sexta-feira, 13 de junho de 2008

DIALOGANDO COM A CULTURA NORDESTINA O CORDEL NO BLOCO DA SAUDADE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

MINI-CURSO
HISTORIA E POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS

JOSELIA FERREIRA DE OLIVEIRA

TEMÁTICA
DIALOGANDO COM A CULTURA NORDESTINA: O CORDEL no Bloco da Saudade


DIALOGANDO COM A CULTURA NORDESTINA: O CORDEL no Bloco da Saudade

Pensando nos professores de História e Geografia é que apresentaremos o cordel como recurso metodológico, além de ser fonte histórica e de ensino. Assim, pretendemos nesse trabalho apresentar oportunamente, dois relevantes aspectos da cultura do Município de Campina Grande - PB, a Literatura de Cordel como uma das possibilidades de ensino.
Considerando erroneamente apenas como um entretenimento descompromissado ou subliteratura, a história em cordel possui qualidade que seus críticos desconhecem. A utilização da literatura de cordel no processo de aprendizagem, por exemplo, é um recurso, viável, necessário e importante, que, entretanto, tem sido pouco explorado. A compreensão de um produto cultural tão complexo como a literatura de cordel exige a identificação de seus elementos característicos e da maneira como sua narrativa é articulada. De fato, literatura de cordel fornece elementos para o entendimento da história de forma objetiva.
Desse modo, a literatura de cordel, como veículo de comunicação impressa, além de ser um produto de consumo elaborado pela indústria cultural, tem diversas aplicações, seja como peça de marketing, seja como instrumento de transmissão de conhecimento e ferramenta pedagógica. É justamente a possibilidade de uso da literatura de cordel no ensino de história que necessita ser melhor, compreendida e explorada em sala de aula pelos educadores.

ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS NO TRABALHO COM A LITERATURA DE CORDEL
A literatura de Cordel é um tipo de fonte histórica, um documento. Não é um tipo qualquer, pois é datado no tempo e no espaço. É único.
O documento histórico (Cordel) não é mais concebido como um dado puro que fala por si mesmo e se oferece, objetivamente ao historiador. É preciso saber lê-lo.
Não, há uma hierarquia de importância entre os diferentes documentos, portanto, o Cordel é tão importante quanto qualquer texto escrito.
No mundo atual há uma invasão do cotidiano das pessoas pelas imagens visuais. Todavia, as imagens não são o real, são, umas, representação do real.
O Cordel possui vários sentidos para quem produziu, para quem emitiu e para quem recebeu a informação visual.
O discurso do Cordel sinaliza lógicas diferenciadas de organização do pensamento, de ordenação dos espaços sociais e de mediação dos tempos culturais.
Um Cordel é uma representação que varia de acordo com os códigos culturais de que a produz de quem vê. A literatura de Cordel é uma construção cultural que tem história própria. O cordel pode ser completamente mal interpretado quando os indivíduos não conhecem os códigos culturais a que se refere.
REFLEXÃO
1- Que questão pode, propor aos nossos alunos numa análise?
a) História das famílias
b) História da cidade
c) História do lazer - festas populares
d) História da igreja - festas Religiosas.
O uso da literatura de cordel servirá de base para narramos à história do Bloco Da Saudade, desde as suas bases inspiradoras que remonta aos Antigos Carnavais da década de 1930, quando as pessoas saiam às ruas para os festejos de momo, com roupas coloridas e brilhantes, e em que se viam nas ruas colombinas, pierrôs, bailarinas e personagens inspirados na Antiguidade. Muitos nem sequer sabiam de onde vinham àquelas vestimentas, o que prevalecia entre eles era a alegria e a vontade de compartilhar com a família e com os amigos a magia carnavalesca.
Nascido Manoel Cavalcante Belo, ficou conhecido pelo nome de Neco Belo, fundou o Bloco os Caiadores, os quais disputavam com o Bloco Beija-Flor, cujo fundador pertencia á Família Lauritzen, numa disputa saudável, baseada apenas na diversão e nas fantasias dos foliões. As fantasias usadas pelos foliões do Neco Belo eram trazidas do Recife, e como não havia estação ferroviária em Campina Grande - PB ele ia de cavalo até o município de Alagoa Grande e, de lá, partia para Recife.
Assim, as disputas entre os blocos tinham como palco á Rua Maciel Pinheiro que, coração do comércio campinense, abrigando inclusive a feira da cidade. Com o passar dos anos, vai surgindo outros blocos. Na década de 1930, popularizaram os blocos como, O Dona Não, o Bloco das Pastoras, os quais reuniam entre os seus foliões políticos, boêmios e instituais que desfilavam vestidos de mulher, além dos famosos Clubes como o Paulistano, o Clube 31 e Ypiranga, cujo desfile era realizado nas terças-feiras de carnaval.
Nos anos 40, iniciam-se os bailes de Carnaval no Grand Hotel e no Antigo Campinense Clube, cujos desfiles eram animados por orquestras que saiam desfilando pelas ruas centrais da cidade. A história continua, em 1950, eis que entra, em ação o Bloco dos Sujos, com personagens clássicos como lá ursa, índios, bois e papangus, neste mesmo período surgem às primeiras batucadas. A história prossegue, e na década de 1960, as festividades momescas entram em declínio, e as animadas orquestras de rua emudecem. O ano de 1964 fica marcado como o ano da realização do último desfile de rua e, com isto do Carnaval campinense.
Até que em 1991, uma luz em prol do resgate da memória momesca de Campina Grande começa a brilhar. A partir da iniciativa da produtora cultural, Eneida Agra Maracajá, famosa no município por engajar-se na defesa das tradições culturais e na divulgação da cultura em suas múltiplas faces: arte, cultura, dança, teatro, pintura, escultura e literatura. Ressurge das cinzas O Bloco da Saudade, com o seu apogeu vem resgatando a identidade cultural dos antigos carnavais.
Utilizamos, da pesquisa bibliográfica para melhor compreendermos a importância da cultura popular e assim, os estudo de Minois e Burke forneceram dados para fundamentação teórica da temática em questão.
CULTURA POPULAR: A HISTÓRIA DO RISO E DO ESCÁRNIO
A partir do século XVI a reforma da Igreja católica e as mudanças que ocorreram por conseqüência desse processo, com a quebra dos paradigmas a Europa, desperta para uma nova história, remodelando assim o imaginário das pessoas. E os autores MINOIS e BURKE nos textos acima citados, apresentam esse estudo da história para que possamos entender como aconteceu a reforma da cultura popular quando, o riso é proibido. Um dos principais objetivos do estudo é entender a nossa atualidade, compreendendo melhor a cultura popular atual na cidade de Campina Grande. Quando MINOIS ressalta o riso em suas varias versões, e BURKE destaca as festas populares, especificamente o carnaval.
No século XVI, espalhou-se pela Europa uma grande onda de escárnio, a "gargalhada da Renascença", e há uma grande reação contra as manifestações sociais do riso popular. O riso perdeu sua espontaneidade e passa a ser irônico e libertino. Para a igreja esse era um tempo "sério", porque o riso se os santos não riram? O próprio Jesus Cristo não riu? Quando a Igreja cria o movimento de reforma da cultura popular, com o intuito de restaurar a ordem e o sagrado. Então o riso é proibido porque não tem mais sua conotação natural e espontânea, mas é depravado.
