pelas normas de organização da escola, no contexto da sala de aula, os relacionamentos tendem a ser difíceis, principalmente devido as diferentes culturas e a falta de tolerância. É impossível discorrer sobre este filme sem destacar a importância da linguagem como um dos aspectos marcantes dessa educação. No Brasil também nos foi imposto outra língua para como uma forma de aculturação. Por isso, podemos destacar ainda que o lugar dos conteúdos de linguagem ensinados pela escola retratada no filme evidencia a reprodução da cultura, bem como os aspectos sociais das estruturas dominantes vigente na sociedade. Desse modo, a linguagem enquanto meio de comunicação também é o veículo de conflitos e os questionamentos destes alunos em torno dos conteúdos do estudo da língua francesa, do ensino do verbo demonstram a insatisfação e a indiferença em relação a cultura francesa. Para os alunos estes conteúdos são considerados desnecessários, mas que são ensinados como sendo prioridade nesta instituição de ensino, talvez a questão do respeito a realidade do aluno seja um caminho a ser seguido pelo educador. . Talvez a educação escolar francesa do tipo “bancária”, tecnicista seja um aspecto forte e muito difícil, para que os professores possam descartá-la de sua prática pedagógica. Sabemos que, a instituição escolar está aparelhada de mecanismos sociais que viabilizam a reprodução da cultura oficial através do currículo escolar. Concordamos com Moreira (1994, p. 27 apud Bourdieu, 1979), quando enfatiza que, (...) a idéia de cultura é inseparável da de grupos e classes sociais. (...) a cultura é o terreno por excelência onde se dá a luta pela manutenção ou superação das divisões sociais. Assim, o currículo não é percebido “como um local de transmissão de uma cultura incontestada e unitária, mas como um campo em que se tentará impor tanto a definição particular de cultura da classe ou grupo dominante quanto o conteúdo dessa cultura. O que se confirma nesta instituição escolar alunos estrangeiros expostos a dupla opressão: primeiro a escola ignora a sua cultura, a sua realidade e impõe o seu padrão cultural. Na sala de aula, essa dupla opressão é sintetizada na figura do professor, mesmo sem agredir fisicamente fere a liberdade de expressão e o direito a sua cultura enquanto sentimento de pertencimento e de identidade. Entendemos o porquê de a escola ignorar a cultura do outro, tem haver com o autoritarismo característico nas sociedades capitalistas. Este fato é marcante tanto na escola francesa como na brasileira são aspectos comumente percebidos. Nesse sentido é notório as estratégias reprodutoras de cultura e a impossibilidade de transformação do conhecimento no cotidiano escolar representada no filme: “Entre os muros da escola”, pois nesta instituição educacional tudo ali é controlado e compreendido sem o enfrentamento e a crítica que promova mudanças em relação a qualidade do ensino. Até mesmo quando os alunos discordam de alguma coisa, é preciso que as reações sejam manifestadas de maneira disciplinada, caso contrário enfrentará as conseqüências de uma exclusão. Para Moreira, (1994, p.28-29), “o poder se manifesta em relações de poder, isto é, em relações sociais em que certos indivíduos ou grupos estão submetidos à vontade e ao arbítrio de outros”. Diante do exposto, entendemos a relação de poder vivenciada na escola por pais e alunos submetidos as decisões do diretor. Tais decisões não podem ser contestadas, por isso, a escola tem o poder de decidir expulsar o aluno indisciplinado. A família representada pela mãe, diante do Conselho Escolar não tem poder para enfrentar as imposições desta instituição. Mesmo não concordando com a intransigência ali estabelecida, não existe lugar para reclamações. A escola deixa claro o seu poder decisório. No que se refere às aproximações e distanciamentos ente a realidade francesa e a escola pública brasileira, podemos dizer que ambas tendem a reproduzirem a ideologia burguesa, haja vista que procuram responsabilizar os indivíduos pelos fracassos que são produzidos pelo próprio sistema capitalista. Contudo, a Sociologia da Educação tem-nos demonstrado que a função da escola é a reprodução da sociedade de classes, na qual vivemos. A educação em nossas escolas foi pensada pela e para a classe dominante, e é aplicada a todos os indivíduos, independentemente de sua classe social. Acontece que os alunos advindos das classes populares não conseguem se adaptarem a essa escola, que nada tem a ver com a sua realidade. Enfim, o filme retrata uma realidade que se aproxima da brasileira também porque ignoramos a importância da cultura de outros povos e muitas vezes as múltiplas realidades dos alunos que oferecemos os serviços educacionais. Enfim, o filme: “Entre os muros da escola” apresenta um modelo educacional excludente, burguês presente nas sociedades capitalistas. Para Bourdieu, a escola está longe de reduzir as desigualdades sociais, mas contribui para reproduzi-la. A cultura escolar não é neutra, mas particular, a da classe dominante, transformada em cultura legítima. No entanto, ela é arbitrária e de natureza social. Assim, a escola recebe a delegação, pelo grupo dominante de um poder de imposição, isto é, de poder impor conteúdos de acordo apenas com os interesses deste grupo. 3 Conclusões A escola apresentada do filme: “Entre os muros da Escola” cuja tendência educacional apresenta característica da tendência tecnicista privilegia o aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo. Seu interesse principal é produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças sociais. Essa escola vê o aluno como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações. Neste contexto, o currículo se apresenta como uma forma institucionalizada de transmissão dos elementos culturais nesta sociedade, constituindo um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes são fontes de matéria-prima de criação, recriação, bem como de contestação e transgressão estando também está atravessado por relações de poder. O conhecimento e a linguagem são representações e reflexo desta realidade que se fundamenta num modelo racionalista e humanista. O Currículo escolar visto “Entre os Muros da Escola” é inflexível, as aulas são exclusivamente expositivas, as atividades sempre individuais, o professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusivamente a escutá-lo, e também disciplinar. O ensino da linguagem se baseia na língua oficial do país e é por meio de imitação e formação de hábito e da repetição que o aluno vai formando seus “hábitos” e o uso correto da linguagem. O enfoque cultural dado aos processos de ensino e aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de extrema relevância, em particular no que se refere à maneira como se devem entender as relações entre educação e ensino-aprendizagem. A importância da relação interpessoal nesse processo, a relação entre cultura e educação e ao papel da ação educativa ajustada as situações de aprendizagem e as características da atividade mental construtiva do aluno em cada momento de sua escolaridade. Além disso, constatamos que a visão do professor em relação aos alunos está embasada na teoria tradicionalista do ensino. Por outro lado, consideramos que o papel da escola deva ser o de formar pessoas críticas através do ensino de conteúdos significativos, uma vez que é essencial para o êxito do processo, assim sendo, privilegiar uma metodologia de ensino baseada na exposição dos conhecimentos de forma oral e escrita reproduz apenas as práticas tradicionalistas já defasadas. Enfim, a educação escolar francesa tem como fator marcante a divisão social, apesar de sabermos que a sociedade está em constante acirramento de competição, assim, a instituição não favorece o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, por desconsiderar os valores do aluno e os conhecimentos já adquiridos, talvez estes aspectos possam atuar como fio condutor para o seu êxito escolar. REFERÊNCIAS MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: - Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, Direção: Laurent Cantet, baseado no livro de François Bégaudeau. França. 2007.