O carnaval na Idade Média tem características subversivas porque as pessoas usavam esse período para extravasar suas emoções, mostrando a vida quotidiana ao contrário, onde quase tudo era permitido. Era um feriado, havia toda uma preparação para esse período, desde as vestimentas, até preparação e decoração da casa e da comida. Os carnavais diferenciavam-se de região para região, era como se fosse uma grande peça, onde o público e os artistas se misturavam, e a rua era um grande palco.
Toda a multidão acompanhava, era uma multidão promiscua atentando assim contra a religiosidade, fazendo chacotas com personagens religiosos, e não se contentavam em apenas se fantasiar, eles também representavam papeis participando ativamente em ritos e muitas brincadeiras pejorativas.
BURKE destaca três temas principais no carnaval, o primeiro a comida, o próprio termo carnaval veio da "carne" justificado pelo grande consumo de carne de porco, o sexo, alguns historiadores estudaram e observaram um aumento de concepções nesse período, já que o aumento da atividade sexual era evidente, e a violência, que tanto era verbal como agressão física mesmo, pois também foi constatado um grande numero de assassinatos nesse período, "ideal para descontar velhos rancores".
MINOIS ressalta a ocorrência. Da à separação da cultura das elites e a cultura popular, no século XVI; a primeira "livresca" e esclarecida "iluminada" visando o controle de si, a segunda desprovida de qualquer didática, suspeita parecem culpadas, o que se vê por traz da alegria dos camponeses são, a magia, a superstição, e a feitiçaria, que caracteriza o riso carnavalesco tão suprimido pelas elites sociais Mas BURKE chama a atenção para o reconhecimento e aceitação dos poderosos em relação ao controle social, que estas manifestações traziam, as próprias comunidades impunham com os rituais de justiça popular sendo o mais famoso o "charivari". Que consistia numa espécie de difamação pública com o objetivo de punir a pessoa ou grupos que saísse do modelo social estabelecido pelas elites, apesar de perigosas estas festas se faziam necessárias para este fim. Para os historiadores das mentalidades é preciso tolerar essas loucuras do povo, por medo de que quando tratados com muito rigor chegue ao desespero. A preocupação das autoridades tem sentido, porque cada vez mais as "festas populares" terminavam em desordens, algumas em violências.
A grande massa de pobres aproveita este período para extravasarem, e denunciarem sua péssima condição de vida, quando são controlados e podados em sua cultura, pelo estado/clero repressores. Tudo começa em risos, alegria, o uso de máscaras e o grande consumo de bebidas alcoólicas passam da folia para a violência facilmente. A festa popular é uma espécie de loucura coletiva e para as autoridades são suspeitas, pois ameaçam a ordem pública. As festas mais especificamente o carnaval deixam mais evidente a desigualdade social, á distância entre o rico e o pobre é muito grande. Mas as elites são conscientes da necessidade das massas de uma "válvula de escape", hora de desabafar os maus sentimentos, o descontentamento as más condições de vida os altos tributos, impostas pelos poderosos. O uso das máscaras no carnaval proporcionava o conforto da não identidade e com isso a impunidade, libertavam-se dos seus medos, e desempenhavam novos papeis. Mas mesmo no carnaval nem tudo era permitido, por isso havia uma espécie de "censura" passando a existir as músicas de duplo sentido e a agressão com a forma de ritual. As elites aceitavam porque viam a necessidade desses "respiradouros" para que assim essas camadas mais baixas da sociedade se tornassem mais maleáveis ao controle.
A festa era uma oportunidade de encontro dos pobres, e os camponeses vinham à cidade, alguns portando armas, proporcionando a ocorrência de motins (forma de ritual popular) é claro que os motins e as rebeliões não eram apenas rituais, e sim uma tentativa de ação simbólica, mas mesmo assim os rebelados e amotinados usavam rituais e símbolos para legitimar sua ação. E esses ocorriam por ocasião dessas festas. Muitas rebeliões ficaram famosas com verdadeiros massacres. Esse constitui um dos motivos para que as altas classes formassem movimentos para abolir estas festas, ou reformas para a cultura popular.
A partir do século XVI as elites passam a tratar com cuidado, estas festas, já que para eles pode desencadear várias situações de extrema violência. Era um período em que havia certa "liberdade" em "chacotear", fazer piadas de tudo e de todos, das elites, do rei, e do clero, acima de tudo para a elite o perigo maior era a união dessas pessoas e a possibilidade de rebeliões, e a reforma da cultura popular é pensada e concretizada.
Para MINOIS o espírito das luzes não era mais favorável às festas populares porque eram indecentes, de mau gosto, resquícios de uma época bárbara, um costume maldito em que nessa época se perde o respeito e o temor de Deus. Essas eram as idéias e opiniões divulgadas pelos reformadores, principalmente os "puritanos". Foram muitas as medidas adotadas, e se fazem sentir um pouco em toda parte, mas sua eficácia e pouca, pois continuam a acontecer às festas em lugares que imediatamente são suprimidos e logo explodem noutros. Na segunda metade do século XVIII os parlamentos aumentam as proibições, mas as festas populares tornam a ressurgir em todos os lugares. Percebe-se então que as medidas punitivas foram ineficazes. BURKE faz referência ao "riso carnavalesco" para ele, O homem, "correto" não ri porque ele tem conhecimento do mundo que não passa de um teatro de sofrimentos e desastres, não havendo razão para o riso. O homem que rir é irracional, comparado as bestas. Na Renascença todos podem rir só que e um riso "controlado", pois agora o mundo é civilizado. O riso é, portanto destinado à oposição com a função crítica, de escárnio, zombaria. O bobo do rei representava o poder do mesmo, ainda que de forma cômica, para a igreja não era permitido um poder que não fosse o poder divino. Com o desaparecimento do bobo do rei quebra-se todo vinculo com a barbárie, inicia-se uma nova era. O monarca pode reinar sem empecilhos, pois se acabou a "bufonaria".
Quanto á reforma e os reformadores; os católicos e os protestantes não tinham a mesma hostilidade em relação á cultura popular, e quando eram hostis, não era pelo mesmo motivo. A reforma católica tendia a significar modificações a reforma protestante era mais inclinada a eliminações.
O CARNAVAL EM CAMPINA GRANDE E O BLOCO DA SAUDADE
O carnaval da década de 1920 era uma festa de rua onde os populares usavam fantasias e máscaras, além de muita serpentina e a brincadeira do mela-mela. Existia durante essa festa o reinado do rei momo. Se fantasiar durante o reinado de mono é tão antigo quanto o próprio carnaval. Alguns desses personagens vêm da Idade Média, outros do período renascentista.
Na década de 1920, a carnaval enquanto festa de rua era o momento em que as pessoas se fantasiavam para representar os mais diversos papéis sociais, de forma disciplinada e controlada pela cultura local.
Podem-se destacar os personagens como o Alerquim junto com Polichinelo e a Colombina, são personagens da comédia Dell’arte, um teatro profissional, que se opunha ao erudito. O Arlequim é o mais popular dos três personagens, com a sua face risonha e debochada, ele é uma mistura de inteligência e esperteza. O Pierrô também se destacou na Comédia Dell’arte, criado pelo mímico francês Jean Batista Gaspard, caracterizado pela aparência melancólica, ingênua e sentimental, sempre com uma lágrima na face e segurando um banjo que no carnaval simboliza a eterna serenata para a sua amada Colombina, que o traiu com Arlequim.
A figura do Papangu nos carnavais de Pernambuco e Paraíba, se destcavam além do palhaço de rua, brincalhão e debochado. Em Campina Grande é muito popular nos subúrbios, com seu roupão de chita colorida e a cabeça coberta por um cone assimilado dos antigos mascarados da procissão do fogaréu de herança ibérica.
A história da Lá Ursa vem do Urso, que tem sua origem em outro continente. Esse personagem é de origem italiana e sua dança é de herança africana. O Urso, seu domador e o mestre formam o grupo "Lá Ursa" percorre as ruas da periferia cantando e dançando, e é um folguedo de tradição circense, do início do século XX, assimilado pelo carnaval.
A HISTÓRIA DAS MÁSCARAS
Há 10 mil anos antes de Cristo, apareceu ás primeiras máscaras usadas nas cerimônias religiosas praticadas durante os cultos de povos, antiguíssimos, camponeses, quando os homens e mulheres com os corpos pintados e cobertos de penas e mascarada corriam aos bandos invadindo casa e gritando a fim de espantar os demônios. Conforme mostra na ornamentação da "Micarande " o carnaval fora de época", a máscara é uma representação simbólica nessa festa.
No antigo Egito, há 2 mil anos antes de Cristo, apareceram as primeiras máscaras dedicada à Ìsiso (a lua, mulher de Osíris) e de Apis (boi sagrado), nas festas alegres do paganismo egípcio que originaram o carnaval.
Na antiguidade, em festa realizada pelos povos celtas, realizavam-se procissões em que um carro puxado por junta de bois transportava mascarados que executavam danças e cantavam de maneira obscena e satírica.
No Teatro grego, há 2 mil anos antes de Cristo, a máscara foi utilizada tanto na Tragédia como na Comédia, atendendo a várias funções: diferenciar sexo e idade permitindo a execução de mais de um papel pelo ator. A máscara foi um recurso também usado no Teatro Romano, no tempo Medieval e na comédia Dell’arte.
No século XI, o carnaval de máscara de Veneza, na Itália, chegava a durar seis meses. A nobreza veneziana tinha a oportunidade de juntar-se ao povo, preservando a sua identidade verdadeira atrás das máscaras. O disfarce era conveniente tanto para a dama como para a prostituta, assim, como era para os senhores e mendigos, como as máscaras, as diferenças sociais eram abolidas e todos se reuniam somente para se divertir.
Em Portugal, no século XVII, na celebração do ENTRUDO (festa de rua ibérica que originou o carnaval brasileiro), as máscaras já satirizavam tipos humanos da época.
No Brasil, no ano de 1834, surgem no Rio de Janeiro os primeiros bailes de máscaras, introduzidos pela influência francesa. A partir de 1846, surge o Zé Pereira, um tocador de bombo que se apresentava sempre nas noites de sábados, montado num cavalo todo enfeitado, usando como máscara um cabeção. Nos estados de Pernambuco e Paraíba surgem os mascarados de rua: os papangús, e os caretas que viraram símbolos do carnaval dessas regiões.
HISTORICIZANDO O CARNAVAL EM CAMPINA GRANDE NA PARAÍBA
O Carnaval é uma festa de rua muito antiga remonta os anos da antiguidade histórica, eram 03 três dias destinados á folia, ao deboche, ao riso irônico, a liberdade vigiada. Falar numa festa popular em Campina Grande é preciso destacar Neco Belo, ou seja, Manoel Cavalcante Belo, um folião fervoroso e mais famoso do lugar no início do século XX. Ele fundou o bloco "OS Caiadores" que disputavam como o "Beija-Flor", fundado pela família Lauritzen. Naquela ocasião não existia clube social na cidade e o carnaval acontecia no largo da matriz em direção da Rua Grande ou Seridó (hoje Maciel Pinheiro), com a população acompanhando os blocos puxados por uma orquestra que entoavam marchinhas, valsas, polcas e os primeiros frevos que começaram a se popularizar.
Os "Caiadores" e o "Beija-Flor" passavam o ano estruturando os carros alegóricos que iriam mostrar no desfile do domingo, e que constituía na maior disputa do desfile. No ano de 1909, além desses blocos que já eram famosos surgem outros blocos: Clube da Reserva, Chaleiras, Viúvas divertidas, Jovens campinenses e Clube do rasga. Antes de surgir o lança-perfume já havia "laranjinha" ou "limão de cheiro", que era atirado entre os foliões exalando o perfume e as famosas batalhas de confetes e serpentinas na Rua Maciel Pinheiro.
Em 1918, as autoridades aboliram o "banho de goma" e o "mela-mela", remanescente do entrudo (carnaval do período colonial de Campina Grandes introduzido pelos portugueses e escravos no Brasil), e apareceram no Carnaval o Rei Momo, Zé Pereira com o cabeção e os mascarados de rua.
Na década de 1930, popularizaram-se os blocos DONA NÃO e o bloco das PASTORAS, fundado por Ioiô Cavalcanti em 1933, no qual boêmios políticos e intelectuais desfilavam vestidos de mulher e os clubes campinenses, Paulistano, 31 e Ypiranga, que desfilavam na terça-feira de carnaval, dando início a época dos monumentais bailes, de salão do Clube 31, que se destacou durante as décadas de 1930, 1950.
A partir da década de 1940, tornam-se populares os bailes de carnaval do Grande Hotel e do Antigo Campinense Clube, onde os foliões saiam ao amanhecer seguindo a orquestra em desfile pelas ruas centrais da cidade. Sem esquecer que o carnaval de rua, o corso de automóveis promovia batalhas de confetes e serpentinas na Rua Maciel Pinheiro, conhecida então como "Quartel General do Frevo". Nos anos da década de 1950, dois tipos humanos fantasiados e marcados por sua alegria espontânea dos "Blocos dos Sujos", como Papangús, Lá Ursa, Índios e bois, oriundos da folia dos subúrbios, com batucadas e escola de samba outra inovação que surgiu no carnaval de rua em Campina Grande.
A década de 1960 marca o declínio do carnaval de rua em Campina Grande, com o fim das orquestras de rua e bailes do Clube 31. O ano de 1964 marca o centenário de emancipação política da cidade, também o último carnaval de rua da cidade em que desfilou pela última vez o Clube Ypiranga com sua orquestra de frevo executada por negros.
Em 1991 surge O Projeto Cultural, Carnavalesco, criado pela educadora Eneida Agra Maracajá, que põe nas ruas durante o carnaval fora de época o Bloco da Saudade, com orquestras de frevo, estandartes, bonecos gigantes, foliões fantasiados e mascarados com o propósito de resgatar a identidade cultural do carnaval de Campina Grande e a folia de rua como manifestação espontânea da comunidade. Nesse sentido, anos após anos vem arrastando milhares de foliões. O Bloco da Saudade tem representado um resgate histórico tornando-se o diferencial do carnaval popular fora de época. E assim, no "Beco 31" a história escreve uma página do passado, o standart do "Bloco da Saudade" traça lá no céu acordando velhos foliões na eternidade. O rei Momo e a rainha.
De repente, eis que se ouve uma música sinistra, cadenciada, arrastando a TROÇA, quem quiser comprar banha cheirosa vá à casa de Dona Generosa. Envolto em serpentina, na cabeça o palco de todos os carnavais, relembra Pedroza da Livraria quando gritava: "Bandeira branca amor, não posso mais, pela saudade que me invade eu peço paz".A figura do cabeção imenso no frevo do carnaval. É o Zé Pereira. Os personagens como Otoni Barreto, Dedé Lampião, Aderbal do Curtume, Mane Chaves, Zé Barreto, Pinto do rádio, no ritmo do zabumba e do reco-reco: Xô xô araruna, xô xô araruna. Na saudade do bloco, o standart vermelho e branco nas mãos de "Musga Preta" pintor e "pé de cana". Lá vem o Ypiranga, com suas "piniqueiras", cantando e marcando o compasso com alegria e suor. "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim...".
O "Bloco da Saudade" é um resgate das tradições autênticas, espontâneas da comunidade, promovendo a folia de rua sem cordão de isolamento opondo-se a transformação do carnaval em mero evento empresarial. E assim, a partir de 1992, tornou-se o Projeto carnavalesco englobando bailes de salão, exposições culturais, pesquisas de história e literatura, de indumentárias e de música, shows artísticos e oficinas de artes, além de arrastões, serenatas e o desfile oficial do Bloco durante o carnaval fora de época.
Desse modo, o Bloco da Saudade sai ás ruas da cidade contagiando os foliões, chamado atenção com seus estandartes, fantasias, mascarados, bonecos gigantes, passistas de frevo e orquestra de chão. O Bloco da Saudade, objetiva despertar, na comunidade a busca pela democratização da cultura, evitando a hegemonia de ritmos, danças, adereços e figurinos que não se identificam com o carnaval de raízes, além de formar uma consciência crítica no processo de resistência cultural e refazer o espetáculo com o povo sem a opressão dos cordões de isolamento.


REFERÊNCIAS:
MINOIS, Georges; Acabou-se o Riso IN. Historia do Riso e do Escárnio. São Paulo.
Companhia da Letras. 2004. p317-363.
_______________.O Riso amargo e Burlesco. IN. História do Riso e do Escárnio. São
Paulo. Companhia da Letras. 2004. p365-403.
BURKE, Peter. O Mundo do carnaval. IN. Cultura Popular na Idade Moderna. São
Paulo. Companhia da Letras. 2004. p202-228
_____________A Vitória da Quaresma a Reforma da Cultura Popular. IN. Cultura
Popular na Idade Moderna. São Paulo. Companhia da Letras. 2004.p. 231-265
Entrevista: Valdenice Quintão
Colaboração: Eneida Agra Maracajá




ANEXOS


BLOCO DA SAUDADE COMEMORA 18 ANOS
PROGRAMAÇÃO 2008

10/03/2008 OFICINAS: Inicio das oficinas pedagógicas. Preparação para o Infantil da Saudade com aulas de Dança, coreografias, música, literatura e artes plásticas. As crianças vão confeccionar suas próprias fantasias. LOCAL: Barracão da escola de Samba Independente do José Pinheiro.
1ª SEMANA DE ABRIL: Exposição de máscaras na Galeria Irene Medeiros.
04/04/2008 TERTÚLIA CARNAVALESCA intitulada "Saudade da Saudade" traje e Fantasia com o conjunto Harmonia e Ritmo dos Antigos Carnavais.
10/04/2008 INFANTIL DA SAUDADE: Saída do Teatro Municipal ás 16:00 h
12/04/2008 BLOCO DA SAUDADE: Concentração na Rua Maciel Pinheiro. Baile popular á partir das 15:00 h. Saída do Bloco no seu desfile oficial ás 17:00 h com orquestras, estandartes, alegorias e a participação de artistas da Paraíba e de Pernambuco. Participação do Bloco da Saudade de Aroeiras, dos Papangus da cidade de Bezerros e Caravanas da cidade de Bananeiras, Riacho de Santo Antônio e Alagoa Nova.



ROTEIRO
1- MOMENTO: Apresentaremos a origem do Cordel e a história dos carnavais antigos em Campina Grande-Pb.
2- MOMENTO: Apresentaremos á história do Bloco da Saudade e sua história, decantado em Cordel.
3- MOMENTO: Apresentaremos os personagens que não podem faltar no carnaval de rua, fantasias e foliões, palhaços e papangus, máscaras, rei momo e rainha, pierrô e colombina.